quinta-feira, 17 de julho de 2014

PARABÉNS, ANJO PATETA E AMADO





Caetano está para mim como uma pessoa íntima, como uma pessoa amada. Tenho uma admiração por esse rapaz septuagenário que não é de ontem mas é forte como se fosse. Dos homens que conheço (todos) ele só é  menos amado que meu pai, filho, sobrinho. Não se trata de idolatrar um homem, ver-lhe acima dos outros e sempre certo. Trata-se de amor mesmo, de amá-lo como se ama a quem se observa os defeitos mas releva-os, pelo amor. Através do olho dele li João Cabral, e isso foi grande. Como é grande o meu amor por ele. Caetano é o que há. Uma serpente do bem, um anjo malvado. Sinto o peso do tempo sobre ele como sobre em mim. Mas posso pedir que ele cante e ore ao tempo. É sem amparo e tosco como o amor que posso ter por humanos. É bonito como todo amor, como tudo que existe por si, por nada, por coisas que não podemos explicar, reter, mensurar.

O baiano envelhece e sua música não. Ele envelhece inquilino de meu coração. Quem há de negar o valor de suas canções? Mas passa o tempo, envelhece o homem. Passa o tempo, reacende o sonho. Vai o tempo, cinzenta fica a fronte do poeta. Mas ele olha a barriga da mulher grávida, sabe que maior que o poeta e o ideal que lhe permeia: a poesia. O dorso cansado, dobrado, exaurido, é onde ele buscará o que dá leveza a sua vida. A vida é menos vida porque do fim se aproxima? claro que não! a vida é vida até o seu fim, quando deixa tuas narinas. A vida é criação, criação é sempre vida. Morte não é contrário de vida, morte é vida que não é vivida. Morte é a vizinha fofoqueira, é a trama do mal da vida. É o deixar de viver estando vivo ainda. É ir à igreja sem fé. É fé que nunca duvida. Sem dúvida não se tem fé. É só certeza fingida.

Parabéns ao que fomenta sóis, ao que inventa o cantar de sempre como se novo sempre tenha sido. Ao que continua ingênuo e puro ainda. Ingênuo não por tolo, não por não saber o mal. Por saber o bem e sua inutilidade e preferi-lo. Parabéns! Parabéns! Que o Deus em que não acreditas mas segues e apontas, te ilumine sempre. Deus te proteja de teus erros e de todo o resto. És como eu, erras tanto quanto tens tempo. És um anjo caído, não dos céus apartado. Um anjo doce e pateta, mortal, sem asas, amado.

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