Marcelo Novaes
Sobre a velha igreja de pedras
gastas, há uma lua enlutada
com três halos e três véus.
Pura melancolia.
E ninguém parece se dar
conta do seu
estado.
Corpo sobrenadante sobrevoante,
empurrando a nau de chuva.
A própria vigília montada
num cavalo de chuva.
Bruma, gaze, baça garça,
rumor transparente e
transalpino.
Esperança e frio
do inverno da
meia-noite.
Ei-la, ali, gelada e
muda, lua cega fria
injusta, açoitada e
incerta, movediça
em suas
fases.
Lua como poema final
feito em maré rasa.
A lua furando o céu,
doendo na noite
opaca.
Zero absoluto,
gôndola minguante
no breu, ainda ali e já tão
ausentada.
Toda medula e mágoas,
lua sereia apascentando
algas,
pérola entre sargaços,
fábula branca, ninfa
por entre véus,
azulada ou lívida,
joia semi-engastada
no pranto,
antepenúltima nave
do perdão.
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