sábado, 28 de abril de 2012

POESIA VAGABUNDA

È isso que você não sabe mas pressente com mais verdade que o que pode uma parede, um tiro, um fato. É teu filho te olhando, a noite, o charco, o beijo na face, um gato dormindo, um tio já morto, por teu pai lembrado. Um choro doído. um monte de gente orando, Caetano chorando, Caetano xingando. um velho feliz. Um ano, outro ano.

É isso que te tento explicar e me embaraço, que sei o que é, nunca a razão, que é sem utilidade. Como uma lua, um discurso ou um girassol. Serve para nada. Serve para ser em si. Como um diamante, um cacto, um caqui.

O que queres é uma explicação do que é inexplicável, como se um ateu perguntasse por quem criou Deus, como se fosse provado o improvável. Não se diz o que é, sente-se somente. Como dizer sobre a brisa do mar?

A poesia é a personalidade de Deus. É um lugar onde o ruim não vai. Não precisa ser poeta como os tais, escrever de forma genial. Para fazer poesia e ser poeta, basta olhar o Cristo, se afastar do mal.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

SEM FHC NÃO HAVERIA LULA. SEM GALVÃO NÃO TERIA GRAÇA






Das idiotices humanas o futebol é o terreno mais fértil para os cretinos serem o que são. Não há nada mais estonteante que um comentário de um cretino endossado por outro. Como diria o tarado de suspensório, só os cretinos verão a Deus. Bom, não lembro se o Nelson disse exatamente isso, mas é uma frase rodrigueana. Vendo Barcelona e chelsea e todo o universo de idiotices que brotaram da cabeça de gênios da abobrice humana como Galvão Bueno, o melhor e mais abobrético dos narradores, eu concluo dizendo que pode haver idiotas no mundo todo, mas os do Brasil são os mais patéticos, bufões e, por assim dizer, galvânicos. Implico com o Galvão? nada! só vejo jogo narrado por ele, acho-o o mais vibrante e operístico dos narradores. E vamos e venhamos, o cara sabe o que se passa na cabeça dos outros, justifica erros dos craques com frases geniais onde o craque não perdeu o gol, foi a bola que não quis entrar. E tem o lado profético dele que é uma coisa de você se admirar, se estupidificar, se estúpido já não fosse. Ontem durante um jogo do Barcelona ele solta essa fantástica profecia: acho que Messi fará um gol. Uma coisa de dar a ele um status de advinho do milénio. É tão raro Messi fazer um gol pelo Barcelona que se ele o fizesse ontem seria um milagre?

não, seguramente, não! o milagre é ele não fazer gol pelo barcelona, então ele não fez. Diria alguém que Galvão é o antiprofeta, um que faz com que o óbvio não aconteça. Cada tempo tem suas idiotices, o nosso pode ser dito como a elevação do idiota e da idiotice à categoria de filosofia, de corrente de pensamento que se caracteriza pelo não pensar. Vejamos outra coisa no Brasil que chega ao cúmulo da mais exata demência mental, o idiota da bíblia, ou o que acha os textos dela verdades eternas e imutáveis, o princípio moral dos princípios morais. Quem acha isso? os que nunca leram uma linha do festival de absurdos do antigo testamento, e os que lendo (e esses são piores) e justificam aquilo com argumentos que uma mula não usaria se uma mula argumentasse. Vamos ao grande texto moral. Eliseu, um grande homem, um profeta de Deus, um ser que foi arrebatado (tem muito dessas maluquices na Bíblia) pois sim, Eliseu vai passando, duas crianças zombam dele o chamando de "calvo", ora que absurdo! Eliseu se enfurece, ora ao maravilhoso deus do antigo testamento, ele em sua bondade e misericórdia infinita, manda dois ursos que matam 42 crianças. Fico eu, um elocubrador de abobrices, a perguntar-me como que em transe: tivesse esses dois meninos chamado o grande Eliseu de uma coisa mais depreciativa, veado, por exemplo, quantos morreriam? se algum estudioso da bíblia me explicar isso eu respeito esse monumento à moralidade, do contrário sigo achando cômico.

Os eleitores do Lula são uma mescla das piores combinaçãoes possíveis dentre as piores combinações possíveis da idiotice humana com a safadeza descarada. Essa é a categoria dos idiotas mais combatida e eficiente, pois tem poder, e o poder nas mãos dos idiotas é por demais perigoso.

O idiota vive com ilusões de super-hérois, nunca se desvencilha disso, então o seu deus é poderoso, senhor dos exércitos, enfim, um super-deus que mostra o seu poder não criando o universo, mas sim afundando um navio cujo capitão teria duvidado de seu poder. Cinco mil pessoas morrem para o senhor mostrar a só uma que tem poder. O nosso ex presidente (graças a Deus) faz sucesso entre 80% por cento dos brasileiros. O que fez tal homem? deu continuidade a um governo que montou tudo o que ai está. E esse primeiro governo então deve ser aprovadíssimo? é justamente o contrário! é execrado por quem o segue, cuspido por quem alimenta. Lula criou qual novidade na área econômica ou qualquer outra? mudou o que com relação ao governo FHC? o que o faz se gabar do mérito alheio? essa eu sei a resposta. vivemos no país dos cretinos.

Teremos muitos anos para o fim, mas ele já se anunciou.

Aos que discordam de mim, sempre há esses estúpidos, peço que me expliquem a razão das coisas sem raciocínios disparatados.
O que mudou no governo lula com relação ao de FHC?
O que foi criado de novo?
A política econômica responsável pelo sucesso de Lula é de mérito do seu governo?

Sem FHC antes de Lula nada de bom teria acontecido.

terça-feira, 24 de abril de 2012

É FODA! MAS SOMOS FODAS.






"Não sou homem de meio-dia com orvalhos. Não tenho fraca natureza".

João Guimarães Rosa

Adoro isso. O Rosa era foda! ninguém escreve uma frase dessas sem ser foda. Como Caetano, eu e Chico Buarque, o Rosa, sendo um Guimarães, era foda. Mas nós, os fodas, vez ou outra, damos de cara com a vida, que é foda e muito agressiva, por isso é mais foda, e as vezes é doida e doída. Há de haver a vitória dos fodas sobre as fodas da vida, senão o foda nunca foi foda, senão a vida não era vida. Era uma morte travestida, pois sendo vivida com medo, era medo não vida. Era morrer em vida, mesma morte severina. Morte em vida estando vivo, vida morta, antivida. Vida de morto, delírio de ter latejos em membros perdidos, sonhos de amor com entes queridos.

O filho de Leonardo não está bem. Nem sei como está, vou ver ainda. Vendo o leonardo falando sobre o filho acidentado, chorei. E não comovido com dores alheias, não sou anjo, mas com dores minhas. O filho dos outros é o meu. Acho ele, o cantor, uma bobagem como artista mas amável como homem. Sempre achei-o simples e bom, embora meus achares sejam um tanto quanto comprometedores, também sempre me achei um tanto quanto bom, e é sabido de minha suspeição.

Fica a minha torcida pela melhora do filho desse cara, Leonardo. Um cara duro, um cara foda.

segunda-feira, 26 de março de 2012

CHICO ERA HOMEM







Ainda guardo frases que li e morrerão comigo, jovens como eu não serei quando tudo for fim. Lembrarei de tudo o que ficou das folhas dos livros que me formaram, do que é minha verdade. Nunca fui leitor de poesia. Li poucos poetas, mas muito um só. Baudelaire; Bandeira; Castro Alves, Fernando Pessoa; João Cabral. 
Desses acima, só um me parece contrário a minha natureza, e é justamente o meu bezerro de ouro, a quem venero sem problemas com Javé. Aliás, falando na figura, cada dia vejo nele mais um cômico que um sanguinário, um bufão pateta, um frustrado. O que me espanta, embora pouca coisa me espante, é que se ache que javé é o pai de Jesus Cristo. Isso é de doer. Mas como eu dizia... -como se faz quando se não tem nada a dizer- João Cabral é meu anti em tudo. 
Chico Anísio está morto. Evito ver os mortos famosos na tv, sobretudo os que gosto, por achar ridículo o que se diz sobre ele. Lógico que não quero que se diga a verdade quando diante de um defunto. Não se pode fazer isso sem despertar ódio aos parentes do morto, pois a única coisa que é comum a todos que morrem é a sua canalhice. Há dois tipos de canalhas, os vivos e os mortos. Há variações de canalhice, mas o mais perigoso são os que dizem não ser. 
Mas a cara-de-pau com que se elogiam os defuntos célebres é coisa de um Gilberto Freire na antropologia; de um Freud, na psicanálise; de um Shakespeare, na literatura, não darem conta, quanto mais eu, que não sou mais que eu, o que não é pouco para mim, não sendo muito para o mundo. 
Chico foi um grande humorista, isso é fato e posso respeitar muito um grande humorista, ponto. Mas as grandes e mirabolantes cabeças da imprensa  me querem provar que ele era mais que santo, um ser tão perfeito que o que parecia-me antes um desvio de caráter era tão só, e só isso, uma prova de sua beleza d'alma- nossa!- Não preciso achar um homem perfeito para o amar. Amo ainda mais os como eu, não os como os mortos da TV, Chico não  era gênio, não era perfeito, suava e                                                      fedia, como todo mundo. Não pintava nada que prestasse, se metia a cantar, sem talento algum para isso, enfim, era humano, porra! como todos os que foram antes e vão depois, era humano. Mentia, tinha remorsos, era vaidoso, cheio de defeitos, humano. 
Não vi nada sobre a morte dele, nem verei. Li sobre ele na Veja em duas palavras: eu chorei.
O chamem de mestre do humor, eu bato palma e tomo parte, mas não o façam santo, ele era humano. Vivia disso, de explorar nossa condição de ridículos humanos, com medo da morte, com medo de nosso amor se ir. 
Os personagens criados pelo Chico não são divinos, são como nós, como ele. Temos um tempo aqui, ele vai passando, passando... o de coalhada, pantaleão, alberto roberto, passou. Chico me fez rir muito por isso tem minha lágrima. Choremos por ele sim, se foi pra sempre um palhaço, o mundo não ficou mais triste, eu fiquei mais velho com isso.

terça-feira, 13 de março de 2012

BUTOH



MARCELO NOVAES







Puxa o caixão,
segura uma das alças
do caixão do teu pai,
com a cara branca
esbranquiçada.


Não pode haver
resmungo, quando
lhe cobre um uivo
mudo, gelado.


Um uivo surdo que
só se ouve tocando
o branco do rosto,
com dedos do
afeto.


Pra se ouvir esse uivo
que uiva pra dentro,
há de se fazer uma
antologia do
sentimento.


É só pra isso que
existem olhos e
ouvidos.


Pra se ver o rosto
branco, de quem
carrega o caixão
paterno.


Ou para assistir
Kazuo Ono, no teatro,
no primeiro assento.




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SOBRE BUTOH


Não, não é pelo meu pai, amado como a um filho, nem por ser o autor amigo querido. Seria justo em ambos os casos, mas é por outro motivo o amor a este poema: o amor a arte. 
Butoh é uma obra de arte. É um poema tão dolorido que chega a apaziguar. 

quinta-feira, 8 de março de 2012

O MEU DEUS




























O meu Deus não é meu, nem de religiões, nem de infernos ou adorações. Isso é javé, e ele tem minha simpatia menor que a dispensada ao cão, menor que o desprezo.
Que meu Deus é outro fique claro, como é preciso separar o que fica à direita dos da esquerda em uma organização visual. 
Tem pouco do javé, jeová, da bíblia ou tora, nada que o desmereça nesse parecer.
è diferente de o que minha irmã chama deus (assim mesmo, sem maiúscula) em tudo, até em ser bom. 
Meu Deus não mata nem manda matar, nem diria uma coisa como está:


Êxodo 20:5. Não se prostre diante desses deuses, nem sirva a eles, porque eu, Javé seu Deus, sou um Deus ciumento: quando me odeiam, castigo a culpa dos pais nos filhos, netos e bisnetos




Só há três tipos de defensores de javé, os que nunca leram a bíblia (quase todos) os que são suficientemente idiotas para, tendo lido, acreditar que o deus do antigo testamento era melhor que satanás, e os que ganham com os idiotas que pertencem ao segundo grupo.


O meu Deus não me cura de doenças, nem me dá recados, nem conversa comigo, nem me dá dinheiro, e , ora vejam, creio nele ainda, apesar de ser chamado de ateu. Ele não me faz comovido com músicas medíocres, nem o chamo "senhor dos exércitos", muito menos me dará vitórias financeiras", nem fica o tempo todo me dizendo o que fazer. O Deus em que creio não pede sacrifícios, nem segrega mulheres, nem permite escravidão, muito menos morticínio e pragas. Ele não é Deus de lugares, nem de povos, jamais mataria uma criança, e o pai de Jesus, e é tal qual o nazareno, bom e manso, igualitário e misericordioso. 


Me impressiona a fé baseada em milagres, em resultados imediatos, em facilidades. Um ateu creria em um Deus que a toda hora mandasse recados, fizesse milagres, mostrasse estar ali. Diferentemente desses que se dizem crentes e me acham ateu, eu não vejo o milagre, não vivi até hoje nada que não fosse real, provável, comezinho. Nunca conversei com ele, nunca o tive íntimo. Nunca houve nenhum tipo de materialidade que me fizesse inclinar para nada transcendental. Não espero dele grandes intervenções. Seria razoável crer em coisas mais consistentes e físicas? Não! só um chapado idiota pensa assim. As coisas físicas não requerem crença. Bastam os  sentidos. Não creio em carros, nem em paredes, sou atropelado por um e o outro me restringe. Se não cuidar em passar no sinal fechado, minha convicção da não existência do carro me será letal, e  sua realidade se imporá ao meu pensamento.


Por qual motivo haveria Deus de se mostrar poderoso? por qual estranha e mesquinha razão, mataria crianças, permitiria e ditaria regras para a escravidão? segregaria a mulher? pediria sacrifícios humanos e animais?
seria vaidoso e cheio de melindres?


Não, Deus me é presente no que tem de bom, não no que tem de físico, no que a poesia pode, não no que pode a guerra. Já o tenho em mim, não o quero ver. Mas se não o vejo? ora, pois não! todo dia, na luz da manhã em uma   poesia. Em um lindo cantar, em um sorriso guardado na lembrança. Em coisas que amo e sei-las boas. No belo de   morrer a cada dia, pensando ser no outro o fim  de minha   vida. 


O meu Deus é o pai de Jesus. Não é mais nem menos que isso: A VERDADE, O  CAMINHO E A VIDA.

domingo, 4 de março de 2012

AUGUSTO NUNES DIZENDO O QUE TODOS OS MILHÕES DE IMBECIS DO BRASIL DEVERIAM SABER SE NÃO FOSSEM O QUE SÃO: IMBECIS.

‘A soma e o resto’, o livro mais recente de Fernando Henrique Cardoso

PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA
Augusto Nunes
Desde que a carranca de Jânio Quadros substituiu o sorriso de Juscelino Kubitschek em 1961, o gabinete presidencial já hospedou napoleões de hospício, generais de exército da salvação, perfeitas cavalgaduras, messias de gafieira, gatunos patológicos, vigaristas provincianos e outros exotismos da fauna brasileira. A rotina da anormalidade ─ que seria retomada por Lula, um ex-operário metalúrgico que acha leitura pior que exercício em esteira, e mantida por Dilma Rousseff, primeira mulher a exercer o cargo (e provavelmente a primeira figura a governar um país sem conseguir expressar-se de modo inteligível) ─ só foi interrompida entre 1° de janeiro de 1995 e 31 de dezembro de 2002, quando o Palácio do Planalto abrigou Fernando Henrique Cardoso. A soma e o resto ─ um olhar sobre a vida aos 80 anos (Civilização Brasileira; 195 páginas; 29,90 reais) confirma que foi FHC o ponto fora da curva. Lula e Dilma são duas formidáveis singularidades, mas parecem à vontade na galeria de retratos que os tornou vizinhos de parede de Jânio, João Goulart, Emilio Medici, João Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor ou Itamar Franco. Todos executam harmoniosamente a partitura da ópera do absurdo. O acorde dissonante é Fernando Henrique, constata quem ouve as mais de 10 horas de lembranças, reflexões e desabafos reunidas no livro organizado por Miguel Darcy de Oliveira.
Eleitos pelo voto popular ou impostos pelo regime militar, quase todos os ex-presidentes têm tudo a ver com o Brasil dos 14 milhões de analfabetos, dos 50 milhões que não compreendem o que acabaram de ler nem conseguem somar dois mais dois, da imensidão de miseráveis embrutecidos pela ignorância. Tal paisagem ajuda a entender por que tantos brasileiros se dobraram a populistas sedutores ou foram dobrados por autoritários fardados. E torna especialmente intrigante a passagem pela Presidência de um intelectual brilhante, exemplarmente democrata, que escreveu muitos livros e fala sem espancar a língua portuguesa. A leitura de A soma e o resto explica alguma coisa, mas acentua a suspeita de que Fernando Henrique tinha tudo para não ser presidente do Brasil da virada do século.
“Este talvez seja o livro mais espontâneo que já publiquei”, avisa FHC. É mesmo: a transcrição quase literal das falas resultou numa obra sem parentesco formal com a escrita sofisticada (e eventualmente impenetrável) do sociólogo mundialmente respeitado. Tal opção cobrou seu preço em redundâncias, raciocínios que pedem mais espaço e histórias interrompidas. Esses pecados veniais são amplamente compensados por revelações que só ocorrem em diálogos sem gravata. Avesso a derramamentos e confidências, FHC nunca foi tão longe nas viagens íntimas, sobretudo as que o levam a reencontrar os pais e os avós. Aos 80 anos, completados em 18 de junho, ele enfim se animou a esboçar o retrato de um futuro presidente quando menino. Acabou tornando bem mais nítidos os contornos do adulto. “Sou cartesiano, mas com pitadas de candomblé”, informa. “Acasos, acidentes, escolhas, capacidade para assumir riscos… Os pontos de inflexão na minha trajetória são um misto de tudo isso”.
A frase se ampara na trajetória do professor universitário que disputou a primeira eleição aos 48 anos, virou suplente de senador, substituiu o titular em 1982, perdeu a prefeitura de São Paulo para Jânio Quadros em 1985, conseguiu outro mandato no Senado um ano mais tarde e já se conformara com a ideia de tentar uma vaga na Câmara dos Deputados, em 1994, quando o presidente Itamar Franco decidiu que seu chanceler deveria ser ministro da Fazenda. Os acasos e acidentes o colocaram frente a frente com a inflação de três dígitos. Coisas do candomblé. E então o cartesiano entrou em ação. Escolheu uma equipe de economistas excepcionais, comandou a implantação do Plano Real, rebaixou a inflação a porcentagens europeias e virou presidente. Por oito anos.
“É a curiosidade que me move”, diz. “O sentido que dei à minha vida foi tentar perceber o que vem de novo por aí”. Essa curiosidade permanente o levaria a inventar, de volta à planície, a versão brasileira do ex-presidente surgida nos Estados Unidos em 1951, quando a 22ª emenda estabeleceu o limite de dois mandatos. Nesta primavera, por exemplo, José Sarney e Fernando Collor agonizam no Senado e Lula escolhe candidatos a prefeito. Fernando Henrique se reúne com os Elders, grupo de ex-governantes fundado por Nelson Mandela, protagoniza um documentário sobre o problema das drogas, busca soluções para o Oriente Médio, escreve livros e coleciona afagos até da presidente Dilma Rousseff. No Brasil, quem conheceu o coração do poder não consegue respirar longe das urnas. FHC deixou a política miúda para, sem sair da vida, entrar na história.

sábado, 3 de março de 2012

OS PAIS DOS MENINOS IMUNDOS
























Tudo o que sei deste homem se resume a ser nome de rua e sua biblioteca. Na rua com seu nome vou de vez em quando, na biblioteca não mais. Conheço a cidade que moro, pequena e feia em sua secura agreste. Cidades como a minha só existem em sonho, ou bibliotecas. este homem, João Condé, doou sua biblioteca à cidade e eu pegava livros lá quando li a livros. Sua biblioteca era um sonho, ficava no meio da feira de caruaru, um lugar esquisito e bonito, e russo-agreste. Sempre lembro deste homem, deste grande homem, cuja cultura não vale nada em nosso tempo.


De fato, ando meio melancólico e sentimental, mas quem vive rindo de tudo o tempo todo, não é feliz, é só um pateta. Rimbaud dizia que triste era o riso dos ignorantes, estava certo. O riso só, sem razão, fora de proposito e hora, é execrável. Sim, é isso mesmo! só o canalha é plenamente feliz. Olhar para cima é uma maneira de ser canalha. Temos o lado. O lado é que fode tudo. No centro de minha cidade, pequena e feia, mas amada, como se pode amar uma mulher feia, vendo nela seus por-dentros, não  por-foras, fazendo com que os externos sejam bonitos por serem destoantes do bonito, contrapondo à beleza a si própria, contrária ao que em si é o mesmo. Mas de volta ao centro de minha cidade, há os mendigos na calçada, no noite, e com filhos imundos e perdidos. São 05:13 da manhã, o branco ressona e eu vou me deitar com ele e sentir o corpinho dele quentinho e coberto. Os menino imundos de rua serão pais de meninos imundos e sentirão o que é ver um filho sujo e com frio. 


Tudo é dor. 


Viva João Condé!


Que cada homem que passou em cargos de poder e que tenha roubado um centavo,  seja réu em juízo cujo jurado será o pai daqueles meninos imundos.