terça-feira, 24 de julho de 2012

O PRÍNCIPE E O SAPO











Eu ia falar do Lula, desisti. Gosto do belo, não de sapos. Vou falar do professor, do príncipe, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, de um gigante. O Lula tentou e tenta o que não pode, nunca poderá, sujar o impoluto, rebaixar o que não alcança. Se vê na internet coisas nojentas comparando os governos do príncipe e o do sapo. O sapo ganha em números absolutos, e os que seguem o sapo, se deleitam com isso. Apreciadores de sapos não gostam de príncipes e vice-versa. 
Como é fácil ser o que somos. A frase é idiota, mas fica. Brasileiros se dividem em dois grupos hoje em dia, só dois, nenhum mais, os que admiram sapos e os que admiram príncipes.
Os sapófilos alardeiam números absolutos onde estes não cabem. Dizem: nosso sapo gerou milhões de empregos mais que o teu príncipe, gerou mais riquezas, fez isso e isso a mais que o teu príncipe, superou-o em vários quesitos, expandiu programas sociais, elevou crédito... Eu não tenho muito a explicar a idiotas, não tenho nada. Lanço aqui uma parábola (Cristo o fazia para deixar óbvio aos idiotas o que lhes parecia obscuro) vamos lá, sapinhos, vamos lá: Havia um lugar caótico, fora do mundo, da realidade, e com um monstro terrível e indestrutível (supunha-se)  pois todos tentaram matar o monstro e todos falharam. Aparece um príncipe, mais um que tentaria destruir o  monstro que não deixava o lugar sair do caos. O príncipe inicia a luta e tem um outro inimigo além do monstro, e talvez pior porque sabotador, mesquinho, desleal. Trava-se a luta. O príncipe vence, todos boquiabertos. Agora tinha que tirar o lugar do caos. Organiza o lugar, cria mecanismos de desenvolvimento, e sai de cena com um lugar organizado, pronto para ser um lugar de fato. Depois do príncipe vem um sapo. Dentro de tudo o que príncipe criou, com todos os mecanismos do príncipe, com as armas deixadas pelo príncipe,  o sapo pode dar ao  lugar mais um pouco de circo. O sapo se torna querido e o príncipe esquecido ou odiado. O sapo nega o que o príncipe fez, e exalta a si. O sapo diz que fez tudo sozinho, não fez nada. todos os adoram, ou quase todos. Há um outro grupo minoritário que admira o príncipe, aponta o dedo para ele e diz: ELE MATOU O MONSTRO!  Os sapistas esqueceram do monstro, esqueceram que com o monstro não haveria nada, seria o caos.
O príncipe está sereno, como não estaria? ele é príncipe e matou o monstro. O tempo passa e os idiotas também. Quando um ser no futuro for se informar sobre o que aconteceu naquele tempo desinteressante, terá tédio. Se for curioso lerá sobre o tempo em que lugar se viu uma disputa sem nexo, um disputa irreal, entre um príncipe e um sapo.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

COM MEDO

Que seja dito: Deus não me livre de sofrer, me livre de não aprender com a dor.  Que nunca me deixe crer em um deus de testamentos, que eu olhe para mim como causador de tudo bom e de mau. Que eu aprenda que nunca se  aprende tudo. Que eu entre na idade madura com olhos e coração de quem não tem idade. Que Deus não me livre das coisas e pessoas de fora, mas me livre de mim, de minhas lamas. Que Deus não me perdoe se um dia eu embrutecer. Que me leve quando eu não chorar, quando tempo me secar os olhos, o mundo está morto para os sem lágrimas.


A Deus peço que eu não seja salvo para um céu sem poesia. Um céu sem poetas que vá os que o querem. Não pretendo estar em céus onde não haja poesia. Cada dia eu peço menos e agradeço  mais. Não que eu tenha tudo, não que eu seja rico, não que eu sejas atleta, muito menos tenha fama. É que olho os mendigos, os  nos hospitais, e os que nem família tem. Ai eu entendo o complexo da vida, e o motivo de não endurecer.
  


A que vem isso?
É que estou com medo. 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

É BONITA!





















Quando eu for submetido a uma cirurgia verei tudo como em clichê de filme ou livro vagabundo, mas posso recorrer à surrada frase e dizer que ali passará o filme de minha vida. Estou completando 37 aninhos e querendo mais. Pitocudo tem dez anos e já não cabe nos meus berços sonhados, em meus planos de nunca ele sair de onde eu possa o vigiar. É o tempo, dona vida, com seu "ser tempo", o seu passar.

Não brigo com quem não possa ganhar. O tempo envelhece mas ensina, traz-nos pesos mas as formas de carregar, dá-nos medo e as maneiras de tentar, dá-nos o o que pode ser ruim ou benfazejo, dá-nos rugas e paciência, dá-nos saber ou senilidade, mas no seu auge não dá nada, tira tudo, tiro do mundo o mundo, tira do tempo o tempo, falta de voz a quem já é mudo.

O tempo tem de ser compreendido, amado e sobretudo respeitado. Nunca houve quem fosse tão bom ou forte ou bonito, que o vencesse. Ele trabalha em silêncio e com calma, fazendo você gostar do que um dia acaba. 

O tempo é um falso parceiro, nunca ficará do teu lado. Te dá falsas impressões, falsos entendimentos, te faz pensar que és eterno quando és... já foste. 


É preciso amar o tempo. Ter-lhe respeito. É preciso ouvir Caetano Veloso. É preciso ver o pajem de terno, moreno e com cabelos. É preciso olhar os poetas de antanho, os de hoje e saber que o mal anda bem.


Viva uma ano a mais.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

AOS PETISTAS

Imagine o Brasil hoje sem FHC. Vamos lá, usemos o raciocínio de Lula, que nega méritos a quem deveria lamber os pés. Vamos lá, voltemos no tempo e coloquemos Lula como presidente em 1994. Inflação de 44% ao mês Lula faria o quê para debelá-la? daria um calote no FMI, colocaria Maria da Conceição tavares ou Mercadante no ministério da fazenda, aumentaria salário com indexadores que supliciavam a nossa economia, não abriria o mercado para o mercado externo, não teríamos privatizações, enfim, seria o caos.
Lula foi contra o plano real, contra privatização, contra lei de responsabilidade fiscal, contra o bolsa família (quando era com FHC não prestava, era esmola) foi contra tudo. Quando ganhou, depois de Fernando Henrique, foi contra tudo o que era contra no governo anterior, copiando-o, seguindo-o, mas criticando a quem seguia. 


Claro que para ser petista é necessário uma cavalar dose de ignorância, idiotice, safadeza ou tudo junto. Mas peço a algum idiota que vote nessa cambada que me desminta em uma linha aqui. Veja bem, uma linha só. Onde eu errei ou menti?
Tudo que aconteceu de bom nos últimos anos se deve ao fato de FHC ter passado antes, arrumado a casa. 




VENHA UM PETISTA AQUI E ME DESMINTA.   


VOCÊS SÃO IDIOTAS, ESTÚPIDOS, SEM ARGUMENTO LÓGICO.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

HOSPITAIS PROFESSORES











Não espere de mim o que não posso dar. Nem luas nem dinheiro, nem que eu te rode no ar. 
Ainda que eu pudesse eu não o faria, ainda que você pedisse eu lho negaria.
Esquece eu humilde, esquece eu pra baixo, esquece eu doente, esquece eu chorando. Não participo de coisas assim. Sou soberbo, pra cima, saudável, e quando eu choro é admiração de eu ser assim.
Nunca queira saber de minha dor, ela é tão minha, é tão tanta que você talvez ficasse triste, ou morresse um pedaço, ou toda. 
Se alguém vir a mim com suas conversas de dor, terá o meu riso, o meu pavor. Não me junto com tal gente, nem disputo o mesmo ar. Tenho-lhes só desprezo, evito ouvir-lhes a voz. A voz do que amo é riso, seu som vem como som de águas. 
Eu vi os hospitais, eu andei lá. Conheci a angústia de não saber o que será. Ou pior, sabendo o que esperar, não ter nada à esperar. E não é pra falar de mim, nem mostrar-me forte ou sábio. É para te dizer: cuidado com tuas queixas. Deus não vai te castigar por nada, ele não castiga. Digo que vi uma garota de poucos anos e linda, em uma cadeira de rodas da qual nem sei se levantou. Um homem com um menina de poucos meses nos braços, e exercitando os bracinhos atrofiados dela. Ele não perguntava se ia deixá-la boa, curada, só exercitava o braço de sua menina. Fui onde ficam crianças carecas e com câncer. Não vi medo ou pessimismo. Só a dor em algumas. 


Por qual razão falar de hospitais?  lá aprendi o que sei. Não é pouco nem muito, é o que sei. Cada um sabe tão pouco ou quase nada. Shakespeare, eu, você, bobos, tolos, fracos. O sábio era aquele pai que cuidava da filha inerte. Não questionava se ia mudar a sorte de sua pequena. Balançava os bracinhos dela, como quem cumpre um dever, ou quem adorna um caixão.


Mas não pense que isso é triste nem é coisa pra comover. O que vi foi luta, o que vi foi coragem. Gente tentando ir à frente, com medo-são humanos- mas sem choradeiras. E se choraram eu os entendo. Choro, é normal. Chorar mas ir à luta. O bem sobrepujar o mal.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A ENTREVISTA DE MARCELO NOVAES











Nem todo mundo gosta de poesia, compreendo, há quem não goste de mulher nem de gatos, como haveriam de gostar de poemas? Mas há os que gostam de bons papos (ai incluo todos, menos os petistas) leiam isto: 

http://ethiliconews.wordpress.com/2012/07/04/marcelo-novaes-a-entrevista/

É uma entrevista com um poeta. Há os que acham que bom é Michel Teló. Outros votam em Maluf e Lula (que vergonha para Maluf!) outros preferem tomar cachaça e comer todo mundo (esse é meu sobrinho) Há muitos, não caberiam aqui. Para os que gostam de poesia, de ótima, mesmo votando em petistas, leiam a entrevista de Marcelo Novaes (leiam? sim, tenho quatro leitoras) A entrevista é boa e não há razão pra não ler.
Eu acordei há pouco e já soltei está bomba: "não há razão para não ler" que coisa! 


HÁ RAZÕES PARA LER! MUITAS. QUEREM UMA? PODERIA DAR UMAS 500, DAREI UMA.





Cadeado








MARCELO NOVAES
























Olhar de quem perdeu a
chave do cadeado e guarda
[na órbita do olho] ignorada
suspeita.




[Talvez suspeita
minha..., qual
nada!]






Olhem pra ele! Olhar de
quem já mora longe, além
da vaga do fogo, além
do
alcance da sombra
[mais
distante de mim do que do
Céu; e, por isso mesmo,
mais feliz!].




Olhar de quem se firma
naquilo mesmo que meu
olhar não
abriu.




Olhem pra mim!
Eu tenho a chave
de fazer brilhar a lua
em outra clave.
[De sol].




Mas me perdi na
chuva.

terça-feira, 3 de julho de 2012

DA JANELA









Você não tava, não viu, só saberá por eu dizer. Foi já no fim da festa, Todos bêbados, todos menos eu. Sentei ao lado dele, ele segurou minha mão, eu beijei a dele. havia só uns poucos, já tinham ido quase todos. Mas foi silêncio, foi admiração. Se um gesto pode mais que tudo o que pode a palavra, eu arrisco uma frase sobre o gesto de ambos: respeito.
Eu respeito quem não tem mais nada para fazer que não seja salvar o mundo. Isso é coisa que me intriga. Eu não pretendo salvar nada que não seja  aquilo da noite de sábado. O que quero, pra ir pra frente contra os males todos, e não vencer-los todos, mas aplacar as dores, diminuir o medo. Diminuir o medo. Sim, isso é que o fiz ao beijar a mão dele e ele o fez ao segurar a minha com força. O medo é forte e poderoso, faz-nos temer o ficar sozinhos. Quando eu beijei a mão de meu pai tive paz, mas o medo veio como um ser, uma coisa que zombasse de mim. Subi e chorei. Pedi forças a Cristo, pedi misericórdia também. Tive pena de muitos e pouca de mim. Tive pena dos enganados, dos que não beijam a mão de seu pai. De minha parte foi medo, um medo inexplicável, dorido, um medo. Queria guardar comigo aquele beijo e guardo como no poema de João Cabral que fala de uma saudade tão efetiva que o poeta pode sentir o peso do beijo trinta anos depois. Está dito tudo. O poeta é João, o medroso sou eu. Fiquei na janela vendo meu pai lá embaixo. Ele falava eu chorava com medo.  Vamos lá, vamos lá, moleque chorão, é tudo que sabe escrever? é só do que pode falar? 
É. 
Querendo poeta, procure outro canto. Querendo milagres, outro santo. Aqui só encontrarás a mim. Sim, na janela de um apartamento olhando o pai lá embaixo e chorando com medo. Chorando com medo como um menino boboca ou como um babaca adulto. Enquanto meu pai contava suas piadas idiotas, enquanto ele não me via. Choro com medo dos 64 anos de meu pai. Choro com medo dos carros e as suas buzinas que são sons lindos porque meu pai está ali embaixo, eu o vejo. As luzes... meu    Deus! onde caberiam essas coisas sem a voz dele? no meu coração. Mas me pesaria tanto o peso dele.


Você não tava, não viu. Tudo que preciso  é de paz, de um norte, uma corda. A mão dele me dá isso.  Já disse acima que foi uma cena bonita e tocante, o que não disse, e mesmo que você estivesse vendo não veria, foi o peso do tempo sobre o homem, o peso do tempo sobre o tempo. O que ninguém viu foi o medo. O meu medo de uma mão que tenho nos lábios. De uma mão que se fará memória tão ativa (lembrei a frase de João) que conservará o beijo dado nela em minha memória para sempre, ainda que por mil vidas, ainda se eu pensar já morto, ainda que eu sumisse, ainda que diluísse. Uma lembrança tão ativa que só seria esquecida se eu não fosse o que sou, não tivesse nascido, nunca existisse.