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sábado, 13 de agosto de 2016

O sonho do poeta





Sinto mais pesado um dos lados do meu corpo -que não morto de tudo está- e vivo ou sobrevivo em facas educadoras, em pedras, em cactus, menos no diamante, mais no pouco, no seco, no exato.
Entre coisas que desgastam, entre coisas que se acendem, bailarinas inflamadas, touros, pontes e sevilhas. 

Aprendo com suas touradas que a poesia está completa onde ela não foi sequer pressentida.
Que não havendo morte o que há é falta de vida. 
Aprendi e guardo comigo, que não provém a beleza da coisa em si advinda. Que beleza  vem (na poesia) não de do que é, mas de como é descrita. Poucas coisas são em si mesmo bonitas e encerram em si sua beleza. A lua, o mar, o sol. Não se há de escrever poemas que apenas disto tratem (para tal já existem os poetas de Carpina) nem se falará de musas e ninfas. Tem que extrair de onde é improvável, de onde  é impossível. Impossível é o que não pode amarrar o poeta, nem prender-lhe pelo rabo. Ao poeta tudo é lícito desde que não descambe para o feio. 

O pecado do poeta é o feio, o simples, o vulgar. Os lugares-comuns, a frase feita, o pensamento dos outros. Ao poeta é dado o direito de não ser bom poeta, não é dado o direito de querer fingir sê-lo.

O poeta não chora, ele soluça.
Ele não ama, ele, ele constrói o amor para que outros amem.
O poeta não dorme, ele morre e volta a ser quando acorda. 
O poeta não sente, ele arde.
A dor do poeta não cabe em sua lágrima, e isso o angustia,
A fome do poeta não cabe em seu estômago.
O riso do poeta é de que vive o mundo.
Que o medo do poeta nunca se concretize.
Que o sonho do poeta seja tão real que não seja mais sonho de poeta.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O nada.




Eu tive um sonho  há pouco que foi tão poesia que tentar contá-lo o diminuiria, reduzindo a sonho o que sonho seria se não fosse mais, se não fosse o que queria, todo sonho que mereceria o nome de sonho ou de poesia.

Eu tive, e tanto era lindo, que santo diria, mas não era isso, era até profano, por não ter pecado por ser mais que humano, por eu entender que era o que entendia não caber no homem, não caber em nada.

Eu tive (e pouco me importa se esta errado) ter -se sonho ou haver sonhado, ter se sentido certo, ter sempre eu errado, ou o que é real e o que foi sonhado, ou menos o pecado ou mais o perdão.


Se explicar não posso, quem o poderia? se sonhasse um sonho que foi fantasia, nada de irreal, nada que conteria um outro nada em si e por isso era tanto que a palavra nada tudo definia, como se verdade última da poesia, como se única verdade houvera, como se descoberta a nova era, como se descobrisse o véu primeiro, como se segredo não mais houvesse, como se tudo ao nada reduzira, e o nada fosse a melhor saída, e  era melhor por ser a única, e era bom e eu o sabia em sonho, e eu o via em graça, o tendo profundo, o tendo em tal monta que para mim nada mais me vale, nada mais me serve, nada mais eu busco do que aquele nada.