sábado, 24 de agosto de 2013

OS CRIMES





Não que por mim fosse melhor o mundo, mas eu me enojo de ver essa gente que se compraz, não na melhora das coisas (sempre as há) mas perde horas e queima pestanas em ver mortos sendo explorados em programas ridículos de tv.
Não que eu esteja apto a ditar normas e orientar condutas, ou tendenciar algo, mas que por mim as pessoas não se importariam tanto com os vizinhos e seus afazeres quanto se importariam em ler um poema, ouvir cartola ou um martelo agalopado.

Onde eu nasci não passa um rio, onde eu cresci nem havia pomar, meus pais se separaram e eu adoeci logo. Não cheguei ainda à velhice, mas passei por menino faz tempo. Vi hospitais e suas coisas que desapontam ou levam adiante. Tenho ainda uma coisa a dizer aqui, que não conta para quem não me conhece e quem não me conhece não conta para mim. O que digo é que minha cirurgia é um sonho realizado e isso é bacana. Não me acostumo, e adoro isso, com as melhoras que tive. Mas não houve cura. Ainda tenho a doença e seus sintomas.  Em algumas horas rigidez muscular acentuada. Tomo menos da metade dos remédios e durmo a noite toda. A redução do sifrol reduziu compulsões. Os tremores são mínimos e os movimentos mais naturais e harmoniosos.
Ontem de madrugada vi um programa de tv. Um programa de esportes. Havia um cara que teve paralisia infantil e ele deu um show. Não vou dizer que me emocionei, nem que ele era um cara bacana e que eu sou também, embora seja verdade. Vou dizer que aquele cara, como eu, tem problemas, como quem lê isto ( que além de problemático é desocupado) todo mundo tem problemas. Mas não se deve assistir aos programas onde mortos são expostos, nem aos que se dão casa aos nordestinos. Isso é nojento. Não pode haver degradação total. Que prazer causa ver um corpo inerte todo esfolado e sangue e olhar de defunto? Os narradores de tais espetáculos afetam indignação e vociferam como se eles não vivessem daqueles cadáveres. Meu Deus! que prazer pode haver em um assassinato? que prazer pode causar um menino matar o pai, a mãe e outros parentes? Quando vejo isso torço pelo lado que apazigua na tragédia, o que pode explicar as coisas ou equacioná-las. Quando o casal nordoni foi acusado de matar a filhinha eu disse: não foi eles! errei, foram eles. Agora esse menino fez isso (tudo indica que foi ele mesmo) e fica difícil entender. O pai levava o filho e   o exibia na corporação orgulhoso. Amava o filho. Morreu com um tiro na cabeça. A menina chorava pedindo ajudo ao pai e ele surra ela e a jogo de cima de um prédio. O que dizer sobre isso? Não olhem esses defuntos desses programas vagabundos de televisão. Anteontem foi filmada a aurora boreal. Lindo aquilo. Não se trata de esconder a realidade, trata-se de olhar o que se deve. E não se deve olhar o inumano. Não se deve olhar ao que cabe a polícia cuidar.

Assim se dá com os meninos amados pelos pais: retribuem o amor. Eu não tenho nada de santo como não tenho de satânico. Sou humano, cheio de defeitos e nem precisaria dizer isso. Mas direi: bom mesmo é a aurora boreal. Olhem para ela. Não vejam a morte nesse programas hediondos.

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