Ele que fora amante de tantas mulheres, que fora rei das putas e casadas e das donzelas enternecidas; Que usou ópio, cocaína, que cultuava ayausca, que desperdiçou no jogo, na bebida e em orgias e bacanais, que tão generoso fora para as damas de todas as classes, idades e suscetibilidades, não teve um choro mais do que o de um travesti.
Curioso é que ele (agora morto, agora nada) nunca fora agressivo com as mulheres, mesmo as mais estouvadas e perdulárias; As mais caprichosas e cheias de manias ele devotou uma serenidade de cordeiro. O travesti foi o único (a) que lhe sentira o peso da mão. Apanhou na cara, com a mão aberta (que era uma maneira de humilhar-se ainda mais a quem se infringia a bofetada.
O travesti, cujo nome nem se saberia, o chorava e soluçava, beijava-o como pai que beija filho morto, como mãe de soldado em partida para a guerra. Beijo de quem quer entrar na carne, de quem quer ir junto (para o chão ou para guerra).
Isso não conto por relevante e nem quero extrair moral ou dar conselho. Só querer dizer que de onde vem o amor, do que se alimenta e onde alcança, não se sabe, não se saberá, nem se tem respósta. Só se sabe que gostar não é dizer que gosta, é agir com desespero ante a pessoa morta.