sábado, 17 de setembro de 2011

BEZERROS DE OURO

Sei que o que te faz gostar de mim é menos minhas qualidades e mais os defeitos comuns a todos, que não tenho. E saiba que isso não é cabotino, é uma queixa contra o modo como o mundo é ou ficou. Posso achar um homem lindo e dizer, e digo. Isso não me faz ser bom, mas é quase impossével alguém o fazer hoje se não for homosexual.

Posso não falar em pretos, nem em racismo, pela razão de não achar possível que se possa debater tal tolice. Posso chorar e ter medo de insetos, dizer-te que já riram de mim, e umas vezes mereci, outras foram covardes. Posso e venho te dizer, que toda vez que eu falo de meu pai e de meu filho, ainda que xingando, eu tenho a voz embargada, ainda que não fale, ainda que ria.

Posso e te digo que tenho medo de baratas, e que isso não me engrandece, mas que tenho mal de parkinson desde os 25 anos e que não há atleta mais bem humorado, nem mais otimista.

É forçoso que eu diga, mas não para te tocar, por ser verdade, que me preocupo com meus amigos, respeito as putas, gosto de gatos, choro nas pontes, acredito em Jesus, não gosto de Roberta Miranda, que tenho meus bezerros de ouros, mas não os adoro, que odeio Lula, que não odeio ninguém, que sou muito inteligente, que sou muito burro (o que é ser muito inteligente? qual a quantidade ou peso?), que não faz muito tempo que aprendi que ouro tinha plural, que amo você.

Minha grande qualidade é essa: admitir e não maquiar os defeitos que tenho.

E tenho meus "bezerros de ouro", homens gigantes em sua arte, pequenos porque humanos, divinos por serem Deus dizendo: eis o que podes. Vens de mim, posso te fazer dançar, compor versos, seres meu igual, mas preferes matar, mentir, negar a mim. Eu que te fiz. Perguntas: se tu me fizestes, quem te fez? preferes o mal, a dor. Depois me culpas pelo que não pudeste, pelo que procuraste, pelo teu filho morto em guerras.
Nunca te pedi guerras, nunca fui Deus de lugar nem de livros, vivo em você não em lugares."

Sim, agora choro. Chorarei sempre que sentir isso, essa vontade de beijar a cruz, de abraçar uma dor, o pulsar da poesia, de toda a alegria de saber sofrer.

Sigo sempre um prumo, uma luz, um poeta. Então não se assuste se eu chorei por Michael Jackson, nem cuido da dor de outros, se gasto minha vida em admirar meus bezerros. Eles são tudo pra mim. Meus bezerros são cantores, são poetas, nunca sábios, não procuro isso em homens, sim em Cristo. de onde vem a paz do Cristo senão no poema que foi, no amor de saber-se certo, mas dar-se ao errado para consertá-lo

, ainda que fosse em vão para muitos, seria salvação para muitos. Mas ele teria dado o corpo à chicotadas ainda que fosse por mim só. Por razão que um pai compreende, uma mãe ainda mais.

E todo o mistério do mundo foi-me revelado, e lembro o dia, foi dia 28/10/2001, em um hospital, no meio de gente com cara de dor, mas alegres. Nesse dia foi me revelado por meu filho onde mora o encanto: NO OLHAR DELE.

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