Eu tive um
sonho há pouco que foi tão poesia que
tentar contá-lo o diminuiria, reduzindo a sonho o que sonho seria se não fosse
mais, se não fosse o que queria, todo sonho que mereceria o nome de sonho ou de
poesia.
Eu tive, e
tanto era lindo, que santo diria, mas não era isso, era até profano, por não
ter pecado por ser mais que humano, por eu entender que era o que entendia não
caber no homem, não caber em nada.
Eu tive (e
pouco me importa se esta errado) ter -se sonho ou haver sonhado, ter se sentido
certo, ter sempre eu errado, ou o que é real e o que foi sonhado, ou menos o
pecado ou mais o perdão.
Se explicar
não posso, quem o poderia? se sonhasse um sonho que foi fantasia, nada de
irreal, nada que conteria um outro nada em si e por isso era tanto que a
palavra nada tudo definia, como se verdade última da poesia, como se única
verdade houvera, como se descoberta a nova era, como se descobrisse o véu
primeiro, como se segredo não mais houvesse, como se tudo ao nada reduzira, e o
nada fosse a melhor saída, e era melhor
por ser a única, e era bom e eu o sabia em sonho, e eu o via em graça, o tendo
profundo, o tendo em tal monta que para mim nada mais me vale, nada mais me
serve, nada mais eu busco do que aquele nada.