sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

EU SOU O MUNDO











Eu prezo o abraço, o ato generoso, o sorriso, o gato. Prezo os poetas, as putas, os veados. Os jogadores inveterados, os ateus, os incautos. A rima, o verso branco, o que se muda ou volta a ser o que nunca deixou de  ser, o abrigo dado, o beijo da prostituta nos pés de um homem sagrado. O esforço dos dedicados. A gravidez e o descanso, em ambos há um sorriso, um conforto, um fado. Fado bom, triste porém  animado- como explico isso?- é assim: ver pitocudo e saber que  talvez não o veja com cabelos esbranquiçados, sabê-lo perdido para o tempo, saber que o tempo dele é o meu, eternizado.


Eu prezo os que choram na igreja, os que choram no enterro, os que tem chorado. Cada dor de partida, cada suor derramado, cada conquista humana, não da razão -prezo-as também- mas a do aprimorar seu estado.  Prezo os sabem o que são e tem disso se orgulhado, José Wilker, Caetano Veloso,  eu e mais um bocado. 


Prezo os ricos que não são arquétipos dos ricos arquetipados, e os pobres de nariz empinado. Prezo a beleza que se esquece da sua potência- Padre Fábio- ou do forte que emprega o sorriso, um grosso que se faz gentil à passagem de um velha senhora, e diz gostosa a uma menina gostosa. Digo que saber por as coisas nos lugares é uma virtude das mais admiráveis: à nobre matriarca dá-se prioridade de passagem, a loira gostosa come-se com olhos, devorando a carne dourada, com mil idéias sobre marcas de biquíni, não do objeto, das marcas que ele deixa na pele.


Prezo o dia, a noite, o que é no meio deles. Orlando Morais, Chico Buarque, Lenine, Guimarães Rosa, e a minha alegria de viver. Prezo o tempo que foi, o tempo que virá, cada riso dado me lembro, e se gargalhei, lembro mais ainda. Prezo o dia em que morri, o dia em que tudo caiu, o dia da chuva rala, o dia em que pensei: vida oh, vida de gado. Nesse dia, foi na chuva, foi no choro nela, que aprendi o que tenho ensinado. É tão pouco, é tão simples, cabe numa frase de um canção de Zé Geraldo. Que na vida nada está perdido enquanto a sonho, enquanto houver um filho a ser criado.


Prezo o olhar de quem se compadece com a dor alheia, mas prezo ainda mais os que acham lindo o carro novo do vizinho. Prezo a poesia de  Marcelo Novaes, e tenho quase certeza de que ele escreveu um poema nesses termos, com menos derramamentos, mais recursos literários, muito mais bem escrito. Mas saberá ele, o grande vate, que não há plágio, nem bajulação babaca. Há admiração pelo poeta e apreço pelo amigo. Prezo o saber estar no lugar que me cabe, mas ocupando-o todo, usando-o no seu limite.


Prezo o desprezo às coisas desprezíveis que qualquer um teria com dinheiro, mas na sua aparência, nunca em sua profundidade. Os que nunca fizeram o que os outros queriam e depois constataram que a vida não é assim, que muitas vezes estamos errados. FHC, Roberto Campos, Darci Ribeiro. Prezo Tim Maia, as coisas opostas, não por serem opostas, mas pela razão de cada uma, seus motivos legítimos ainda que errados.


Prezo eu saber discernir o que pode e o que não pode ser  prezado, por motivos meus, por achar que é, por motivos mais nobres do que os que motivam os elogios do PT, e amizades de lula. 


Que diferença faz isso?
o que eu gosto ou desgosto mudará o mundo?
Baby. sabe o que é? ninguém lê o que escrevo- fazem bem- mas se o mundo não vai mudar por meus escritos, tanto se me dá. Porquê?
Porque sou o mundo, baby, nada existe sem mim ou existirá

3 comentários:

  1. TENHO Q DEIXAR DITO, Q TU SE ENGANAS EM DIZER Q NINGUEM LER O Q TU ESCREVE. POSSO NAO TER TEMPO TODO DIA, MAS, SEMPRE Q TENHO, EU LEIO!!!
    AH! SEI QUE NÃO SOU NINGUEM, SOU UM POUCO DO MUITO QUE TE MARCOU. E O QUE TE MARCOU,ME DEIXOU MARCAS TBM. MARCAS TÃO PROFUNDAS, QUE NEM QUERENDO, NÃO CONSIGO APAGAR PQ SÃO ETERNAS EM MINHAS LEMBRAÇAS... TE ADORO!!!
    MESMO ESTANDO DISTANTE, TE TENHO MUITO PERTO EM MEU CORAÇÃO. BJS!!

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  2. Joelma,

    Não me queixo de falta de leitores, devo ter uns três. Se alguém se interessar pelo que escrevo deve ter motivos emocionais, só isso. Se você olhar direito verá que o papo é o mesmo em todo post. E meu pai, é meu filho, é o vasco, o filho de lu, as pontes, e agora, gabi. Ela não está nesse post porque achei forçar a barra demais. De minha vontade eu só falaria de coisas primordiais, imprescindíveis, elementares, como jeito tua filha, como o que me vem à mente a palavra "pai". Nunca gostei da ideia de existirem aglomerados de pessoas iguais, ou coisa semelhante. Acho absurdo o sujeito acreditar que existe "o povo americano" "o brasileiro" ou coisa que o valha. Cada pessoa é uma, cada uma, o mundo inteiro.
    Chico Buarque é carioca, escadinha também. Infere-se daí, que não é o lugar, nem a profissão, nem a roupa que faz a diferença. É o saber quem você é, e tentar não piorar o mundo, não jogando latas na rua, nem roubando senhas, nem fazenda da vida alheia motivo para a própria.
    Nunca achei algo que eu ame mais do que os que meus temas -pontes, vasco, pitocudo...- nem pretendo ser poeta, nem escrever coisas relevantes, o que faço questão de dizer com minhas postagem para minhas três leitoras, é: tem calma, porra, estou tentando! aos trancos e barrancos, vou levando.


    bjs e queijos

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  3. Vate,


    Estás consciente do que gostas. Isso é bom.


    Abração!

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