terça-feira, 13 de março de 2012

BUTOH



MARCELO NOVAES







Puxa o caixão,
segura uma das alças
do caixão do teu pai,
com a cara branca
esbranquiçada.


Não pode haver
resmungo, quando
lhe cobre um uivo
mudo, gelado.


Um uivo surdo que
só se ouve tocando
o branco do rosto,
com dedos do
afeto.


Pra se ouvir esse uivo
que uiva pra dentro,
há de se fazer uma
antologia do
sentimento.


É só pra isso que
existem olhos e
ouvidos.


Pra se ver o rosto
branco, de quem
carrega o caixão
paterno.


Ou para assistir
Kazuo Ono, no teatro,
no primeiro assento.




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SOBRE BUTOH


Não, não é pelo meu pai, amado como a um filho, nem por ser o autor amigo querido. Seria justo em ambos os casos, mas é por outro motivo o amor a este poema: o amor a arte. 
Butoh é uma obra de arte. É um poema tão dolorido que chega a apaziguar. 

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