segunda-feira, 6 de outubro de 2014

SANTOS E POETAS



Poucas coisas são tão dolorosamente pungentes quanto duas crônicas de Nelson Rodrigues, esse tarado anjo, esse safado sagrado. Uma delas fala de um homem que salvou seu filho, que por ele e por isso, será sempre lembrado; a outra de sua filha, cega de nascença, amada como pode o amor de um pai, como pode o amor de um pai por um filho cego: amor compassivo em ser amor, cortante, dilacerado.
Homens são só isso, São menores, são medrosos e sem verdades. O que os elevam são suas dores, seus engolir choros amargos. 

Me lembre de uma crônica de Rubem Braga na hora de minha morte. Queria isso de última lembrança. Morrer amando o que amei a vida toda. Morrer com calma é o que faz minha angústia, meu desespero agora. Quero que no fim das minhas horas eu seja não saudade nem tristeza. Quero morrer poeta. Quero morrer menino. Quero morrer sem certezas. Quero morrer sem esperar nada. Em paz comigo e sem vigarices de outra vida depois dessa. Se tiver (creio que há) que não seja essa minha meta. Que não busque eu recompensas. Não quero o fim que todos buscam e de que falam nas igrejas. Nada de outra vida sem poesia, com coros de anjos dia e noite, com fanatismos sem razão. 

Se houver outra vida, se outro nível de consciência em que não me concebo estar, deixe-me morto. Prefiro-me morto a estar vivo sem pensar.

Prefiro-me pecador e poeta à santo sem sentir. Quem não sente não é santo, os santos sentem até demais. Santos são poetas e poetas não são santos. Santos são nasceram santos. Santos são poetas. Poetas não chegam a ser santos sem ser perseguidos por satanás. Não existe santidade sem o inferno por trás. Não é que os infernos façam santos, mas o forjam. 

Entenda que não escrevo para lhe desagradar. Reconheço seu carinho, reconheço tudo o que fez por mim. Só tenho a lhe agradecer. Mas sou eu, nem mais nem menos, e é isso que sempre vou ser.

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