sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O gato imaginário


Para Maria Regina Hoff




Por isso a amo. Ela entende um poema que sequer foi escrito e reconhece o valor de um gato imaginário. Entende as coisas com o entendimento da essência que vem antes da aparência. A quem eu daria um gato imaginário sem medo de ser idiota? A quem eu diria que escrevo um poema sem pejo de não ser poeta? A quem um gato imaginário pode interessar? A Maria Regina.
Não te dou o meu gato pôr o ter em conta menor, nem por não ter a quem dá-lo. Dou-te por saber que sendo teu, meu gato estará bem cuidado. Cuido no meu gato por ele ser caro e tudo que tenho e que quero e preciso. Te dando não fico sem ele, te dando permanece comigo. O que é belo e bom dividido fica maior ainda e repleto do que ausente.
Te dou um gato imaginário e ele só pode ser dado como presente. Não tem preço, não tem como tê-lo de outra forma, por outro meio. O meio sequer existe para ganhar meu gato imaginário e se houvesse um meio, uma forma, um caminho, e alguém por ele se guiasse, veria ao fim que nunca teria o gato, por ter premeditado, por auferir, por pretender, pelo mero cálculo.
Reginita, toma meu gato, imaginário, nunca virtual. Ele não foi inventado, muito menos tem um fim. Ele existe, é real, como o mal, como o capim. Ele confirma, ele celebra um amor por uma amizade terna, bonita, sincera e leal. Toma meu gato, cuida bem dele, sem mimos, sem afagos, sendo quem és. Foi por ser quem és que te dei, é por ser quem és que te amo.