quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CHORAR COMO PAULINHO DA VIOLA

"UM MESTRE DO SAMBA ME DISSE UMA VEZ, COM CERTA IRONIA: SE LÁGRIMA FOSSE DE PEDRA, EU CHORARIA."
                                                                               Paulinho da viola



Eu tentei explicar a ela o que ela deveria saber:


que desde a tapa e o chôro, começamos a morrer.

Se entendeu não sei, muitos nunca entendem.

Ela descobriu que morrerá. Tem problemas no peito.

Não excesso de amores, teve muitos, mas acha-os pouco.

Excesso de comida, bebidas, noites.

Ficou mal dia desses, tive medo de não vê-la.

Pedi-lhe um abraço, ela deu-me caloroso, perguntou se eu choraria à sua morte,

não tive tempo da ironia, disse sim, choraria.

Minha mãe disse que teve pena dela, ela chorava e dizia que ia morrer.

Cinco e meia da manhã ligo, vou direto ao assunto:

Só agora descobriu que vai morrer? sei disso desde o primeiro saber.

Ela ri (olha, fala palavrão e tudo que não presta, mas poucas pessoas são ingênuas, ela é)

ri, diz: eu queria chorar. Diz como quem reenvidica o direito legítimo a sofrer. Eu o nego!

Veementemente, duramente, sem dar um mínimo direito ao chorar dela. .

Chorar é uma coisa que faço e admiro os que choram. Tanto mais chora, mas admiro.

Nada contra o chorar. Viva o chorar. por chover ou de ir, em lendo poesia ou ao entardecer, cabe chorar, sem mais nem porque. Não nego esse sentimento, porque legitima a vida, e o divino, gerou os poetas, as melodias, os olhos foram menos para ver que para chorar -afirmação idiota. afirmação de poeta.

Mas tem um chôro mal, ruim, repulsivo e triste. É verdade, tem chorares que chegam ao cúmulo de ser triste! o chorar que falo é o do "nasci pra chorar", "porque isso aconteceu comigo?" "vou morrer". Para os três tenho resposta simples: nasceu para chorar? que vocação, hein!? porque isso aconteceu comigo? essa teria uma série de novas perguntas:

porque o gato mia?

porque chove água?

porque eu não sou rico?

porque vou morrer?

porque nasa tinha de ter nascido com cabeça?

respondo-as:

mia porque mia. como um gato não miaria? então a pergunta é contrária a si mesma: porque não miaria um gato?

chove água porque se caísse do céu algo que não fosse isso não estaríamos aqui. Eu pra escrever idiotices, você para as ler.

não sou rico por uma dessas calamidades inexplicáveis, fui gerado para ser rico, sou pobre. Meu pai disse que doido dizendo ser Deus já tinha visto muitos, mas pobre gastando como rico só viu eu. Porque sou pobre? eis a questão.

porque vou morrer? para os outros tenho a razão comigo, lógica, perfeita, exata. Porque nasceu, sua besta! e quem nasce, morre. Foda é eu morrer! eu não vivo sem mim. não concebo o mundo sem mim. Impossível pensar em mim sem mim.

porque nasa tinha de ter nascido com cabeça?

porque do contrário não seria nasa. o que seria ótimo para os vascaínos e não seria ruim para ele, porque ele não seria. Difícil imaginar onde aquela bola iria, mas com certeza não iria pra onde foi.

A razão de tudo é que viemos aqui, estamos aqui, depois vamos embora. Com setenta, vinte, dez ou cem anos. Vivemos de aluguel em nosso corpo. isso é belo, porra! viemos, demos o testemunho e nos vamos
Para onde? não sei. Isso não sei. Mas mesmo se não houver depois, mesmo que tudo acabe na estação derradeira, vivemos. Quem não tem alegria em estar vivo não terá meu carinho. Quer chorar comigo? choramos. Quanto queira. seria lacrimoso e juro que serei sincero. Mas chorar por pena de si mesmo, nunca!


É deprimente, um choro vagabundo. Chôro de polichinelo

sábado, 17 de setembro de 2011

BEZERROS DE OURO

Sei que o que te faz gostar de mim é menos minhas qualidades e mais os defeitos comuns a todos, que não tenho. E saiba que isso não é cabotino, é uma queixa contra o modo como o mundo é ou ficou. Posso achar um homem lindo e dizer, e digo. Isso não me faz ser bom, mas é quase impossével alguém o fazer hoje se não for homosexual.

Posso não falar em pretos, nem em racismo, pela razão de não achar possível que se possa debater tal tolice. Posso chorar e ter medo de insetos, dizer-te que já riram de mim, e umas vezes mereci, outras foram covardes. Posso e venho te dizer, que toda vez que eu falo de meu pai e de meu filho, ainda que xingando, eu tenho a voz embargada, ainda que não fale, ainda que ria.

Posso e te digo que tenho medo de baratas, e que isso não me engrandece, mas que tenho mal de parkinson desde os 25 anos e que não há atleta mais bem humorado, nem mais otimista.

É forçoso que eu diga, mas não para te tocar, por ser verdade, que me preocupo com meus amigos, respeito as putas, gosto de gatos, choro nas pontes, acredito em Jesus, não gosto de Roberta Miranda, que tenho meus bezerros de ouros, mas não os adoro, que odeio Lula, que não odeio ninguém, que sou muito inteligente, que sou muito burro (o que é ser muito inteligente? qual a quantidade ou peso?), que não faz muito tempo que aprendi que ouro tinha plural, que amo você.

Minha grande qualidade é essa: admitir e não maquiar os defeitos que tenho.

E tenho meus "bezerros de ouro", homens gigantes em sua arte, pequenos porque humanos, divinos por serem Deus dizendo: eis o que podes. Vens de mim, posso te fazer dançar, compor versos, seres meu igual, mas preferes matar, mentir, negar a mim. Eu que te fiz. Perguntas: se tu me fizestes, quem te fez? preferes o mal, a dor. Depois me culpas pelo que não pudeste, pelo que procuraste, pelo teu filho morto em guerras.
Nunca te pedi guerras, nunca fui Deus de lugar nem de livros, vivo em você não em lugares."

Sim, agora choro. Chorarei sempre que sentir isso, essa vontade de beijar a cruz, de abraçar uma dor, o pulsar da poesia, de toda a alegria de saber sofrer.

Sigo sempre um prumo, uma luz, um poeta. Então não se assuste se eu chorei por Michael Jackson, nem cuido da dor de outros, se gasto minha vida em admirar meus bezerros. Eles são tudo pra mim. Meus bezerros são cantores, são poetas, nunca sábios, não procuro isso em homens, sim em Cristo. de onde vem a paz do Cristo senão no poema que foi, no amor de saber-se certo, mas dar-se ao errado para consertá-lo

, ainda que fosse em vão para muitos, seria salvação para muitos. Mas ele teria dado o corpo à chicotadas ainda que fosse por mim só. Por razão que um pai compreende, uma mãe ainda mais.

E todo o mistério do mundo foi-me revelado, e lembro o dia, foi dia 28/10/2001, em um hospital, no meio de gente com cara de dor, mas alegres. Nesse dia foi me revelado por meu filho onde mora o encanto: NO OLHAR DELE.