segunda-feira, 29 de abril de 2013

VIRÁS







Se vens aqui pra me cobrar o que não devo, lhe tenho de lembrar que meu compromisso contigo é te amar não  me submeter, me refugiar em você e te deixar mandar em quem gosto e como gosto.

Se você não pode entender o que não sei explicar, tanto pior, tanto se me dá.

Não vou te dizer o que sempre digo, o que você sabe, mas finge que é segredo. Quando você descobriu que era idiota? quando morria com você? quando te dei o que pude e você se preocupou com suas festas e batizados?
Quando fui ator contigo? em que hora? na tua dor? no teu gozo? ou na minha e no meu?
Fale do fiz, não do que eu sinto. O que  eu sinto é meu. Cada dia dos que me trouxeram ao de hoje foi doído ou alegre, foi de tudos e nadas, mas nada me é tão claro como o que eu tenho de bom e sei que é.
Não se fies ou se fies em eu te amar para vir com teus desaforos, aceito-os. Por mais raiva que me deem em um primeiro momento raiva, vem com teu rostinho de cachorro, com sua carinha de linda, sua vozinha de lua.

Tudo bem, lua não tem voz e você disse que não sabe por qual razão vem aqui. Te disse nos comentários que vinha porque queria, que não me fazia diferença você vir ou não. Menti. Você também. Eu escrevo pra você, pra você me ouvir e saber que comigo se dá o seguinte: embora não crie nada que preste quando escrevo com meu português vagabundo, minhas imagens idiotas e quando mais que isso medíocres, tu vens, tu sempre virás, para lembrar, do que tivemos e  fomos.




Virás ainda muito tempo ver o que escrevo, rir e chorar, lembrar de mim. Onde mais as luas falam? onde mais se amam tanto as mesmas coisas, músicas e pessoas? sim, virás. Não por idiota, mas por que és doce. Virás sim, virás!
Porque tudo é teu, o pouco que sou capaz.

domingo, 28 de abril de 2013

VIM



Vim de uma noite acordado, de lugar esquisito, de um amar sem cuidado.

Vim de auscultar teu sorriso, de penetrar tua alma, de escultar o baiano, de questionar Deus e mundo, de ser vencido por cansaço.

Vim de um amor infinito, de um soluço pungente, de um lugar tão bonito, de um gostar de quase tudo e me amar por isso.

Vim do que gera e fomenta, das coisas confusas, sombrias, cinzentas.
Vim de outras guerras e lendas, outros vias e fatos, outros meios e inteiros, outros dias, outras coisas ainda que mesmas em sua aparência, ainda que quase semelhança. Ditas iguais por quem vê, ditas diversas por quem sente.

Vim na linhagem dos que não se alinham e me fiz cópia de mim mesmo, e confusão entre harmonias, e dispersão entre concílios, coesão entre espaços, dimensão entre abstratos, misticismo entre concretos, abjeto entre santos, santo entre os piores. O que faz o consciente duvidar de sua ciência e o que faz o crente entender que pode o ateu ser melhor que ele, ou pior, e Deus nada tem com isso.

Vim com um fito, não de escrever bonito ou algo assim, mas para te dizer que cante e saia de sua tristeza, que fale suas bobagens. Elas são tão humanas e tão verdadeiras que me falta clareza em te dizer o que são elas. Não te quero triste, você não é isso. Você é um sorriso. você é gargalhada. Você não pode deixar de rir e contar suas bobagens. Você é da manhã, você é claridade.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

PITOCUDO RESSONA, EU BABO.



Se tiver de sonhar, sonhe com isto: Rio capibaribe, ressonar de criança, chuva no sertão, morte da fome, cio de mulher doce, doces de tabira, noites de Luiz, Luiz jogando baralho, a vida passando linda, o dia trazendo a noite, o sonho vir à realidade, o céu azul ou cinzento.

Digo que é ruim sonhar, que o bom é amar a realidade. Ser feliz como está, de nada ter saudade. Ou ter saudade de tudo. De tudo que traz saudade, mas como quem sabe lembrar, não busca voltar no tempo. O tempo que nunca volta , que sempre é quem leva a traz, as coisas e as saudades, os começos e os nunca mais.

Então que perdure o belo. Que o feio seja compreeendido, o mal abominado, o ouro bem dividido. Mas isso já não é sonho? isso não é utopia?
Se é pra sonhar sonhe grande. Sonhe mudando o mundo.

Em que posso dar conselhos?
Em coisa que vem com amor, com vida. Porque se não tenho suficiente moral, tenho sobrando amor, e vicejo a cada manhã e me me acabo cada madrugado, de tarde em emburreço, durmo e não sei de nada.

E peço com não confunda sonhos com ambição, prudência com covardia, pena com compaixão, ciúme com amor, desprezo com inveja, preguiça com tédio, rigor com rigidez, flexível com flacidez, Joana com Juarez. Que as coisas sejam exatas e ditas com precisão. Que ditas de várias formas mas sempre como elas são. Que a vida seja só plena e linda, que o amigo não seja menos que o irmão, e   o irmão não seja menos que amado. Que nunca a dor venha e encontre abrigo.

Se gostas de sonhar ou não contralas teu ímpeto de sonhar acordado, sonhes então, mas sonhos em alto estado. Não sonhes com carros e mulheres loiras lindas. Sonhe com que menos se queiram carros e loiras lindas (outro tipo de carro) mais se respeitem as regras, mas pessoas comendo comida, e depois de alimentadas, comendo poesia.

O preço de cada coisa é menos que o que ela vale. O preço de cada coisa não pode ser calculado, seja calça ou afeto. Quem diz que tudo tem um preço, quem diz tal disparate, nunca fez contas sérias, nunca as fez de verdade. Ou se tudo tem preço, se tudo tem seu valor, creio que os economistas devem se apressar em refazer cálculos de valores e dar a cada coisa seus preços reais, exatos. Se um empresa vale milhões e tais, se ela eleva mercados ou os retrai, sem existir senão como papéis, senão como capitais, quanto valerá o sorriso do meu branco, quanto valerá ?

Eu não sei dizer nem estou apto a calcular, sei dizer, e isso conta que nada que se produza ou tenha na natureza, que tenha valor ou remeta à riqueza. Que gere paixão ou disputas, guerras ou recompensas, nada que possa o dinheiro, poder ou beleza, valem um sorriso do meu branco, sua tez, sua braveza.

Não é aniversário dele, nem falta do que falar, é amor por ele. Que nunca acaba, arrefece, amor de pai que ama, que só pai que ama conhece.

sábado, 20 de abril de 2013

UMA ANTOLOGIA





Nunca fui o poeta, não seria santo, nem cultor de cinema americano. O que eu sou é coisa pouca, é  coisa alguma, é fácil ser. Mas quem quererá ser igual a mim?
Com que propósito, com que fim?
Ai está. Sou sem propósito, sem fim, indefinido e ando em círculos.

Sempre digo do que gosto, do que não gosto. Isso muda o quê? quem se importará? há poetas  a ler, coisa em que o tempo seja mais útil para quem  lê. Mas se posso vou contar, leia quem queira, goste quem gostar. E é faca sem dois gumes e contudo corta pelos dois lados.  Porque se me disserem chato, medíocre, ou o que seja, lembro-lhes que lhes avisei, que lhes previni: aqui não tem poemas nem frases geniais, nem nada para aprender. Eu só falo de mim, de estar vivo, de viver.

Aqui eu falo de como as coisas se dão e como eu as vejo. De como eu choro ou rio, do que engulho e o que desejo. Do que considero luz, e o que na treva vejo.

Percam tempo não, comigo nem com o que escrevo. Tem sempre o mesmo tom e as mesmas palavras tensas e chorosas. Sou uma antologia de choros, sou uma antologia de bobos. Sou uma antologia de noites, de pontes, de madrugadas. Sou uma antalogia de amores, de livros, de nadas. Um nada que é tão abstrato, indefinido, caótico. Sem definição possível, sem enquadrar-se em nada, que por ser inexato, que por não ter definição, vai na sendo coisa real, paupável, concreta. Como se nada fosse a pedra, como se tudo fosse como vemos ela.

Como se o muito e o nada se esbarrasem em fina camada. Que de tão fina, de tão tênue, de tão de perto ligada, sejam não duas coisas, mas uma só inteira, partilhada.


Sou mais um no mundo, e ele tá lotado. Sem dotes especiais, nem habilidades. Não tenho o que ensinar, nem conselhos, nem vantagens. Qualidades são raras, mas dentre elas uma admiro mais, é minha capacidade de admirar. Contemplar como quem reza de frente para o mar. dobrar os joelhos em frente as coisas bonitas.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

LUA

Lua linda.
Única lua.
Crua lua.
Inebria,
Loquaz-muda.
Elegante,
Não há outra.
Ela é única.

Onde canta, eu escuto.
Onde muda, me concentro.
Não há outra,
Ela brilha.
Ela é musa, ela ofusca.
Nos seus braços quase morro,
mas de morte desejada.
Como morre-se por ela,
como não morre-se por mais nada.

domingo, 7 de abril de 2013

Como é bom o estar certo ser soberbo, estar por cima e explicar o que nos leva a fazer isso ou aquilo. Como é ruim estar errado. Faço merdas demais, e não as atenuo com "mas".  Shakespeare disso tudo sobre o homem naquela passagem em que Hamlet pede para Ofélia ir para um convento e diante do olhar estupidificado dela, completa: para que gerar pecadores?
Sou demasiado mal para não chegar nem a ser mal de todo. Para consolar minha consciência com desculpas. Mas vamos lá.

Quando faltava um dia para minha cirurgia liguei pra Graça e disse meio que emocionado que devia a ela muito por essa cirurgia. Fiz a cirurgia, tudo correu bem, houve uma melhora enorme, e eu... bom, sou humano, não presto.

Graça,vim te pedir perdão, só isso.

GRAÇA, ME PERDOA.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

TERMINO COM SHAKESPEARE


Eu cismo com os que são perfeitos, os que são corretos, os que afiançam ou se fiam em algo ou alguém. Os que são sem fúria, os que amam tudo, os que comem tudo sem achar nada insípido ou salgado demais.

 

Eu topo com os poetas loucos, com macumba, com topa comigo, seja ateu, veado ou santo.

 

Um tanto gosto de pontes e de filhos, putas sinceras, as que sabem mentir.

Gosto do que é sem exterior, o que é sem reboco, sem casca, ou coisa que esconda a essência daquilo que é.

 

Tenho por Judas carinho e respeito, tenho por bichas carinho e respeito, por Lula nojo e desprezo.
 rio com as mesmas piadas rasas que me fazem gargalhar, com os velhos livros mofados e com um velho e perene medo de tudo que refute a poesia. Não, querida, não quero que chores por mim, eu não valho. Desconfio dos homens bons, dos maus e dos médios, porque sou os três e ainda um quarto.Oculto. Esse eu não sei se é bom, não sei se certo, e brinca de madrugada e escarnece do sol.


segunda-feira, 25 de março de 2013

A MENINA E O TEMPO









Há poesia em uma menina brincando de boneca, mas haverá em dobro se essa menina brincar com bonecas ao longo da vida e ainda perto do fim dela, brincar ainda.
Não como de pequena, não por inocente. Menina sofrida, mas menina ainda. Menina de ver as coisas com ternura e graça, mesmo tendo na vida motivos para franzir o cenho, mesmo  que de fato o cenho franzido esteja, menina ainda, mais que isso não seja.
O tempo é quando se vive e se está atento pra vida, quando se tem humor, quando não dói a ferida. Quando se sabe de coisas duras, coisas sofridas, se olha as cicatrizes e sente amor por elas.
A poesia da vida é saber que nada á maior que a poesia, que nada é maior que o crer na poesia, que se fores religioso, se crerdes em Deus de fato sabes do que falo.
A poesia não é inocência nem fantasia, é o contrário. Poesia não é criança brincando de soldado. É soldado em guerra, matando mas ajudando um ferido amigo ou dando um tiro na fronte de um inimigo ferido para encurtar-lhe o fim.

Poesia não está na dor mas na maneira de chorar ela. Poesia não está nos livros, está na veia, nos nervos e nos que o controlam. Pode estar no pouco ou no muito, em ferros ou cristais, sobretudo no sorriso. Poesia é coisa para Cabrais ou Pessoas, eu ou qualquer outro, basta que ame o belo como se ama um sorriso boboca, uma menina boboca, ou uma lua vagabunda dessas de qualquer lua cheia. Mas para que sejas poeta é preciso amar a lua e a ter como guia, como mestra, sempre e mais, nunca largar da boneca.

sexta-feira, 15 de março de 2013

KAIKE




Não diga do seu cansaço, de suas questiúnculas com a vida, de sua filosofia, do que duvida ou crê ainda. Ainda que eu seja paciente, ainda que eu te perdoe, se cale e preste atenção a luta de vida pela vida. 
Não olhe pra ele com pena, se a tiver guarde para si, ele quer só ficar longe de cortes e bisturis. Eu tenho duas lágrimas e mil sorrisos por ele. Ele é meu professor, como nenhum outro pode.
Como é fácil se apaixonar por isso, como é fácil gostar dele. 
Ele terá uma válvula na cabeça. viverá tanto quanto o tempo queira, talvez nos encontremos um dia, num bar ou feira, falaremos de mulheres e coisas passadas, eu velho e ainda fauno, ele com sua válvula. Falaremos de como temos na cabeça ferros e fios. Riremos de tudo isso, da vida e suas besteiras. Ele vai precisar de paz, você e eu também. A quem Lê isso agora, a quem eu iria pedir uma oração, fica o agradecimento o choro e a  alegria, que vem com mais choro, que vem como luz, porque a vó dele me diz que já foi colocada a válvula ontem, a cirurgia foi um sucesso. Então é só cuidar do tempo e tomar o caldo de cana na feira em que nos encontraremos um dia.

sábado, 9 de março de 2013

ENDIABRADO





Estou endiabrado, como se pode estar se não se atinar com a palavra em seu significado. Como se endiabrado não fosse derivada do diabo, como se este tivesse adjetivos que bem o colocassem.
Estou endiabrado, como os santos que vislumbram a metáfora de Dante ou o Riobaldo em um livro iluminado, como quando Marcelo Novaes escreveu "butoh", quando Romário em ação, ou como puseram o  conhaque e a lua o estado do poeta gauche, ou quando Cabral estava frente a Manolete.
Estou endiabrado, de modo que vejo o diabo furioso, estimulo a paz como uma martir, e entre casais frios, ponho fogo.
Prenuncio a paz entre tribos de antanho inimigas, faço versos que poderiam ser de Pessoa, por bonitos, por perfeitos, mas são meus. Beijo a lápide de quem não é heroi ou cantor, que morreu indigente e sem lágrimas carpidas por quem seja, porque viveu, foi homem, como Frank Sinatra, como qualquer.
Estou endiabrado e por isso minha fé aumenta, escuto a voz de Jesus como a pulsar pelas eras, como uma bússola em rota única, como guia de caminho que não tem outro.
Estou endiabrado, teço conjecturas com as formas da palavra, com o motivo do querer-se adequá-la ao que achamos polido e factível de ser entendido.
Estou endiabrado, mas com espirito leve como os que não mataram, como nunca se pode estar o que tirou a vida de outrem, o que fez uma mãe chorar e um pai vazio. 

Estou endiabrado tal qual um criança endiabrada, como se diz de alguém que se quer elogiar, como estava endiabrado aquele anjo quando inspirou Shakespeare e fez nascer a luz entre as luzes, nos dando consciência do que somos.

Sim, baby, estou endiabrado, mas não na origem da palavra, nem me atendo ao seu sentido e origem, sem partes com o mal ou quem o é simpático, sem rancores ou mágoas, menos ainda frustrações de qualquer espécie, só endiabrado com a o bom da vida e um pouco raivoso de quem a tem e não a merece. Quem reclama da vida é como um gato que reclama de ter quatro patas, miar, e ter pelos, é como reclamar do que é, reclamar do que te faz ser, e desconhecer o lado escuro da vida, de gente que quer viver, luta por isso a cada dia, e mesmo sabendo que no fim todos perdem, vão até o fim nessa luta, de saber-se mortal, de saber que vai perder na última cena, mas que só se entrega feito corisco, de parabelo na mão.