quarta-feira, 13 de novembro de 2013

EU, POR EXEMPLO.







Quando vejo essa mania de não sofrer, de felicidade total e perene, penso que tolice é não saber que dor e sofrimento é que nos levam adiante. Desconfiando que as grandes verdades da vida são breguices como as de acima, sigo adiante. Só o perfeito idiota é perenemente feliz. E feliz por essa razão única: por ser um idiota. Há uma coisa que nunca me convenceu nessa coisa de felicidade eterna e sem ameaças. É que  a felicidade assim só existe em novela, no último capítulo. E o outro dia? como fica? na novela todo o tempo é desarmonia, por qual misteriosa razão não voltarão as rinhas, desencontros?

Quer saber o que é lindo na tristeza? a poesia que vem dela pelos poetas eruditos ou vagabundos. Então escute Cartola, leia Fernando Pessoa, e olhe a madrugada vazia e pense que a vida é finita. Repare na beleza de ser triste. De saber ser triste quando houver tristeza, e chore. Abaixe a cabeça e chore. É digno o choro. E continue por uns bons momentos carpindo e curtindo tua dor. Mas que seja triste a tua dor não medíocre e autopiedosa. Chore por amores passados, os que não teve e pela distância de quem ama, de um momento que nunca voltará, e derrame uma lágrima ou mil. Dor é preciso. Mas lembre que tudo é lindo e foi te dado de presente. Que você veio, outros vieram. Você irá e os que são crianças também. 

No chorar há uma verdade tão profunda quanto na gargalhada. A felicidade não existe no futuro, existe agora. hoje. Escute um velho samba. Nelson Cavaquinho, Cartola ou o Caetano. Chora um pouco, não lamenta e vem pra vida. Vem pra vida que arde e regenera. E se você adoecer jovem ainda, releve, viva feliz por ser o que é e quem é. E se os dardos do tempo te ferirem, faça como eu, contemple suas cicatrizes. Se tiver de reabri-las, faça isso. Nada de querer me citar como exemplo. Sou uma bosta. Um merda presunçoso e mal. Mas tenho força pra seguir sempre. E vou. 

Sou feliz. Não é nada de contradição ou coisa que o valha. Sou feliz porque aprendi a amar minhas cicatrizes. Abri-las de novo e fechá-las. Depois olhá-las com mais ternura. Não pedi a vida que me desse as cicatrizes que não recomendo a ninguém. Mas aprendi a amar as cicatrizes como um livro de verdades e ensinamentos.  
Eu tenho cicatrizes e sonhos.  Eu tenho um filho adorado. Eu tenho meia dúzia de pessoas que me amam. Eu tenho os poetas todos. Eu tenho as madrugadas. Eu tenho meu bom humor. Eu tenho disposição para ir adiante. Eu tenho fé em Cristo. Eu tenho o que aprendi com ela (isso não é pouco, isso é muito) tenho meu tempo para gastar. Tenho o que me basta. Amo o que tenho. Amo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário