--Srº, não
há muito o que contar e são só os mesmos assuntos, para quê lhe agastar?
- Mas conte;
tempo há. Muito para ouvir histórias, pouco para as vivenciar.
- Sendo
assim.
..
-Tenho um
time, uma vida e coisas para admirar.
- Essas
coisas são suas? Vidas, times e coisas não lhe pertencem.
- Tem uns
livros que li...
- Livros que
outros escreveram.
- Um
filho.
..
- Ninguém é
dono de outrem.
- Senhor
dono não é mandar, registrar em cartórios, protocolar. Ser dono é amar.
- Não
entendi.
- Já viu o
rio Capibaribe em “um cão sem plumas”?
O olhar de
Henrique para Fallsstaf, no olhar de Brannagh?
- Continuo a
não entender.
- O que se
ama não se pode ter, só se pode amar. É seu porque não existe, ninguém nem nada
que lhe possa tirar. Como quando meu filho abriu os olhos, como o beijo de Corisco
em Dadá; Como meu pai embaralhando cartas, como o Rosa fundando um idioma, como
Caetano chorando na morte de Tom Jobim, como Cristo perguntando ao soldado a
razão de sua agressão.
O que se ama
não se mensura, não se sopesa, não se explica. O que eu tenho? Tenho tudo!
Tenho vida.