quinta-feira, 27 de novembro de 2014

MARCELO NOVAES





Marcelo Novaes
Diáfanos

O ruído da capa sendo
esticada, do papel dobrado
[do motor ligado da manhã
à noite], do jorro d'água [do
ar gemendo o tempo todo à
sua volta].

O som do amor à
pátria [e mais, do
amor ao filho sórdido,
que é sempre amor
mais forte, porque faz
sombra e dói como o
som da chuva no
penhasco].

Os sons quase sem
som [à feição de um
rosto que se
esconde].

Sons diáfanos
e ininterruptos,
que estão dispostos
a te esperar quando
você chega à noite [e
espreitam mesmo
enquanto você
dorme].

Todos esses sons,
inúmeros sons [em números
ímpares, porque no fim de tudo
sempre sobra
um],

são sons que nem os céus,
nem o fogo nem o frio [nem
o mar] consomem.

Marcelo Novaes

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