sábado, 7 de dezembro de 2013

A BELEZA DE CAETANO, A VIDA E SEU FIM

Uma amiga recente e virtual me perguntou se eu só gostava de mulheres. Perguntou pelo fato de eu ter postado uma foto de Caetano e tê-lo chamado de lindo. Claro que a pergunta não era essa, o que ela queria saber é se sou bicha ou se corto para dois lados (expressão antiga, idiota, mas que diz bem o que se quer dizer com um eufemismo esdrúxulo) ou sei lá o que. Respondi que não era gay e pronto, não disse mais nada. Por isso, e tão somente por isso, tenho certeza que ela acha que sou. Porque não disse que era macho. Sou homem e heterosexual, macho (no sentido que se dá a esta palavra) definitivamente, não sou. Fui ao velório de um amigo ontem. Ele tinha 27 anos. Diante do caixão me vieram as elucubrações mais comuns que se possam ter sobre vida e morte, sobre amor e filhos, sobre Deus existir ou não. Tudo me pareceu claro, pena que não sei explicar. Não era amigo íntimo mas era amigo. A vida é uma coisa que cada vez se explica mais e cada vez menos entendo. Me resta a foto do Caetano, me resta o mar. Me resta o Caetano no mar. Me resta o poema de João Cabral e não tentar entender o mundo nem a vida ou a morte. Meu campo de ação é quase inexistente, meu tempo é rápido e não sei se vai acabar amanhã. Gosto de homens sim, mas dos que façam por merecer. Não quero ser macho, quero ser gente.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

PRECE

Sou como todo mundo, preciso da proteção de Deus. Mas não pra tudo. Para nada que eu possa fazer só e com meus medos e fraquezas. Peço a Deus que não deixe nada me tirar força. Peço a Deus o que eu não posso só, por isso não é muita coisa, portanto é só força para que a força não cesse. Eu peço a Deus que eu não perca a fé nas coisas da poesia. Que eu siga até o dia que me cabe, sabendo que não me cabe mais do que a um homem pode caber: sonhar em ser feliz e morrer. Que nunca me livre de encontrar com o pior dos homens, o espelho. Que não me livre de sofrer. Me livre de sair sem vida do sofrimento. Não há morte maior que perder o amor pela vida à guiça de tornar-se sábio. Eu não quero a sapiência senão como ser sábio o tanto que me baste para eu não acreditar em sábios. Que Deus não me livre de mim ou me livre do lado escuro que trago desde bebê. Que Deus me livre de não saber admirar, da mesquinhez, do que penso e como ajo, do que eu mesmo renego embora tenha, como doente que rejeita a sua doença sem atinar que ela lhe pertence, que é sua. Que eu não peça a Deus o que carece só minha covardia, ilusão ou ambição. Peça instrumentos não a coisa lapidada, a coisa limpa, acabada. Que eu saiba com precisão o valor e medida das coisas.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

EU, POR EXEMPLO.







Quando vejo essa mania de não sofrer, de felicidade total e perene, penso que tolice é não saber que dor e sofrimento é que nos levam adiante. Desconfiando que as grandes verdades da vida são breguices como as de acima, sigo adiante. Só o perfeito idiota é perenemente feliz. E feliz por essa razão única: por ser um idiota. Há uma coisa que nunca me convenceu nessa coisa de felicidade eterna e sem ameaças. É que  a felicidade assim só existe em novela, no último capítulo. E o outro dia? como fica? na novela todo o tempo é desarmonia, por qual misteriosa razão não voltarão as rinhas, desencontros?

Quer saber o que é lindo na tristeza? a poesia que vem dela pelos poetas eruditos ou vagabundos. Então escute Cartola, leia Fernando Pessoa, e olhe a madrugada vazia e pense que a vida é finita. Repare na beleza de ser triste. De saber ser triste quando houver tristeza, e chore. Abaixe a cabeça e chore. É digno o choro. E continue por uns bons momentos carpindo e curtindo tua dor. Mas que seja triste a tua dor não medíocre e autopiedosa. Chore por amores passados, os que não teve e pela distância de quem ama, de um momento que nunca voltará, e derrame uma lágrima ou mil. Dor é preciso. Mas lembre que tudo é lindo e foi te dado de presente. Que você veio, outros vieram. Você irá e os que são crianças também. 

No chorar há uma verdade tão profunda quanto na gargalhada. A felicidade não existe no futuro, existe agora. hoje. Escute um velho samba. Nelson Cavaquinho, Cartola ou o Caetano. Chora um pouco, não lamenta e vem pra vida. Vem pra vida que arde e regenera. E se você adoecer jovem ainda, releve, viva feliz por ser o que é e quem é. E se os dardos do tempo te ferirem, faça como eu, contemple suas cicatrizes. Se tiver de reabri-las, faça isso. Nada de querer me citar como exemplo. Sou uma bosta. Um merda presunçoso e mal. Mas tenho força pra seguir sempre. E vou. 

Sou feliz. Não é nada de contradição ou coisa que o valha. Sou feliz porque aprendi a amar minhas cicatrizes. Abri-las de novo e fechá-las. Depois olhá-las com mais ternura. Não pedi a vida que me desse as cicatrizes que não recomendo a ninguém. Mas aprendi a amar as cicatrizes como um livro de verdades e ensinamentos.  
Eu tenho cicatrizes e sonhos.  Eu tenho um filho adorado. Eu tenho meia dúzia de pessoas que me amam. Eu tenho os poetas todos. Eu tenho as madrugadas. Eu tenho meu bom humor. Eu tenho disposição para ir adiante. Eu tenho fé em Cristo. Eu tenho o que aprendi com ela (isso não é pouco, isso é muito) tenho meu tempo para gastar. Tenho o que me basta. Amo o que tenho. Amo!

terça-feira, 12 de novembro de 2013

SOU, AINDA E SEMPRE, A ALEGRIA.

Eu vejo no homem feliz e velho uma força estupenda. Eu vejo na dor que vai em frente, que não se apieda de si, uma beleza. Eu gosto de belezas e gosto de falar delas. Minhas belezas particulares. Belezas só minhas. Eu as guardo. Eu as contemplo, acarinho-as com olhos. Tenho feiuras e não as nego. Cuido que o tempo as vai remediar ou levar-lhes consigo. Mas canto alto a poesia que há na dor de cada dia, que na interior da gente e que se quer soltar, ganhar vida, expandir, espoucar, eclodir, vir à tona, aparecer. A alegria que é, deve ser, a única razão de viver. Se come para ser feliz, se vive para ser feliz, se corta o cabelo para isto: ser feliz!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

NUNCA PROCURE AJUDA EM LIVROS

Eu não sou injusto. Reconheço que há coisas piores que música evangélica, Augusto Cury e televisão. Muitas coisas. É que não me lembro de agora. Uma guerra nuclear é pior do que Aline Barros. A morte é pior que ler Augusto Cury, e o inferno... o inferno é assistir ao faustão entrevistando o Augusto Cury e com fundo musical de Aline Barros. Alguém objetará: Nenhum inferno pode ser tão infernal! O cara me recomendou os livros de Augusto Cury. Disse-os muito bons e leu alguns trechos para mim. Eu escutei com todo tédio do mundo mas torcendo para não ser tão ruim quanto eles são. Fiz considerações descaradas sobre os textos, mantendo um mínimo de dignidade, eu disse: não gosto desse tipo de livro. Menti. Não gosto de livros por gêneros. Sendo bom ele pode pertencer a qualquer gênero, seguir a qualquer crença, ou pregar. Nunca concordei com Nietszche, nunca vou concordar. Li um livro de padre Fabio De Melo ( que não cansa de ser lindo, que não cessa de ser belo, nos dois sentidos: físico e espiritual. Aliás, a beleza do Fabio sempre me encantou e me deixou e deixa, perplexo. Como ele é superior a mim! tivesse a beleza dele eu estaria ocupado demais comigo. Ele pode comer todo mundo- céus!- que nojo! e não come ninguém. Em tempo: o " que nojo!" é pelo meu pensamento nojento. Eu já nem sei que diabos eu ia dizer, mas lembro. Se tem coisa boa que tenho é memória. lembrei! li dois livros do padre Fabio, um gostei bastante, o outro era um lixo. O bom é quando ele contou experiências de ser humano. Como é feio o ser humano! mas deixa de ser se assume que é. Não sei se sou claro. Os livros Augusto, que nunca vou ler, são a colocação de suas palestras postas em livros pra vender pra quem não quer ler Shakespeare e quer se enganar com historietas de sonhos e vitórias. Eu vi uma palestra do cara no you tube. O cara é medonho. A platéia embevecida babava e ele falando uma abobrinha depois de outra. O título da palestra diz tudo: controle suas emoções. Que coisa! Só um idiota pode acreditar nisso. Vendo ele falar eu pensei: eis uma mistura de santo com gênio. Diante de um acontecimento emotivo com o inesperado a lhe fazer companhia, esse ser superior, esta divindade o que faz? controla suas emoções. É um ser superior. Não é como eu. Claro que não. Em um engarrafamento no centro de Recife com o sol de derreter o que for a ele suscetível, esse homem simplesmente controlaria as emoções. Diante de uma final entre Brasil e Argentina, com todo entorno que o jogo provoca, ficar tenso e torcer é para os humanos, os fracos. Augusto Cury, que um sábio, apenas controla as emoções. Penso que quem fala em controlar as emoções nunca as teve com intensidade. Se as teve por qual motivo as quereria controlar? A vida é foda. Tudo é foda e faz chorar ou rir. Eu morro rindo ou chorando e isso não quero mudar. Ao que ele diz: controle as emoções, eu digo: solte-as, não simule mas não esconda. Aos que acham que a vida é a que Augusto Cury diz que é, eu digo: a vida é dor e perda, nunca foi felicidade. Quem aprende isso vira poeta e tenta a sorte, e quando não dá se vira no azar.

sábado, 14 de setembro de 2013

O HOMEM E OS SELOS




Isso não é um poema. Não preciso avisar, mas aviso. Eu nunca escrevo poemas. Não por não gostar ou preferir não escrever. Não escrevo poemas por não ser possível a mim fazê-lo. Simples assim. Eu escrevo. Eu tenho coisas comigo que as guardo como se guarda uma boneca. Eu aprendi que as meninas guardam bonecas por razões respeitáveis. Tão respeitáveis quanto os homens colecionam selos. E nunca se deve questionar ou menosprezar o homem que coleciona selos. O homem coleciona selos e decepções. Selos e medos. Selos e dores recalcadas. O homem coleciona carros e mulheres. O homem vai à igreja, morre. O homem é vazio. Somos vazios. Isso não é criticar a nós, a mim, ou nada que remeta a isso. Isso é constatar um fato. O homem mata, morre, nada justifica matar. Mas os homens colecionam. Guardam para si coisas que os façam achar que durarão muito ou que são importantes para om tempo. Quando menos, se sentem amparados como crianças aos pais. Como seus pais estão mortos ou já não cabe seu colo, eles colecionam selos. Alguns colecionam mortos, outros colecionam outros. Mas se resume a isso: colecionar. O homem vai a um lugar, no caminho cai de uma moto, ou tem uma parada cardíaca, ou qualquer coisa que o mate, acabou. O sonho do homem é mais duro que o de um cão. O homem tem de colecionar sem perguntar pelo sentido de agir assim.  Em que haveria de melhorar sua vida se descobrisse o que é a verdade última das coisas? O homem vai à igreja. Procura Jesus Cristo. Procura quem o liberte de si mesmo. Mas o homem não quer deixar de lado sua coleção de selos. Quer a verdade, o caminho e a vida, sem que estas coisas atrapalhem suas coleções. Ainda vaga na noite e vê crianças com frio nas calçadas. Ele olha, passa adiante e pensa na coleção de selos. Mas pensa: melhor não pensar nisso.  Não pensando ele resguarda os selos. Já passa o tempo. Ele vai ao hospital prolongar sua vida por mais uns parcos anos. Mas ainda tem os selos guardados. Ele não quer perder os selos quando já perdeu o vigor, parentes, cabelos, e as luzes da juventude. Está velho o homem. Estrada acabada. O homem vai fechar os olhos pela última vez, dar seu último olhar pra noite, sua última dor sentida. Os selos não morrem. Os selos voam ao vento. Os selos não são nada, como aquele homem morto.

CUIDO




Não é por nada não, mas se eu descobrir o motivo de ser mais importante coisas que são ditas importantes em comparação com coisas que considero importantes, eu me conformo. Tem coisas de alta cultura que eu até alcanço, mas tem umas tantas... Os que seguem o meu blog, ou seja: os que não existem, sabem que me arvoro a críticas literárias. E daí? daí que você não tem cultura para tal, diria um leitor, se o tivesse (leitor). Não estaria errado basicamente, mas estaria no conjunto. Mas que conjunto se só há uma afirmação, e ela é clara e límpida: no lugar de crítica literária deveria ler mais. Ficaria do lado de quem diz, mas quem diz é brasileiro. Brasileiro não tem critérios para discernir um gato de um tigre (são felinos. dirão). Quando alguém diz um disparate, sendo especialista em determinado assunto, se diz: Foi fulano quem falou! Não se discute o que falou mas o fato de ter falado. Isso tudo para dizer que poesia concreta é uma merda. Que Lobão está certo com relação a semana de arte moderna (certo em sentido maior e mais amplo que o que quem o vê falando da "semana..." alcança. Caetano Veloso se comportou como um rematado imbecil naquela coisa asquerosa de posar para fotos como um Black bloc. Olavo de Carvalho está com um livro que ainda não li mas adorei. O supremo está em cheque e junto vai toda a justiça brasileira. Os comentários do blog do Reinaldo Azevedo são absurdamente estúpidos, ele é foda, mas só ele. Ivete Sangalo é gostossíma, boa praça, só falta cantar. Bem, não há muito novo sob o sol. Eu, pra variar, escrevendo merda. O oriente esperando guerra. Nordestino, chuva. vascaíno: ganhar três partidas seguidas. A coisa que mais caracteriza nossa espécie é a esperança. Quarenta milhões de chances de errar e o cara ainda joga na megasena. Mas tem muito o que se admirar no mundo, cuido disso agora. Cuido porque não vou mudar nada e tudo passará sem mim e isso é duro. Vou cuidar do belo que do feio cuida o cão. Cuido de novo que sempre é novo mesmo se repetindo no tempo. Cuido do amor aos meus amigos e a parentes nessa caminhada que leva a não sei onde, mostrando as flores no caminho. Cuido de não ser frio com nada e sentir a dor no rosto do outro. Cuido de me ter alerta para o mal que há em mim (gigantesco)  para que eu não queira recompensa em vida futura e seja honesto comigo e com a vida. Cuidar em não se esquecer que o dia tem aurora e crepúsculo e ambos são do mesmo material. Cuidar de amar mas também não ferir. Cuidar em olhar a madrugada e nunca esquecer que a lua, como meu filho, foram presentes imerecidos.  Cuidar em respeitar o diferente. Diferente não estúpido. Cuidar de minhas coisas e descuidar de excessos nos cuidados. Ir de prumo reto, em frente e só. Ter aqui guardado a linda melodia de vento em noite. Ter pena de nada. Compaixão por o que precise, dureza para amaciar os crespos.
E vou levando os dias com quase certeza de que preciso trilhar o caminho e que ele é qualquer um. Mas que tenha comigo o olhar pra os outros como um judeu ensinou.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

JOÃO INÉDITO







Eu tinha esquecido o quê era ler um poema e me arrepiar, falar palavrão, exultar. Fazia tempo que não me havia a poesia se feita tão em nervos, tão chocante. Ele me choca. Ele me  tira do vida e me faz espantar do que ele pode mostrar. Ele está morto. Morto como um vivo não pode vivo estar. vai sair um livro inédito dele, isso pouco importa. Não muda nada. É só um livro novo de um defunto. Ele escreveu vivo, claro, mas acaso ele está morto?  mais não falo. Ele não precisa, eu não importo. Importa a  poesia de João Cabral De Melo Neto. Importa estarmos vivos e não mortos. Deixo um bom dia cabralino, que sendo cabralino é de sol, de nordeste, de dentros. "Dentros mais de abraço que de ventre".




Os Carregadores

"" Bom bom-dia, minha gente.

"" Bom dia para os presentes.

"" Bom dia, futuramente.

"" Bom dia ainda, no ventre

As mulheres de descascar

"" Bom dia tem que dizer

quem chega a todo presente.

"" Bom-dia é como Dizer bom dia é tirar

o chapéu, cumpridamente.

"" Bom-dia não antecipa

o dia que espera em frente.

"" Nem bom-dia tem a ver

se é sol ou chuvadamente

domingo, 8 de setembro de 2013

EU ODEIO MARAGOGI





Eu odeio maragogi! Nunca fui, mas odeio. Ela é uma cidade triste, feia, insuportável! Eu odeio maragogi, esse nome feio, ameaçador, inconveniente. Nunca fui a maragogi, essa cidade ladrona.
Ontem tocou o telefone, eu atendi. Era a mãe de meu filho. levei o telefone até ele. Ele estava no meu quarto. Fiquei escutando a conversa pela parte dele e rindo porque ele só dizia "hum hum". Quando ele desligou eu disse: que diálogo, hein?! nunca me interessei pelo papo dele com sua mãe, então deixei pra lá. Desço para à casa de minha mãe mais tarde e ela me diz que a mãe dele havia convidado ele para morar em maragogi com ela. Eu não posso me meter nisso, não posso mudar isso, nem escolher por meu filho. Onde ele estiver, estando bem, estarei bem. Onde ele estiver, estando mal, ficarei mal. Não posso me rebelar contra a mãe dele, ela tem direito legítimo. Não posso me meter na escolha de meu filho. Então ponho a culpa em quem posso por, na cidade que pode tirar de mim meu menino. A despeito de todo o amor e saudade que possa advir, ele é meu menino, ele é amado, aqui comigo. Mesmo que não nos vejamos com frequência, que eu não o escute falando o dia todo, que eu não tenha de cobri-lo toda noite, ele sempre estará aqui, sempre estará em mim.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

EU NÃO ME BASTO







Encontrei-o no vazio, onde estava comigo e sem vontade.
 Encontrei-o na saudade, no afeto, na verdade.
 Encontrei-o no no riso, no choro, na bondade.
 Ele é fácil de ser achado, sobretudo se o procuram de olhos fechados.
Mas com olhos de ver peixe não  o verás.
 Com olhos com que vês tamanhos não o verás.
 Com idéias de poder não o verás.
 Ele se mostra fácil, ele se mostra no teu dia-a-dia.
 Não fazendo milagres, fazendo o próprio dia.
 Vê-lo não é difícil. Vê-lo é como que certo.
Só basta que para isso tenha os olhos abertos.

Para vê-lo é preciso que os olhos olhem o contrário, olhem para dentro.
É preciso que eles sequer olhem, sejam olhos que sentem as coisas como elas são,
em sua essência, seu centro.
Para vê-lo é preciso ter medidas que não advenham de hipocrisia, afetação ou soberba.

Não procure ele se não for com lágrimas. Para agradecer ou pedir algo. Ou meramente contemplar. Mas com olhos sempre marejados.

Procurar eu o procurei porque não me completo nem me basto. Preciso algo de acima de mim. Não falo de poetas, nem gênios literários. Amo-os e admiro-os, mas nunca serão os que procuro quando estou cansado, nos dias de meu enfado.


domingo, 1 de setembro de 2013

THALITA PRATES




THALITA ESCREVEU ISSO:





Lugares onde eu já encontrei Deus:

- na Cantique de Jean Racine, de Gabriel Fauré...
- no Adagietto da Sinfonia Nº 5 de Gustav Mahler...
- na ária Nessun Dorma da ópera Turandot, do Puccini...
- na "Todo Sentimento", do Chico...
- n"A paixão segundo GH", da Clarice...
- no "Cem anos de Solidão", do García Márquez...
- na poesia de Adélia, Drummond e Fernando Pessoa...

E você?


UM POEMA LINDO!

sábado, 24 de agosto de 2013

OS CRIMES





Não que por mim fosse melhor o mundo, mas eu me enojo de ver essa gente que se compraz, não na melhora das coisas (sempre as há) mas perde horas e queima pestanas em ver mortos sendo explorados em programas ridículos de tv.
Não que eu esteja apto a ditar normas e orientar condutas, ou tendenciar algo, mas que por mim as pessoas não se importariam tanto com os vizinhos e seus afazeres quanto se importariam em ler um poema, ouvir cartola ou um martelo agalopado.

Onde eu nasci não passa um rio, onde eu cresci nem havia pomar, meus pais se separaram e eu adoeci logo. Não cheguei ainda à velhice, mas passei por menino faz tempo. Vi hospitais e suas coisas que desapontam ou levam adiante. Tenho ainda uma coisa a dizer aqui, que não conta para quem não me conhece e quem não me conhece não conta para mim. O que digo é que minha cirurgia é um sonho realizado e isso é bacana. Não me acostumo, e adoro isso, com as melhoras que tive. Mas não houve cura. Ainda tenho a doença e seus sintomas.  Em algumas horas rigidez muscular acentuada. Tomo menos da metade dos remédios e durmo a noite toda. A redução do sifrol reduziu compulsões. Os tremores são mínimos e os movimentos mais naturais e harmoniosos.
Ontem de madrugada vi um programa de tv. Um programa de esportes. Havia um cara que teve paralisia infantil e ele deu um show. Não vou dizer que me emocionei, nem que ele era um cara bacana e que eu sou também, embora seja verdade. Vou dizer que aquele cara, como eu, tem problemas, como quem lê isto ( que além de problemático é desocupado) todo mundo tem problemas. Mas não se deve assistir aos programas onde mortos são expostos, nem aos que se dão casa aos nordestinos. Isso é nojento. Não pode haver degradação total. Que prazer causa ver um corpo inerte todo esfolado e sangue e olhar de defunto? Os narradores de tais espetáculos afetam indignação e vociferam como se eles não vivessem daqueles cadáveres. Meu Deus! que prazer pode haver em um assassinato? que prazer pode causar um menino matar o pai, a mãe e outros parentes? Quando vejo isso torço pelo lado que apazigua na tragédia, o que pode explicar as coisas ou equacioná-las. Quando o casal nordoni foi acusado de matar a filhinha eu disse: não foi eles! errei, foram eles. Agora esse menino fez isso (tudo indica que foi ele mesmo) e fica difícil entender. O pai levava o filho e   o exibia na corporação orgulhoso. Amava o filho. Morreu com um tiro na cabeça. A menina chorava pedindo ajudo ao pai e ele surra ela e a jogo de cima de um prédio. O que dizer sobre isso? Não olhem esses defuntos desses programas vagabundos de televisão. Anteontem foi filmada a aurora boreal. Lindo aquilo. Não se trata de esconder a realidade, trata-se de olhar o que se deve. E não se deve olhar o inumano. Não se deve olhar ao que cabe a polícia cuidar.

Assim se dá com os meninos amados pelos pais: retribuem o amor. Eu não tenho nada de santo como não tenho de satânico. Sou humano, cheio de defeitos e nem precisaria dizer isso. Mas direi: bom mesmo é a aurora boreal. Olhem para ela. Não vejam a morte nesse programas hediondos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

MARCELO, CAETANO, REINALDO.





Vou tentar linkar três coisas bacanérrimas, não dando (ave, Caetano) não dará. O primeiro ai esta:
http://esteeodardo.blogspot.com/2012/12/poente.html . É um poema de Marcelo Novaes. Acabo de fazer uma merda aqui. Antes de ler o poema copiei o link, perdi a página e agora tenho que achar de novo. Marcelo esta com um blog ( o 457º dele) que vale a pena ver por que é um blog de Marcelo Novaes, e isso é como se eu empenhasse todo o meu prestígio crítico e me arriscasse a me comprometer com todos os meus leitores. Dia desses eu quase fiquei bobo, e não fiquei por razão simples: ninguém é uma coisa que já era antes, uma coisa duas vezes, uma coisa super-coisa ou em dobro. Me espantou o fato de eu ter tido 50 visitas de página em um dia! Reinaldo Azevedo chegou a 1.000.000 em dia. Caetano, com seu antigo blog, chegou a congestionar a net toda. Mas tanto Reinaldo quanto Caê, tem escrita e fãs para tanto. Quanto a Marcelo não sei qual a quantidade de visitas de seu blog nem me importa isso. Marcelo escreve bem pra caralho se for um Jonh Lennon um dia, se só dois o lerem. Nem dois, muitos dos seus poemas são lindos e admiráveis por serem lindos e admiráveis. Quem olha o mar e se entedia não enfeia o mar, enfeia a vida, se enfeia. O texto do Reinaldo (que mete o pau em Caetano, e eu amo ambos) é puro Reinaldo Azevedo: Bem escrito, em ótimo português. Ei-lo:   http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/caetano-veloso-o-fa-de-pablo-capile-tem-se-participar-dos-festivais-do-fora-do-eixo-e-receber-seu-cache-em-cubo-cards-ou-artista-exalta-o-grupo-que-derrubou-ana/

Por fim um do Caetano sobre Paulo Rónai. Caetano escreve bem, pensa bem, canta bem e... chega! sem excesso. Caetano é só foda. Como Reinaldo, como Marcelo, como eu. O texto de Caêtas:

 http://www.caetanoveloso.com.br/blog_post.php?post_id=1542


O poema do Marcelo vai aqui inteiro:


Inconsolável no local que
mal ocupou, e por isso ainda
o traz guardado [no fundo do
olho], traçado em zigue-zague:
azul noturno, dança-de-escorpião,
calo no joelho
[e dor].


Inconsolável em estreito vão
[ou espaço comprimido], faltando-lhe
Pai & Mãe & Filho, e Todos Presentes,
no entanto [: como Halo, Sonho &
Ilusão].


Inconsolável e persistente em se
afastar do próximo [ou distante],
porque sempre carregando O Buraco,
incapaz de impedir Ambiental Invasão
[ou o Jorrar do Poente].


Inconsolável por não saber dizer-se
[nem presente] em seus aspectos
nevrálgicos, mas abarrotado de Sol
no mesmo dito Buraco, sem conhecê-lo
de todo [ou a fundo], por puro
desconsolo



domingo, 18 de agosto de 2013

CHÁS E SIMPATIAS






Eu previ isso dois anos atrás e não sou profeta nem gênio. Sou mediano em quase tudo, esperto para poucas coisas e burro em nada. Eu disse que a inflação voltaria e ela voltou. Disse que o ptzinho de merda com seu analfabeto de merda fariam um estrago, eles fizeram. Eu ficaria estupidificado, se algo ainda me levasse a este estado, com os que acreditaram no Lula um único segundo, unzinho. Tem pederastas mal resolvidos que ainda guardam certo tesão oculto pela barba do Lula, mas em geral são os mais burros e sem informação, ou os idiotas da esquerda. Embora idiotas da esquerda sejam ainda fãs de Stalin, Fidel, Pol Pot, e contra os americanos (qualquer um) o que diz dos critérios de seres de esquerda. Você vê que um cara é esquerdista (idiota, portanto) quando ele acha George Bush um demônio e chama Stalin de camarada. Chico Buarque (um gênio cantando) diz que se decepcionou com a ditadura cubana por ela ter matado 8 jornalistas dia desses. Ela matou cem mil pessoas, Chico ( que se faz retardado e hipócrita para ser esquerdista) precisou de décadas de matança em Cuba para "acordar".  Lula conseguiu acabar com o plano real, perder a maior chance que o Brasil teve de crescer em sua história, desfazer uma coisa que já tava feita e ele desatou, desmanchou, destruiu. FHC deixou tudo pronto.  Lula tinha que fazer quase nada, só continuar o que havia sido iniciado. Preferiu desfazer a lei de responsabilidade fiscal (alargando gastança, praticamente acabando com ela) preferiu o caminho de antes de FHC, de crescimento aparente, não de crescimento real. Gastar sem critério, gastar com obras inúteis, caras e fantasiosas. Está destruindo a vale, petrobrás, o real, as instituições e fazendo voltar a inflação. Com uma presidente absolutamente idiota, perdidaça, ignorante, absurda, medíocre, o que mais se queira dizer de ruim, o Brasil vive entre sonho de crescer, de ser um líder mundial, com o SUS, entre ser sede de copa e olimpíada e crescimento ridículo. É muito bom falar em crescimento e aumento de salário, em distribuir renda, em aumentar investimento. Essa é a parte boa da coisa. A ruim é dizer que para fazer isso um país tem de seguir o caminho da responsabilidade fiscal, não da bazófia. O caminho básico da responsabilidade fiscal é gastar menos ou igual ao arrecadado. Simples assim. FHC criou a lei de responsabilidade fiscal.   Lula afrouxou-a de tal modo que em alguns casos nem se aplica mais. Uma pessoa pode viver gastando 1.500,00 reais e ganhando 1.000,00? Não. As prefeituras, os governos estaduais e federal podem? claro que não. Só que com governos demora mais o processo de quebra, emitindo-se títulos ou fazendo dinheiro. Fazer dinheiro é possível? não, claro que não. É possível imprimir notas de 100, 200 e se quiser de 1.000.000,00 de reais, mas que serão papéis cada vez mais desvalorizados porque abundantes. Quer dizer que então quanto menos dinheiro em circulação mais rico um país? claro que não! Tem de haver uma razão e proporção entre bens e consumo, entre dinheiro e produção, entre contas a pagar e caixa para isso. Quando um país começa a construir estádios de futebol inúteis e superfaturados, trem bala, e essas merdas, tem de já ter resolvido problemas como saúde, educação e segurança. Aqui temos o caos na saúde, o país mais homicida do planeta e o povo menos escolarizado entre os menos escolarizados que não são conduzidos por ditadores ou religiosos (que vem a dar no mesmo) .
A inflação voltou. Ela durou 50 anos para ser debelada. Fernando Henrique Cardoso o fez. Voltou e agora quem a controlora? o ptzinho não será. Os professores universitários não tem capacidade além de mentir a seus estúpidos alunos que esquerda é uma coisa que uma pessoa normal pode levar em consideração. É muito bom falar de um analfabeto cachaceiro e desmerecer um intelectual para agradar a platéia. A inflação voltou e com ela todo o estigma de ser o que sempre fomos até FHC. Delfim Neto, Ciro Gomes e os sábios que malharam FHC devem ter a solução, mas é fácil, eu tenho, qualquer um tem. Controlar gastos, privatizar mais ainda, retirar o estado tanto quanto possa da economia. Mas isso é feio, não agrada ao populacho. O bom é dizer que somos maravilhosos, um povo divino, sábio sem escola, o povo dos chás e simpatias.

domingo, 11 de agosto de 2013

FELIZ DIA!














É melhor beijar meu filho, olhar pra rua e me calar. Esquecer do mundo, ou dizer-lhe que só me interessa coisas que são minhas. A quem for meu amigo retribuir e a quem não for, querer o bem. E não é por charme,  é por fato, não sou tão pai quanto filho. Sei melhor ser filho que ser pai. Não me acostumei a ser pai, como não me acostumei a ser homem. Me acostumei e gosto que assim seja, a ter medo de ser diferente do que sou, porque me acostumei a mim, me acostumei assim. Não é, longe disso, que eu seja bom ou menos que mau, é que sendo assim, sou eu, de outra forma seria nem eu nem ninguém. Quem diabos entende um texto desses? Explico: sou um filho nato um pai sem traquejo. Talvez pelo tempo, sou há 38 anos filho e há apenas 11 pai. Talvez me acostume com o ser pai para que me seja tão natural como ser filho. Mas se eu chegar a um pai como se deve ser eu talvez não goste tanto. Eu amo ser pai e acho ridículo alguém dizer: --meu filho é tudo   que tenho. Queria mais? achas pouco, pateta? pois um filho é mais do que três fortunas, ou mil fortunas. É mais do todas as fortunas mensuradas em dinheiro e mais que merece o ser humano. Mas já disse, repito e reitero: sou mais filho que pai, sei   me haver em papel melhor como filho. Não sou bom filho, não seria pra outro pai. Mas para o meu acho que sou e não sei qual a razão de eu achar isso. Só sei que meu pai me parece gostar do filho que tem. Talvez lhe quisesse mais responsável... Não! queria-o mais responsável com toda certeza. Mas sobre o que somos e o que queiram que sejamos vai um comprimento maior que o que desejariam. Isso era  para ser uma homenagem a meu pai e a mim, não está sendo. Homenagens nunca foram meu forte. Tendo ao exagero, a idolatria, a... meu Deus, como era babaca o Deus babaca da bíblia (do antigo testamento) dizimar povos por que adoravam outros deuses. Adorar é uma qualidade, não defeito. Mas hoje é dia dos pais e meu dia, queira ou não (quero, só acho demais para mim) é dia dos país! é dia de meu pai. Detesto qualquer socialização, sobretudo de afetos. Hoje não é  dia dos      pais. Não tenho pais. Tenho um. Feliz dia dos pais a meu pai. A palavra pai não tem nada de bom em si, como de resto nenhuma tem. Há pais que matam e não valem mais que facínoras. O que dá todo o sentido da palavra para mim é ser meu pai um, por assim dizer: Luiz Guimarães. Beijos a meu pai e feliz dia.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

NÃO ACABA






Não acaba, não vai acabar! o que aprendi com meu baiano: amar, amar e amar.
A ser doce e olhar os homens vendo neles o que há: dor, saudade, poesia. Sem vergonha de chorar.
Eu não escapo de me emocionar quando escrevo. Vim parabenizar ao Caêtas pelo aniversário e pela capacidade de ser quem me mostrou, sendo ateu, a mais bela frase sobre Jesus. De dizer as minhas palavras quando não as tive, sobre filme do Glauber. De agradecer pela vez que chorou despudoradamente quando morreu Tom Jobim, e pela vez em que chorou sorrindo quando morreu Michael. Tenho que dizer que não é idolatria, é amor. Tenho que dizer que não amo-o por qualidades totais, mas por todos os defeitos afogados por elas.
O baiano disse, numa canção, que se um dia aprendesse a cantar bonito muito seria por causa de uma irmã sua. Por tempo tenho comigo que o que aprendi com o leãozinho é da mesma espécie, ou da mesma força. E força dele é de explodir no tempo seu canto infinito, solitário, só dentro da solidão, como disse Décio Pignatari.
Caetano é o menino de 71 anos. Caetano é mais que o que posso ao escrever. No teu aniversário te desejo muita vida, te beijo com amor. Te beijo com carinho, te beijo sem vergonha de amar um homem e disso poder me orgulhar. Você me ensinou, baianinho a beijar homens sem  nada a justificar. Me ensinou que tudo o que sei não vale um caminho sob o sol. Me ensinou, mestre que é, que mais que o tempo ninguém ensina, mais que o amor ninguém pode, mais que a poesia ninguém é.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

FOFURETE



Talvez eu não tenho o riso e o gostar inscritos em meus gestos e face. Não seja explícito nem expansivo, ou mesmo minimante amável, mas sei ler o gestos da alma, respeito amizades. Não me mostre por aparências. nem nos lugares que estou faça-me presente quanto na saudade. Mesmo a mentira da qual se indignas em meu displante em contar-te, não é mentira toda, ou antes e mentira de poeta, só mentira na metade. Ou verdade de poeta, verdade só em parte. -Mas não existe verdade em parte, ou mentira pela metade! dirás tu, quase indignada. Boba, nunca choraste e riste ante um mesma bobagem?
Quando eu me puser solene e sábio, ou dizer-te entendido ou entediado, saiba que sou certo quando me chamas babaca, louco ou tarado, estás dizendo o melhor de mim, o meu lado. Mas se me digo conhecedor e seja em parte verdade, eis em mim um falso conhecedor, o que quer mostrar que sabe, e se soubesse tanto, tanto mais se calaria. Loucos, babacas e tarados (os de palavras, não de ações, claro) são mais sábios dos que os que de si se dizem sábios. Tem idéia do que são e não se pretendem santos, antes procuram o canto, a sombra, a margem.

Não diga que sou frio ou mesmo que não ardo. Diga só que sou quem  no gelo derrete, quem no frio queima, quem no morno não se adequa, quem não é contrário as coisas por cálculo, antes não se adequou ao adequado, não está para dizer-se santo, está aqui para dizer-te que não teme a Deus, teme ao diabo, não duvida de Deus, devida de si próprio, não chora por prazer, o faz por inevitável, nem brinca por querer, brinca por ser criança, nem espera por pretender e sim por esperança. Este, que você conhece as lágrimas e travo, o doce e a cica, não vem se justificar, não quer dizer-se santo. Não quer nada de que não tenha direito ou mereça: quer só alegrar tua alma, fazer-te o dia mais sorriso, ser o sol mesmo chovendo, aumentar o pulsar do coração. Este vem te dizer o que sempre repete: AMO VOCÊ, FOFURA, FOFURINHA, FOFURETE.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

DIOGO E TITO











O vídeo é de oito minutos e sem música. O vídeo é do filho de Diogo Mainardi, um cara cheio de defeitos, como todos os homens. As vezes ele está certo, outras errado e isso tanto faz. O menino que ri não me provoca nada de comovente, não tenha pena dele nem de ninguém. O trajeto até à escola é numa cidade bonita e me parece fria como são frias as de Recife quando muito cedo. O fato é que (que se danem os frios, os imparciais, ao diabo todos eles) eu chorei os quase nove minutos do filme. A parte que eu mais chorei foi a parte em que o sol projeta a sombra do filmador sobre o solo. Diogo Mainardi é um homem que não crê em Deus e não gosta de Lula. Eu não gosto de Lula e creio em Deus. Eu quero dizer que numa coisa acreditamos, no amor. O que me faz chorar é não o Diogo, nem seu filho Tito, é o amor de um pai por seu filho. Tinha o mundo a dizer quando decidi escrever sobre o Tito e o Diogo, não disse nada. Não espere muito de mim nem de Diogo, somos vaidosos e maus. Nem de Tito, ele é homem, e como tal não será grande coisa. Mas entenda que Diogo não pode ser menos que amado por mim, que adorado por mim, que venerado por mim. São por cenas assim, por gestos assim, por amores assim, que eu choro. Agora, amanhã, daqui a dez anos. Quinhentos Diogos apareçam, quinhentas mães percam seus filhos, quinhentas dores me sejam reveladas e de maneira sincera, sem afetação, eu choro, eu estarei lá. Me importa pouco no que isso venha a dar, me importa pouco o que venha  a acontecer. Se não tiver comigo isso de agora, tanto se me dá viver.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

POSSO TE DAR UM BEIJO?










Já que circula pela net um texto atribuídoa Shakespeare, cuja autoria não é do bardo, mando um no mesmo estilo.

Um dia você aprende.

Um dia você aprende que o tempo passa e você fica velho, broxa, estúpido, idiota, na mesma medida em que vai se achando o máximo.

Aprende que se só tivesse você no mundo ou todos fossem você, o mundo seria uma merda, que desgraça viver!

Aprende que toda coisa boa ou razaoável que você fez ou pronunciou é um plágio. Você viu ou leu de alguém que não lembra, pela razão muito justa que uma coisa boa em si não pode ter saído de sua cabeça.

Um dia você aprende. Aprende que suas manias são chatas, suas atitudes são chatas, suas idéias são imbecis, que nunca faria diferença sua opinião no mundo sobre nada. Que você é menos que um zero à esquerda.

Mas é só isso? somos o lixo do que sobrou para reciclar?

Somos e não somos.

Eu faço parte da coisa toda, e se você crê em Deus chame a isso de fé, e se não crê, chame do que quiser, se não quiser não chame, se não puder não venha, se não te apetece não como, se te aborrece, te afasta, se te causa torpor, entorpeça.

O fato, e nada muda isso, é que vim e sei que estou, e faço parte da coisa toda, da coisa inteira. Não me venha com essa que vou morrer e que outros melhores morreram e meus dias já não são tantos. Se for amanhã, de susto, de bala ou vício, assim seja. Mas já me basta ter dado testemunho do tanto de minha vida. Isso não é nada, isso é tudo. Sou um só, só no mundo. Sou de ser o que sou, reconhecendo erros e medos. Sou sem medida, de vícios e fardos. Sou como qualquer um, como qualquer bicho. Se é pra dizer quem sou, que eu diga que sou como todo mundo e tenho tantos defeitos quanto. Mas se é pra dizer quem eu sou também devo dizer que choro, que admiro, que sei do bem, que sei que ele é superior ao mal.

Se eu falo de mim é bom que eu diga tudo, sem máscaras ou medos: sou um ser perverso e comezinho, sou sem pudor e sem pejo. Mas se você me olha com ternura e com o olhar bom, seja homem ou mulher, sentirá minha alma, ela te dirá: posso te dar um beijo?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

NO CHÃO












Se fosse Vinicius De moraes, se estivesse com a Alexandre, e mesmo se fosse o próprio Alexandre, e um Alexandre maior que o próprio da macedônia, ainda assim seria homem, não mais, não menos.
Se fosse apóstolo de Cristo, mesmo preferido por ele, não cabia o chiste, não faria a galhofa. Se fosse mais do que é, mesmo tendo descoberto curas e vislumbrado horizontes e previsto tecnologias e chuvas, é homem ainda, nem mais nem menos.
Mas nem era um destaque em nada, só sabe dar chutes e socos, e não enxerga o Cristo lavando pés. Não sente o outro no outro, só sente ele em si mesmo. Como câncer, como um que despreza o outro e por ele é demolido.

Tinha por ele apreço, achava-o doce e era bonito isso nele porque era forte. O forte que não liga em sua força, que a tem como membro só usado para o que é imprescindível, tem minha admiração. O forte que usa a força para exercitar a fraqueza, levar à tona a fragilidade, me causa tédio.

Se ele perdeu algo não foi a luta, foi minha admiração. Porque era sincera e não carecia de nada que não fosse bom, que não fosse sincero.

Que diabos levem os que pensam que de nada valeria a ele minha admiração. Ele é rico, famoso, tudo o mais, e nada disso mudará por que deixei de admirá-lo.

Ele perdeu minha admiração. Ele perdeu minha admiração e ela era sincera como todas as outras. Não muda nada na vida dele, não muda nada na minha. Ele perdeu minha admiração e isso não digo feliz, não digo por dizer. Perdeu uma admiração sincera. Sinto que poderia ter perdido mil lutas e seria admirado pelas trinta que venceu. Ou perdesse mil e seria admirado pela que venceu se fosse só uma. Mas ele perdeu meu afeto por soberba, por ser ridículo.

Ele está caido. E caísse duas mil vezes não seria por isso que deixaria de admirá-lo, ainda que fosse por uma única vez sua vitória. Ele está caído como um homem que cai sem dignidade, com toda vergonha de sua conduta, como um... Anderson Silva.

Não saíste bem na foto, meu bom. Não por estares no chão. Surrado. Nada disso! o homem caindo como um homem é bonito de se ver. Um gigante indo ao chão com dignidade é lindo. Há na queda um momento de dor e reflexão que depois levam adiante o derrotado de antes. Você não caiu por ser o mais fraco, isso é que o triste. Você caiu por achar que mais que humano, ou que os outros são menos que você.

domingo, 23 de junho de 2013

O QUE NOS UNE



PARA MEU PAI. QUE COMPLETA 65 ANOS HOJE, 26/06/2013.



Sobre o que seja, seja o que for, em que tempo esteja, onde riso ou dor, haverá nosso laço, haverá o que tem sempre havido entre nós, e entre o tempo e nós. Haverá uma música nova de um compositor qualquer, que se sabe nova, que se sabe bela, mas que a mesma música dizendo a mesma coisa sobre o que nos une. O que nos une é mais do que o que pode separar. Mesmo por times, por santos, ou por Lula ou FHC. O que nos une é de força maior do que meus erros, seus erros, e do ferrugem causado pela maresia do conviver, pela dura falta de poesia que tem a vida de todo dia, a vida vivida à vera. 
O que nos une é sempre acima do que pode o mal e o medo. Acima do que vem de aresta, do que vem de de externo, de aparente, do que revela o que foi feito pra ser claro, ser visto. O que nos une não é como coisa que une com laços de nós de cordas, com nós de nós, com nós. São coisas que tão tênues, tão frágeis, imperceptíveis, unem tão fortemente que nenhum metal, liga ou dinheiro, ligaria ou ligará. O que nos une não é o sangue, não o que se quer dizer quando se diz "sangue". De minha parte cumpre-me dizer que sou feliz, estou bem, ficarei melhor, cuidarei de mim.  De seu aniversário cumpre-me dizer que será mais um entre muitos que hão de haver. Que sejas feliz, que dê tudo bem, cuide de você. De minha parte cabe te agradecer, de beijar o rosto, te admirar. De sua parte cabe ser feliz, cabe progredir, prosperar.
Não há muito o que dizer, já é dito sempre entre nós, senão com palavras, com gestos, que são a alma das palavras. Há o que sentir e muito a se comerar. Pelo seu tempo passando, pelo meu também. Que venham mais anos até acabar, os meus, os seus, os de quem virá. Cada um tem sua função, e a do tempo é passar, a nossa é viver, ser feliz, amar.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O QUE NÃO MUDA








Não estou arrogante nem seguro de mim, isso é errado e estranho, como num forno um pinguim. E nem que errei (de fato não errei) para pedir desculpas, não pedirei. Desculpas é de quando erro, é de quando faço, é de quando fazendo sei que fiz. Ai posso recorrer a desculpa mesmo não vendo erro, mesmo sem maldade no que maldade alguém viu. Mas quando não reconheço erro no meu agir, quando erro não houve apesar de eu esmiuçar o que venha a ser plausível de ter sido mal entendido, fico com a sensação de nada querer fazer, de não cogitar o restabelecimento do que era antes, ou que do aparentava ser. Ai, as coisas são piores que as que desenho no meu mundo, isso é um problema, porque isso também se aplica as pesssoas e, sobretudo, a mim. Eu não quero um mundo real e duro, como sói serem os mundos. Quero-os como os das luas e pontes que só cabem na minha cabeça. Meus olhares sobre as coisas afastam o que queimam ou possuam algum tipo de sal ou ácido. Por isso , e não por cálculo, eu prezo a minha amizade com todos que me são sinceros e tem amizade na medida de sua língua ou exterioridades de gesto.
Desde pequeno eu prezo o olhar mais que a língua, língua foi feita para transmitir palavras, não sentimentos. Língua deforma os sentimentos, os faz amorfos, os faz falsos. Trago no peito, guardadinho, presinho, os meus amigos sinceros e que valem o meu gostar, os que se emburram por nada, que se diziam amigos mas se afastaram por nada, por outros, por menos, que se danem.
Venho aqui reafirmar ( e não canso) que lu ainda é minha amiga querida, que ontem enchi os olhos de lágrimas ao ver um comentário de saudades de Maria Regina sobre o marido morto, não para ela. De beijar o rosto de Graça, e ver nela um desprendimento, um força, apesar de ela mesma querer fingir não ser tanta. Reolhar a risada de Gabi e escutar o que nela é ingênuo e doce (tudo) e sempre, ainda e agora mais, reafirmar que não mudo, que segue o sol, que sigo eu, ele fica, eu irei, mas vou assim, do começo ao fim. Se sou chato, devo dizer que vou falar de meu pai, que fará mais um ano, bem mais chato, igual a sempre, querido. E seguirei falando do mesmo onde o mesmo for bom, mudo o dito se o dito sobre o que disse não justificar o que sinto agora. Cresço, melhoro, com minhas cicatrizes e meus fios. Nada, nem pensar, não vou terminar sem meu filho, belo filho, adorado, agora e daqui a mil anos, aqui ou em singapura, no são joão e no santo da hora, quando chegou e quando eu for embora.  Falta dizer que aos outros fica o meu beijo, para Joelma, Lucia, Clícia e Rafaela (amiga recente, segundo a mãe chata, segundo eu : um doce) e a Sileide, fará aniversário amanhã, beijos e que tudo dê certo e melhore. Mas sem mais, vou com Deus, fiquem em paz.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

EM PAZ

Deixe eu lhe dizer o que tenho, o que é meu e constitui minha fortuna, que é meu e me foi custoso comprar com dinheiros que mais caros que os dinheiros que há.

Tenho um filho, cicatrizes, amigos e um luar. Um violão que nunca aprendo a tocar. Um sorriso que não muda com o cacete do tempo, com as dores e os males todos.

Sim, tenho isso e mais um olho para chorar, um boca para rir, um abraço pra somar, um apego ao que for lindo, os poetas para amar. Tenho flores, tenho medos, tenho anseios, tenho tudo que não presta e o que presta só um pouco. Mas o pouco que presta preenche o vazio do oco. O oco preenchido deixa disso, de ser oco. Passa a ter coisa dentro, e tendo não és mais oco. É então o que é pouco, o que falta se comparado ao todo, mas é muito se comparado ao nada que é o oco.

Tenho meus textos chinfrins, tenho as minhas vitórias, tenho vencido o tremor e lutado com a rigidez. Tenho muito o que contar de hospitais, dores, perdas, mas nelas não me detenho, gosto de contar vantagens, de estar só madrugada.

Tenho dias que virão e os que foram ainda lembro. Tenho-os porque são meus, me formaram, me fizeram. Embora essas coisas não tenham feito um homem grande, um homem sábio, fizeram o que sou e estou em paz com isso.

Quem diz isso que vou dizer agora passa por cabotino, por petulante, por o que queira, mas digo porque é, e sendo não depende do que se fala, é.  Estou feliz comigo, estou de todo calmo. Cessaram meus tremores e o que tenho há anos, desde pequeno, tenho ainda. Há orgulho na minha fortuna e riqueza, no meu testamento não haverá nada. Quero morrer não agora, nunca quererei, e só vou me embora quando não der mais, mas quando morrer quero estar como agora: bem comigo, feliz com tudo, em paz.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O MEDO E O RISO




Adentraram a casa dela, ela que é um doce. Ela chegava com a neta, ela estava distraída com a vida, não cuidava em roubar, vinha do trabalho. Não houve mais que isso. Ela está reclusa, exilada na casa da filha. Não roubaram muito em coisas suas, não causaram estrago maior que o que causa o medo e a impotência. Os bandidos que a amedrontaram estão sendo procurados, talvez sejam achados e presos, certamente soltos, e fatalmente farão de novo o que aprenderam, roubar e causar medo. Certo que eu não posso fazer nada, certo que ela também não. Só rezar. Eu não rezo. Acredito em Deus e não rezo. Sei que reza é uma coisa nobre e bonita, mas não rezo. Sei que o mundo não se regula (e ainda bem) pela minha vontade, pelo meu querer bem e mal a alguém ou algo. Porque sou muito criança e minha afeição supera a serenidade que requer a vontade, mas se fosse de minha alçada arbitrar o que quer seja, seria passional e objetivo, seria pouco piedoso ( o que revela meu caráter humano, minha irascível reação as coisas que merecem ponderação. Eu não acho o perdão uma coisa menos que divina,  o perdão é o principal predicado de Deus. Por suas razões ele vê bandidos adentrarem à casa dela e não impede isso. Por suas razões, e eu não falo com ironia alguma, ele permite a quem quiser roubar ou matar alguém. Não, ele não permite, Maria Regina, eis tudo. Ele nunca permitirá o mal, nem anuirá o errado, ele apenas não impede. Eu, e isso é medonho, pueril, estabanado, se fosse de minha vontade, colocava esses caras maus em um como se colocam na lixeira o que não serve pra nada. Deus não faz isso. Porque ele não tem essas coisas medíocres minhas, por ele sentir sua dor, seu coração, se entristecer com isso, mas querer o coração daquele que te fez o medo. Porque ele é pai seu e do seu ladrão. Dos que trabalham e dos que roubam. De mim e dos santos.
Deus não se meteu para intervir na tua casa, ele nunca se mete em nossas ações boas ou más. Ele vê, ele vê. Torce com amor para todos, nunca impede que nós façamos o que bem entendamos, nunca incentiva os nossos malfeitos. Ele viu adentrarem tua casa, ele vê teu medo, tua tristeza, mas ele quer que o que te fez o mal volte à vida. Talvez ele não volte, talvez sim. Se voltar ele chorará pelo que causou de choro, se não, ele chorará pelo que causou de choro. Ele terá o tempo que durar a vida dele para chorar depois pelo que fez, vai depender dele como fará isso: se chorará em vida, se em morte. Torçamos para que em vida, e quem sabe ainda hoje (acontece, o arrependimento o cansaço de ser menor) mas não acredito nisso, e sou mesquinho, vingativo e mal. Não sou orgulhoso disso, nem quero dizer o quer que seja que não isso: Os motivos de Deus são sagrados, soberanos e imensamente acima dos que posso ter. Os meus são ridículos, humanos, com amor desfreado e desmedido, com fúria. As coisas nunca dependeria, dependem ou vão depender de mim, e seria um desastre se assim fosse, mas se dependessem de mim (e isso é tudo que posso, Reginita querida) você estaria na sua casa, com sua netinha linda, com suas abobrices, com sua ironia e sarcasmo, que você não usa comigo. Estaria em casa, iria à casa de sua filha quando quisesse e não por medo de ficar na sua. Isso eu faria. Mas tem Deus que tudo rege, a quem cabe fazer o que é certo. Ele lamenta o que passas agora, mas lamenta tanto quanto o teu exílio (sei que estás na casa de quem amas, mas exílio ainda assim, porque forçado) o exílio de quem te assustou. Porque é pai dos que fazem o mal e dos que sofrem por isso. Sim, querida, postadeira, que não sei se tem ânimo para postar (espero que sim, e se puder poste um daqueles gatos e absurdos, com cara de preguiçoso, que são a tua cara) é bom que as coisas não passem pelo meu crivo. Se passassem você estaria em casa com sua neta, os bandidos estariam nas profundezas do inferno.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

POR MENOS QUE ISSO CHORARIA




Esse é o blog mais meloso da net, então que cumpra a sua sina. Me veio à memória uma crônica de Nelson Rodrigues, em que ele dizia que dias antes tinha feito uma lista de amigos queridos e não colocou um tal de Manuel, e vinha se retratar de ter omitido ( comecei a chorar) o nome do Manoel dentre os seus amigos por ele ser trabalhador braçal, não ser intelectual, nem ser homem importante. Nelson, em uma crônica arrasadora, que só de vir à mente me enche os olhos de lágrimas, pede desculpas por não ter colocado o Manoel entre seus amigos. Eu sempre li Nelson com convicção de que não havia nada de errado com ele. Suas peças nunca me pareceram pornográficas nem coisa que o valha. Depois de ler muito Nelson, saiu a biografia dele feita por Ruy castro, lida por mim três vezes, com paixão, com veneração. "O anjo pornográfico", título perfeito, irretocável. Nelson era um gênio. Fim de papo. Um dos raríssimos a quem se pode dizer sem titubear: eis um gênio.
Nelson escreveu a tal crônica e recolocou o português chamado Manuel na categoria de amigos queridos. O que fez o tal Manoel? bom, não achei a crônica no google, então tentarei relatar o que fez o Manoel para ter me feito chorar e ter o Nelson Rodrigues como amigo.


De madrugado, alta madrugada, entra um homem armado na casa do filho de Nelson, era um ladrão e estava armado. O filho de Nelson acorda e vai ver o que está acontecendo. O ladrão dispara dois tiros na direção do filho de Nelson, nenhum pega. O ladrão estava muito perto para errar, como errou? não errou. Como não acertou e não errou? os dois tiros acertariam o alvo na altura do peito, por certo matariam o filho de Nelson. Aqui entra Manuel, que foi esquecido por Nelson como amigo selecionado, mas lembrado com grande amor depois pelo anjo pornográfico. Manuel toma a frente do filho de Nelson e recebe duas balas no peito. Não eram pra ele, não era obrigação dele dar a vida por outro, nada o impelia a isso, mas ele deu o peito para que fosse alvejado por balas de um assassino.

Eu acho violência uma coisa chata até de se falar. O assassinato é imperdoável e injustificável em qualquer hipótese, não em um caso como a morte de um filho. Matar um cara que mata um filho é direito é sagrado. o pai que não vinga um filho inocente não é homem, é um traste. Eu sou frouxo pra caralho, mas numa hora dessas só de falar me esquenta o sangue. Nunca, e Deus há de me atender, quero ser valente por essa razão. Matar não é valentia, vingar um filho é apenas um ato mecânico, uma obrigação.

Mas, e o  contrário disso? sim, o cara que salva a vida de nosso filho, o que merece de nós? tentarei reproduzir aqui as palavras do Nelson, porque não achei o arquivo no google. Ei-las:
Manoel dos santos. Outro dia fiz uma lista de meus amigos e não coloquei ele nela. Talvez porque fosse trabalhador braçal. Manoel dos santos é meu amigo, será para sempre amado por mim. Manoel dos santos, fiz uma lista de meus amigos e ele não estava, mas é meu amigo, será para sempre amado por mim. Mas que fosse meu inimigo, salvou a vida do meu filho, está morto porque levou no peito os tiros que tirariam a vida de meu filho. Será sempre amado por mim.

Por menos que isso eu já choro, imagine com isso.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

OLHE O TEMPO.





Te farei o dia mais leve.
Sabe um abraço? se dá em todos igual, só tem um jeito de dar, então um abraço é só um abraço na forma, na maneira de se dar. Assim quando escrevo para outra coisa que não seja ligada a você, faço-o de coração, faço com prazer e sem falsidade, como se dá um abraço. Quando é pra você o abraço vai com mais que abraço, vai como alma entregue nos teus braços, vai como reza, morte de quem se ama. As dores legítimas dessa vida eu respeito e considero, as pessoas que me cruzaram e me foram carinhosas, tenho carinho e retribuo, dou abraços sinceros, dou abraçaços. Em você quando dou um abraço é mais que abraço ou mesmo abraçaço (adorei essa palavra e música de Caetano, que é muito conveniente citar aqui, pois amo muitos cantores mas só a Caetano posso amar tanto) em alguém, o faço, já o disse, com respeito e devoção ao ato e acho isso lindo em mim. Não canso lábios em beijar e elogiar todo mundo,  acho que tem muita coisa que não presta e pouca coisa que presta no mundo, tendo mais o que se criticar do que se bendizer. A quem elejo, elege-o por razões de subjetivas e que se relacionam ao olhar que me tiveram. Já conheci marginais que me foram leais e a estes meu carinho e respeito, aos que me sorriram ou sorriem, são pessoas de bom comportamento social e me falseiam sorrisos eu voto desprezo. Mas é pra você esse texto, pra te deixar mais leve e abrir-te o sorriso lindíssimo de menina, então cuidemos disso, você não, eu. Você dorme, só sabe fazer isso. Dorme toda noite, toda, sem acordar de madrugada como faço, sem peso na alma, como tenho, sem ter de velar por mim. E eu fico acordado até altas horas, até vir o cansaço, até quando posso. Então é função minha velar por ti e te desejar bom sonho, boa madrugada, dorme. Dormindo tu descansa, tua alma se liberta do corpo, de ter ossos, de ter nervos, de saber das coisas dos homens e como são feias, como são pra doer. É doído viver. Porque tudo estraga pela falta ou excesso, nunca as coisas são exatas, nunca são como queremos e se fosse seria pior. Nada vai mudar e eu não prometo isso. Posso prometer velar teu sono, cuidar de te deixar leve o dia, ainda que nada possa fazer para evitar nada, ou nada fazer para fazer algo. O que posso te garantir é que só há um caminho para se chegar ao fim dessa travessia com o sentido de realização: olhar o tempo. Olhe o tempo, fofurete, olhe-o. Passe no centro e olhe a estação e o sol de manhã. Tudo parece eterno, tudo, mas nada é. Por ali passaram outros que achavam que eram eternos. Gostavam de outras coisas, de outras coisas e julgavam que nunca passariam. Elas passaram e eles estão mortos. Olhe o tempo e aprenda com ele. Não sou sábio, nem  posso dar conselhos, se te mando olhar o tempo, faço-o por ser a única coisa aprendida. Olhe o tempo. Veja que os poetas e os garçons, os filhos de Deus e os da Umbanda, todos morrem, todos vão. Não, não quero igualar as coisas, ser simplório e redutor, porque por esse prisma eu diria: assassinos e caridosos morrem, então... nada disso! assassinos não matam tanto pessoas como já mataram a si mesmo. caridosos dormem em paz, sonham sonhos leves como os teus. Mas olhe o tempo, neguinha, aprenda que ele passa e envelhece, mata destrói, mas olhando o tempo, o carcomida das casas antigas, olhe o filho, olhe a flor, olho o sol. Olhe o tempo, mocinha, veja que linda é a lua, que belo é o mar. Tem coisa mais antiga que o mar? tem sim, o que fez o mar. Creio que sim, como creio que alguém me fez. Creio que há um sentido pra tudo, não uma razão em si, mas um amor seminal. Olhe o tempo, que te faz mais velha, que te diminui o tempo, mas que te trouxe coisas grandiosas. O tempo que te fez chorar olhando o quarto azul e hoje te faz chorar olhando o quarto azul. O tempo sempre faz chorar, resta aprender como chorar.

Te amo, bruchinha.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

UM CHATÃO











Todo pai é bom, todo pai deve ser amado. Mas o meu é mais ainda, o meu é mais em tudo. Se parece corujice de filho (um amiga minha disse que pai coruja tinha visto muitos, mas filhos corujas só eu.
Ele é chato pra caralho, cabuloso pra caralho, mas ... sem mais nada. Ele é meu pai. Meu pai, meu amor e meu orgulho. Se eu muito disser, se for muito preciso, exato não seria, faltaria colocar na minha descrição, no meu amor ao descrever o amor dele, que eu pudesse mais que posso, que pudesse colocar nas palavras uma alma. Disse uma vez que as palavras tem alma. Não exagerei. elas tem. Mas é que não tem tanto quanto o amor de meu pai. Meu pai é quem reclama e chateia, mas ele é quem fala aborrecido e desmente a raiva com gestos. Gestos são tudo. Palavras não são nada. Se melhorei de uma doença que até pouco não tinha retorno, devo a ele isso.
Vida longa a seu Luiz, bravo luiz. Deus te guarde bonito e feliz, e na conta de teus pecados seja debitado o bem que fizeste aos teus filhos.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

VIRÁS







Se vens aqui pra me cobrar o que não devo, lhe tenho de lembrar que meu compromisso contigo é te amar não  me submeter, me refugiar em você e te deixar mandar em quem gosto e como gosto.

Se você não pode entender o que não sei explicar, tanto pior, tanto se me dá.

Não vou te dizer o que sempre digo, o que você sabe, mas finge que é segredo. Quando você descobriu que era idiota? quando morria com você? quando te dei o que pude e você se preocupou com suas festas e batizados?
Quando fui ator contigo? em que hora? na tua dor? no teu gozo? ou na minha e no meu?
Fale do fiz, não do que eu sinto. O que  eu sinto é meu. Cada dia dos que me trouxeram ao de hoje foi doído ou alegre, foi de tudos e nadas, mas nada me é tão claro como o que eu tenho de bom e sei que é.
Não se fies ou se fies em eu te amar para vir com teus desaforos, aceito-os. Por mais raiva que me deem em um primeiro momento raiva, vem com teu rostinho de cachorro, com sua carinha de linda, sua vozinha de lua.

Tudo bem, lua não tem voz e você disse que não sabe por qual razão vem aqui. Te disse nos comentários que vinha porque queria, que não me fazia diferença você vir ou não. Menti. Você também. Eu escrevo pra você, pra você me ouvir e saber que comigo se dá o seguinte: embora não crie nada que preste quando escrevo com meu português vagabundo, minhas imagens idiotas e quando mais que isso medíocres, tu vens, tu sempre virás, para lembrar, do que tivemos e  fomos.




Virás ainda muito tempo ver o que escrevo, rir e chorar, lembrar de mim. Onde mais as luas falam? onde mais se amam tanto as mesmas coisas, músicas e pessoas? sim, virás. Não por idiota, mas por que és doce. Virás sim, virás!
Porque tudo é teu, o pouco que sou capaz.

domingo, 28 de abril de 2013

VIM



Vim de uma noite acordado, de lugar esquisito, de um amar sem cuidado.

Vim de auscultar teu sorriso, de penetrar tua alma, de escultar o baiano, de questionar Deus e mundo, de ser vencido por cansaço.

Vim de um amor infinito, de um soluço pungente, de um lugar tão bonito, de um gostar de quase tudo e me amar por isso.

Vim do que gera e fomenta, das coisas confusas, sombrias, cinzentas.
Vim de outras guerras e lendas, outros vias e fatos, outros meios e inteiros, outros dias, outras coisas ainda que mesmas em sua aparência, ainda que quase semelhança. Ditas iguais por quem vê, ditas diversas por quem sente.

Vim na linhagem dos que não se alinham e me fiz cópia de mim mesmo, e confusão entre harmonias, e dispersão entre concílios, coesão entre espaços, dimensão entre abstratos, misticismo entre concretos, abjeto entre santos, santo entre os piores. O que faz o consciente duvidar de sua ciência e o que faz o crente entender que pode o ateu ser melhor que ele, ou pior, e Deus nada tem com isso.

Vim com um fito, não de escrever bonito ou algo assim, mas para te dizer que cante e saia de sua tristeza, que fale suas bobagens. Elas são tão humanas e tão verdadeiras que me falta clareza em te dizer o que são elas. Não te quero triste, você não é isso. Você é um sorriso. você é gargalhada. Você não pode deixar de rir e contar suas bobagens. Você é da manhã, você é claridade.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

PITOCUDO RESSONA, EU BABO.



Se tiver de sonhar, sonhe com isto: Rio capibaribe, ressonar de criança, chuva no sertão, morte da fome, cio de mulher doce, doces de tabira, noites de Luiz, Luiz jogando baralho, a vida passando linda, o dia trazendo a noite, o sonho vir à realidade, o céu azul ou cinzento.

Digo que é ruim sonhar, que o bom é amar a realidade. Ser feliz como está, de nada ter saudade. Ou ter saudade de tudo. De tudo que traz saudade, mas como quem sabe lembrar, não busca voltar no tempo. O tempo que nunca volta , que sempre é quem leva a traz, as coisas e as saudades, os começos e os nunca mais.

Então que perdure o belo. Que o feio seja compreeendido, o mal abominado, o ouro bem dividido. Mas isso já não é sonho? isso não é utopia?
Se é pra sonhar sonhe grande. Sonhe mudando o mundo.

Em que posso dar conselhos?
Em coisa que vem com amor, com vida. Porque se não tenho suficiente moral, tenho sobrando amor, e vicejo a cada manhã e me me acabo cada madrugado, de tarde em emburreço, durmo e não sei de nada.

E peço com não confunda sonhos com ambição, prudência com covardia, pena com compaixão, ciúme com amor, desprezo com inveja, preguiça com tédio, rigor com rigidez, flexível com flacidez, Joana com Juarez. Que as coisas sejam exatas e ditas com precisão. Que ditas de várias formas mas sempre como elas são. Que a vida seja só plena e linda, que o amigo não seja menos que o irmão, e   o irmão não seja menos que amado. Que nunca a dor venha e encontre abrigo.

Se gostas de sonhar ou não contralas teu ímpeto de sonhar acordado, sonhes então, mas sonhos em alto estado. Não sonhes com carros e mulheres loiras lindas. Sonhe com que menos se queiram carros e loiras lindas (outro tipo de carro) mais se respeitem as regras, mas pessoas comendo comida, e depois de alimentadas, comendo poesia.

O preço de cada coisa é menos que o que ela vale. O preço de cada coisa não pode ser calculado, seja calça ou afeto. Quem diz que tudo tem um preço, quem diz tal disparate, nunca fez contas sérias, nunca as fez de verdade. Ou se tudo tem preço, se tudo tem seu valor, creio que os economistas devem se apressar em refazer cálculos de valores e dar a cada coisa seus preços reais, exatos. Se um empresa vale milhões e tais, se ela eleva mercados ou os retrai, sem existir senão como papéis, senão como capitais, quanto valerá o sorriso do meu branco, quanto valerá ?

Eu não sei dizer nem estou apto a calcular, sei dizer, e isso conta que nada que se produza ou tenha na natureza, que tenha valor ou remeta à riqueza. Que gere paixão ou disputas, guerras ou recompensas, nada que possa o dinheiro, poder ou beleza, valem um sorriso do meu branco, sua tez, sua braveza.

Não é aniversário dele, nem falta do que falar, é amor por ele. Que nunca acaba, arrefece, amor de pai que ama, que só pai que ama conhece.