Viver é perigoso, o Rosa o sabia, eu
sei, o cara que vende cocaína sabe, o cara que a compra mais ainda. O perigo de
se viver é menor que a satisfação de estar vivo, com medo de morrer porque é
bom vida, ainda que com o risco. Eu
acredito em algumas coisas, dentre as milhões das que duvido ou não creio, todas elas não vem de serem
certas nem prováveis, nem benfazejas, mas de eu acreditar. Acreditar já é
muito. Acreditar é tudo. Não em Deus, não na matemática, não no óbvio, pois os
três acima, e sobretudo e sobretodos, são justificados em si. Acreditar no
irracional, no que não pode ser visto, no que você não pode dizer, mas se fizer
te fará bem e não afetará a ordem nem as pessoas. Acreditar em besteiras e saber
que se você acredita nelas, elas não são besteiras. Acreditar que tudo será
melhor não, mas que tudo será igual e isso será ótimo porque o que você tem já
te satisfaz. Isso não quer dizer que você não almeje ir ao caribe, comprar uma Ferrari
ou se curar de um câncer. Isso quer dizer que não conseguindo o que sonhas
valeu, vale, valerá, a vida. Imperfeita, imprevista, solitária, doída as vezes,
de perdas, de seu fim sabido, mas bonita e boa. Por uma aurora ou um crepúsculo
valeria a vida. Os insetos bem o sabem (nos meus escritos insetos “sabem”) todo
mundo sente.
O morto, o que nasce, o que está no
meio dela, tem de respeitar a vida ou senti-la. Sentir a vida, não como se
sente uma coisa em meio a outras, mas sendo a primeira, única, objetiva.