quinta-feira, 27 de novembro de 2014

MARCELO NOVAES





Marcelo Novaes
Diáfanos

O ruído da capa sendo
esticada, do papel dobrado
[do motor ligado da manhã
à noite], do jorro d'água [do
ar gemendo o tempo todo à
sua volta].

O som do amor à
pátria [e mais, do
amor ao filho sórdido,
que é sempre amor
mais forte, porque faz
sombra e dói como o
som da chuva no
penhasco].

Os sons quase sem
som [à feição de um
rosto que se
esconde].

Sons diáfanos
e ininterruptos,
que estão dispostos
a te esperar quando
você chega à noite [e
espreitam mesmo
enquanto você
dorme].

Todos esses sons,
inúmeros sons [em números
ímpares, porque no fim de tudo
sempre sobra
um],

são sons que nem os céus,
nem o fogo nem o frio [nem
o mar] consomem.

Marcelo Novaes

terça-feira, 18 de novembro de 2014

SONIA







Ela não pediu e eu não tinha que oferecer, mas disse que lhe faria um poema. Não disse-lhe que bom, não poderia fazê-lo, mas saiba-o sincero, saiba-o meu inteiro.
Resta a quem não tem o dom de dizer bonito, o dizer sincero.
Resta a quem não pode o diamante, oferecer o que lhe cabe.
Ela é o que eu não poderia ser; por ser mole, frouxo, por ter medo de seringas e hospitais.
Trabalha tentando curar, diminuir dores, suturar, aferir pressões, olhar no olho dos que tem tumores e não chorar.  Não creio que ela seja de cristal e paire acima das pequenas e comezinhas mesquinharias da vida. Ela é só ela. Não é pouco! Tem coisas que uma mulher tem das quais não se deve falar sem prudência;  coisas tais que embasbacam, embotam o  bom senso.  Se eu disser que eu não amei a minha tão recente e pouco conhecida amiga serei omisso.
Ela me faz lembrar João Cabral e isso é um perigo. Com o respeito devido ao gênio pernambucano e amado por mim, farei uma tentativa canhestra de imitá-lo (aos que se apaixonam é dado o direito ao ridículo) no nascimento do filho do carpina, os personagens do poema do João falam da formosura de uma criança recém nascida; eu falo dela, e peço licença:

De sua formosura deixa-me que diga: é beleza como deve ser beleza de mulher, feminina, escancarada,  que inerva, que faz do mais sábio um palerma e dos palermas desperta instintos. É um beleza que tem gosto, em que há prazer em se gostar. O gosto pelo que se olha, da fome que se tem ao olhar.

De sua poesia eu digo que não se pode conter, diminuir ou abafar; Ela se mostra por si mesma, está onde ela está.
De sua gostosura, deixa-me que conte: ela é coisa que se mostra gostosa sem se provar. Que vendo já sabemos onde a delícia esta. Como se sabe gostosa uma torta de morango não comida, uma fruta madura que se sabe doce, uma coisa que de antemão você senti o prazer das coisas gostosas.
Eu conheço quase nada essa menina. Ela é um mistério, ela é minha amiga. Já digo que é minha amiga mesmo que talvez ela assim não considere ou me queira; digo que é minha amiga, e que só não o será se não quiser ou se eu a aborrecer. Iremos brigar como todos os amigos brigam. Talvez eu lhe faça raiva, talvez nada seja amizade. Mas nunca me arrependo de minhas amigas, mesmo as que se afastam, mesmo as que me tem rancor. Sou poeta ruim e ser humano em tentativa de crescer. Muita besteira na minha vida, muito a me arrepender;
Para terminar devo dizer que ela se chama Sônia e isso me faz lembrar de Dostoievski. Sônia tem seus pés beijados por Ralskonikov e pedi-lhe que pare de fazer isso e se levante. Ele lhe diz: -Não beijei os seus pés, beijei todo o sofrimento humano.

Isso é de um beleza brega e pungente. Sônia, minha amiga, é sofisticada e linda, como uma canção de Jobim, como uma canção de Gonzaga, como o rio capibaribe, como o espaço e seu nada. Como o pulsar dos amores, como o meu pai traçando baralho, como uma missa católica, como o Rosa dos sertões, como o olhar de Ricardo para Falstaff, como um clarão no breu, como se o bom se achegasse. Como chuva e cheiro dela, como o riso escancarado, como o talvez que vira fato, como o fato mudado, como a coisa que é bela sem porquês, sem razões; as coisas que são lindas porque são, são lindas por fado.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

BRITTANY MAYNARD




Essa americana tinha um câncer incurável no cérebro. Ela tomou remédio para morrer ou não sofrer. Qualquer coisa que se diga ou se ache sobre isso é ridículo, reprovável, canalha. Ela fez sua escolha com dignidade, com altivez. Eu não a cito como exemplo nem como não-exemplo. Digo que ela será sempre amada por mim.

ESTOU




Dentre minhas bizarrices, uma há que registrar: estou vendo entrevistas de antes das eleições presidenciais deste ano, e constatado o que todo mundo já sabe antes de as tais serem dadas: como mentem nossos políticos!
Votei (votaria, se tivesse regularizado minha situação junto ao TSE) no Aécio; mas ele mente com cara dura quase igual aos outros. Ninguém mente tanto quanto o pt; mas por puro pudor de não soar ridículo. Você já imaginou alguém não petista dizer o que um petista diz? que Lula controlou a inflação e coisas tais? Mas quem mais me interessa é Luciana Genro... essa me encanta com seu moderno discurso e com sua capacidade de dizer que se o regime é facínora ou mesmo ruim, não pode ser socialismo, que o socialismo só pode ser bom e que se não o é, não é socialismo; é apenas uma distorção das idéias de Marx. Isso não poderia ser dito por capitalistas ou qualquer grupo, seita ou máfia? Hitler distorceu o nazismo. onde desse errado o capitalismo foi mal aplicado; Não existiria coisa ruim no mundo, haveria distorções de ideias santas.

Sim, estou feliz, muito feliz. Não preciso dos motivos de sempre, não  os tenho agora; Nem de exclamações que o constatem. Estou feliz pelo que tenho e pelo que não tenho ou tive e mesmo sobre o que não terei. Estou feliz e é só. Não frivolidade, não sem embasamento, feliz apenas em ser o que acho que deveria sem agredir ninguém, sem imolar ninguém, sem amolar ninguém, escutando Milton Nascimento. Gostando do que reafirma, cansado de estar errado; Sem mágoas e sem querer causá-las, sem lágrimas que não sejam pela beleza, sem raivas que não as santas, sem maiores esperanças que encontrar Jesus, sem menores também. Estou (espero que sempre assim o seja) na boa, na paz, no poema, no embalo, no sono, na chuva.

sábado, 1 de novembro de 2014

LUCIANA GENRO



Perguntado sobre qual defeito ela tinha, Luciana Genro soltou essa: a sinceridade. Perguntada sobre sua qualidade ela diz: sinceridade.
Cito o bom e velho Nelson, segundo ele ou o sujeito confessa um mazela humana (e é o que mais temos) ou  não confessou nada.
Tem uma frase de Shakespeare da qual ninguém foge, ninguém! quando ele manda Ofélia pro convento e ela atônita não compreende, o Hamlet detona: Eu me considero mais ou menos honesto mas sou capaz de tais coisas que seria melhor que minha mãe não me tivesse dado à luz; sou ambicioso, egoísta, tenho mais pecados na cabeça que imaginação para dar-lhes forma e tempo para executá-lo; vai para o convento! para que gerar seres pecadores?

Todo mundo se perde nisso. Essa frase de Shakespeare poe-nos a nu. Todo ser humano é um lixo que tenta se domar. Não existe santos. Não quero me ter como parâmetro, mas quem poderia se-lo?

Olhemos a nossa lama e peçamos perdão. É o que resta.

Luciana Genro diz, entre outros estultices, diz que ninguém entende Marx, que ele era uma flor, um lírio mal interpretado. A má compreensão desse rapaz deixou um lastro de 100 milhões de mortos. Ai Luciana se supera, e isso não é fácil. Ela diz que o capitalismo matou também. Nessa conta ele colocam acidentes de carros,  guerras, e tudo que eles acham que foi causado pelo capitalismo. Numa guerra se mata e se morre porque as partes estão de lados opostos, não é mesmo? se há guerras de capitalistas, e há, é contra quem não professa o mesmo credo. Na guerra se matam inimigos. E não me venham com esse papo de pacifismo bocó, tipo Roberto Carlos, há   casos em que a guerra é  a única saída. O socialismo matou os seus, sua população civil. Quanto aos acidentes de carro é risível; os carros não são feitos para matar, como as árvores não foram feitas para criar arco e flecha que também matam;

Luciana Genro acha que o defeito dela é ser sincera, eu acho que é ser idiota mesmo.