Não vejo no morto o que via Vinícius de Moraes, no gato morto.
Não vejo no morto coisas não mortas de tudo, como João Cabral.
Eu vejo no morto o que de fato é: nada, mais que isso não é.
O morto não é só a carne, não é só o outro, nem o cara esfaqueado em briga de bar. O morto é o que eu serei, é o que tu será.
O morto não me interessa (a coisa morta) tanto se me dá. O que me interessa é vida, o ruim dela é acabar.
O que me diz muito é voz, sangue e luar. O que muito me apraz é o nascer, rebentar, explodir.
Se morrer é o fim, se depois nada vier, se a consciência acabar, ainda assim vale a vida, o poema, o caminhar.
Vale mais a dor que o não sentir nada; vale mais perder que nunca entrar em contenda; vale mais o inútil do que o não tentado. Vale mais o erro que acerto pelo acaso. Vale mais viver e ter um fim do que não ter fim por não ter começado.
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