terça-feira, 16 de dezembro de 2014

MARILIZ E AS DESIMPORTÂNCIAS







Eu penso demais. Claro que a imensa maioria das vezes é bobagem sem importância, mas o que é a vida senão isso: desimportâncias? E menos me interessa o neologismo (essa boçalidade que o que se pretende culto inventa quando não sabe se existe em dicionário uma palavra) do que seu signo. A vida é feita de desimportâncias. A vida é feita de passar pano na casa. Quase todo dia passo pano na casa e só raramente leio Shakespeare. Francamente, muito mais útil uma casa com cheiro de desinfetante vagabundo que a leitura do bardo. Com o bardo aprendi que o conhecimento é inútil; em passar pano na casa aprendi o que já sabia: que amo minha irmã. Como boa piniqueira que sou (piniqueira não é neologismo. A palavra existe por demais e se você não conhece e por não ter vindo a Pernambuco) gosto de passar pano na casa escutando música, então: Maria Bethânia. Bethânia chama ao palco Carlos Lira, um gigante da MPB, eu lembro-me de minha querida irmã, Mariliz, que não lembra em nada bossa nova. Mariliz fez uma grande coisa na vida: xingou Carlos Lira. Carlinhos é um ícone da MPB, e isso não é pouco, isso é muito. Não é todo dia que se pode xingar um gênio, nem todo mundo pode, e dirá, um apressado, que os que xingam gênios merecem o desprezo não o afeto; concordo, mas ela tinha poucos anos de vida, era uma criança, e xingamento de criança é charmoso. Eu poderia ser ácido e dizer que minha irmã mais velha e já avó (o tempo é foda! Há trinta anos, apenas isso, ela ainda escrevia cartas para o “balão mágico” e explicava que não colocaria selo por não ter dinheiro e eu... bom, eu fazia o que sempre fiz: nada ou alguma besteira) que o gosto musical de minha irmã é ruim. Seria injusto com as palavras porque ela não tem gosto musical ruim, é péssimo mesmo.
André, meu compadre veio aqui em casa e me disse algo  sobre minha irmã que eu sentia mas não me vinha em palavras, só em idéias, como o filme do Glauber na fala de Caetano.
Ele me disse que Mariliz era muito protetora comigo, que percebia no jeito dela falar. 
Vendo Carlos Lira, lembrando que minha irmã o chamou de cachorro (ele estudava na mesma universidade que meu pai (sim, meu pai já foi amigo de Carlos Lira, que, segundo Caetano, é uma de suas maiores influências musicais) Lembrando das merdas que já fiz, consterno-me pelo seu amor, por termos devoção por nosso pai, por sermos uma família pequena e dispersa, mas que se ama e perdoa.
Chega! Senão descambo para a breguice quando posso dizer mais simples que sou agradecido pelo perdão, pelo amor, pela paciência.

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