sábado, 7 de julho de 2012

quinta-feira, 5 de julho de 2012

HOSPITAIS PROFESSORES











Não espere de mim o que não posso dar. Nem luas nem dinheiro, nem que eu te rode no ar. 
Ainda que eu pudesse eu não o faria, ainda que você pedisse eu lho negaria.
Esquece eu humilde, esquece eu pra baixo, esquece eu doente, esquece eu chorando. Não participo de coisas assim. Sou soberbo, pra cima, saudável, e quando eu choro é admiração de eu ser assim.
Nunca queira saber de minha dor, ela é tão minha, é tão tanta que você talvez ficasse triste, ou morresse um pedaço, ou toda. 
Se alguém vir a mim com suas conversas de dor, terá o meu riso, o meu pavor. Não me junto com tal gente, nem disputo o mesmo ar. Tenho-lhes só desprezo, evito ouvir-lhes a voz. A voz do que amo é riso, seu som vem como som de águas. 
Eu vi os hospitais, eu andei lá. Conheci a angústia de não saber o que será. Ou pior, sabendo o que esperar, não ter nada à esperar. E não é pra falar de mim, nem mostrar-me forte ou sábio. É para te dizer: cuidado com tuas queixas. Deus não vai te castigar por nada, ele não castiga. Digo que vi uma garota de poucos anos e linda, em uma cadeira de rodas da qual nem sei se levantou. Um homem com um menina de poucos meses nos braços, e exercitando os bracinhos atrofiados dela. Ele não perguntava se ia deixá-la boa, curada, só exercitava o braço de sua menina. Fui onde ficam crianças carecas e com câncer. Não vi medo ou pessimismo. Só a dor em algumas. 


Por qual razão falar de hospitais?  lá aprendi o que sei. Não é pouco nem muito, é o que sei. Cada um sabe tão pouco ou quase nada. Shakespeare, eu, você, bobos, tolos, fracos. O sábio era aquele pai que cuidava da filha inerte. Não questionava se ia mudar a sorte de sua pequena. Balançava os bracinhos dela, como quem cumpre um dever, ou quem adorna um caixão.


Mas não pense que isso é triste nem é coisa pra comover. O que vi foi luta, o que vi foi coragem. Gente tentando ir à frente, com medo-são humanos- mas sem choradeiras. E se choraram eu os entendo. Choro, é normal. Chorar mas ir à luta. O bem sobrepujar o mal.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A ENTREVISTA DE MARCELO NOVAES











Nem todo mundo gosta de poesia, compreendo, há quem não goste de mulher nem de gatos, como haveriam de gostar de poemas? Mas há os que gostam de bons papos (ai incluo todos, menos os petistas) leiam isto: 

http://ethiliconews.wordpress.com/2012/07/04/marcelo-novaes-a-entrevista/

É uma entrevista com um poeta. Há os que acham que bom é Michel Teló. Outros votam em Maluf e Lula (que vergonha para Maluf!) outros preferem tomar cachaça e comer todo mundo (esse é meu sobrinho) Há muitos, não caberiam aqui. Para os que gostam de poesia, de ótima, mesmo votando em petistas, leiam a entrevista de Marcelo Novaes (leiam? sim, tenho quatro leitoras) A entrevista é boa e não há razão pra não ler.
Eu acordei há pouco e já soltei está bomba: "não há razão para não ler" que coisa! 


HÁ RAZÕES PARA LER! MUITAS. QUEREM UMA? PODERIA DAR UMAS 500, DAREI UMA.





Cadeado








MARCELO NOVAES
























Olhar de quem perdeu a
chave do cadeado e guarda
[na órbita do olho] ignorada
suspeita.




[Talvez suspeita
minha..., qual
nada!]






Olhem pra ele! Olhar de
quem já mora longe, além
da vaga do fogo, além
do
alcance da sombra
[mais
distante de mim do que do
Céu; e, por isso mesmo,
mais feliz!].




Olhar de quem se firma
naquilo mesmo que meu
olhar não
abriu.




Olhem pra mim!
Eu tenho a chave
de fazer brilhar a lua
em outra clave.
[De sol].




Mas me perdi na
chuva.

terça-feira, 3 de julho de 2012

DA JANELA









Você não tava, não viu, só saberá por eu dizer. Foi já no fim da festa, Todos bêbados, todos menos eu. Sentei ao lado dele, ele segurou minha mão, eu beijei a dele. havia só uns poucos, já tinham ido quase todos. Mas foi silêncio, foi admiração. Se um gesto pode mais que tudo o que pode a palavra, eu arrisco uma frase sobre o gesto de ambos: respeito.
Eu respeito quem não tem mais nada para fazer que não seja salvar o mundo. Isso é coisa que me intriga. Eu não pretendo salvar nada que não seja  aquilo da noite de sábado. O que quero, pra ir pra frente contra os males todos, e não vencer-los todos, mas aplacar as dores, diminuir o medo. Diminuir o medo. Sim, isso é que o fiz ao beijar a mão dele e ele o fez ao segurar a minha com força. O medo é forte e poderoso, faz-nos temer o ficar sozinhos. Quando eu beijei a mão de meu pai tive paz, mas o medo veio como um ser, uma coisa que zombasse de mim. Subi e chorei. Pedi forças a Cristo, pedi misericórdia também. Tive pena de muitos e pouca de mim. Tive pena dos enganados, dos que não beijam a mão de seu pai. De minha parte foi medo, um medo inexplicável, dorido, um medo. Queria guardar comigo aquele beijo e guardo como no poema de João Cabral que fala de uma saudade tão efetiva que o poeta pode sentir o peso do beijo trinta anos depois. Está dito tudo. O poeta é João, o medroso sou eu. Fiquei na janela vendo meu pai lá embaixo. Ele falava eu chorava com medo.  Vamos lá, vamos lá, moleque chorão, é tudo que sabe escrever? é só do que pode falar? 
É. 
Querendo poeta, procure outro canto. Querendo milagres, outro santo. Aqui só encontrarás a mim. Sim, na janela de um apartamento olhando o pai lá embaixo e chorando com medo. Chorando com medo como um menino boboca ou como um babaca adulto. Enquanto meu pai contava suas piadas idiotas, enquanto ele não me via. Choro com medo dos 64 anos de meu pai. Choro com medo dos carros e as suas buzinas que são sons lindos porque meu pai está ali embaixo, eu o vejo. As luzes... meu    Deus! onde caberiam essas coisas sem a voz dele? no meu coração. Mas me pesaria tanto o peso dele.


Você não tava, não viu. Tudo que preciso  é de paz, de um norte, uma corda. A mão dele me dá isso.  Já disse acima que foi uma cena bonita e tocante, o que não disse, e mesmo que você estivesse vendo não veria, foi o peso do tempo sobre o homem, o peso do tempo sobre o tempo. O que ninguém viu foi o medo. O meu medo de uma mão que tenho nos lábios. De uma mão que se fará memória tão ativa (lembrei a frase de João) que conservará o beijo dado nela em minha memória para sempre, ainda que por mil vidas, ainda se eu pensar já morto, ainda que eu sumisse, ainda que diluísse. Uma lembrança tão ativa que só seria esquecida se eu não fosse o que sou, não tivesse nascido, nunca existisse.

sábado, 23 de junho de 2012

MEUS DEFEITOS

É sempre de madrugada que fico terno, que tenho paz, que sinto o que digo e fico menos medroso e covarde do que sou. Por isso, como gatos e morcegos, prefiro o deserto de pessoas, pressas e falas que é a madrugada. Vem agora, e já são três horas, um tédio de meus ridículos, um asco dos meus defeitos. Sempre os mesmos, nunca sanados. Os meus defeitos são tantos quanto meu desespero em amenizar-lhes, ou o contar-te rindo ou com gracejos para serem (parecerem) menores, ou que você os ache qualidades. Sim, exato. Tenho algo em mim disso, enganar as pessoas fazendo coisas mesquinhas serem riso. Meus defeitos são tantos e sem "mas" nem "por quês" que seria melhor não serem ditos. 

domingo, 17 de junho de 2012

DO JEITO QUE ESTÁ













Fará 64 anos e eu peço a devida vênia ao tempo para dizer que de minha parte ele venceu o espaço medido cujo intervalo é mensurado em dias, ou semanas, ou anos. É eterno. será extemporâneo ou atemporal, como um baião de Gonzaga, como em Recife o carnaval; como em mim o amor por ele, como do mar o sal. Sim, é ele, é de novo, mas como não seria? ele fará aniversário, será como sempre, será como antes, talvez eu até durma, talvez eu sinta tédio, mas nunca, nunca, nunquinha, eu posso não amar o tal dia. O ambiente é sempre igual, as pessoas,  a comida, e aniversariante-ora, ora...- é o mesmo, porém, ah porém... Dia 26 meu pai fará aniversário, 64. Mas sempre achei-o um velho. Quando eu tinha 10 anos ele tinha 32! Mas não gostando do tom explicativo retomo o sentido do que quero. Bobo é quem tem medo de parecer ridículo, como um palhaço que se sentisse ofendido por ser chamado de palhaço, ou um gato que se pretendesse tigre. Sei o que sou, o que tenho de bom, o que tenho de mau, e o que não sei definir. O gato que se acha um tigre não incorre no erro de se querer-se acima do que é, isso não é erro. O erro advém do esquecer-se de ser gato, de esgotar os recursos que tem, de não perceber que o tigre não é melhor que o gato, é maior, só e maior. 


Filosofia vagabunda?


Só conheço filosofia vagabunda ou grega. Quando os gregos se foram, e já faz uns três dias isso, restou ao resto o resto. Mas o que haveria para ser dito depois de Shakespeare? o que foi dito: nada! 


Sim, ele fará aniversário. Dia 26. O quanto eu posso eu digo que o amo. Que sempre falarei do amor por ele. Que o que possa parecer exagero, e talvez o seja, e pouco me importa. Amo-o. Nunca mostrei nada que escrevo a ele. Nosso amor não é chato, nem melífluo. Vendo-nos alguém diria: onde está o amor deles? e teria razão. Implicamos um com outro, em tudo. Ele está sempre errado. Melhorou muito sua visão em política.


Não, nunca nos amamos pelas qualidades uns dos outros. Amamo-nos por sermos pai e filho, porra! que mundo idiota de porquês. Eu não sei onde nem como o mundo acabou. Já faz tempo, eu nem  nascido era. Creio que foi alguns anos antes de 75. Sendo meu pai abandonado pelo pai, resolveu ser o que é. Como sou anacrônico como o amor de um filho pelo pai, e deram aos idiotas o direito de se manifestarem, vai aqui meus parabéns ao meu pai. Sem mais. E viva muito, seu Luís, do jeito que está: com saúde, bonito, amado. 

terça-feira, 5 de junho de 2012

UM BAIÃO DE GIL





Ela diz que traição não é deitar, fazer amor. traição é como quando Fallstaff olha pra Henrique e sente gelar a alma, no livro de  Shakespeare. Mas a traição é uma coisa ainda mais sofrida, se o mesmo Shakespeare é representado por Kenneth Branagh (acho que é assim) A traição nunca encontrou um rosto como o desse ator Shakespeariano. A traição que o olhar de Henrique lança sobre o de fallstaff é a arte levada ao lugar onde ela deixa de ser arte e passa a ser vida. Quando você sentir coisas que não pode descrever por estar estupidificado com umas palavras em papel, tais as de Dostoievski, em noites brancas. Quando ler Hamlet (todo) mas sobretudo a parte em que ele fala sobre a morte. Quando você vir o beijo de Corisco em Dadá no filme de Glauber, ou o olhar do filho que carrega o caixão paterno, no blog do Marcelo Novaes, ou a desilusão-sarcástica de Brás Cubas, ou um sertão de um pistoleiro absolutamente genial, ou ler o ferrageiro de carmona, do poeta da cara de pedra, ouvir o chorar incontido de Caetano Veloso na morte de Tom Jobim, querer abraçar os cachorros e beijar todo mundo (isso se deu ontem, comigo, escutando Oswaldo Montenegro) e mais no âmbito familiar, e esse você não pode ver, peninha, mas haverá os seus ardores amorosos familiares, todos tem, poucos percebem. Eu percebo. Por isso percebi quando meu pai cantou assum preto pra miinha irmã, e isso vai comigo pra onde eu for. Pra onde eu for vão comigo os mesmos blablabás de antes, inclusive, como não?! as pontes. Eu não posso esquecer o que me deixaria sem mundo, sem referência. Tudo que arte pode o mal não pode. Se você for ao centro de Recife, no pátio de São Pedro, ver o maracatu e não se arrepiar. Dentro da ilha de itamaracá, ainda com poucos anos, uns 18, eu ia pra beira-mar à tardinha, ficava lá, ficava lá. Eu não sou exemplo, nem nada demais, mas se não degenerei, se sou consciente que o mal deve ser evitado, ainda que o pratique, isso se deve as coisas que associei ao bom, a Deus. Eu não devia escrever tanta bobagem, mas isso não é blog pra instruir, nem pra nada. É como na música de Gilberto Gil: Só que esse canto que eu canto é pra de zen. Não tem sentido, não serve pra nada e é  pra ninguém. Pra ninguém botar defeito e não ter porém.

domingo, 3 de junho de 2012

OS QUE NÃO PODEM SER QUERIDOS POR MIM







Tem gente que não gosta de mim. Eu aceito, embora discorde.
uns adoram Renato Aragão, bananada, novela, programa de auditório, piada, conhaque, o flamengo, falar da  vida alheia, e apanhar.
Tem cada gostar incrível. Desgostares comprometedores: meu primo disse que Shakespeare não era isso tudo.  Uns dão, outros comem. Uns vem, uns rezam.. Há os que gostam de chá, os que não gostam de gatos e criam lagartos! Uns pintam, uns bordam, uns em bordéis. O que cara que é padre, o outro que descobriu que Jesus é uma lenda, e mais um que ele é Jesus. 
Minha irmã não gostou do Rosa, tem muito eleitor de Lula, milionário fazendo greve, médico com medo de sangue e gente que já viu saci. Gente que se gaba de ter matado outras, outras que se acham sempre certas, outras que sempre acham que tudo vai malograr. Como tudo tem seu peso e medida, cabe a Deus dar razão a quem tiver. Desde que não infrinja os códicos, não me apoquente, nem me queira como amigo, o cara pode tudo. que seja feliz assim.  Mas aceitar não é concordar. Guardo meu juízo e comigo tá perdido quem: vir forró e não dançar; baixar a guarda para  a vida; não parar pra ver o mar; perder tempo com o medo de o tempo passar;poder dentro e ir por fora, não por que quis contrariar, mas só pelo medo de fracasso. 
Se o cara leu poesia e não gostou, baixa a cabeça pra qualquer um, viu a ponte e não amou, viu o bom e foi pro mal,  não provou e achou ruim, ou achou ruim mas disse bom, viu Romário e nem ligou, ouviu Cristo e discordou, teve o céu e reclamou, saiu do inferno e não esqueceu, não chorou por vergonha, acha que bom foi ontem  que o presente e futuro são mais um suplício a superar, eu posso até respeitar, mas não pode ser amigo meu.

sábado, 2 de junho de 2012










Ruim não é se calar. Ruim é querer falar sem poder.
O que chateia um pouco, não mais que isso, não é por não estar. Eu poderia ir. Mas indo quero como foi, não como é. 
É hoje a abertura do são joão do meu lugar. A cidade fica linda, tudo fica melhor. Não vou estar lá.