segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DE NOVO (SEMPRE) MEU PAI













Não, não é pelo dinheiro do táxi, que até sobraria. É por ir três dias comigo à secretaria de saúde, quase perdendo a hora, mas não tão apressado para me dar o dinheiro apenas, como se dando o dinheiro do táxi fizesse seu papel. Ele é o cara que dá o dinheiro do táxi, está atrasado para uma audiência, mas não tanto para me levar à porta, abrí-la e me abençoar.


Sempre falo dele no aniversário dele com textos bregas e esse é assim. Não é aniversário dele, nem há razão para o drama, mas quem tem um pai como eu, tem de amá-lo com medo.

O velho está inteiraço mas tenho medo de perdê-lo. Com meus trinta e seis anos tenho medo de ficar sem meu pai.

Mas não é pelo dinheiro do táxi, eu até posso andar de ônibus e ando. É que ele dá o dinheiro mas não se contenta em ser pai normal, de ter ido comigo, de estar atrasado, de ser pai só. Ele me coloca no táxi, me abençoa, me recomenda juízo, liga para saber se já cheguei, chega na hora precisa da audiência, mas sobretudo, e acima de tudo, tem um olhar de amor. Não de comiserasão, nem de lamentação, ele sabe que eu odiaria isso, mas amor não odeio.

Eu falo de meu pai sempre que eu quiser, e sempre quero, sempre falo. Não me importa se é chato ou se não é, escrevo pra ninguém, para o vazio que vão dar todos os sentimentos. Na minha vida tudo são fases, como já disse o Assis, sei perder no primeiro tempo e esperar o segundo, sou vascaíno, porra, e quem tem esse time sabe o que eu falo. Espero uma virada, um melhorar no segundo tempo, mesmo que eu perca, espero o segundo tempo. O meu segundo tempo ainda não chegou. Mas se eu perder meu pai (não sei porque diabos isso agora) eu vou estar na derrota, só, triste.

Neguinha, poucas coisas me abalam, sou forte e tenaz, precisei de teu colo, mulher que eu amo, foi bom, acabou, mas sigo em paz. Minha musa querida, perdi você e sigo rindo, perdi a saúde e sigo bravo, perdi muito e ganhei muito, e nessa diferença sou mais eu. Mas, bela flor, voz que amo (hum ?) no dia em que eu estiver sem aquele homem no mundo, não terá colo de musa que me conforte.

Eu amo meu velho cada dia mais e até seu xingamentos me parecem divinos.

Amo-o não pelo dinheiro do táxi, sempre me deu e nunca contado. Amo-o pelo desvelo de quem sabe-me adulto, sabe-me forte, sabe-se amado.

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