quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

SOBRE HOMENS E CALCINHAS






















Acordei com a macaca, sofrendo por tudo, sorrindo por nada. 
tentando entender assassinos e santos, os meses do ano e a proporção das formas perfeitas. O que faz o rosto de Felipe destoar dos outros rostos, sua arrogância charmosa ser quase um espécie de inteligência corporal. 
Cabral já disse que em densas noites tinha medo de tudo, de um anjo que é cego, de um outro que é mudo. Não tenho medos de espíritos, tenho de medos primários, como o do senador mais velho sendo ameaçado por um amigo de Lula.
Pode alguém achar que derramo água fora da bacia, ou um com mais delicadeza verbal dizer: esse pisa no tomate! mas vou cortando o barato, com uma pérola do cavalheirismo universal: Não como todas as mulheres do planeta por que elas não me dão bola nem Deus daria-me tempo. Então dadas as devidas explicações,  vamos aos fatos: Thiago Lacerda é bonito pra caralho! 
O cara é  lindo demais, e tem cara e jeito de homem. Felipe, o sobrinho de Elaine, é lindo, tem uma grande qualidade: a soberba, mas tem cara de adolescente eterno. Fabio Assunção é lindo, mas com cara de anjo. Tenho a impressão que não pode ser olhado sem pena, como um anjo, um São Gabriel transpassado, um ser quase divino, etéreo, alado. Com mais asas que braços, engendrando mais que se imiscuindo, insinuando mais que sendo claro, vislumbrando sem pôr a termo.


Alguns homens com jeito de homem eu acho só bonitos. Como se acha uma calcinha bonita, como se acha uma monalisa bonita, como se acha o bonito no oposto, no que não lhe traz prazer ao tato, mas chega a ser um prazer do tato do olho.


Me detenho na calcinha ou no que ela desencadeia. Coisas de antanho, brutais, primeiras. É como se melhorasse o brilho do diamante, desse curvatura a curva, fazenda-a curva ainda mais, não por curvatura de curvas normais, de estradas ou de vidas. Uma curva que de ser tão em si mesma, tão em si centrada, tão em si contida, que repete tanto o mesmo movimento, que passa a ser reta. A calcinha, não qualquer uma, Wando está morto e não pleiteio o lugar dele, é desencadeador já o disse de hecatombes. Não qualquer uma, não em qualquer mulher, mesmo as lindas de corpo, modelos esculturais, podem emprestas a uma calcinha um tom de vulgaridade. Mas a calcinha comprada com amor, escolhida como se escolhe um presente, para agradar ao ser amado (com a devida vênia de meu amigo morto) é coisa de o cara ficar velho, brocha, se esquecendo de tudo, mas não daquilo. E se te alegra te digo: o  fardo de ter memória  boa e-me pesado nessa hora. Sim, te apraz ouvir isso? sei que sim. Eu lembro de cada gesto, cada riso, cada olhar seu naquele dia. Você sabe, você lembra, você estava lá também. 


Não é saudade, é lembrança. Nosso tempo já era, e melhor foi assim. Mas lembrar é saber que existimos. Nada pode ser mudado, e o tempo revertido, isso é ótimo, mas quando quero lembrar de coisas boas que ficaram no passado, que nunca esquecerei, lembro de uma calcinha, ou por outra, lembro de uma mulher com uma calcinha que nunca vou esquecer, ou por outra mais: que calcinha que nada! lembrei hoje foi de você.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

EU SOU O MUNDO











Eu prezo o abraço, o ato generoso, o sorriso, o gato. Prezo os poetas, as putas, os veados. Os jogadores inveterados, os ateus, os incautos. A rima, o verso branco, o que se muda ou volta a ser o que nunca deixou de  ser, o abrigo dado, o beijo da prostituta nos pés de um homem sagrado. O esforço dos dedicados. A gravidez e o descanso, em ambos há um sorriso, um conforto, um fado. Fado bom, triste porém  animado- como explico isso?- é assim: ver pitocudo e saber que  talvez não o veja com cabelos esbranquiçados, sabê-lo perdido para o tempo, saber que o tempo dele é o meu, eternizado.


Eu prezo os que choram na igreja, os que choram no enterro, os que tem chorado. Cada dor de partida, cada suor derramado, cada conquista humana, não da razão -prezo-as também- mas a do aprimorar seu estado.  Prezo os sabem o que são e tem disso se orgulhado, José Wilker, Caetano Veloso,  eu e mais um bocado. 


Prezo os ricos que não são arquétipos dos ricos arquetipados, e os pobres de nariz empinado. Prezo a beleza que se esquece da sua potência- Padre Fábio- ou do forte que emprega o sorriso, um grosso que se faz gentil à passagem de um velha senhora, e diz gostosa a uma menina gostosa. Digo que saber por as coisas nos lugares é uma virtude das mais admiráveis: à nobre matriarca dá-se prioridade de passagem, a loira gostosa come-se com olhos, devorando a carne dourada, com mil idéias sobre marcas de biquíni, não do objeto, das marcas que ele deixa na pele.


Prezo o dia, a noite, o que é no meio deles. Orlando Morais, Chico Buarque, Lenine, Guimarães Rosa, e a minha alegria de viver. Prezo o tempo que foi, o tempo que virá, cada riso dado me lembro, e se gargalhei, lembro mais ainda. Prezo o dia em que morri, o dia em que tudo caiu, o dia da chuva rala, o dia em que pensei: vida oh, vida de gado. Nesse dia, foi na chuva, foi no choro nela, que aprendi o que tenho ensinado. É tão pouco, é tão simples, cabe numa frase de um canção de Zé Geraldo. Que na vida nada está perdido enquanto a sonho, enquanto houver um filho a ser criado.


Prezo o olhar de quem se compadece com a dor alheia, mas prezo ainda mais os que acham lindo o carro novo do vizinho. Prezo a poesia de  Marcelo Novaes, e tenho quase certeza de que ele escreveu um poema nesses termos, com menos derramamentos, mais recursos literários, muito mais bem escrito. Mas saberá ele, o grande vate, que não há plágio, nem bajulação babaca. Há admiração pelo poeta e apreço pelo amigo. Prezo o saber estar no lugar que me cabe, mas ocupando-o todo, usando-o no seu limite.


Prezo o desprezo às coisas desprezíveis que qualquer um teria com dinheiro, mas na sua aparência, nunca em sua profundidade. Os que nunca fizeram o que os outros queriam e depois constataram que a vida não é assim, que muitas vezes estamos errados. FHC, Roberto Campos, Darci Ribeiro. Prezo Tim Maia, as coisas opostas, não por serem opostas, mas pela razão de cada uma, seus motivos legítimos ainda que errados.


Prezo eu saber discernir o que pode e o que não pode ser  prezado, por motivos meus, por achar que é, por motivos mais nobres do que os que motivam os elogios do PT, e amizades de lula. 


Que diferença faz isso?
o que eu gosto ou desgosto mudará o mundo?
Baby. sabe o que é? ninguém lê o que escrevo- fazem bem- mas se o mundo não vai mudar por meus escritos, tanto se me dá. Porquê?
Porque sou o mundo, baby, nada existe sem mim ou existirá

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

SEMPRE









Há os bons, os médios, e os Chico Buarques. Há os feitos, as conjecturas, e os gols de Romário. Há os times, campeões, que só tentam, e o Vasco. Há os poetas, medíocres, bons, e Cabrais e Bandeiras. Há os que admiro, os que desprezo, os que venero. Há os momentos: de sofrimento, de felicidade, os no teu colo. 


Sempre há de haver, posto que vive nas eras insone e desperto, sempre à vista, nunca óbvio, sempre latente, nunca de fora, o Cristo sagrado, verdade amorosa, verdade da verdade. Insone e desperto, pungente e concentrado, seguido até por quem o tem rejeitado. 


Sempre existirão os amores, os horrores, e meu filho dormindo. Pais como eu, pais como tu, e o velho Luiz, que é amor até quando em fúria, até quando é triste.


Sempre há de haver um poema novo, um poema antigo, e eu os contemplando. Se for parnasiano, moderno, romântico, de cordel ou do que seja. Falando de amor, de um bêbado que copula, de um rio, ou de uma musa, haverá os que admiram, depois de mim, como os que vieram antes. 


Nunca cessarão as guerras, as brigas religiosas, os que roubam seringas de hospitais para dar a empreiteiras, prometendo desviar rios, ou rodovias inviáveis. Mas antes e depois deles hão de haver FHCs, dando fim a nulidades.


A mãe que joga o filho no lixo, a que tenta entender  o filho morto, e a que o tem no braço. O lado de fora, o de dentro, e o largo. As doenças, as vacinas, paliativos, curas, e o último suspiro. O primeiro choro, é o segundo, e o aprender com eles. Os professores, advogados, rufiões, e curandeiros. Os que aprendem, os que ensinam, os Shakespeare. Os  quentes, os frios, e os que Jesus vomita. Os que me emocionaram, os que me irritaram, e o Padre Fábio.




O que me assusta, me fascina, me incendeia, é que nesse "haverá" eu não "serei", ou serei em outro estado. Morto eu, tudo cessa? tudo será acabado?
não amor, isso não cessa, será revivido, será relembrado, em um amor do futuro, em um amor do passado.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

EMBRIAGAR-SE COM VINHO, POESIA OU VIRTUDE.














Liturgia das Horas Enfermas





MARCELO NOVAES








Eu te leio alguns apontamentos
que falam da vida de marginais
místicos e hereges.



Eu te leio
notas sobre a operária que
fabricava bombas que mataram
seu marido, convocado às pressas
para um confronto rápido.


10 dias.


Eu te leio sobre o submarino
afundado explodido implodido
em oceano amigo.


Eu te conto
sobre o namorado já-viúvo
-antes-mesmo-de-casado, que
joga a rosa branca sobre a Rosa
Maria, presa num túmulo
gelado.


Eu te falo de dois seres perdidos
atrás da fuligem que não se
desfaz e não se dissolve nem com
sabonete, o resíduo que se impregna
na pele no ouvido no labirinto e no
senso de equilíbrio, depois de um
dia na fábrica de tecidos, na
indústria farmacêutica ou numa
mina de minério fino.


Mercúrio.


Eu te leio alguns provérbios vindos
do sudeste de um país longínquo,
com a esperança que te soem assim
o mais parecido com a Paz Celeste
nunca vista nem adivinhada.



Eu te
apresento uns versos de Baudelaire
como ante-sala do paraíso, ou porta
de entrada para outro inferno que,
só por ser diverso, já te traz
alívio.



Eu te apresento a biografia de um
homem aparentemente comedido
e decoroso, pudico, que disparou
metralhadora assasinando colegas
que estudavam juntos para aprender
o mesmo ofício.



Eu te recito de cor
alguma passagem bíblica que mais
pareceria a confissão de um outro
assassino ainda mais perverso e
ufanista que o primeiro, mais longe de
Deus do que nós dois estamos dos ovnis,
e eles de nós.



E te recito outras
passagens e paisagens do mesmo
Livro que inspiraram homicídios e
incêndios, destruindo legados inteiros
de povos antigos não-cristianizados,
matando queimando convicções em
corpos transtornados e
contorcidos.




E te mostro trechos e comparo com
os discursos dos preclaros líderes da
Ku Klux Klan, acompanhados dos uivos
das multidões com seus slogans
avaros.



Eu te recito um obituário dos seres
que tiveram os crâneos fraturados
quando lhes caiu um obelisco muito
alto altivo, inaugurado em homenagem
a um demagogo baixinho, histriônico e
parvo: Hitler.



Eu declamo de cor os
Mistérios do Rosário escondidos atrás
de uma estante de livros sobre diretores
de cinema e artistas gráficos.



Não vale
nem adianta pedir emprestado os óculos
de John Lennon, nem experimentar um
ácido pra ficar mais
esperto.



As portas
da percepção estão fechadas aos viciados
em drogas aos astronautas químicos, aos
santos lisérgicos de olhos
arregalados. Alguns já estão mortos. Outros,
internados
em sanatórios, inválidos para aquele difícil
percurso de atravessar portais e umbrais
escusos, invalidados em seus discursos
descosturados porque desconexos,
porque
mais ricos em lapsos do que em



Melhor ficar com os reparos desabafos e
confissões de Oscar Wilde, crítico irônico
e raro. Ou com as estocadas de Bernard
Shaw, nesse sentido quase um irmão do
primeiro,embora mais caústico e
ríspido.



Eu te apresento, por fim, meu boletim
de ocorrência contra você, pelo atentado
violento ao pudor de tentar me ler sem
atentar para o tanto que se lhe dá, sem
que nada tenha de me pagar.



Estelionato.


Por fim [um segundo fim mais fim do
que o primeiro, porque mais
melodramático e
menos justiceiro], eu te canto parabéns com
a voz de Marilyn Monroe, quase
agonizando,
chapada, anulada em seu encanto pelo encan
-tamento que causava.



Eu te canto com voz
pastosa patetizada, infantilizada idiota,
como
cantou a coitada ao presidente
assassinado.




E
assino embaixo, pondo minha bela cara à tapa,
adivinhando teu semblante atônito e
estupefato.


BAUDELAIRE


EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SORRI





Não existe nada que me defina melhor: sou a alegria!
Por hoje e talvez por uns dias me deixe ser triste. Não quero argumentos, quero colo. Não haverá choros, nem mágoas longevas. Mas deixe-me, calado como quem ora.
Confuso, mas sem medo. Triste, mas não de tudo. Não mudou nada, nem sumiu a esperança. Só há um desconsôlo, coisa pouca, de criança. Criança que quando quer algo não dado pede colo. O que tenho é meu e ficará. Essa dor não é minha, e-me estranha, vai passar.





quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CANSADO DE SER O QUE É











É como se doer fosse bom, como se a dor apaziguasse. Escutar Gonzaga, assim de madrugada, com meu branco ressonando..., sei não, sei lá, sei de onde vim, não onde vou dar. 
Mas onde eu estiver, onde eu me achar, com noites ou com dias, agito ou calmaria, levo isso comigo. Levo como guia. O mundo que eu sonhei, o mundo que eu queria. 
O mundo seria noite, dormindo dentro do dia. O mundo seria meu, mas o repartiria. Mas só com quem me mostrasse o que importa na vida, o que não aprendi nos livros, nem camas, nem bares. Com gente como criança, onde o mal cansou dos seus males.
E não cansou persuadido pelo bem, ou cedendo pela razão. Cansou de ser mau por estar triste, por não ter paz no coração. Como eu estou, como as coisas estão. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

SEUS OLHOS, SEUS BRAÇOS.









Para que saibas que sou bom em me reverenciar e me acho no mínimo o máximo, mas nunca perdendo de vista minha pequenez, vai outro texto cabotino. 




Eu posso, como bailadora andaluza, acender-me, mas mais que ela, te acender.
Posso te fazer rir na tua dor, te fazer sentir um amargo no riso, como café adoçado.
Posso te fazer gostar de ser xingada, porque não é xingamento, é carinho em palavra contrária. Tu não aceitaria de ninguém, se eu não te chamar tu sente falta.
Eu posso te cantar Chico ou um outro, te tocar como só eu posso, onde fica teu nervo. 
Posso te falar as mesmas coisas sobre pontes, sobre a vida, sobre mim, sobre meu pai. Sempre se comoverás, e cada vez um pouco mais.
Posso te fazer sonhar quando tua realidade se impuser, ou rir do papagaio dado ou vendido. 
Posso ter na tua raiva um lugar garantido, mas não podes evitar minha voz, meu sorriso.
O tempo te fará esquecer coisas boas e coisas ruins, mas não de mim. Estarei em ambas, sou um princípio, nunca o fim. Um começo que se renova. Sabes do que falo, sabes o que sou. 
Sou fúria onde queres luta, calmo onde queres relva. Sou medida exata de tuas dores e risos, caibo em ambos, me abrigas no teu riso. Sentes minha dor, sabes de minha luta, me olhas com meu filho, e  te comoves com nossa guerra, com nossa xingação. Meu amor é tanto e me pesa tanto na carne que preciso amenizá-lo, por isso xingo quem amo, por isso jogo livros no chão. 
Poucas coisas me deixam mole, sem ação. Como que entregue, como em espirito, como se minha alma estivesse nua e fosse revelada. Aquele rio é isso. Não, não forço a barra, o rio é minha vida. Aquele rio, o capibaribe, não me arrasa pelo ser rio apenas, nem ser bonito, nem nada que possa atribuir-se a rios. Não, é onde o retirante ia se entregar, ia se matar. João não deixou. Eu amo joão e não quero saber de sua suposta frieza. João me ensinou que muita diferença faz entre lutar com as mãos e abandoná-las para traz. 
Mas aprendi o principal comigo, e por isso me gabo tanto, por isso não "sou um onda" como minha querida amiga, Elaine achava, sou  o mar todo. Quando o mundo foi ruindo eu chorei, choro quando quero, e amo até isso, mas sem me identificar com o que não seja o carpina dizendo ao retirante que os otários se entregam, os bons caem rindo, levantam gargalhando, ensinam com rispidez.
Não estranhe se você me sentir contigo mesmo eu não estando, ou lembrar de mim em coisas improváveis, inesperadas, e que talvez te irritem.
Costumo ficar no meu riso, no meu carinho, na música que você não conhecia, no poeta pobre que sou, no escrito brega e sincero, na noite que nunca viste, numa ponte que nunca estiveste, numa saudade do que não sentiste, saudade que só eu preencho, que não pode, como saudades outras, ser substituída por novo amor, lugar ou rima. Uma saudade permeada tão de mim, de meu jeito, e tão dentro de ti entranhada, que sentirias o meu cheiro ainda que sem o olfato.  Meu beijo ainda que sem  o paladar. O meu abraço ainda que sem o tato. Me verás com olhos fechados, e a cada lua que olhardes verás o meu riso.
Claro, sou uma merda humana e te farei lembrar de minhas mesquinharias, pequenezas, injustiças, de tudo que te fez ver que eu sou um ser como qualquer. Mas como vai esquecer daquilo? sim, daquilo! da noite que me conheceu. Vai tirar o bar de lá? Admita, você poderia ficar rica, comprar o bar e mudar tudo. Poderia ficar muito rica e comprar a rua, interditá-la. Mas para esquecer da comida não comida daquele bar, e de sua bebida não bebida, precisa mais que dinheiro, precisa não ser você.
Mas não só vaidade, sou todo e não metade. Não te dei o que te dei por bondade, ficou de você algo em mim. Se fosse por menos não seria o que foi. Me dizes ser eu sem coração, não, te enganas. Tenho o meu pulsando e grande, abrigando muita coisa, muita poeira e cansaço, mas dentre o muito guardado, estão seus olhos, seus braços.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

PLANO REAL

O espantoso no petismo não é só a mentira descarada, cínica,  é sua capacidade de tornar o certo em errado, e vice-versa. O Brasil cresce e vai bem, não tanto quanto os petistas dizem e os idiotas que acreditam acham, mas vai bem. A que isso se deve? qualquer ser humano minimamente informado, que não receba grana do pt (vai em minúscula) que não seja um imbecil da sola do sapato aos fios de cabelo, saberá que o crescimento de hoje se deve ao controle da inflação. Ponto. Não haveria crescimento com inflação. Então o controle da inflação foi o primeiro passo.. Um passo difícil de ser dado; um passo tentado por décadas, por vários presidentes trocas de moeda, planos econômicos desastrosos, desengano, desilusão, e muita frustração. O que parece fácil hoje, não o era quando foi criado o plano real, que acabou com a inflação de décadas, que foi o marco zero de um país que cresceria mais tarde e teria ambições legítimas de se consolidar e crescer. 
É bom lembrar a quem não tem idade ou memória o que é inflação. Eu lembro. Inflação não é só alta de preços. É o aumento sistemático de preços (de todos) pelo mesmo índice. Quando Fernando Henrique Cardoso, assumiu o ministério da fazenda do governo Itamar, a inflação mensal girava em torno de 40% mensais. Uma coisa que custasse R$ 100,00 hoje, mês que vem custaria R$ 140,00; no outro mês R$ 196,00; no terceiro R$ 274,00; ao fim de um ano custaria... bom, lembro que se trata de juros cumulativos, e que ao fim de um ano o que custava R$ 100,00, passaria a custar mais de R$ 5.500,00 reais! isso é devastador, dentre outras razões, por tirar a capacidade de referência, perde-se a noção dos valores das coisas.

TEXTO DA REVISTA VEJA DE 1994:



SACRIFÍCIO - O brasileiro comum odeia a inflação há muito tempo e as vítimas do monstro estão por toda parte. O funcionário público mineiro Wellington Campos Coutinho passou três anos pagando as prestações de uma sala que pretendia dar de presente ao filho, que estuda economia. Quando começou a pagar as parcelas, a inflação consumia 10% de seu salário. Este mês, Coutinho desistiu: a prestação consumiria metade dos 650.000 cruzeiros reais que ganha como fiscal federal. "Tive que desfazer o negócio", reclama.
O Brasil, um país com 150 milhões de vítimas da inflação, amadureceu bastante na maneira de encarar o dragão. A maioria das pessoas concorda que não há chance de estabilizar a economia se os cofres públicos continuarem furados. O que falta é alguma unidade, entre políticos, empresários e chefes sindicais, sobre a forma de distribuir o sacrifício implícito num programa sério de ajuste. É esse problema político que está impedindo a batalha final contra o monstro inflacionário. Não há no Brasil de hoje forças políticas capazes de impor uma linha de ação contínua aos demais atores sociais. Cada grupo quer uma coisa e não se vai para lado algum.
Todo mundo parece ter alguma coisa contra o ajuste. As corporações de funcionários se opõem à privatização das estatais com receio de perder seus privilégios, que são maiores do que se imagina. Na semana passada, a Secretaria de Administração Federal divulgou um relatório com os salários nas estatais. Há gente ganhando 19.000 dólares por mês no Instituto de Resseguros do Brasil, empréstimos sem juros nem correção aos empregados da Telebrás e funcionários dos escritórios da Petrobrás, no centro do Rio de Janeiro, ganhando adicional de periculosidade. Os usineiros do Nordeste não querem perder subsídios. Os empresários ameaçam aumentar seus preços toda vez que se sentem ameaçados com mais impostos. Estados e municípios querem continuar comendo a mesma fatia da torta federal. Há duas razões para isso. A primeira é a resistência ao sacrifício. A segunda é a desconfiança quanto aos que querem os cortes - neste momento, Fernando Henrique e sua equipe.
Para efeito de ajuste, o Brasil está funcionando como uma família de egoístas. O salário do chefe não cobre o gasto e todos sabem que é preciso cortar alguma coisa para que a casa não caia. Mas a mulher não abre mão do perfume, a filha adolescente não dispensa o curso de balé e o menino quer de qualquer jeito um skate novo no aniversário. Assim não dá.

Esse era o Brasil, comprava-se um sala pagando por ela 10% do ganho mensal e chegava-se a 50% do salário.