sábado, 17 de setembro de 2016

O respeito



Sentes o medo em tua presa?
O falho de teu ato?
O falso do teu erro?
A fome de teu gato?

Nem tudo é contrário ou antítese.
Nem tudo é só mentira e  verdade.
Não só se dividem as coisas entre
lado e outro ou duas margens.

Tudo é complexo demais,
Tudo engendra ou enseja.
Nada é fácil nem será,
Ainda que mais não seja.

Não, não me dei o direito de escrever poesia. Mesmo porque não delibero sobre isso.
Dei-me, dou-me e dar-me-ei o direito de dizer.
Ainda que ninguém peça, ainda que ninguém olhe.
Se não tenho o que acrescentar nem embelezar a nada, nada deveria escrever, correto? Não!
Minhas preferências são o que amo. Amo porque minhas. Como o baiano eu respeito minhas lágrimas mas ainda mais minha risada. Me respeito tanto para não me levar a sério. Tanto que não levarei a sério mais nada além de meu chorar e de minha gargalhada.

sábado, 3 de setembro de 2016

Deus me perdoe





Tudo se acaba ou pelo tempo ou  se consome em si mesmo, como câncer, como o vício.
Nada fica, nada sobra, nada há que se posso dizer "meu". O bom da vida é isso! Como pode alguém querer ser eterno? É presunção demais e amor a vida  de menos. A  vida é única e acaba e fim de papo. Aceitar isso é ter coragem e força interior. Buscar explicações fáceis para ser e existir e sonhar com paraísos de felicidades perenes, me parece medo e somente isso. Eu fui nos hospitais, nos asilos, nos poemas loucos de homens que pareciam imortais e ainda os escuto mesmo mortos, mas são fantasmas. Fernando Pessoa está morto; João Cabral, Castro Alves e... pasmem, Shakespeare! O que me faz pensar que viverei eternamente? e que graça teria uma vida que não se acaba?
Sim, estive nos hospitais. Passei no setor de oncologia e vi crianças carecas e com dores na alma. Dores indizíveis. Mais doídas porque de criança, mais sofridas por ser sem o aparato de que disponho para me defender das minhas mágoas.
Acho as palavras do Cristo sublimes e devoto todo amor por ele, mas haverá em mim sempre aqueles rostinhos sofridos na minha retina cansada. Sempre, no meio de minha fé haverá aquela dor naqueles rostos. Queria crer com intensidade total,  queria me convencer que existe uma razão para os rostos das crianças com câncer... Queria... Deus me proteja de minha descrença, Deus me perdoe por não crer nele.