Outro dia,
vendo meu filho jogando residente evil, perguntei-lhe por que ele matava um
personagem com a faca e não com o revólver. Perguntei por curiosidade boba, não
por censura, só achava um tanto quanto suja aquele tipo de morte. A resposta
dele para o ato de matar a faca foi incrível; ele disse que matava de faca para
economizar balas, pois teria um desafio pela frente. Desafio no vídeo game é um
obstáculo que se impõe ao jogador para mudar de fase. Bom, tenho minhas convicções
pessoais e dentre elas estão a certeza de que criança não é desprovida de
raciocínio, e que discerne entre o bem e o mal. Meu filho é pacífico, não fala
palavrão, tira boas notas, ele é o cara.
“O mais
ardiloso e dissimulado homem não engana uma criança” a frase é de Tolstoy, não
é assim, mas é nesse sentido.
Porra! Ia falar
de crianças, de crianças que amo, gabi, com sua boquinha, carinhosa como só
ela; bitóia totóia, falsa, ruim, mas amada; laís, vitória, minha irmã; Pedro; mas Caetano
me acabou, me implodiu. Vendo a entrevista dele em Jô Soares, ao escutar a música
que ele fez para Gal Costa, tive a convicção reiterada, confirmada por anos de amor
e devoção, e porque não? Idolatria e adoração por Caetano Veloso, pensei comigo
e tentei dizer a alguém que o som do canto triste de Caetano, me põe de pé. Eu
choro ao ver o baiano me mostrar o rumo. Caetano tem de Gabi a doçura
explícita, expansiva, natural. Um homem de 70 anos com a doçura de uma criança.
Sempre se
fala de Caetano como um ser pervertido, sei lá o quê. Quem diz isso é um
idiota. Não merece nota. Mas digo: que seja Gabi sempre como é. É difícil, é muito difícil. Ser doce
em um mundo desses. Um mundo nojento, inviável. Onde todos tem de ser fortes. Eu
não sou forte, sou fraco e amo Caetano. Que gabi cresça como é, embora todos
irão tentar impedir que ela seja doce sempre. Mas sobretudo a vida. Essa bate tanto
na gente, que chego a desconfiar que não perder essa doçura é a única coisa que
salva. Ver passar o tempo e ser doce, ser gabi.
Outro dia
fui canalha, estúpido, roubei senhas de um cara digno, gente fina. Agi como
canalha e não há outro nome. Quando cometemos uma canalhice dá-se o nome que
tem o ato de roubar senhas: canalhice. Essa semana gabi ligou, quis falar
comigo, eu não estava. Três dias atrás
me viu e mandou um beijo, disse que me amava. Isso é um orgulho que não diminui
as minhas canalhices, pois se ela me tem tanto carinho, se me ama, há algo de bom em mim que não deve
mudar.
Caetano cantou
a música que me dilacerou. Salve Caetano,
salve a doçura de gabi, que ela chegue
aos 70 anos como Caetano. É o meu ideal e o que desejo aos que amo.
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