quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

POETAS

Eu me abrigo no mundo dos poetas. Não é o real, não é como se deve viver. Mas o que escolhi. Tem um poema de João Cabral de Melo Neto chamado “A tartaruga de Marselha.”, nele, Cabral descreve um suicídio não acontecido por causa de uma tartaruga, ou melhor: por amor a uma tartaruga. O Cara vai se matar, não tá nem ai pra si mesmo mas preserva o amor por sua tartaruga. Esse é o mundo de Cabral, o meu, o de meu pai. Não é o do cara que matou o filho. No mundo dos que desesperam os poetas tudo pode. No mundo dos poetas (não que sejamos santos, não que sejamos nada) não cabe o assassinato. Um poeta pode suicidar-se e não é menos poeta por isso. Dispor de sua vida é da conta de quem dispôs. Matar é perder o sentido do bom, da vida, da poesia.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

LULUZINHA, PARABÉNS!

Ai é onde discordo de Shakespeare. Costumo não divergir do bardo, mas hoje é 17 de fevereiro, e Lu completa mais um aninho. Hamlet diz que um homem não é dono de nada que não possa levar consigo. É sim. O que você leva consigo que não te despojará a morte? Shakespeare não sei, eu levo comigo as minhas coisas queridas. E não venham os que me querem razão dizer: você estará morto! Eu acredito em Cristo. Hoje é 17 de fevereiro, não lembrava que Lu fazia aniversário. Eu devo muito a ela. Eu amo muito amiga querida. Hoje Pedro deve -a mando do pai- ter lhe desejado feliz aniversário. Pedro é uma criança, ele não sabe da vida, aprenderá. Ele saberá que o fato dele existir já faz uma impossibilidade um aniversário triste de Lu. Eu não lmebrava o dia, e daí? Lembro de teu carinho, bondade, respeito. Lembro do dia em que me levou a igreja e de nossas noites ao pc, tu chorando de lá e eu de cá. Lembro do que tenho que lembrar, que você é uma luz que não cessa de brilhar. Que você me deu coragem, e aumentou minha fé. Que preciso andar com Deus pra poder me esfriar. Lembro que teu ensino me ajudou a entender que o esperar em Deus é melhor do que o nosso querer. Luluzinha professora. Que Deus te abençoe, que teu filho seja tudo o que você é. Se ele te desejou felçiz aniversário sem saber que ele estando não poderia alegre não ser, é porque não viu tua dor, e o troféu que ganhou da vida. Sim, Pedro é um troféu pra você, sua amizade é um troféu pra mim. Beijos no coração , desse poeta meia boca, desse amigo, teu irmão.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

NO NATAL

Do que será feito um homem não sei. Sei o que não importa no homem: sua opinião. A opinião de um homem não deve constar dos autos de seu processo. Sendo ele de direita ou esquerda; Ateu ou beato; para qual time torça, o que vale no homem é o sonho e a modulação de voz quando te fala em um natal e te dá parabéns pela sua melhora e o diz com voz real, de dentro. Com um timbre que não deixa dúvida sobre sua sinceridade. Entendo como se pode amar um homem pelo que ele te diz de comum se ao te dizer ele chega ao sincero. Este natal me fez bem. Não por ver a lua vermelha (como na música de Carlinhos cantada por Bethânia, e que eu jurava não existir para além da voz). Não por Petrúcio Amorim tocar ao violão e a meu pedido a música que ele compôs que é meu pai em carne e nervos. Tudo isso já foi demasiado iluminado, mas teve um petista que me deixou enternecido. Nunca meça um homem por sua opinião sobre nada, meça-o depois de algum tempo sem vê-lo e depois de ter feito uma cirurgia, como ele te felicita por sua melhora. Depois da festa ele foi dormir com suas opiniões que não são as minhas, mas para que diabos seriam?

sábado, 7 de dezembro de 2013

A BELEZA DE CAETANO, A VIDA E SEU FIM

Uma amiga recente e virtual me perguntou se eu só gostava de mulheres. Perguntou pelo fato de eu ter postado uma foto de Caetano e tê-lo chamado de lindo. Claro que a pergunta não era essa, o que ela queria saber é se sou bicha ou se corto para dois lados (expressão antiga, idiota, mas que diz bem o que se quer dizer com um eufemismo esdrúxulo) ou sei lá o que. Respondi que não era gay e pronto, não disse mais nada. Por isso, e tão somente por isso, tenho certeza que ela acha que sou. Porque não disse que era macho. Sou homem e heterosexual, macho (no sentido que se dá a esta palavra) definitivamente, não sou. Fui ao velório de um amigo ontem. Ele tinha 27 anos. Diante do caixão me vieram as elucubrações mais comuns que se possam ter sobre vida e morte, sobre amor e filhos, sobre Deus existir ou não. Tudo me pareceu claro, pena que não sei explicar. Não era amigo íntimo mas era amigo. A vida é uma coisa que cada vez se explica mais e cada vez menos entendo. Me resta a foto do Caetano, me resta o mar. Me resta o Caetano no mar. Me resta o poema de João Cabral e não tentar entender o mundo nem a vida ou a morte. Meu campo de ação é quase inexistente, meu tempo é rápido e não sei se vai acabar amanhã. Gosto de homens sim, mas dos que façam por merecer. Não quero ser macho, quero ser gente.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

PRECE

Sou como todo mundo, preciso da proteção de Deus. Mas não pra tudo. Para nada que eu possa fazer só e com meus medos e fraquezas. Peço a Deus que não deixe nada me tirar força. Peço a Deus o que eu não posso só, por isso não é muita coisa, portanto é só força para que a força não cesse. Eu peço a Deus que eu não perca a fé nas coisas da poesia. Que eu siga até o dia que me cabe, sabendo que não me cabe mais do que a um homem pode caber: sonhar em ser feliz e morrer. Que nunca me livre de encontrar com o pior dos homens, o espelho. Que não me livre de sofrer. Me livre de sair sem vida do sofrimento. Não há morte maior que perder o amor pela vida à guiça de tornar-se sábio. Eu não quero a sapiência senão como ser sábio o tanto que me baste para eu não acreditar em sábios. Que Deus não me livre de mim ou me livre do lado escuro que trago desde bebê. Que Deus me livre de não saber admirar, da mesquinhez, do que penso e como ajo, do que eu mesmo renego embora tenha, como doente que rejeita a sua doença sem atinar que ela lhe pertence, que é sua. Que eu não peça a Deus o que carece só minha covardia, ilusão ou ambição. Peça instrumentos não a coisa lapidada, a coisa limpa, acabada. Que eu saiba com precisão o valor e medida das coisas.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

EU, POR EXEMPLO.







Quando vejo essa mania de não sofrer, de felicidade total e perene, penso que tolice é não saber que dor e sofrimento é que nos levam adiante. Desconfiando que as grandes verdades da vida são breguices como as de acima, sigo adiante. Só o perfeito idiota é perenemente feliz. E feliz por essa razão única: por ser um idiota. Há uma coisa que nunca me convenceu nessa coisa de felicidade eterna e sem ameaças. É que  a felicidade assim só existe em novela, no último capítulo. E o outro dia? como fica? na novela todo o tempo é desarmonia, por qual misteriosa razão não voltarão as rinhas, desencontros?

Quer saber o que é lindo na tristeza? a poesia que vem dela pelos poetas eruditos ou vagabundos. Então escute Cartola, leia Fernando Pessoa, e olhe a madrugada vazia e pense que a vida é finita. Repare na beleza de ser triste. De saber ser triste quando houver tristeza, e chore. Abaixe a cabeça e chore. É digno o choro. E continue por uns bons momentos carpindo e curtindo tua dor. Mas que seja triste a tua dor não medíocre e autopiedosa. Chore por amores passados, os que não teve e pela distância de quem ama, de um momento que nunca voltará, e derrame uma lágrima ou mil. Dor é preciso. Mas lembre que tudo é lindo e foi te dado de presente. Que você veio, outros vieram. Você irá e os que são crianças também. 

No chorar há uma verdade tão profunda quanto na gargalhada. A felicidade não existe no futuro, existe agora. hoje. Escute um velho samba. Nelson Cavaquinho, Cartola ou o Caetano. Chora um pouco, não lamenta e vem pra vida. Vem pra vida que arde e regenera. E se você adoecer jovem ainda, releve, viva feliz por ser o que é e quem é. E se os dardos do tempo te ferirem, faça como eu, contemple suas cicatrizes. Se tiver de reabri-las, faça isso. Nada de querer me citar como exemplo. Sou uma bosta. Um merda presunçoso e mal. Mas tenho força pra seguir sempre. E vou. 

Sou feliz. Não é nada de contradição ou coisa que o valha. Sou feliz porque aprendi a amar minhas cicatrizes. Abri-las de novo e fechá-las. Depois olhá-las com mais ternura. Não pedi a vida que me desse as cicatrizes que não recomendo a ninguém. Mas aprendi a amar as cicatrizes como um livro de verdades e ensinamentos.  
Eu tenho cicatrizes e sonhos.  Eu tenho um filho adorado. Eu tenho meia dúzia de pessoas que me amam. Eu tenho os poetas todos. Eu tenho as madrugadas. Eu tenho meu bom humor. Eu tenho disposição para ir adiante. Eu tenho fé em Cristo. Eu tenho o que aprendi com ela (isso não é pouco, isso é muito) tenho meu tempo para gastar. Tenho o que me basta. Amo o que tenho. Amo!

terça-feira, 12 de novembro de 2013

SOU, AINDA E SEMPRE, A ALEGRIA.

Eu vejo no homem feliz e velho uma força estupenda. Eu vejo na dor que vai em frente, que não se apieda de si, uma beleza. Eu gosto de belezas e gosto de falar delas. Minhas belezas particulares. Belezas só minhas. Eu as guardo. Eu as contemplo, acarinho-as com olhos. Tenho feiuras e não as nego. Cuido que o tempo as vai remediar ou levar-lhes consigo. Mas canto alto a poesia que há na dor de cada dia, que na interior da gente e que se quer soltar, ganhar vida, expandir, espoucar, eclodir, vir à tona, aparecer. A alegria que é, deve ser, a única razão de viver. Se come para ser feliz, se vive para ser feliz, se corta o cabelo para isto: ser feliz!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

NUNCA PROCURE AJUDA EM LIVROS

Eu não sou injusto. Reconheço que há coisas piores que música evangélica, Augusto Cury e televisão. Muitas coisas. É que não me lembro de agora. Uma guerra nuclear é pior do que Aline Barros. A morte é pior que ler Augusto Cury, e o inferno... o inferno é assistir ao faustão entrevistando o Augusto Cury e com fundo musical de Aline Barros. Alguém objetará: Nenhum inferno pode ser tão infernal! O cara me recomendou os livros de Augusto Cury. Disse-os muito bons e leu alguns trechos para mim. Eu escutei com todo tédio do mundo mas torcendo para não ser tão ruim quanto eles são. Fiz considerações descaradas sobre os textos, mantendo um mínimo de dignidade, eu disse: não gosto desse tipo de livro. Menti. Não gosto de livros por gêneros. Sendo bom ele pode pertencer a qualquer gênero, seguir a qualquer crença, ou pregar. Nunca concordei com Nietszche, nunca vou concordar. Li um livro de padre Fabio De Melo ( que não cansa de ser lindo, que não cessa de ser belo, nos dois sentidos: físico e espiritual. Aliás, a beleza do Fabio sempre me encantou e me deixou e deixa, perplexo. Como ele é superior a mim! tivesse a beleza dele eu estaria ocupado demais comigo. Ele pode comer todo mundo- céus!- que nojo! e não come ninguém. Em tempo: o " que nojo!" é pelo meu pensamento nojento. Eu já nem sei que diabos eu ia dizer, mas lembro. Se tem coisa boa que tenho é memória. lembrei! li dois livros do padre Fabio, um gostei bastante, o outro era um lixo. O bom é quando ele contou experiências de ser humano. Como é feio o ser humano! mas deixa de ser se assume que é. Não sei se sou claro. Os livros Augusto, que nunca vou ler, são a colocação de suas palestras postas em livros pra vender pra quem não quer ler Shakespeare e quer se enganar com historietas de sonhos e vitórias. Eu vi uma palestra do cara no you tube. O cara é medonho. A platéia embevecida babava e ele falando uma abobrinha depois de outra. O título da palestra diz tudo: controle suas emoções. Que coisa! Só um idiota pode acreditar nisso. Vendo ele falar eu pensei: eis uma mistura de santo com gênio. Diante de um acontecimento emotivo com o inesperado a lhe fazer companhia, esse ser superior, esta divindade o que faz? controla suas emoções. É um ser superior. Não é como eu. Claro que não. Em um engarrafamento no centro de Recife com o sol de derreter o que for a ele suscetível, esse homem simplesmente controlaria as emoções. Diante de uma final entre Brasil e Argentina, com todo entorno que o jogo provoca, ficar tenso e torcer é para os humanos, os fracos. Augusto Cury, que um sábio, apenas controla as emoções. Penso que quem fala em controlar as emoções nunca as teve com intensidade. Se as teve por qual motivo as quereria controlar? A vida é foda. Tudo é foda e faz chorar ou rir. Eu morro rindo ou chorando e isso não quero mudar. Ao que ele diz: controle as emoções, eu digo: solte-as, não simule mas não esconda. Aos que acham que a vida é a que Augusto Cury diz que é, eu digo: a vida é dor e perda, nunca foi felicidade. Quem aprende isso vira poeta e tenta a sorte, e quando não dá se vira no azar.

sábado, 14 de setembro de 2013

O HOMEM E OS SELOS




Isso não é um poema. Não preciso avisar, mas aviso. Eu nunca escrevo poemas. Não por não gostar ou preferir não escrever. Não escrevo poemas por não ser possível a mim fazê-lo. Simples assim. Eu escrevo. Eu tenho coisas comigo que as guardo como se guarda uma boneca. Eu aprendi que as meninas guardam bonecas por razões respeitáveis. Tão respeitáveis quanto os homens colecionam selos. E nunca se deve questionar ou menosprezar o homem que coleciona selos. O homem coleciona selos e decepções. Selos e medos. Selos e dores recalcadas. O homem coleciona carros e mulheres. O homem vai à igreja, morre. O homem é vazio. Somos vazios. Isso não é criticar a nós, a mim, ou nada que remeta a isso. Isso é constatar um fato. O homem mata, morre, nada justifica matar. Mas os homens colecionam. Guardam para si coisas que os façam achar que durarão muito ou que são importantes para om tempo. Quando menos, se sentem amparados como crianças aos pais. Como seus pais estão mortos ou já não cabe seu colo, eles colecionam selos. Alguns colecionam mortos, outros colecionam outros. Mas se resume a isso: colecionar. O homem vai a um lugar, no caminho cai de uma moto, ou tem uma parada cardíaca, ou qualquer coisa que o mate, acabou. O sonho do homem é mais duro que o de um cão. O homem tem de colecionar sem perguntar pelo sentido de agir assim.  Em que haveria de melhorar sua vida se descobrisse o que é a verdade última das coisas? O homem vai à igreja. Procura Jesus Cristo. Procura quem o liberte de si mesmo. Mas o homem não quer deixar de lado sua coleção de selos. Quer a verdade, o caminho e a vida, sem que estas coisas atrapalhem suas coleções. Ainda vaga na noite e vê crianças com frio nas calçadas. Ele olha, passa adiante e pensa na coleção de selos. Mas pensa: melhor não pensar nisso.  Não pensando ele resguarda os selos. Já passa o tempo. Ele vai ao hospital prolongar sua vida por mais uns parcos anos. Mas ainda tem os selos guardados. Ele não quer perder os selos quando já perdeu o vigor, parentes, cabelos, e as luzes da juventude. Está velho o homem. Estrada acabada. O homem vai fechar os olhos pela última vez, dar seu último olhar pra noite, sua última dor sentida. Os selos não morrem. Os selos voam ao vento. Os selos não são nada, como aquele homem morto.