domingo, 1 de fevereiro de 2015

ANDERSON SILVA DE VOLTA AO MEU CORAÇÃO





Aí é quando choro, me  despeço de minhas mesquinharias. É quando um gigante cai e sabe que não existem gigantes. Descobre pela dor o que poderia ter descoberto antes. Anderson Silva vence, caí, chora.  Anderson Silva voltou ao meu afeto, ao meu coração. De nada mudou quando desgostei dele nem para ele nem para mim, mas devo dizer que sou poeta e sei admirar.  Com olhos de poeta, de quem ama só por amar.
Ao cair no chão e chorar sem pudor, ele retorna ao grupo dos que amo. Sabe – foi duro mas aprendeu-  que não existem homens imbatíveis. Que a queda é pra todos, a alavanca que impulsiona o que se levanta a Deus pertence e a todos ele dá. Basta saber chorar muito, saber se ajoelhar.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

SOBRE OS FANÁTICOS





O fanático não o que gosta muito, mas o que gosta errado, segue errado, interpreta errado. Mesmo que o objeto ou pessoa que admira seja merecedor de sua admiração, isso não muda nada. O fanático esta errado mesmo quando em princípio tem razão. Porque quem tem por convicções ideias que não admitem o contrário, já começa por errar, já começou um começo errado; e se acertar no fim, não foi acerto, foi acaso.
Claro que existem princípios que não se discutem, que devem ser intocáveis; mas estes não estão em debates, só na cabeça dos fanáticos. Desconfio que os fanáticos não são sequer gostadores das coisas ou pessoas objetos de sua aparente admiração. O fanático gosta de sua ignorância que vira soberba e portanto, não lhe faz pensar nem por nada em questão. Pensa: estou certo em absoluto e tudo que for contrário a mim, errado, por definição. É típico deles o sorrisinho idiota que simula uma superioridade que não tem. Que é fraqueza ou ausência total de argumentação. Quando não usam outro expediente mais idiota que é repetir o que você acabou de dizer, em tom estupefacto, querendo com a mera repetição (de maneira ridícula, em tom burlesco e farsesco) ridicularizar o contrário.
O  fanático nunca contesta com argumentos comuns a todos, nunca. Ele recorre aos seus pontos de vista, baseado no que ele acredita. Se um ateu discute com um religioso é comum este recorrer à bíblia e dizer: esta na bíblia! Na cabeça de um fanático a bíblia não pode ser contestado nem sequer por quem não acredita em Deus. Deixo claro que os fanáticos podem ser ateus ou não; podem ser vascaínos ou flamenguistas; veados ou heterossexuais, porque, como disse acima, não importa a razão para eles, importa estarem seguros, não por nada em questão, não pensar.

O fanático não é nunca inteligente e sempre arrogante. Tem frases que o identificam ou mais que isso, o entregam. Possui alcaguetes mentais, frases feitas, ideias que não são isso porque é pura repetição de alguém que poderia até estar certo em sua formulação primeira. O fanático não tem pessoas as quais admira com amor mas sem perder a perspectiva do possível erro ou do erro total em que caem todas as pessoas, mesmo os gênios, mesmo os santos. O fanático não vislumbra a tênue linha divisória entre o que é argumento e o que é fato. Lança mão de um como  se fora o outro e depois  coloca tudo na conta do gostar. Gostar e preferir é o reino encantado dos fanáticos. Ele não entende (ou é mais cômodo assim) que nem tudo está na esfera das preferências, que há fatos, que há dados. Que eu posso até achar (e isso  é problema meu) que o sol é frio, mas que o isso não fará o sol menos escaldante. Qualquer discussão tem respeitar a lógica de princípio básico que é a lógica ter um valor total e não poder ser  relativizada tornando apenas coadjuvante e não estrela. Se não se aceita o argumento deve-se rebatê-lo com outro argumento e não com uma posição particular, que mesmo estando certa não pode estar pela razão errada, a de ser minha razão pessoal. Sugiro aos fanáticos que parem de citar a bíblia para encerrar discussões porque isso é ridículo. Essa papagaiada de “está na bíblia” só funciona para o fanático empedernido. Quem não pode entender que há os certos e os errados de hoje que invertem os papéis amanhã, não e mais nem menos que um fanático.

domingo, 25 de janeiro de 2015

QUANDO PERDI O MEDO





Eis-me aqui! venho só e trago a lança na mão. Estou só e minhas mãos tremem como eu pensara não mais tremerem quando lutei sonolento e perfuraram minha cabeça com brocas. Não doeu, é verdade, mas me deixou uma cicatriz menor que a dos meus peitos, tão pequena que nem vista é. Mas ai dos que pensam que só o que se vê existe. Ai desses que julgam pelos sorrisos e choros que se choram nas praças, dos amores de Romeus, nas casas dos ricos, na forma que se impõem o que se nos é imposto. Setenta mulheres amadas que se fossem, duas fortunas e meia perdidas no jogo, trezentas cirurgias para amenizar meu mal, seriam suportáveis. A dor que me fustiga não tirou meu bom humor. Não gosto desse papo de dor, sobre tudo com essa palavra horrenda "fustiga", mas é dor, lateja. Não cossa, não inflama, mas é dor. Dói.
Coitado dos homens totais (já fui um) eles não sabem a dor de se ver só. De se ver com lança na mão mas sem atinar para que serve. Um combatente que não vê diferença entre o que ganham e os mortos; entre os que riem e choram, entre os de entre e os extremos.
O que me resta é essa lança sem sentido e medonha, um restinho de fúria, um esgar de medo.
Medo, ah o medo, tinha-o e desprezava-o... como fui idiota! Hoje, sem medo e sem gracejar com a vida eterna (essa me basta) sinto que o que havia de medo ficou para o passado. Medo tenho de dor física, não mais de ser enterrado.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

SHAKESPEARE E OS GATOS QUE NÃO FALEI.







A net caiu, então escrevo. Não tenho muito a dizer, aliás, não tenho nada. Por essa razão fiz um blog: para falar de mim e do que acho do mundo, já que ninguém me pergunta. Os blogs são chatos e pretensiosos, é coisa para gente como eu. Mas não tendo assunto, nem o que fazer, falo dos gatos e talvez de Shakespeare. Primeiro o bardo. Estou lendo um livro que ganhei que fala sobre  um ano na vida do bardo de Stratford. Não tenho amor por Shakespeare, tenho curiosidade. Amor eu tenho pelo Rosa, por João Cabral, por Dostoievski, e outros que me parecem mais normais (e o são) que o autor de Hamlet. Sem espichar no mesmo lenga-lenga dos elogios ou  na real autoria das peças, repito: tenho por Shakespeare uma curiosidade quase mística-ateia; Não faço pouco esforço para não ficar impressionado com o que foi escrito por ele mas não tem jeito... Sem babações, quem pode apontar quem o rivalize em intelecto na literatura? Qual personagem literário se aproxima em inteligência e Capacidade cognitiva e de expressar isso,  como Hamlet? Quem tem a profundidade que tem o raciocínio de Shakespeare? A negação disso é impossível! Quem vai me apresentar o que perguntei acima como resposta? A essa eu respondo: ninguém! Porque não há. Stravoguim, de Dostoievski, era tratado como gênio mas quase não falava. Ivan, dos “Irmãos Karamazov”, era tido como um gênio, mas vê-se ao fim que era um tolo. Zaratustra era Nietzsche falando: era poético, era belo, mas oco. Os grandes sábios da literatura são mudos. Os outros personagens é que lhe consideram gênio. Hamlet não. Ele fala que é uma beleza. Fala o tempo todo e com solilóquios estupendos e devastadores. A cada vez que Hamlet fala se agiganta o talento verbal e argumentativo dele. Tá bom , eu não ia cair no puxa-saquismo, eu sei...Mas como falar de arte e criação literária, inteligência e intelecto sem bajular Shakespeare?
E a net não chega....
Harold Bloom, diz que os livros de Shakespeare podem ser denominados de o livro do conhecimento. Há  como discordar disso? Quem  conheceu a alma e lama humana, suas paixões, seus medos, seus recalques, sua exuberância, seu profundo e raso, quanto William Shakespeare? Não se trata de um gosto literário, nem impor um autor aos demais. Se trata de constatar o óbvio. As vezes vejo artigos ou ensaios que se referem a Shakespeare como “o maior escritor Inglês”  ou “um dos maiores dramaturgos de todos os tempos”, ou merdas que se parecem com isso e que escondem uma intenção: a de mostrar-se culto e isento, dando assim maior status ao que ensaísta ou jornalista cultural, ou quem quer que seja. Fica a pergunta aos tais isentos: Se ele era o maior autor Inglês não poderia ser o melhor de todos porque a Inglaterra não é o mundo. Quem então foi maior que Shakespeare na questão literária?
Dostoievski? Gênio um pouco subestimado em nosso tempo por sua popularidade, mas foi devoto do bardo e não lhe lambe os pés.
Tólstoi? Gênio, como seu compatriota de acima, porém superestimado, ao contrário de Dostoievski. Qual de suas espetaculares obras se comparam as de Shakespeare? Nenhuma! Ana karenina consome um longo Romance para dizer imensamente menos que Rosalinda; Lady mackbet, Pórcia e várias outras.
Balzac? A prolixidade balzaquiana (atingida a maturidade literária) é aceitável e o faz um dos grandes dos literatas de todos os tempos, mas um personagem Shakespeariano de terceiro escalão humilharia “o tio Goriot” inteiro. Aliás, se for se comparar o nível dos intelectos dos personagens criados por Shakespeare com os demais autores, torna a comparação muito mais humilhante, porque qualquer personagem criado pelo bardo, pensa e tem uma linguagem superior ao um esteta de qualquer autor, de qualquer tempo.
Fiz a comparação entre romancistas e Shakespeare por ter lido mais romance que teatro, e se em outro gênero ele não tem quem lhe faça sombra, quem dirá no seu.
Não vejo nada, mas rigorosamente nada, em Freud, que não seja encontrado em Shakespeare e em linguagem simplificada. Nem vou diz. Nem vou dizer que Shakespeare foi o pai da psicologia, do auto-conhecimento, da introspecção, por razões claras: se ele não foi o criador da psicologia e afins, ninguém o fez melhor do que ele em tempo algum.
Se comparar ele com os filósofos é como empurrar bêbado de ladeira e bater em defunto. Shakespeare contém  condensação melhorada de toda a filosofia e os filósofos todos (até os gregos) não o contém.
Grandes poetas como Fernando Pessoa, Baudelaire, Camões (que não li) elevam o nível do pensamento posto em linguagem na tentativa de recriar a realidade, ou de torná-la mais suportável. Shakespeare escreveu os tais sonetos que eram ele em estado puro e metrificado, então sempre que se pensar em poesia e nos grandes poetas, esqueça-se  Shakespeare ou não o convide para a festa, ele estragaria ela com seus devastadores poemas.
Ninguém é acima ou pós Shakespeare. Ele é ainda o topo do pensamento humano. Nossa! Eu disse que não ia babar...
Goethe? Esse tinha uma linguagem próxima (não igual) e um densidade (não igual) admirável. Fausto é um livro gigantesco. Mas o personagem maior de Goethe, busca conhecimento e o de Shakespeare, distribui. justiça se lhe faça, o personagem sábio de Goethe existe, é Mefistófelis, mas sua sabedoria é disfarçada, pouco atrevida, escondida atrás do sobrenatural (ele é o diabo) Goethe foi um Gênio dentre os gênios, mas Shakespeare ainda foi superior.

A linguagem de Shakespeare era sobrenatural, seus argumentos, seus pontos de vista dos lados de uma mesma questão (vide o discurso de Brutus e a fala de Shilock) a capacidade de ver as coisas por um ângulo e por outro, as vezes vários e conseguindo convencer por todos, faz dele o maior intelecto que se pode admirar. Ainda há os que defendem a autoria de outro cara sobre as peças de Shakespeare, o que é uma tolice sem e medida dos que nunca leram nada sobre o agita-lança. E há imbecis que vão além, dizem que foi de vários autores as peças atribuídas ao bardo. Incrível! Não havia um só Shakespeare, mas um monte deles numa mesma época!
Quando digo conhecimento e intelecto não me refiro a razão,  claro. Razão você pode encontrar num analfabeto,  conhecimento é diferente der razão. Razão é uma escolha feita por quem conhece, e para conhecer há um caminho mais curto que toda uma vida, há os livros de Shakespeare.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

FELIZ ANO NOVO (DE NOVO)




Aos que são de minha afeição e aos que nem tanto; aos vascaínos e os que tem mau gosto; aos de qualquer religião e aos ateus; aos machões, aos veados e outros como eu; aos poetas, matemáticos e os que gostam do que detesto; aos que votaram em Dilma, aos de Aécio, ou não votaram em ninguém; aos que não são assassinos; aos que gostam de bicho, aos que só gostam de gatos, e aos que não o suportam mas nunca os maltratam; a todas a grávidas e a Jack Cordeiro e Luluzinha, em especial; aos dos hospitais; aos do que choram de alegria, de tristeza, a aos que não choram; aos que estão no fim, no começo ou no meio da vida, viagem ou qualquer coisa; aos que foram até o fim ou desistiram; aos fortes, aos fracos, aos nem tanto à terra nem tanto ao mar; aos que otimistas, aos que tudo acham que vai malograr; aos que sempre estão certos, aos que nunca acertam ( sei que nem um nem outro os há); aos que de noite, aos de dia, aos que trocam um pelo outro; aos envergonhados, aos desavergonhados; aos que bebem, aos que fumam, aos que vegetarianos; aos assépticos, aos sinceros; aos fingidos e tantos outros e todos outros que não infligiram dores insuportáveis e que danos que não possam suportar, vai aqui meu abraço e voto de FELIZ ANO NOVO!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

SER HOMEM

Ser macho não é o que pretendi ou pretendo ou queira um dia. Quero a doçura das mães em meus gestos com outros homens. Homens não são meus inimigos, são meus iguais. Homens são bonitos de se ver. Homens não são o  contrário de mulher. Homem é o que é. Não há que ser macho, há  que ser humano. Não se afirmar pela força; sendo frágil porque gente, sendo falho por humano. Chora o homem sem vergonha e até que o mundo lhe pese chorará. Homem que de fato é merecedor de ser pai e de ser homem sabe que a força que tem não está nos braços, está nos laços, nos que conquista pelo afeto, pelo amor, pelo abraço.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

MARILIZ E AS DESIMPORTÂNCIAS







Eu penso demais. Claro que a imensa maioria das vezes é bobagem sem importância, mas o que é a vida senão isso: desimportâncias? E menos me interessa o neologismo (essa boçalidade que o que se pretende culto inventa quando não sabe se existe em dicionário uma palavra) do que seu signo. A vida é feita de desimportâncias. A vida é feita de passar pano na casa. Quase todo dia passo pano na casa e só raramente leio Shakespeare. Francamente, muito mais útil uma casa com cheiro de desinfetante vagabundo que a leitura do bardo. Com o bardo aprendi que o conhecimento é inútil; em passar pano na casa aprendi o que já sabia: que amo minha irmã. Como boa piniqueira que sou (piniqueira não é neologismo. A palavra existe por demais e se você não conhece e por não ter vindo a Pernambuco) gosto de passar pano na casa escutando música, então: Maria Bethânia. Bethânia chama ao palco Carlos Lira, um gigante da MPB, eu lembro-me de minha querida irmã, Mariliz, que não lembra em nada bossa nova. Mariliz fez uma grande coisa na vida: xingou Carlos Lira. Carlinhos é um ícone da MPB, e isso não é pouco, isso é muito. Não é todo dia que se pode xingar um gênio, nem todo mundo pode, e dirá, um apressado, que os que xingam gênios merecem o desprezo não o afeto; concordo, mas ela tinha poucos anos de vida, era uma criança, e xingamento de criança é charmoso. Eu poderia ser ácido e dizer que minha irmã mais velha e já avó (o tempo é foda! Há trinta anos, apenas isso, ela ainda escrevia cartas para o “balão mágico” e explicava que não colocaria selo por não ter dinheiro e eu... bom, eu fazia o que sempre fiz: nada ou alguma besteira) que o gosto musical de minha irmã é ruim. Seria injusto com as palavras porque ela não tem gosto musical ruim, é péssimo mesmo.
André, meu compadre veio aqui em casa e me disse algo  sobre minha irmã que eu sentia mas não me vinha em palavras, só em idéias, como o filme do Glauber na fala de Caetano.
Ele me disse que Mariliz era muito protetora comigo, que percebia no jeito dela falar. 
Vendo Carlos Lira, lembrando que minha irmã o chamou de cachorro (ele estudava na mesma universidade que meu pai (sim, meu pai já foi amigo de Carlos Lira, que, segundo Caetano, é uma de suas maiores influências musicais) Lembrando das merdas que já fiz, consterno-me pelo seu amor, por termos devoção por nosso pai, por sermos uma família pequena e dispersa, mas que se ama e perdoa.
Chega! Senão descambo para a breguice quando posso dizer mais simples que sou agradecido pelo perdão, pelo amor, pela paciência.