domingo, 5 de outubro de 2014

FHC





Poucas vezes o refrão de estarmos em uma encruzilhada terá sido tão verdadeiro. Neste domingo os eleitores carregam para a votação o peso de uma responsabilidade histórica. E o mais grave é que, dadas as condições do debate eleitoral e as formas prevalecentes de manipulação da opinião pública, boa parte do eleitorado nem atina qual seja a bifurcação diante da qual o país está.

Em uma das mais mistificadoras campanhas dos últimos tempos, a máquina publicitária e corruptora do PT e aliados espalhou boatos de que Aécio acabaria com os programas sociais (em grande parte criados pelo próprio PSDB!) e Marina seria a expressão dos interesses dos banqueiros, tendo nas mãos, com a independência do Banco Central, a bomba atômica para devastar os interesses populares. Por mais ridículas, falsas e primárias que sejam as imagens criadas (também eram simplificadoras as imagens do regime nazista ou do estalinista para definir os “inimigos”), elas fizeram estragos no campo opositor.

A guerra de acusações descabidas escondeu o tempo todo o que a candidata à reeleição deixou claro nos últimos dias: suas distorções ideológicas. Fugindo aos scripts dos marqueteiros, que a pintam como uma risonha e bonachona mãe de família, e do PAC, a presidenta vem reafirmando arrogantemente que tudo que fez foi certo; se algo deu errado foi, como diria Brizola, por conta das “perdas internacionais”. Mais ainda, disse com convicção espantosa ser melhor dialogar com os degoladores de cabeças inocentes do que fazer-lhes a guerra, coisa que só os “bárbaros” ocidentais pensam ser necessária.

E o que é isso: socialismo? populismo? Não: capitalismo de estado, sob controle de um partido (ou do chefe do Estado). Um governo regulamentador, soberbo diante da sociedade, descrente do papel da opinião pública (“não é função da imprensa investigar”, outra pérola dita recentemente por Dilma), com apetite para cooptar o que seja necessário, desde empresários “campeões nacionais” até partidos sedentos de um lugar no coração do governo. Algo parecido com o que o lema do velho PRI mexicano expressava: fora do orçamento, não há salvação; nem para as empresas, nem para os partidos, nem para os sindicatos, para ninguém. Crony capitalism, dizem os americanos. Capitalismo para a companheirada, diríamos nós.

E sempre com certo ar de grandeza, herdado do antecessor: nunca antes como agora. Para provar os acertos, vale tudo: fazer citações sem respeito ao contexto, escamotear as contas públicas ou até mesmo, para se justificar, dizer que “nunca ninguém puniu tanto os corruptos como este governo!”. Como se as instituições de estado (Polícia Federal, Ministério Público, Tribunais etc.) fossem mera extensão dos governantes.

Criou-se um clima de ilusão e embuste usando-se uma retórica baseada no exagero e na propaganda. Será isso democracia? Estamos, pouco a pouco, apesar de mantidas as formas democráticas, afastando-nos de seu real significado. Como em alguns outros países da América Latina. Com jeitinho brasileiro, mas com iguais consequências perversas. O modo de governar(democraticamente ou não) é tão importante para mostrar as diferenças entre os partidos quanto as divergências de orientação nas políticas econômicas ou sociais.

Por mais que a propaganda petista mistifique, as políticas sociais têm o rumo definido desde a Constituição de 1988. Executadas com maior ou menor perícia por parte de quem governa, com maior ou menor disponibilidade de recursos, o caminho dessas políticas está traçado: mais e melhor educação, mais e melhor saúde, mais e melhor amparo a quem necessita (bolsas, aposentadorias etc.). Já a política econômica perdeu o rumo e destrói pouco a pouco as bases institucionais que permitiram consolidar a estabilidade e favorecer o crescimento da economia.

No conjunto de sua obra, o governo atual rompeu o equilíbrio alcançado entre estado, mercado e sociedade é dá passos na direção de um modelo à la Geisel. Tal modelo é incompatível com a democracia e com a economia moderna. Não poderão sobreviver os três ao mesmo tempo.

É este o fantasma que nos ronda. Reeleita a candidata, a assombração vira ameaça real. Ameaça à economia e ao regime político, pelo menos quanto ao modo de entender o que seja democracia. Não é preciso que nos ensinem que democracia requer inclusão social e alargamento da participação política. Esta foi a luta de meu governo, desde o primeiro dia, em condições muito mais adversas. É este governo que necessita aprender que a inclusão e a participação verdadeiramente democráticas requerem defesa vigilante das liberdades fundamentais (especialmente de imprensa), autonomia da sociedade civil, separação entre partido, governo e Estado. Como o governo mostra dificuldade em aprender, só há um caminho: votar na oposição.

Mas em qual oposição? Com o devido respeito às demais forças oposicionistas, que deverão estar juntas conosco no segundo turno, há um candidato e um partido que já demonstraram na prática que obedecem aos valores da democracia, da inclusão social e da modernização do país. Já mostraram também que sabem governar. O PSDB e seus aliados lançaram as bases sociais e econômicas do Brasil contemporâneo. Aécio é a expressão deste Brasil. Governando Minas, fez seu estado avançar (o estado tem hoje o melhor IDEB do país no ensino fundamental) e marcou sua administração por inovações na forma de estabelecer e cobrar resultados. Não foi o único governador a se destacar no período recente, mas esteve sempre entre os melhores. Meu voto, portanto, será dado a Aécio, não só por ele, mas pelo que ele representa, como uma saída para a encruzilhada em que nos encontramos.

Urzes



Marcelo Novaes


Serás Tu, Poeta, Alguém atrás
do Verso Extremo e, por tal labor
[e tanto], agora [já] extenuado?


Tenho sondado notícias tuas,
há doze vinhos.  E Tu insistes no
Extremo, ainda que a Musa te
sopre: “Impossível!”


É o Corvo de Poe no teu ombro.


E insistes, no entanto. Insistes no
Extremo.


Eu, de minha parte, tenho
experimentado o que chamo de
“declínio artístico”. Por ser
de baixa estirpe, minguante,
com a sensibilidade das
urzes.


Por, talvez, menos ligado ao
ritmo dos dias e do corpo, dos
ônibus e dos trens.


Ritmos que Tu, Poeta, conheces
Bem. Como as flautas anteriores às
noites e manhãs.


Ainda que não voe o Corvo
de Allan Poe. Ainda que a
Musa insista em seu
Refrão.


Tu, porém, não Desistes.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Ai vem o ptzinho e seus canalhas e miquinhos dizerem: FHC deixou o país com 12% de inflação e Lula deixou com 6%! Esse é o jogo do pt (sempre em minúscula) comparar sem critérios coisas diferentes no tempo com parâmetros nenhum ou com parâmetros petistas (o que é pior). Se é pra comparar inflação por quem pegou de quem e quanto deixou para quem, FHC humilha ainda mais. FHC acabou com a inflação, colocou o país nos trilhos, recuperou o crédito e o respeito internacionais, modernizou a economia, saneou o sistema bancário, criou a lei de responsabilidade fiscal, fez o Brasil que Lula se gabou de ter feito. Não é reconhecido pelos idiotas, o que é mais uma qualidade dele.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

SALMO 40






Salmo 40:


"Quanto a ti, Javé, não negues tua compaixão por mim; teu amor e tua verdade sempre irão me proteger.
13.Porque me rodeiam desgraças a não mais contar; minhas culpas me atingem, e não posso fugir; são mais que os cabelos da minha cabeça, e o meu coração me abandona.
14.Javé, vem libertar-me, por favor! Javé, vem depressa me socorrer!
15.Fiquem envergonhados e confundidos aqueles que buscam perder a minha vida! Recuem e fiquem envergonhados aqueles que tramam a minha desgraça!
16.Fiquem mudos de vergonha aqueles que se riem de mim!
17.Exultem e alegrem-se contigo, todos aqueles que te buscam! Os que amam a tua salvação repitam sempre: "Javé é grande!"
18.Quanto a mim, sou pobre e indigente, mas o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e salvação. Meu Deus, não demores!"


Minhas experiências com relação a fé nunca foram transcendentais; se dependesse disso, seria ateu. Nunca senti vertigens, nem desfalecimentos, nem visões, nem chamados, nem profecias, sequer Jesus nunca falou-me nada. Creio que nunca isso se dará. Frequento lugares onde todo mundo afirma a cada instante:"- Jesus falou ao meu coração" ou: "-Jesus me diz nesse momento" ou, ainda: "- eu profetizo". Estou lendo um livro em que uma mulher diz que Jesus mandou-o-a pintar um quadro (o exposto no blog) e disse-lhe coisas bem difíceis de ingerir. 

Naldo é um cara bem falante e desprovido de bons modos no falar. Fala pelos cotovelos e conta piadas e nada na sua figura remete ao divino, pelo contrário. Consta que foi jogador de futebol meia boca, que jogava em um time meia boca, Naldo em nada lembra um sujeito que seja portador de uma verdade ou filosofia. Sua filosofia e verdade são repetidas e já sabidas, ouvidas em todas as missas, cultos, grupos de oração e comunidades quais sejam. As vezes discordo dele, outras procuro entender e outras ainda, entendo. Alguns na comunidade criada por ele o chamam "pai Naldo", como os filhos de santo chamam os babalorixás na macumba. 
A razão de escrever isto é uma: homenageá-lo. Quer saber quem é o Naldo? Não olhe a comunidade que criou, olhe a quem ela abriga: gente esquecida e idosa; viciados e até uns que não chegaram a tanto, mas se lá chegaram, chegaram aos prantos.
Quer saber quem é Naldo, além de ex raparigueiro, ex-jogador e ex-beberrão, vá comprar lanche quando não há ninguém comprando e observe com que tom de voz os que moram na comunidade se referem a ele. Mas quem quer saber quem é Naldo, veja a mulher dele falando do cara: mas babando que falando, amando um com quem acorda há anos.

Na comunidade tem uma senhora gentil, uma voz que mais que canta, mais que discerne notas e as coloca com a voz no tempo certo aos instrumentos, mais que qualquer predicado como cantora (os tem, e os usa muito bem) tem paz na voz, carinho no olhar, bondade. Adilma Batista.

Na comunidade tem um rapaz e uma menina que me ouviram e tiveram paciência comigo e mais ainda, foram amorosos. 

A comunidade é um lugar lindo, que rejuvenesce a fé. Estive lá ontem. Deus abençoe a todos e os mantenha como são.

domingo, 7 de setembro de 2014

VOCÊ, EU E CABRAL.




Estávamos em Recife. Meu celular é vagabundo, meu relógio é meia boca. Ela tinha um relógio bom e uma bolsa talvez cara. Fomos à rua da aurora, sentamos no banco onde tem a estátua do poeta, eu do lado dele e pegado em sua mão; ela escutando eu citar (de maneira canhestra) alguns trechos do poeta. Ela não ligava pro poeta do qual eu falava, mas gostou de me ver babar e de como eu amo aquele rio, aquele poeta, e ilusão de tudo ser bonito. Fomos ao cinema que ia quando adolescente e que pensara não existir como cinema, apenas como prédio fantasma como quase todos os do centro de Recife. Mas havia filme em exibição. Um filme Frances que deve ser bom pelo que ela me contou, não por ser europeu. Entramos no cinema o filme já começado e eu "travado", de modo que ficamos na última fila porque a luz estava apagada e não é uma coisa recomendável se andar no escuro, com mal de parkinson, travado e com uma infinidade de poltronas à frente. Sendo cegueta e com fluência nem em português, tive que ler legendas brancas que se fossem verde-limão já seriam ruins de ver, brancas era quase impossíveis. Só as via quando o fundo era preto e nem assim com total nitidez. A acústica do cinema é o reflexo do que o cinema americano fez com a ideia do que seja cinema: um festival de explosões. Não falo de tiros, mas de uma simples "bolada" na cara de um menino parecer uma explosão nuclear.
Depois jantamos e dormimos, se é que se pode chamar de janta um sanduíche cheio de coisas para enfartar. Ela não queria enfartar, não comeu o sanduíche. Havia comido uma sopa antes que não era ruim de tudo. Me perguntou se eu gostava de sushis e coisas assim, mas mantive a calma, apenas lhe informei que não era veado pra gostar de comida oriental. Não sei se disse exatamente isso.
Foi um dia de sonho, adorei amiga. Adorei teu zelo comigo e tua severidade para com meus desatinos e carinho para o resto de mim que não fosse maluco. 
Do suco de acerola (que detesto e deixei todo) da cadeira que nos massageou, da outra cadeira que também não nos massageou e apesar de você disser que um sucuri comeria um tigre siberiano e me negar que eu fosse um, foi tudo perfeito, poético, juvenil e mágico. Como você viu sou um homem diferente, especial: jogo roupas no chão; acho que você dirige pessimamente, embora nunca tenha te visto dirigir; falo palavrão o tempo todo; nunca estou errado; enfim sou o tipo de homem raro. Mas me preocupei com seu frio e te aqueci com carinho. Vou ver se tem no youtube sucuris que batam em tigre siberianos. Sei que é improvável. Anacondas só existem no Brasil e tigres siberianos (que você nem sabia que eram siberianos, os chamou de albino) só devem existir na Sibéria.
Quando você viajar por vinte dias ou quantos forem, volte. Voltaremos a estátua, ao cinema, aos banhos frios. Agora você já sabe que sou doentinho, mas não bobinho. Viu minhas cicatrizes no peito (eu disse que eram lindas e você viu que eram) mas não arranque as baterias do meu peito. 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014


O que me dá força é algo de dentro e é tão profundo que onde você ruiria, eu fomento. É algo que chega com um novo dia e as vezes nem isso. É força, querida; sabe o que isso?
Minha coragem você não tem. Nunca teria. Então não me venha com seus "ajustes". Fique longe. A quem recorro não é Maria, Maria apenas. Há outras mil igrejas e nelas Deus está em todas.



SOU UM CÃO DE RAÇA AMESTRADO QUE FAZ DE TUDO, MEU BEM, MAS QUE AS VEZES É MAU DOMADO E NÃO PERDOA NINGUÉM.

MEUS FANTASMAS



Quem me leva os meus fantasmas?  
Quem estanca essa sangria?
Quem pode o abraço de meu pai?
Quanto dura isso?
Alguém pediu tamanha dor ao  pior inimigo?
Tem noite quem não sangre?
Eu quero uma pausa, um calma, uma causa.
Que me acarinhem, não aguento mais chicotada!
preciso do riso de volta, de estrangular essa dor, ou esgaçar até faltar ar.
Quem me pode acusar? 
Com que razão o fazem?
Eu posso viver o oco e o mundo não me interessa, mas o abraço de meu pai...
É como se morrer toda hora, se descobrir a cada dia uma agonia. 
Viver sem os gritos dele é não viver como pessoa. É viver como bicho, por instinto, por estado.
Eu canto  o canto torpe e desesperado, dos que sentem a dor latente e doida, de quem vê o dia sem graça, que dormindo descansa.
E isso não tem tempo que resolva. Essa coisa comendo por dentro. O câncer da alma. O câncer do câncer. 
Um doer de muitos séculos dentro de uns poucos meses.
O medo de não poder discutir com ele, de nunca mais sermos pai e filho. Isso era tão natural, tão de graça...
Hoje custa, caro perdi por minha causa, por minha culpa.
E agora resta o chorar quase que sempre que houver algo que lembre um pai.