sábado, 21 de julho de 2018

O gênio








Gênio não é quem estuda, é precoce,  sabe de capitais de todos os países aos quatro anos. Gênio não é o super, o hiper, nem jogador de futebol ou enxadistra. Não é cantor popular nem médio. Quem tem o direito a ser chamado "gênio"? Poucos, raros e sumidos. Pois é, eles se acabaram. Um lista eu não colocaria muitos, na literatura brasileira, um: Nelson Rodrigues. Machado escreveu coisas mais bem acabadas, refinadas, e, tomada pelo lado literário, melhores. Guimarães Rosa (isso é tão clichê, mas não inverdade por isso, que se torna enjoado), foi uma criador de um mundo no mundo, ou pelo menos no mundo das palavras. De onde vem o gênio de Nelson? Isso não é pergunta que se me faça, pergunte a Deus ou ao capeta. Nelson argumentava de maneira monstruosamente devastadora, não sendo um estilista, nem conhecedor da gramática como Rosa e Machado, estando mesmo a duas galáxias dos dois, fez a língua que se fala na rua ser literária. 
Shakespeare brasileiro? Sim e não. Sim, pelo fato de ser o maior dramaturgo de seu país; Não pela razão muito óbvia de que Shakespeare não pode ser reproduzido, imitado, comparado, nem medido. Shakespeare compreende um universo que só ele habitou. Mas Nelson não precisa de qualificativos e comparações descabidas, precisa ser lido. Quem o leu sabe que ele foi, antes de Olavo de Carvalho, antes de todos, o desmantelador e denunciador das nossas esquerdas, de nosso decaimento, de nossa imbecilização progressiva. Tá tudo lá nos seus livros, suas crônicas compiladas por Rui Castro, em suas memórias. Nelson previu Lula, o pt, a globo, o safadão, Bolsonaro, Neymar, Messi, os jornalistas de hoje, o fim da escrita no Brasil, o fim do Brasil.  Tá tudo lá, nos livros dele. Nunca ninguém acertou tanto e com tal precisão. Dirá o idiota da objetividade:"mas foi ele quem primeiro chamou jogador de futebol de gênio!", sim, foi, e dai? O gênio pode tudo. O comum não.  O idiota só o silêncio pode ser aceito. Nunca pegue as palavras de um gênio e as reproduza para dizer idiotices.  O gênio nunca deve ser imitado nem seguido, nem é confiável. Não pode imitado porque seria impossível, nem seguido por nunca ser seta nem caminho, no mais das vezes é confusão; Muito menos confiável porque pode estar errado. É comum o gênio estar errado, mas ele defenderá seu erro com tal brilhantismo que parecerá acerto.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

O morto




Não vejo no morto o que via Vinícius de Moraes, no gato morto.
Não vejo no morto coisas não mortas de tudo, como João Cabral. 
Eu vejo no morto o que de fato é: nada, mais que isso não é.
O morto não é só a carne, não é só o outro, nem o cara esfaqueado em briga de bar. O morto é o que eu serei, é o que tu será.
O morto não me interessa (a coisa morta) tanto se me dá. O que me interessa é vida, o ruim dela é acabar.
O que me diz muito é voz, sangue e luar. O que muito me apraz é o nascer, rebentar, explodir. 
Se morrer é o fim, se depois nada vier, se a consciência acabar, ainda assim vale a vida, o poema, o caminhar. 
Vale mais a dor que o não sentir nada; vale mais perder que nunca entrar em contenda; vale mais o inútil do que o não tentado. Vale mais o erro que acerto pelo acaso. Vale mais viver e ter um fim do que não ter fim por não ter começado.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

43
















É de força que eu falo. Não a dos brutos, nem guindastes, ou qualquer músculo.
Falo porque agora já não é tão fácil (mas tão bom como sempre) levar os dias, as noites e madrugadas. A luta só é boa quando há motivo, razão, medo transformado em coragem, que não existe até você não poder usar outra coisa. 
Meu filho já não cabe no meus braços, meu pai já chegou aos 70; meu passo já não é tão rápido.
Piorou? NADA PIORA!!
A vida é boa e linda: grito da\ mãe, criança vinda.
A vida é  boa e é bela: 43 verões, tantas primaveras (choveu, é verdade) mas tomei banho com a água que em alguns dão febre.
É boa a vida: singela, preguiçosa, esperança e fins.
De viver ainda não cansei.
De morrer, morro de medo.
Estou ainda aqui, aqui mais velho, mais vivido, mais vívido
Não esqueci de meus sonhos, preces e juras, e se por vezes perco a\fé, descreio de minha cura, ou abaixo a cabeça pelo peso  do ferro, é pra depois me recuperar, ir à frente.
Sim, me parabenizo sem pudor, pelos meus 43, por ser filho de quem sou; Por aguentar muita coisa que os que não passam não sabem o que é.
Estou com 43, nem sábio, nem burro; Nem santo nem capeta.
Estou mais cônscio de minha sorte e de meu azar, do que tenho de bom e o que só Jesus mudará.