segunda-feira, 30 de maio de 2011

JU, EU AMO TU!

Minha amiga juciara, ju.
Ela está agora em um hospital. Fazendo o que quase todo mundo não faz: sendo humana. Porque isso agora? Ela cuidou de minha irmã, disse que iria comigo na minha cirurgia, ficaria comigo. Eu brinquei, perguntei se era médica. Ela não se ofendeu.
Se eu não disse, se você não percebeu sem eu dizer, digo aqui: ju, eu amo tu.
É bom que esclarecer, amo como amigo. Afinal o namorado de ju, o bebê, não é apelidado assim pelo seu aspecto físico. Se o apelido viesse disso, se fosse de conforme ao que se vê no porte físico do “BEBÊ”, seria algo amedrontador. Mas é o bebê dela. E embora eu não seja só afeto, só amor. Escolho os que gosto. E o bebê é bacana. Wanderlei, que eu não sou veado pra tá chamando homem de bebê.
Não peço que ninguém me leia, isso pouco me importa. Não sou um grande em nada, nem tenho muito o que dizer. Então eu digo pra ju: ju, eu amo você.

Tenho orgulho de você. De sua disposição de ajudar.
Ela acredita em coisas difíceis de acreditar, como botijas, vultos, e coisas de assombrar. Ju está em Recife. Deixou seu ganha-pão, sua casa, foi para um hospital. Acompanhar uma pessoa, ajudar. E isso é muito. Isso é bonito. Se eu não gostasse dela, passaria a admirar. Mas sempre gostei. Então se não me fiz entender, se não me fiz notar, saiba você que você é querida, que gosto de ti e sempre vou gostar.

FHC POR AUGUSTO NUNES

ESTE ARTIGO , FOI RETIRADO DO SITE DA REVISTA VEJA. ESCRITO POR AUGUSTO NUNES.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO É UM HOMEM GIGANTE. NÃO NASCEU POBRE, NÃO CRÊ EM DEUS, NEM É DADO A POPULISMOS. FEZ O MAIOR GOVERNO DA HISTÓRIA DESTE PAÍS. FOI SATANIZADO POR UM SUJEITO QUE NÃO LHE AMARRA OS SAPATOS, MAS QUE É MESQUINHO, CORRUPTO. IDIOTA E ANALFABETO COMO OS SEUS ELEITORES. O ATEU DA ELITE FEZ O BEM DE TODO UM PAÍS. O SANTO POPULAR MOSTRA COMO O DEMÔNIO TRABALHA COM O NOME DE DEUS.
A CADA DIA QUE PASSA FHC CRESCE ATÉ EM SEUS ADVERSÁRIOS, TORNA-SE ESTÁTUA EM VIDA. ESTÁTUA NÃO PARA ADORAÇÃO. UMA BIOGRAFIA DE UM GIGANTE.
SALVE FHC.












FHC foi o acorde dissonante na ópera do absurdo que Lula recomeçou

De volta ao Brasil de sempre, resignaram-se há oito anos as paredes do gabinete presidencial depois de uma ligeira contemplação do novo inquilino. Desde Jânio Quadros, a grande sala no terceiro andar do Palácio do Planalto já abrigou napoleões de hospício, generais de exército da salvação, perfeitas cavalgaduras, messias de gafieira, gatunos patológicos, vigaristas provincianos e outros exotismos da fauna brasileira. Por que não um Luiz Inácio Lula da Silva?

Quem conhece a saga republicana sabe que a ascensão ao poder de um ex-operário metalúrgico só restabeleceu a rotina da anormalidade que vigora, com curtíssimos intervalos, desde o fim do governo Juscelino Kubitschek. Na galeria dos retratos dos presidentes, Lula está à vontade ao lado dos vizinhos de parede. Sente-se em casa. A discurseira delirante e ininterrupta está em perfeita afinação com a ópera do absurdo. O acorde dissonante é Fernando Henrique Cardoso. Um confirma a regra. O outro é a exceção.

O migrante nordestino que chegou à Presidência sem escalas em bancos escolares tem tudo a ver com o país dos 14 milhões de analfabetos, dos 50 milhões que não compreendem o que acabaram de ler nem conseguem somar dois mais dois, da imensidão de miseráveis embrutecidos pela ignorância endêmica e condenados a uma vida não vivida. Esse mundo é indulgente com intuitivos que falam sem parar sobre assuntos que ignoram. E é hostil a homens que pensam e agem com sensatez. É um mundo que demora a alcançar em sua exata dimensão a lucidez do sociólogo nascido no Rio que tinha escrito muitos livros quando se instalou no Planalto.

O Brasil de Lula tem a cara primitiva de sempre. O Brasil de FHC provou que a erradicação do atraso não é impossível. Pareceu até civilizado no primeiro dia de 2003, quando se completou um processo sucessório exemplarmente democrático. Durante a campanha eleitoral, o presidente fez o contrário do que faria o sucessor oito anos mais tarde. Embora apoiasse José Serra, não mobilizou a máquina administrativa em favor do candidato, não abandonou o emprego para animar palanques e consultou os principais concorrentes antes de tomar decisões cujos efeitos ultrapassariam os limites do mandato prestes a terminar. Consumada a vitória do adversário, FHC pilotou o período de transição e ajudou a conter a fuga de investidores inquietos com a folha corrida do PT.

NEM RUTH CARDOSO FOI POUPADA
O Brasil de janeiro de 2003 tinha poucas semelhanças com o que Itamar Franco encontrou depois do despejo de Fernando Collor. Em 1994, o ministro da Fazenda de Itamar comandou a montagem do Plano Real. Nos oito anos seguintes, fez o suficiente para entregar a Lula um Brasil alforriado da inflação e da irresponsabilidade fiscal, modernizado pela privatização de mamutes estatais deficitários e livre de tentações autoritárias.

“Aqui você deixa um amigo”, disse o sucessor com a faixa verde e amarela já enfeitando o peito. Foi a primeira das mentiras, vigarices, trapaças e traições que alvejariam a assombração que está para o SuperLula como a kriptonita para o Super-Homem. Criminosamente solidário com José Sarney, a quem chamava de ladrão, obscenamente amável com Fernando Collor, a quem chamava de corrupto, o ressentido incurável, incapaz de absorver as duas derrotas no primeiro turno e conformar-se com a inferioridade intelectual, guardou o estoque inteiro de truculências e patifarias para tentar destruir um antigo aliado, um adversário leal e um homem honrado.

Lula nunca pronuncia o nome do antecessor. Evita até identificá-lo pelas iniciais. Delega as agressões frontais a grandes e pequenos canalhas, que explicitam o que o chefe insinua. Há sempre os sarneys, dirceus, jucás, berzoinis, collors, dutras, renans, mercadantes, tarsos, gilbertinhos, dilmas e erenices prontos para a execução do trabalho sujo que não poupou sequer Ruth Cardoso, vítima do papelório infame forjado em 2008 na fábrica de dossiês da Casa Civil. A cada avanço dos farsantes correspondeu uma rendição sem luta do PSDB, do PPS e do DEM. FHC não é atacado pelos defeitos que tem ou pelos erros que cometeu, mas pelas qualidades que exibe e pelas façanhas que protagonizou.

Ele merecia adversários menos boçais e aliados mais corajosos. Há algo de muito errado com a oposição oficial quando um grande presidente, para ressuscitar verdades reiteradamente assassinadas desde 2003, tem de defender sozinho um patrimônio político-administrativo que deveria ser festejado pelos partidos que o apoiaram. Há algo de muito estranho com um PSDB que não ouve o que diz seu presidente de honra. Nem lê o que escreve, como atestam dois artigos antológicos publicados no Estadão.

O PONTO FORA DA CURVA
No primeiro artigo, em outubro de 2008, FHC avisou que a democracia brasileira estava ameaçada pelo “autoritarismo popular” do chefe de governo, que poderia descambar numa espécie de subperonismo amparado nas centrais sindicais, em movimentos ditos sociais e nas massas robotizadas. “Para onde vamos?”, perguntava o título. A Argentina de Juan Domingo Perón foi para os braços de Isabelita e acabou no colo de militares hidrófobos. O Brasil de Lula foi para Dilma Rousseff. É cedo para saber onde acabará.

Em fevereiro, com 968 palavras, FHC enterrou no jazigo das malandragens eleitoreiras a fantasia costurada durante sete anos. “Para ganhar sua guerra imaginária, o presidente distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação, nega o que de bom foi feito e apossa-se de tudo que dele herdou como se dele sempre tivesse sido”, resumiu no segundo artigo. Depois de ensinar que o Brasil existia antes de Lula e existirá depois dele, recomendou que se apanhasse a luva atirada pelo sucessor: “Se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer”.

Em vez de seguir o conselho e sugerir a Lula que topasse um debate com Fernando Henrique, José Serra reincidiu no crime praticado em 2002 — com agravantes. Além de esconder o líder que aumentou a distância entre o país e a era das cavernas, apareceu no horário eleitoral ao lado de Lula, convertido num Zé decidido a prosseguir a obra do Silva. Aloysio Nunes Ferreira fez o contrário. Tinha 3% das intenções de voto quando transformou FHC em principal avalista da candidatura. Elegeu-se senador com a maior votação da História. Saudado por sorrisos, cumprimentos e aplausos quando caminha nas ruas de São Paulo, FHC nunca foi hostilizado em público. Depois da vaia no Maracanã, Lula não voltou a dar as caras fora do circuito das plateias amestradas.

Desde o dia da eleição, FHC tem exortado o PSDB a transformar-se num partido de verdade, com um programa que adapte à realidade brasileira a essência da social-democracia, combata sem hesitações a corrupção institucionalizada e, sobretudo, aprenda que o papel da oposição é opor-se, como ele próprio tem feito há oito anos. “Por enquanto, o único partido que temos é o PT”, repetiu há dias. “Sem uma linha política clara a seguir, o PSDB continuará a agir segundo as circunstâncias e a perder tempo com questões pontuais”. Pode perder de vez também o respeito e a confiança do eleitorado oposicionista, adverte a reação provocada pela Carta de Maceió. O teor vergonhoso do documento comprova que os governadores tucanos não captaram o recado do patriarca.

Na trajetória desenhada pelos presidentes da República, FHC é o ponto fora da curva. Pode ser esse o seu destino, sugere a paisagem deste fim de 2010. Assegurada a vaga na História, poupado da obsessão pelo poder, ainda assim não recusa o combate, não faz acordos, não capitula. Em respeito à própria biografia, e por entender que a nação merece algo melhor, continua a apontar a nudez do pequeno monarca. Oito anos mais velho, ficou oito anos mais novo: nenhum líder político é tão parecido com a oposição real, rejuvenescida e revigorada neste outubro por 44 milhões de votos, quanto Fernando Henrique Cardoso.

TENHO DE MANTER A MODÉSTIA

segunda-feira, 16 de maio de 2011

SOCIALISMO X CAPITALISMO





Nelson Rodrigues previu isso. Ele e o profeta. O twiter, o Orkut, sobretudo os blogs (incluo o meu, lógico. Deixando claro que não me levo a sério.) são a consagração da idiotice e dos idiotas. Outro dia fui em blog que criticava a maneira arbitrária com que os E.U.A, haviam matado Bin Laden. Segundo o gênio da esquerda, nossa querida esquerda, foi uma execução sumária. Fui lá nos comentários, de maneira a expressar minha delicada impressão sobre o texto. Chamei o autor do texto de imbecil e disse que ele é quem deveria ser executado por escrever uma  idiotice daquelas. Imediatamente apareceram os amigos esquerdistas para me chamarem de imbecil, e como todos os esquerdistas são cínicos, meteram o pau e não me deixaram responder.
Porque odeio a esquerda?
Intuição. Depois confirmada por fatos que me foram revelados por leituras. Algumas delas  de esquerdistas. Se você pensar com sua cabeça, com o que vê no mundo o que diferencia um idiota total de um esquerdista é nada se ele for pobre, é muito se for rico. Um rico esquerdista, com visão igualitária do mundo, desde que não precise dividir o latifúndio, é aceitável e até lógico. O cara é milionário, não vai ser capitalista (embora tenha feito sua fortuna na economia de mercado) então sofre pela fome do nordeste e já achou o culpado para o misere da região, os malvados imperialistas, os Estados Unidos.
Sempre me pareceu estúpido à potência de mil que o F.M.I emprestasse dinheiro aos países pobres para depois sabotá-los. Emprestam, como qualquer instituição, agiota, ou o que seja empresta, para receber. Com juros. É custoso entender isso? Não, definitivamente, não. Então quando  o F.M.I emprestava dinheiro ao Brasil e pedia que o país controlasse a inflação, ele não estava querendo o  mal do Brasil, nem o bem, queriam só os seus juros.
A grande acusação contra os Estados Unidos é que eles só querem levar vantagem em tudo, querem dominar o mundo, essas merdas. Haveria de ser diferente? Quanto mais poder tem, mais se quer. Agora, não foi por culpa dos E.U.A que o Piauí é o Piauí. Não são bons nem ruins. Aliás, nem sequer existem. Não existe americano, nem brasileiro, nem grupos que se possam dizer que tenham características que os diferencie de modo incontestável. Isso já foi dito e é tão óbvio, que chega a ser constrangedor repetir.

SOCIALISMO OU CAPITALISMO?

Aqui é ridícula a discussão. Qualquer oposição, debate, tomada de posição, discussão, o que seja, em qualquer área, há de se ter um equanimidade em relação aos formuladores dos pontos de vista. Um conjunto lógico de raciocínio que possa ser empregado por ambos. Um princípio do qual os defensores de pontos de vista diferentes, não necessariamente opostos, possam lançar mão, sem poder contestado em seus argumentos. Nenhum esquerdista pode me dar um exemplo, um só, unzinho, de onde um país socialista conseguiu sucesso, ou pior, não desembocou em ditadura, em genocídio, em corrupção, em demagogia irresponsável. Eu pedi um, não dez. Não virá um só esquerdista aqui me contestar. Pode até me chamar de reacionário, direitista, o argumento tolo e apelativo de sempre, mas não vai me mostrar o país pedido. Simples, muito simples. Não se mostra o que não existe.

Os capitalistas são todos ricos e bons?
Não, nem todos. Para ser sincero, nem a maioria o é. O capitalismo produz fome, miséria e faz do homem uma máquina. Marx não é Jesus, e talvez fosse sincero nas bobagens que escrevia. Mas pode ser melhorado, admite que vai mal, que erra. Eu nunca vi um capitalista que queira sacralizar o capitalismo, nem dizer que ele é perfeito, nem matar em seu nome. Pode até agir assim, mas não o diz. O socialista acha normal Fidel Castro matar 100  mil, Che Guevara comandar pelotões de fuzilamento, Lenin e Stalin, matarem milhões, e Mao Tse Tung é um ídolo dessa gente.
Você conhece alguém que idolatre Bill Gates?

Não, não conhece. Ele foi muito mais digno do aplauso que Che, Fidel... aliás, qualquer cachorro seria. Mas o capitalismo não lhe presta culto. Com o adendo de nunca ter matado ninguém.
Que regime matou mais gente?  Socialismo.
Que regime é mais autoritário?   Socialismo.
Qual gerou mais miseráveis?        Socialismo.
Onde o  socialismo foi implantado com sucesso? Em lugar nenhum.
Qual regime gerou mais riqueza?  capitalismo .
Onde ele deu certo?  Na parte rica do mundo.
Quem desenvolveu a tecnologia gerando aumento da expectativa de vida e maior qualidade? O capitalismo.


O capitalismo tem erros, muitos, mas pode ser melhorado. O socialismo é um monstro, um aborto que quis gerar uma nova civilização, um cristianismo sem o Cristo. O cristianismo sem Jesus é só uma doutrina, conjunto de regras, boas intenções. O que diferencia Cristo de Marx (não há comparação, falo na parte de criação de doutrinas) é que só custou uma vida (a do seu formulador) essa brincadeira socialista custou milhões de vidas humanas.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A ALMA DAS PALAVRAS





As palavras tem alma. Isso é contrário ao que o bardo disse. Mas dessa vez, se me é permitido discordar de Shakespeare, ou Hamlet, eu não acho que sejam apenas “sopros de ar”. Descobri isso com meu médico, conversando com ele. Nunca descubro nada por explicação ou conselho. Sempre aprendo só, comigo, do meu jeito. Aprendi com o jeito dele dizer, com olho brilhando, olhando no meu olho.
Meu médico não foi literário, antes disso, ou contra isso, foi humano. A literatura não é fundamental para  nada, o amor sim. Que seja brega, que seja. Mas mais ridículo que o desprezo pela literatura feito por um analfabeto, é o querer fazer pose, essa mania de querer ser intelectualizado exteriormente. Ai o sujeito diz: eu amo a poesia. eu se trata de um mentiroso, ou frustrado. Ninguém que conhece o amor, o de verdade, e sendo honesto, diria isso.
Mas volto ao médico.
Ele pega o celular, conversa, desliga e joga na mesa. Olha para mim e diz:
--Para estar nessa profissão é preciso gostar dela, e eu gosto.
A causa de minha comoção não é a fragilidade de um doente frente ao médico, é a constatação de que existem pessoas que se sentem felizes com a alegria de outras.
Meus olhos marejaram. Me veio a convicção, não imediata (minha preocupação era não demonstrar emoção) de que as palavras tinham alma. O silêncio acordado é palavra não dita, possui um dicionário de dicionários em mil línguas. Portanto o silêncio só existe pra um sentido. Mas se pudermos escutá-lo? Como? Com as palavras. Elas nos fazem ouvir o silêncio, escutar o barulho ausente. Ouvir um choro de uma mãe em um hospital em que nunca estive.
Mas é de palavras que falo, elas tem alma. Por isso o choro contido.
Dizem que João Cabral era um poeta sem alma. Que tolice! João sabia mais que ninguém que as palavras tinham alma. Mas preferiu falar de coisas e lugares. João escreveu que não se deve poetizar o poema. Há o contrário, o dar poesia devida as coisas sem alma. Portanto, tendo ouvido de meu pai e alguns amigos que eu iria ficar bom, sabia da poesia disso, mas carecia de crença. Agora tenho crença e tem poesia, pois foi dito por quem eu queria. E ele foi seguro, firme. Ele disse mais do que foi dito, mas isso escondo, guardo com a alma. Não sei como descrever o que é alma.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

MEU RIO





Enquanto morria gente, ribanceiras caiam. Crianças, dadas à luz outras ao crack.

O mundo com essa mania de ser abaixo de si, de querer-se tão por baixo. Eu ia, na chuva fina, na velha ponte, no rio, na rua da aurora.
Parei na estátua (ante) de João Cabral, li um trecho do “o cão sem plumas”, sabia que tudo isso era poesia, sabia de minha parte. Não contava com um ônibus que parava ao meu lado, e com  gente dentro dele, e que houvesse mundo, que se trabalhasse nele.
Fui andando na chuvinha, no Recife inventado. Que é meu. Não trabalha. E me veio uma certeza inabalável como uma decisão tomada por um idiota, uma crença de terrorista, ou uma certeza oriunda da impossibilidade de se poder olhar o outro lado da questão. Veio-me à mente um poema que tem todas as limitações de quem escreve, mas..., sem “mas”, vamos ao poema.

Isso vai comigo até morrer:  rio, ponte, lama, mangue, eu no meio, ou na margem,  ou à margem, ou ao centro, sendo dia, noite adentro, morrerá comigo. Como meu amor, meu ódio. Como meu coração.


Isso só acaba no meu fim: minha torcida pelo vasco; meu desprezo pelas coisas dadas não ao mérito, mas ao poder ou ao dinheiro; minha arrogância, manha e mimo; meu amor pelo meu branco; minhas maluquices, minhas estultices; o destempero, o fazer o que acho bonito, não  o certo; o sempre olhar para meu pai com lágrima risonha.


Bom humor, deboche, riso; sexo, gatos, Caetano, água muito gelada; o silêncio da madrugada; Shakespeare, lua, amizade; o horror a falsa arte, e o amor a verdadeira. 


A morte levará quem sente, nunca o sentimento. isso é o fracasso dela. pode levar o poeta, mas não a poesia; levou João, mas não pôde levar "O rio". a morte é como câncer, vive de consumir-se a si mesma. 


Meu testemunho é esse: passei na rua da aurora,  no rio capibaribe. Chovia um chuva fina, eu parei ante a estátua. Não houve culto, nem venerar a estátua. Houve só poesia, houve só isso. Mas senti poder de um ser poderoso. Não era de mim, claro. Mas um poder que faz armas serem nada, ou sequer serem. Não vinha de outro lugar que não de olhar dele. um olhar que nunca vi, que eu contemplei por palavra. Sim, meus sentidos se confundiram. Vi seu olhar por palavras. Palavras que eram  olhos. A semântica da íris dele me disse como que rindo: EU SOU A VERDADE.
Bom, ele não exclamava. Não porque falasse com olhos, ele os usava como mil línguas não podem. Mas por prescindir do aprovar de quem diz uma coisa descoberta. 
Isso se deu em segundos. Mil Shakespeares não ensinam tanto. Aprendi uma coisa (como gosta minha amiga) : a morte nunca existiu. Olhei para ele, ele agora ria. Ria com seu rosto lindo, seu rosto sem palavras, seu rosto era o rio. Rio de lama, rio de mangue. Sim, ele ria de mim, ria alto, ria farto. sabia o que me confrangia, de minha pretensão de não morrer, de ter com ele em outra vida. Mas a vergonha de querer ter meu rio depois da morte, poder  amá-lo em outra vida.
Disse-me ele: AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI.
Fiquei feliz, muito feliz. Sonho morrer pra outra vida, estar com ele lá. Lá terei meu rio. Lá não cairão ribanceiras.