quarta-feira, 29 de novembro de 2017

De madrugada




Acordo e procuro algo pra fazer com que eu não tenha que fazer nada. Tenho mal de parkinson e os movimentos físicos para quem tem essa doença são difíceis, quase... Bom, vou tentar ler algo... Novamente difícil porque o meu parkinson muitas vezes vem com torcicolo espasmódico, que é muito mais chato que um pagode, quase insuportável, como um pagode cantado por Thiaguinho. Sem mais, prossigamos (hoje o torcicolo veio com a peste) ... Abro o facebook (antes disso perco 50 000 moedas no bingo, que não me dão prejuízo e isso já é lucro) ... Leio uma amiga querida contando sem dramas, e com fé, como tem enfrentado o sofrimento quando ele é maior que o que o nome "sofrimento" sugere, quando não sendo em nós, dói mas que fosse, quando é com um filho, que faz da dor ainda mais desumana porque não pode ser atenuada por nosso empenho ou coragem; É covarde duplamente, um por não poder ser defendida por quem a sofre e outra por quem a queira defender. É acusação sem defesa, bala perdida na treva, a qual o assassino está duplamente protegido, por anonimato do disparo e pela escuridão. Mas minha amiga sofre pacientemente, a dor de mãe (que é a dor chorada pra dentro, que é a dor chorada no quarto, que é a dor chorada baixinho) e firma na fé e na esperança, sua batalha. Vou ler coisas menos importante (roubos do pt e promessas de PSDB) me deparo com um cara de 22 anos que sofria de uma doença renal e que se recusava ao tratamento. De cara firmo opinião (como temos opinião sobre o não sabido...) mas resolvi ler. No relado do juiz, médico, mãe e paciente, todos procuram o bem e todos estão certos. Como pode? A vida é complexa e sugere que somos ignorantes e aceitemos isso. Sim, o bem pode ser pretendido com sinceridade num processo (que por definição tem dois lados com diferentes propósitos) e o mal apresentar-se sob pretexto argumentativos e emocionais inequívocos. Acho meu mal menor (o de parkinson) e não me sinto bem por isso, apenas constato que ninguém tem maiores dores que outrem, mas tem batalhas pelas quais não venceremos e na final todos perderão.
Volto ao fave e dou de cara com um poema de Marcelo Novaes, que serve para mim, para Elaine e para o cara da doença renal. É ai vai um trecho:
Existe a distância entre o passo e a
sombra, entre o pranto e o chorar a coisa
nova, entre o muro pintado [azul escuro] e o
blues.
Marcelo Novaes
 A vida, enquanto dure, deve ter poesia e fé. Então poesia e fé para mim, para Nícole, para Elaine e para José (o nome do rapaz é esse). Poesia e fé para os ateus. Que Jesus nos alivie e nos cure de nossas doenças intratáveis e que não são físicas. Que a poesia seja sentida do cantar do galo (do galo de pitão) até o crepúsculo (sempre quis usar esta palavra e agora pareceu-me a hora) e durante o intervalo entre o que já é noite (não sendo mais crepúsculo) e o cocorocar do galo.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Um texto triste






Acredito em homens que choram, em homens que riem, em homens indiferentes, desde que diferentes de seus exteriores, o façam pra si. Nunca acredito na morte do amor nem na de Deus. Se chega ao fim, é certo, tem um ponto final e vamos de encontro a ele a cada dia. Por hora vou "não entendendo", vou me iludindo.
Não entendo e nunca entenderei o choro da criança faminta, o olhar de seus pais, e eu não poder fazer nada e aceitar. Pra que diabos servem os livros de João Cabral, as pinturas em quadros geniais, as músicas todas e todo o belo do mundo se tem dores absurdas, se tem mães que neste preciso momento, agorinha, estão com filhos mortos nos braços, e eles nasceram a poucos minutos?
Para falar de dores, fale das reais, não das dos amorezinhos que pouco são e pouco fazem crescer. Fale de como tudo se acaba quando se sonhava continuar. Fale (se tem medo eu o faço) da morte de um filho. Não fala por medo ou acha de mau tom.
Eu vi uma mulher quer perdeu um filho, estive no centro de suas dores, estive com ela na profunda dor sem consolo, e fiz o que se pode fazer nestas horas: chorei.
A dor desconsolada, a dor Shakespeariana, Buarqueana, inumana.
Se tem um filho haverás de saber do medo, do real medo de ter de vê-lo morto, de enterrá-lo.
Isso é doído, isso é doido, mas o que todo ser humano que gerou outro sente.
Medo, medo, medo, de não ver chegar o que saí, de não ouvir a voz nunca,mais. Eu poderia aguentar muito mais da vida\ que tenho aguentado; Abriria minha cabeça e peitos mais mil vezes sem reclamar, mas a dor de perder o que nunca mais será, embora morto o filho ainda é teu. O filho nunca deixa de ser nosso, mesmo morto. Isso é bem triste, mas filho é toda a riqueza (e a única) que um homem pode ter.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

As coisas e seres

As coisas para existirem ou serem não precisam de explicação, nada contra a ciência, tudo contra o excesso de razão  (que por excesso já estaria errado, não sendo exato, não pode ser bom).
As pessoas e as coisas são gostadas ou não; As que as fazem queridas a uns à outras não. Chegam a ser odiadas pela mesma razão, aos que a amaram e aos que detestaram.
As pessoas e coisas não tem em si razão. valem pelo que  valem, valem pelo que são. Uns vão aonde podem, uns se contém, uns não; mas ao fim de fato (na morte do ser, no ultrapassar das coisas ou sua não utilidade) vão todos (coisas e pessoas) pro mesmo escuro vão, onde nada se sabe, onde nada se viu, onde nada se  estudou, onde sequer pressentiu, onde quem não crê em Deus acha que vamos dar.
Eu não sou coisa! E aqui haverei de ser exato, haveria de ser sincero até a nudez: Penso que posso coisas que as coisas não podem: Saber dos que não são, saber de matemática, saber do não saber, saber não saber na pratica,  saber que sou ignorante já é dar de lavada em qualquer  coisa. O universo foi criado para os seres humanos e quem duvida disso é um irretocável idiota.  Deus existe! É preciso afirmar com uma exclamação para que não se desmoralize esse recurso usando-o para não falar que Deus existe! e não precisa por dez exclamações, porque ele é. Ele não precisa se aifrmar e não fez e nunca o fará.
Eu posso dizer que sou  melhor que um tigre? Não, seguramente, não. Mas posso dizer que Deus fez tudo pra mim e é essa é a razão de eu dizer "te amo" e o tigre não. De eu saber-me errado e pedir perdão, de eu admirar o tigre e ele a mim não.

Uma coisa que nos difere é que podemos admirar. Somos invejosos, e tudo que não presta, mas sabemos diferir o que presta e o que não presta, o certo do errado. O que posso dizer ao ateu é que explique o que aconteceu, que mistério a luz e não o breu, o motivo de o belo existir e sobressair no feio. Me diga, ateu, por que será que tudo conspirou pra nisso dar e porque foi aqui e não em outro lugar?
Me mostra, campeão, quem fez o mar e  sua maré, quem colocou as estrelas (são tantas!) quem expandiu o universo, quem fez a glosa e o verso, quem já era antes de ser, e gerou de si o amor, e passou a haver depois, antes era nada. Mas do nada, nada provém. quem fez tudo que você atribui ao acaso, ao destino, aos dados, não foi isso, foi um criador, houve uma criação, sendo como foi, talvez de uma grande explosão.