domingo, 7 de setembro de 2014

VOCÊ, EU E CABRAL.




Estávamos em Recife. Meu celular é vagabundo, meu relógio é meia boca. Ela tinha um relógio bom e uma bolsa talvez cara. Fomos à rua da aurora, sentamos no banco onde tem a estátua do poeta, eu do lado dele e pegado em sua mão; ela escutando eu citar (de maneira canhestra) alguns trechos do poeta. Ela não ligava pro poeta do qual eu falava, mas gostou de me ver babar e de como eu amo aquele rio, aquele poeta, e ilusão de tudo ser bonito. Fomos ao cinema que ia quando adolescente e que pensara não existir como cinema, apenas como prédio fantasma como quase todos os do centro de Recife. Mas havia filme em exibição. Um filme Frances que deve ser bom pelo que ela me contou, não por ser europeu. Entramos no cinema o filme já começado e eu "travado", de modo que ficamos na última fila porque a luz estava apagada e não é uma coisa recomendável se andar no escuro, com mal de parkinson, travado e com uma infinidade de poltronas à frente. Sendo cegueta e com fluência nem em português, tive que ler legendas brancas que se fossem verde-limão já seriam ruins de ver, brancas era quase impossíveis. Só as via quando o fundo era preto e nem assim com total nitidez. A acústica do cinema é o reflexo do que o cinema americano fez com a ideia do que seja cinema: um festival de explosões. Não falo de tiros, mas de uma simples "bolada" na cara de um menino parecer uma explosão nuclear.
Depois jantamos e dormimos, se é que se pode chamar de janta um sanduíche cheio de coisas para enfartar. Ela não queria enfartar, não comeu o sanduíche. Havia comido uma sopa antes que não era ruim de tudo. Me perguntou se eu gostava de sushis e coisas assim, mas mantive a calma, apenas lhe informei que não era veado pra gostar de comida oriental. Não sei se disse exatamente isso.
Foi um dia de sonho, adorei amiga. Adorei teu zelo comigo e tua severidade para com meus desatinos e carinho para o resto de mim que não fosse maluco. 
Do suco de acerola (que detesto e deixei todo) da cadeira que nos massageou, da outra cadeira que também não nos massageou e apesar de você disser que um sucuri comeria um tigre siberiano e me negar que eu fosse um, foi tudo perfeito, poético, juvenil e mágico. Como você viu sou um homem diferente, especial: jogo roupas no chão; acho que você dirige pessimamente, embora nunca tenha te visto dirigir; falo palavrão o tempo todo; nunca estou errado; enfim sou o tipo de homem raro. Mas me preocupei com seu frio e te aqueci com carinho. Vou ver se tem no youtube sucuris que batam em tigre siberianos. Sei que é improvável. Anacondas só existem no Brasil e tigres siberianos (que você nem sabia que eram siberianos, os chamou de albino) só devem existir na Sibéria.
Quando você viajar por vinte dias ou quantos forem, volte. Voltaremos a estátua, ao cinema, aos banhos frios. Agora você já sabe que sou doentinho, mas não bobinho. Viu minhas cicatrizes no peito (eu disse que eram lindas e você viu que eram) mas não arranque as baterias do meu peito. 

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