BUTOH
MARCELO NOVAES
Puxa o caixão,
segura uma das alças
do caixão do teu pai,
com a cara branca
esbranquiçada.
Não pode haver
resmungo, quando
lhe cobre um uivo
mudo, gelado.
Um uivo surdo que
só se ouve tocando
o branco do rosto,
com dedos do
afeto.
Pra se ouvir esse uivo
que uiva pra dentro,
há de se fazer uma
antologia do
sentimento.
É só pra isso que
existem olhos e
ouvidos.
Pra se ver o rosto
branco, de quem
carrega o caixão
paterno.
Ou para assistir
Kazuo Ono, no teatro,
no primeiro assento.
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SOBRE BUTOH
Não, não é pelo meu pai, amado como a um filho, nem por ser o autor amigo querido. Seria justo em ambos os casos, mas é por outro motivo o amor a este poema: o amor a arte.
Butoh é uma obra de arte. É um poema tão dolorido que chega a apaziguar.
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