segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A voz do meu pai






Ele, e não haveria de ser outro, me liga me diz o que todos já diziam e eu não acreditava. Mas não foi o fato de ser ele (o que já seria muito) foi a modulação de voz, foi o carinho, foi como  disse a palavra "filho". Ele não faz nada além de estar no meu coração, e não está em outro lugar que minha alma. Ele é meu pai, eu sou seu filho. Como isso é prosaico, como é óbvio, como chorar por isso? Foi a modulação de voz. Quando fui fazer a cirurgia e tiveram de abrir um pequeno corte em minha testa, ele fez careta e saiu para não ver. O corte (pequeno e um pouco doloroso) o fez sentir minha dor. O que é ser pai senão isso? sentir a dor do filho?

Quando não formos  nada, nem eu, nem ele; quando não houver mais vida, mais pulmões, nem ar, nem corpo, nem nada; Se houver algum tipo de coisa parecida com memória ou leve lembrança do que tenha sido antes de mais não ser, restará a lembrança dele em mim, restará a modulação de voz e a maneira como ele disse: FILHO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário