sexta-feira, 22 de maio de 2015

MARCELO NOVAES



ANTES DO VERBO



Antes que se soubesse de Deus
o Filho, plenos de dons, fadado a
ser trigo e mais-que-trigo [porque
colhedor de feixes-em-extremos:
trigo e joio, joio e trigo],
antes de poder receber o abraço
do irmão traidor com o perdão no
meio, replantado como tronco, ramo,
galho, ramalhete-em-maio [abril ou
junho], antes das moedas devolvidas
ao antigo dono [poucas, por sinal],
antes do retorno dos Infernos e do
fim dos relacionamentos terrenos
[só aparente, porque – alguns – 
eternos],

antes mesmo do término da safra má e
da má safra, lavrada em água amarga
[crispada de larvas],
Antes do acúmulo do muito que na
vida caberia, aos trinta e poucos [longos
e concisos anos, vasto oceano em Mar da
Galileia],
antes da demonstração do medo
e do não-medo juntos, afrontando a
morte [para ir além, ainda, de qualquer
desejo-de-morte],
quanto mais se precisa dizer o que
não fora dito Antes [porque Antes do Verbo,
ou fora], o vidro se arrastará no vidro e 
arranhará o vidro, até o olho estar 
limpo.
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário