segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Pedido




Peço-lhe uma palavra para começar um texto. Um cigarro para que eu não o fume nem trague, acenda-o, e solte no ar a fumaça. Peço-lhe atenção e carinho, quando menos, teu abrigo. Quando me vires por inteiro o perdão e depois a paciência. Peço que não me deixe ir onde eu quero nem ficar aqui, nem parado. Peço que não entenda tudo, mas entenda o algo. Peço que não me provoque e, se provocada, me fustigue. Não peço compaixão, não peço o que eu não pedir ou que eu não precise, peço o que tens disponível, nada que me justifique, Peço respeito pela minha luta, peço severidade pelo meus vícios, peço serenidade pela minha fúria, que me xingue quando eu precisar disso. Que me odeie, nunca que me adore. Peço que ria de mim quando eu merecer o escárnio, mas nunca covardemente, me deteste com lealdade. Nunca deboche das pontes, dos poemas e das minhas cicatrizes. Peço que me oriente pelo caminho onde eu ande errado mas jamais me diga certo o que eu tiver trilhando. Me recuse o elogio, me faça um silêncio onde eu tiver acertado. Peço que não seja severa demais, só serena, só segura. 

Não deixe que eu seja todo, me tolha, me dê espaços limitados, para que não extrapole, e se extrapolar não quebrar nada. 

Peço que compreenda que eu não quero só teu sim, e sim o teu anuir ou desagravo. Que entenda que se só disseres "sim" me porás em dúvida sobre tua escolha, se tudo me negares, porém, me convencerás de que tua opinião não vale.

Peço que não confundas o meu choro com tristeza, nem eu estar rindo com estar alegre, nem o que digo com o que sou. Que eu nunca te convença de nada, que você nunca de medo de mim reclame. 

Peço que entenda que sou ruim como um homem.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

SOU EU



Gosto é de pessoa não de gente. Do íntimo não do público; do que está oculto e eu descubro, do que tem o particular como graça. Gosto de um ser em si, não de um ser geral. Um na multidão que eu lhe veja inteiro e só, sem ser uma figura igual. 
Os socialistas não me são toleráveis, bem como o gosto de todos. Gosto do que gosto e não do que "deve-se" gostar. O egoísmo é uma forma de amar. Não falo do egoísmo do medíocre, de quem só quer para si, de quem não sabe admirar. Falo do olhar interno, do se gostar, e estando se amando saber amar. Falo da tristeza sem lho negar, sabendo-a ruim, sabendo-a má; saber-lhe antes a digerir que a renegar. 

Eu falo do canto triste, das noites frias, dos pais que não conseguem alimentar seus filhos. Das dores humanas, das perdas sem fim que como se pela frequência, pela constância, fizessem adormecer o nervo. O tal nervo que nos faz gente e nos faz homens. Homens e leões não são iguais. 

Não pretendo ver leões morrendo, mas não suporto o chorar dos que não sentem a dor dos mendigos e sente a dos leões. 

Eu guardo meu chorar para os que amo, para os que conheço, não para os que a tv quer que chore. Não tenho amor à "humanidade" nem a nada geral. Sou pessoa não censo, sou eu mesmo, não números.

Gosto tanto quanto cabe a quem gostar meu gostar, e odeio e devoro a quem for preciso para me alimentar. Não sou anjo, não santo, nem poeta, nem ateu, nem sou o contrário de nada disso. Sou eu.