quarta-feira, 30 de maio de 2012

SAMPA HOTEL. OU: O FIM DA VIDA.









Li  "Sampa hotel" no blog  do Marcelo Novaes e adorei isso, porém (quase nunca uso esta palavra) li um outro que me pareceu imediato e mais pessoal "O coração das coisas". Talvez a preferência pelo segundo se deva mais ao meu argumento que virá do que outras coisas (porém, talvez, será... oh! desse jeito  a coisa não vai) Ou toma partido ou se cala. Tomarei.

"Sampa hotel" é  o que não se espera ler em um poema. Contém palavrões e violência verbal que um leitor de poesia não gosta muito. O leitor que não sabe o que é poesia. E o que é?
Como o príncipe de Elsinore, digo: o mundo está torto, porquê tem de ser eu a consertá-lo?

1º poesia não é busca de verdade, mas de beleza, embora uma conduza a outra inexoravelmente.
2º poesia é amoral.
3º não há nada transcendental em poema nem no ato de escrever um.


Convencionou-se por pura tolice que tudo de "sujo" ou que se valha de uma linguagem que se sabe comum nas ruas mas que finge-se não existir. Que coisa chata esse texto! (o meu) Poesia não é para ajudar ninguém, nem para função nenhuma. Não tem utilidade prática, como não tem a própria literatura. Mas quem lê qualquer outro gênero literário não exige (pelo menos com o grau que se exige do poeta) um certo bom-mocismo, uma assepsia, uma sacralização da escrita. Com o tempo o poeta passa a ser lenda e é esquecido como escritor. Veja só, alguém já ouviu dizer  que Fernando Pessoa era um gênio? ou Camões? ou Drummond? nunca se chama um poeta de gênio, por  razão simples: poetas não são inteligentes, brancos, pretos, veados nem ateus. Poetas são poetas.


A um poema cabralino que compara o ato de escrever ao de defecar. Um outro de catar feijão. Um poema do mesmo Cabral, genial, mas como eu e Marcelo, não mais que um poeta, que versa sobre um ovo de galinha; um outro sobre o número quatro. Cabral compara uma mulher com uma égua "estudos para uma bailadora andaluza",  é impossível discordar da beleza dos poemas. E muito menos de serem deselegante ou sequer chegar a nenhuma instância de grosseria.

"Sampa hotel" talvez nem seja um poema. Seja um conto escrito por um poeta (o que vem a dar no mesmo-ou mesma-) mas tem o soco no olho da verdade dada à luz do dia, que é quando a verdade é mais doida, mais vista. Há o lado da vida bom e o mal, e tem o pior que isso. O mundo dos loucos,  dos poucos,  dos foram fundo e não sabem que estão lá. Que nunca sentem o que são, que não lembrando o bom do sol, perdeu-se em noite eterna. Não falo de gente estranha, conheço-as, tive-as perto. Não falo como "um Limpo", sei do lôdo e tenho meus Pântanos. Mas o triste dessa gente do poema-conto é que não sabem que estão caídas. Isso é o pior. Para mim isso é o fim da própria vida.

sábado, 26 de maio de 2012

MARCELO NOVAES

 

 

 

 

 

Sampa Hotel














Trabalho nunca foi meu forte. Pode anotar aí. Eu quero ler a entrevista e quero a entrevista gravada, pra vocês não falsearem nada do que eu digo, beleza? Não quero saber de ouvir minha música tocada em três acordes, como se fosse Michel Teló. O negócio aqui é Ivan Lins.



Retomando a pergunta, gosto de dormir em hotéis. É mais prático. A última grana que ganhei foi suficiente, agora posso me dar ao luxo de dormir nesses hotéis do centro. Adoro o centro de São Paulo. Onde Plínio morava antes de brincar de ser burguês. Coloque aí Plínio Marcos, senão vai parecer que o burro sou eu. Isso: o dramaturgo do báculo e do terno puído, com sandália de dedo. Na Teodoro Baima, ele já morou. É desse centro que falo, do autêntico. Não falo de Paulista, falo de Consolação aqui em baixo, no centrão. Falo onde Santa Cecília quase se encontra com Higienópolis, o supra-sumo do luxo, ali quando a madame chora ao ler na correspondência do correio que seu CEP é de Santa Cecília, quando ela pagou preço de apartamento em Higienópolis. É quando eu rio. Assim, tipo Baronesa de Itu. Eu sei que tem uns nômades urbanos passando por lá, desalojados dos seus planos. Sacou do que eu falei? Estou falando do urbanismo descentralizador da cracolândia, lá mesmo em Santa Cecília, Marechal Deodoro até a Estação da Luz. Marechal Deodoro, isso, o metrô.


Não vai errar no mapa não.



Como eu ganhei dinheiro? Arrumando uns caras trinta anos mais velhos. Isso, eu já tenho mais de cinquenta. Limpando a bunda deles, convencendo os senhores que sem mim nenhum familiar estaria por perto sequer para lhes dar um copo d’água, coisas do gênero. Sim, arrumei dois assim pelas bandas de Santa Cecília, por ali mesmo. Não vou entregar os caras por “ética profissional”, digamos assim. Claro que pode colocar entre aspas. Há aspas na minha voz, preste atenção, cara. Limpando a bunda e dando água e outras gentilezas, convenço os tais senhores a mudarem seus testamentos, deixando de fora os parentes ingratos, os mal agradecidos. E eles chegam lúcidos ao cartório, claro. Tudo com testemunha e firma reconhecida. Coisa limpa. Tem um cara que trabalha comigo, um pouco mais novo do que eu. Os coroas costumam chamá-lo “menino”. Não, não revelo a idade. E meu nome é codinome, que fique registrado. Não vou dar ponto ao seu exibicionismo, nem munição pra familiar de defunto.



Beleza. Fazendo quase uma dezena de defuntos desses, eu me garanto. Já tenho jazigo conjunto, com documento falso, com grau de parentesco com um dos falecidos. Sim. O enterro também está garantido. Então eu ando pela praças, tomo minhas brejas com as putas das praças, e elas gostam de mim enquanto posso pagar. Praça Julio Mesquita, Largo do Arouche, Praça Ramos e adjacências, seguindo lá o viaduto Maria Paula, lá no início da Brigadeiro Luís Antônio. Sim. Lá no baixo, perto do marco central. Coloque aí que eu sou um cara nostálgico.



Bom, quando eu circulo por essas plagas tradicionalíssimas, tem bastante nigeriano entrando em portinha, saindo de portinha, tudo com relógio de ouro, tudo com cordão de ouro no pescoço. E os caras falam bastante em celular, falam em nagô que não são bestas nem nada. Sim. Também molham a mão de alguns polícias, por isso você os encontra naqueles restaurantes tradicionais do centro, almoçando às cinco da tarde, fazendo negócios. Tomam água mineral, quando não almoçam tarde. Ficam só negociando, sem chamar a atenção, pra quem não dá atenção. Ficou claro? Claro que eles têm suas festas privadas, alugam espaços de lazer, chamam angolanos que trabalham na mesma firma, essas coisas. Ninguém é de ferro. De vez em quando, vão em pares ou trios, nunca sozinhos, nas boates lá da Augusta, falando de negócios entre si, às vezes em francês, quando imaginam que as meninas não irão entendê-los. Além do que, muitas podem entender que não faz diferença nenhuma. Têm os rabos presos, estão outra ponta do mesmo negócio. E na hora da festa, com elas, eles falam a linguagem universal do amor e do dinheiro. Vai colocar aspas no amor ou não?



É. De dia eles compartilham mesas vizinhas, quando bebo cerveja com minhas negas e minhas minas. Profissas. Prefiro os travestis da Rêgo Freitas, Bento Freitas, Praça da República, Major Sertório e imediações. Alguns ficam embaixo do viaduto, embaixo do minhocão. Não faça trocadilho infame, vê lá. Prefiro essas fêmeas por opção, porque travesti é isso. Gostam de homem pra caralho, são fêmeas turbinadas, com mais pegada, e nunca fingem que gozam. Pode colocar aí todas as vantagens que eu enxergo nos travecos. Só essas, as mais elegantes, que não quero o impronunciável no seu jornal, justamente no número de estreia. Valeu?



É. Tenho uma namoradinha bem jeitosa, na região. Não entrego nem o codinome da trans. Não quero encheção de saco pro lado dela, nem azaração. E não tem trocadilho nenhum na primeira expressão. Gosta de mim pra cacete, isso eu te garanto. Não preciso encher ela de grana não, só dar carinho e pagar o hotel. A gente se vê sempre. Ela faz ponto lá, mas aviso no celular que quero vê-la, digamos assim, e a gente marca a qualquer hora. Amor sincero.



Ela tentou com garota, antes dos hormônios. Tem um filho de doze anos, que não vê. A mãe da garota, hoje uma mulher, cuida. Isso, quase ex-sogra. Se ela aparecesse pro filho seria bizarro, uma mãe-pai, um pai-mãe. Melhor poupar a criança, melhor poupá-la. A mãe não abre mão da maternidade. Claro que eu assumiria a paternidade ao lado dela que é o pai. Você está me chamando de mau caráter? Mas veja que a situação é bastante complicada, fora dos manuais. É. Hoje tem muita coisa fora do manual. O amor não cabe nisso.



Bom, você está interessado nos nigerianos. Se eu vejo cem deles em poucas quadras, entrando e saindo nas tais portinhas, como que a polícia não vê ou não faz nada. Eu já dei a entender, ou ainda mais do que isso, que a polícia vê sim. Mas prefere ignorar, levando um troco caprichado. As portinhas mudam segundo a ocasião: de fliperama a bar com maquininha caça-níquel ao fundo, num corredor lateral, geralmente numa entrada falsa perto do banheiro. Ou abaixo. O que? Se tem muito bar com essas maquininhas por aí? Você quer zoar comigo. Fala sério.



Certo. Na Barão de Limeira, Barão dos Gusmões, Júlio Mesquita, Rua Vitória, etc e tal, no “Cachorro que Chora” [é a maneira de eu chamar um restaurante da área] eles têm mais presença do que eu, claro. Dormem nuns hotéis três estrelas, onde estrelas dormiam outrora. Não deixa a frase de fora, porque prova que eu tenho sensibilidade e boa memória. Amo essa cidade que me deu tudo. Então, os caras “afros puro sangue” são boa pinta, dão caixinha alta além de bons cachês, pagam conhaque e bebida quente, essas coisas. Eu só bebo breja, só pago breja e rabo de galo para as mais afoitas. Os afros boa pinta nem precisam aprender português, sabe como é. Bebida quente deixa a fala mole. Fica-se poliglota. Até as analfabetas entendem.



Revitalização do centro? Está cheio de vida no centro. Depende do que você considera revitalizar alguma coisa. A cidade não está moribunda, não precisa de ressuscitação, entende? Não tem essa. Também não existe “vida clandestina”. É vida ou não é vida. Precisa ser vida registrada? Precisa bater ponto pra ser vida? Precisa de carteira assinada? Qual é o nome mais justo pra namorada que falei, a da Rego Freitas: seu nome de fêmea, ou seu nome de certidão? Não me vem com essa. Eu sou Plínio Marcos antes de sua conversão burguesa.



O que eu gosto de ver nas horas livres? Você está pondo aspas nessas horas livres, ou está me tirando? O negócio é o seguinte: todas as horas são livres pro cara livre. Eu gosto de andar nos Campos Elísios, gosto das pensões da Rua dos Andradas, Helvetia, Alameda Glete e imediações. Gostava de visitar um delegado na alameda Nothman. Nem sei se lá ainda tem delegacia, estão fechando tudo. Estão emparedando portas em nome de alguma suposta decência. E quero frisar, coloque aí: estão fazendo isso, se for este mesmo o motivo, com atraso de décadas. Nos anos oitenta eu já levava mina em hotel na Luz pra fumar pedra. E o dono do hotel era polícia. E as viaturas faziam vigília nos quarteirões em torno, não na boca. Está visualizando? Então é isso.



Já falei que sou nostálgico, do tempo de sair na mão com camarada desafeto. Nada de arma de fogo pra coisa pouca. Minha nostalgia é de Ademir da Guia, Domingos da Guia e Quinzinho, Rei da Boca, morto depois de cumprir pena, apartando briga. Morto na ponta da faca, em briga de terceiro. Pode por aí que ele é meu herói. Lenocínio devia ser o artigo do cara. Cafetinagem. Se ele tratava bem as meninas, não vou julgar o cara. Não sou Pai, Filho ou Espírito Santo. Coloque com maiúsculas, porque falo com respeito, e não quero gracinha nem gracejo fora de contexto.



Você não viu Pelé nem Zico, que eu vi já adulto, então não sabe o que é nostalgia. Pra você, futebol é a partir de Ronaldo, ou Ronaldinho. Ah..., agora você me fez uma pergunta inteligente: como, com tanta nostalgia, eu posso me fazer com caras trinta anos mais velhos do que eu? Perfeito. Gostei dessa. Justamente porque sou nostálgico que falei em trinta anos. É. Bem mais de cinquenta, beirando os sessenta já. Isso foi no início de carreira. Antes do lance do amor testamentário, eu vendia muamba. Garoto novo, não tinha estômago, esses escrúpulos e frescuras pós-adolescentes. Comecei já maduro no ramo. Hoje, me insinuo pra caras vinte anos mais velhos. Compro as fraldas geriátricas, dou banho. Guardo as notas das fraldas geriátricas. Se o cara for internado ou morrer antes de queimar o estoque, tento trocar na farmácia por coisa útil pra mim mesmo. Ou revendo. Mercadoria lacrada e em prazo de validade. Não se desperdiça investimento, e o tempo é o principal deles. Mesmo isso aí que você chama, sarcasticamente, de tempo livre.



Conquiste primeiro sua liberdade, falou? Vai gramar uns vinte anos trabalhando nesse jornal pra juntar algum.



Foi suficiente? Quero a entrevista na íntegra, valeu? Como eu falei: música de Ivan Lins. Uns quinze acordes, no mínimo. Quero conferir todas as nuances éticas, e minha memória urbana. Inatacáveis. Quem não me apreende com justeza não me faz justiça. Pode colocar aí. O provérbio é meu. Se tiver algum erro de redação é teu. Língua falada não tem ortografia.http://prosaspoeticas-marcelo-novaes.blogspot.com.br/

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O TIME DO AMOR












Falta muito, você não faz idéia, um oceano de oceanos, pletora de pletoras, infinidades de infinitos. Não, não é que falte, nunca será, nunca se dará. Então baixe a bola (ou o facho)) recolha o sorriso, modere a alegria, não me verãs por baixo. E vai sem rima, vai à seco, como o cante de Cabral, como o choro de ontem. Sim, houve isso. Se te agrada, houve tristeza, minha, de meu sobrinho, de meu filho. Quer mais? ao escrever isso, ao saber que não haverá jogo do nosso VASCÃO quarta-feira, que não... faz um tempo que não choro assim. O branco ressona e eu tenho de cobri-lo. Ele está com a camisa do time do pai dele. O pai dele torce pelo Vasco pelo amor do pai do pai dele. Na sala as camisas do Vasco estão penduradas na estante. Os fogos que soltaríamos não se fizeram ouvir, e eu deixarei meu menino faltar aula amanhã. Quando ele foi dormir me perguntou com a voz embargada: vou pra escola amanhã?  eu lhe disse que não. Eu deixava ele faltar nas quintas depois do jogo da libertadores. O jogo do dia anterior terminava tarde. 

Já clareia e o meu chorar cessou. Pois é, rapaz, meus olhos não são rios, minha crista não baixa. Não baixou nem baixará. O jogo foi perdido, o riso adiado. Talvez fosse nem riso, fosse chôro de outro modo. Mas fica disso tudo uma coisa que é tão grande quanto uma dor de vascaíno: o amor de um pai para um filho. Um saber que não precisamos vencer para sermos pai e filho. Ontem  fomos dormir sem muitas palavras, e quarta não terei o prazer de ver os despropositados e impertinentes comentários do pitocudo branco. Acabou o nosso sonho de bicampeonato, de chegar ao topo. O que nunca acaba ou acabará, é o amor pelo VASCO se ele perder ou ganhar.

domingo, 20 de maio de 2012

MANUEL BANDEIRA E MARCELO NOVAES


MARCELO NOVAES

O Coração das Coisas














E foi porque eu quis acesso ao coração das coisas. É certo. E isso deixou a marca do tremor na ponta dos dedos [e uma lancinante voz ao fundo, como backing vocal de cada sussurro ou silêncio]. Foi porque eu quis acesso que me tornei pai sem filho e pai de tantos órfãos. Foi só por isso. E existe um coro que descende lá detrás; sim, do coro grego e do longo lamento sumério. E foi porque eu quis tocar o coração das coisas [deixando-o talvez intacto] que meu dedo nem pousou, mas treme assim, a dois milímetros de tocar o fundo veio [e a vértebra dorsal do transmundano sonho]. E foi só porque eu quis.

Manuel Bandeira 

TESTAMENTO

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
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sábado, 19 de maio de 2012

CÂNDIDO






Sou um otimista. Penso que as coisas vão sempre melhorar, senão hoje, amanhã, quem sabe segunda... Mas não acho que tudo será como em novela, nem procuro paraísos ou coisas semelhantes- ou semelhantes coisas- Marcelo Novaes gosta disso, inverter palavras dando novas perspectivas ao texto. Eu sempre gostei, fiz, fica o registro e um abraço ao poeta. Mas sou um otimista. Ponto. Isso as vezes é bom, outras médio. Se o o otimismo de Cândido (porra, eu li Voltaire. Li mesmo. sem essa de google. Hoje não é comum se ler Voltaire, não é comum se ler nem Shakespeare, não é comum se ler) Eu havia parado com esse malditos parênteses que exasperam budistas, maconheiros, e, se vivo fosse, Dorival Caymmi Fica a promessa de não usar dessa coisa hedionda. Bom, vamos ao que interessa (a mim e a minhas 4 leitoras vorazes. Não resisti aos parênteses, quer estão para mim como cachaça para cachaceiros, maconha para maconheiros, absurdo para os pastores evangélicos, chega!
Meu pai me liga e diz que tá chegando a hora. Eu vibro, eu morro, eu canto. Amigas, queridas e nunca esquecidas, tem gente que gente que tem tudo e é feliz ou triste, ou nada e é feliz ou triste. Falo para os felizes, respeito os tristes, mas falo para os felizes. Falo para quem gosta dessa estranha visão de mundo que tenho, que partilha o riso, que confabula fábulas, que chora amando o choro vertido. Que se chora, o choro é de Paulinho Da Viola, que se cai, levanta. Falo, com as mesmas vinte palavras que as limpa do que não é faca- joão cabral- que nunca a dor pode com o riso, que mais que o riso, pode o amor.
Estou melodramático, Valéria? você que adora o maluco alemão, mora no meu coração e se brigou comigo foi só por ser criança (talvez ela fique puta com isso e me tenha raiva de novo. Bobagem, depois ela ri.)
Vou terminar que meu patrão não está me deixando escrever mais. Acionarei ele na justiça. Mas sou tão bonzinho que não pedirei o que ele me deve. Só pedirei uma parte do que ele me roubou.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

MAS VOCÊ NÃO TEVE PIQUE...






Há mitos e fatos, mentiras e verdades, e a mim que sou o vate, cabe pôr as coisas nos lugares. As porei.

Quando alguém disser que algo que veio à tona esse ano, seja filme, cantor, ou novidade tecnológica, é o maior, ou melhor ou irá mudar o mundo, saiba que as coisas que mudaram o mundo, todas, sem exceção, tornaram-se grandes com o tempo, com o crivo da razão.

Se um petista mentir, roubar, se beneficiar-se algo que critica e além disso culpar os outros pelos erros cometidos e gabar-se do que não fez, fique peixe, não se irrite, eles estão cumprindo a sina. De serem petistas, de ser sem medidas. E olhe que ser medidas é pouco para essa gente. Lula quando quer se comparar com alguém recorre a Cristo, pondo-o em desvantagem, senão não seria Lula. Alguma alma perdida e desocupada que esteja lendo isso e achando que exagero segue a frase toda: " levei mais chibatadas que Jesus Cristo." Ah, quem quiser ela toda é só copiar e colar no google. Na crise europeia ele não teve dúvida, tomou três lapadas e mandou ver:

Lula afirmou ainda que "a União Europeia tem 27 países, mas quem tem poder de decisão são poucos e que precisam assumir a responsabilidade. A crise se resolve com decisões políticas e não econômicas.

 

Lula ensina aos países do continente mais rico do mundo a resolver seus problemas. De fato tem que ter um mega-colhão para aturar um sujeito desses. Mas há coisas piores no mundo, e não são só os terremotos, os evangélicos e os comentaristas de futebol. Existem os eleitores de Lula. Esses são de fuder o juízo de um santo. Esse abominável ser é tão avesso a lógica, razão e argumento que tentar argumentar o inargumentável. O eleitor de Lula o defende como um eleitor de lula pode, com argumentos francamente imbecis. Mas deixo Lula e essa cambada por fora, e vou por dentro. Com Caetano Veloso, que escuto e babo. "mas você não teve pique, não sou eu quem vai lhe dizer que fique."

Não tendo o que dizer, digo o que me aprouver e deixo abraços. Como Maciel Melo, Gilberto Gil e Luiz Gonzaga. Ainda há de haver, e havendo reconhecerei, luares como o do sertão, poetas como o João, sorrisos como o de Aninha. Estradas tais a do canindé. Um filho que ame tanto um pai, um beijo como de corisco em dadá, um carioca igual a Jobim, coisa pior que morrer, coisa melhor que viver, um passo de frevo, um passe de Neymar, chuva de madrugada, São João, torcida do vasco, o rasgo do vento na noite, sentir o alívio que só o grande peso proporciona, um ter no passado um lembrar feito o teu, um filho crescendo, e o tempo? passando, passando.

Mas você não teve pique. Não sou quem vai lhe dizer que fique.

sábado, 5 de maio de 2012

GABI E VITÓRIAS







Algumas crianças moram em meu coração. Não todas, não muitas, por motivos diferentes. O que eu gosto na criança é ela ser sem receios, como Gabi, a criança mais criança que já existiu. Um doçura de anjo ( se alguém achar óbvia a frase- e é- seria mais complacente com o escriba se visse ela) um passoa que faz você se sentir sem vergonha de ser boboca. As piadas de Gabi, um nome que é a cara dela, fossem contadas sem o rosto dela, a voz, a figura toda, seriam de um ridículo absurdo. Mesmo uma criança contando soaria falso. Gabi não existe. Uma vez ela disse que eu estava mangando dela. Não estava, sua cabeça de abóbora! nunca poderia, porque você é meu ideal de pessoa. O máximo do que concebo  ser é você. Conhecer as intenções dos homens, seus motivos, suas dores, sua baixezas  e suas sublimações  e poder rir como você, isso é que quero ser. É no estágio que quero estar ao morrer.


Duas Vitórias, uma minha irmã, outra piriguete, ambas ruins e amadas. Uma criança ruim é como um gato, que despreza quem o alimenta com um olhar insolente e cínico, como se fizesse um favor ao ser acarinhado. Vitória, a piliguete, é uma atriz de si mesmo. Uma atriz que atua sendo ela mesma. Como um ator negro que representasse um personagem negro.  Um Otelo que representasse "Otelo", um imitador de si.
Vitória, minha irmã é ruim de fazer de gente pouco ruim um santo. Inteligente demais para uma criança. Meu pai, sua vítima preferida, puto da vida, disse: qualquer dia morro e vocês ficam ai! Vitória, saiu-se com essa: já devia ter ido...
Ela o adora. Precisa ser má. Nos tratamos assim: oi chata! oi, feio! amamo-nos.   De verdade.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O RUIM DO BOM É QUE SE ACABA ( em que pese minha modéstia, que título, hein!?)





Eu tenho tempo pra tudo e dou a cada o tempo que mereça. Tempo grande a coisas grandes, pouco tempo a coisas sérias. Perco um tempo ao  vê-lo rindo como um tigre que sorrisse, como um anjo que falasse, como um um céu em que eu moro. Faço-me triste pelo fim disso, como se o fim não tudo terminasse, como se temendo seu fim o bem perdurasse. 

Ontem abracei-o, pasmo pelo seu tamanho. Cabia em meus braços um dia desses... tempo estranho, estranhos anos.

Ele, que é única coisa que trago na bolsa, cujo valor não é cotado.
Uma fortuna que é mais fortuna que a de mil fortunas juntas, e em cujo o valor não há outro agregado, cujo valor está no que todos tem: sangue, alma, voz. Mas o sangue, alma e voz dele é como... não é como nada. Ou é como tudo que o nada sugere, como a própria palavra nada.

Se eu fosse dizer onde ele mora e o óbvio me viesse com suas tentações, não resistiria ao lógico do brega, diria que mora em meu coração. Como pode se gostar tanto? porque eu o amo assim?
não sei, mas deixo um lamento, um triste fim.

Deus saberá, eu não sei, porque esse hoje terá um fim. Porque ele cresce e eu envelheço, porque isso tem de acabar?
Porque não somos eternos na nossa casa, no nosso abraço e risos?

O tempo passará, como tem passado, e eu nunca vou deixar de lembrar desse tempo. Um tempo de pai e filho. Bonito, sem traumas, suave e calmo. Como uma borboleta, como eu e meu filho.

terça-feira, 1 de maio de 2012

PARA AMIGAS




Quando canto ou rio ou choro, brigo, berro, xingo, beijo, meto, cuspo, entendo, explico, erro, tento, sento, deito, faço tudo com paixão, tento tudo por respeito. Um respeito devido as coisas que amo e participo, amando-as a cada dia com mais fibra, cada fibra com mais afinco. Esteja certa que até morte isso vai comigo, até o último suspiro. Essa coisa de que falo é uma só expandida, não faço segredo, é o que julgo Deus em quando ele me aparece, em quando ele se revela. Saibas que não sou exagerado em meus dons e medidas, não sou poeta, tampouco coisa grande, se coisa grande é o que se diga, mas sou carinho, sou descanso, sou vida a quem quer vida. Não sou bom, nem sou nada. Mas sei um pouco das coisas. Aprendi com um mal.

Vai comigo pra sala fria, mai que bisturis, brocas, sangue. Vai o olhar de meu pai e tantas coisas que já disse, irá comigo o sabor dos que venceram. Vencer não é ganhar, ninguém ganha  o tempo todo. Vencer é sentir a frase de Shakespeare e aplicá-la a vida. " furtado que ri rouba algo ao seu ladrão" essa é a frase a ser seguida. É mais que uma frase de um gênio, é mais que uma frase. Ela comporta em si um poder de blindagem.

Pra você que gosta de eu ser foda e pede que escreva algo à guisa de bússola, digo: só uma bússola, um verdade, você sabe onde está, você ia todo sábado.

Muito próxima vai hora de estar só e em acerto com o tempo. Não estou tenso, não há medo, e se houver é um medo bobo, nunca o de dentro. Medo de Riobaldo, medo de gato.

Que saibam minhas amigas,de caruaru, do leblon ou a devota de um maluco alemão, que amo-as que trago-as no coração.