terça-feira, 10 de setembro de 2013
JOÃO INÉDITO
Eu tinha esquecido o quê era ler um poema e me arrepiar, falar palavrão, exultar. Fazia tempo que não me havia a poesia se feita tão em nervos, tão chocante. Ele me choca. Ele me tira do vida e me faz espantar do que ele pode mostrar. Ele está morto. Morto como um vivo não pode vivo estar. vai sair um livro inédito dele, isso pouco importa. Não muda nada. É só um livro novo de um defunto. Ele escreveu vivo, claro, mas acaso ele está morto? mais não falo. Ele não precisa, eu não importo. Importa a poesia de João Cabral De Melo Neto. Importa estarmos vivos e não mortos. Deixo um bom dia cabralino, que sendo cabralino é de sol, de nordeste, de dentros. "Dentros mais de abraço que de ventre".
Os Carregadores
"" Bom bom-dia, minha gente.
"" Bom dia para os presentes.
"" Bom dia, futuramente.
"" Bom dia ainda, no ventre
As mulheres de descascar
"" Bom dia tem que dizer
quem chega a todo presente.
"" Bom-dia é como Dizer bom dia é tirar
o chapéu, cumpridamente.
"" Bom-dia não antecipa
o dia que espera em frente.
"" Nem bom-dia tem a ver
se é sol ou chuvadamente
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