domingo, 22 de outubro de 2017

Yin


Marcelo Novaes


Sobre a velha igreja de pedras
gastas, há uma lua enlutada
com três halos e três véus.

Pura melancolia.

E ninguém parece se dar
conta do seu
estado.

Corpo sobrenadante sobrevoante,
empurrando a nau de chuva.
A própria vigília montada
num cavalo de chuva.

Bruma, gaze, baça garça,
rumor transparente e
transalpino.

Esperança e frio
do inverno da
meia-noite.

Ei-la, ali, gelada e
muda, lua cega fria
injusta, açoitada e
incerta, movediça
em suas
fases.

Lua como poema final
feito em maré rasa.

A lua furando o céu,
doendo na noite
opaca.

Zero absoluto,
gôndola minguante
no breu, ainda ali e já tão
ausentada.

Toda medula e mágoas,
lua sereia apascentando
algas,

pérola entre sargaços,
fábula branca, ninfa
por entre véus,

azulada ou lívida,

joia semi-engastada
no pranto,

antepenúltima nave
do perdão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário