sábado, 23 de julho de 2011

MARCELO NOVAES

MARCELO NOVAES É UM GRANDE POETA. QUE SÓ PERCEBAM ISSO EM ANOS, OU NUNCA. ISSO NÃO MUDA NADA. O QUE É BOM E NÃO PERCEBEMOS, PERMANECE BOM, AINDA SE NÃO O VEMOS.

 

 

 

 

 

Jade















Há vezes [talvez umas
poucas] em que o nome
soa como se pedra fora
[e soa o nome como se
fora pedra] e tudo isso
assim distante, muito
embora.


Algo [ou coisa aquela] que
não se toca [porque não-ali,
ou porque não se atrevera],
senão em queda lenta [ou
pouco após, logo em
seguida], quando se
divisa, antes da lama,
toda a vida.


E há tempo suficiente nisso
tudo [no cair-demorado] para
tanto, quando até se antecipa
[ou se recorda, não sei ao certo]
o nome que não existia, ainda.


Estava atrás, ou acima.


Esfolam-se as mãos, rasga-se
a camisa, e tudo se passa em
retrospecto [ou inusitada pros
-pecção], alguns minutos antes
de descobrir o nome em sua
própria voz e em seu tom
exato.


[Em seu exato tom].


Serão dias para recordar
[enquanto os dedos saram]
do nome duro ali à espera.


[O que serve de consolo].

sábado, 9 de julho de 2011

AOS 36...

Um homem, por vil que seja, por menor que alcance o horizonte de sua fé ou olhar.
Por menos que consiga compreender ou intuir algo da verdade dele e do mundo, não tudo, uma parte. Por  mais simplória que seja sua natureza, é o homem ainda. Ainda que mais não seja.
Mesmo matando outro, mesmo mentindo, mesmo roubando, traindo, fazendo o que seja. Por qual motivo o faça: seja por mulher, seja por cachaça. É homem.
Chorando, dominado por vontades femininas, jogos de azar, bebida ou cocaína. Doente, brocha, doido, sujo, sendo veado, ateu, errante, tirano, esquerdista. É homem.
O homem deixa de ser homem e se torna bestial, inumano, anormal, quando seu gosto ou gesto vem sem paixão. Erra ou acerta sem vibrar, sem doer nem chorar. Não morre de madrugada.

EU MORRO TODA A MADRUGADA.
Toda madrugada vem minha febre. Ela me queima e mostra as razões de ter aguentado tanto, de estar feliz e vivo. Vivaz, essa é a palavra. Vivos todos estão. Vivazes poucos o são. Se você me pergunta o porque de minha felicidade ser relacionada a lágrimas e dores, fico com peninha de ti. Porque não sabe da vida. Não sabe de nada.
Com que instrumento emocional poderia reagir ao ver meu pai me cobrindo, meu filho dormindo, o rio fluindo, a noite esfriando, o vasco perdendo, o vasco ganhando, as minhas amigas, os meus 36 anos, com lágrimas ou riso, sorrindo ou chorando?
Onde cabe o riso na mãe que embala o filho, nos sonhos realizados, nas conquistas, no que conseguimos à custa de suor, ou sonho trabalhado?
A lágrima é o que tenho para dar de mim. Quer rir comigo?
Fique aqui, sou bem humorado. Mas fuja de minhas lágrimas. Fuja delas. Porque são minhas e caem de madrugada. Quase todas, quase certas. Eu ainda me embeveço com elas, me apaixono cada vez que choro, imagine você.
Você pode me odiar, não poder querer me ver um dia, mas de minhas madrugadas não vividas por ti, só esquece morta, só esquece se depois da morte não houver vida. Quando meu branco ressona com um jeito de anjo dormindo, olho para ele e penso que deve haver um limite entre o real e a poesia. limite que não respeito.

E por não respeitar limites trombo muito pela vida. Vida que impôs um limite extremo, limite de mim mesmo.

domingo, 26 de junho de 2011

PARABÉNS!







Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo


Roberto Carlos

Composição: Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Esses seus cabelos brancos, bonitos, esse olhar cansado, profundo

Me dizendo coisas, num grito, me ensinando tanto do mundo...

E esses passos lentos, de agora, caminhando sempre comigo,

Já correram tanto na vida,

Meu querido, meu velho, meu amigo

Sua vida cheia de histórias e essas rugas marcadas pelo tempo,

Lembranças de antigas vitórias ou lágrimas choradas, ao vento...

Sua voz macia me acalma e me diz muito mais do que eu digo

Me calando fundo na alma

Meu querido, meu velho, meu amigo

Seu passado vive presente nas experiências

Contidas nesse coração, consciente da beleza das coisas da vida.

Seu sorriso franco me anima, seu conselho certo me ensina,

Beijo suas mãos e lhe digo

Meu querido, meu velho, meu amigo

Eu já lhe falei de tudo,

Mas tudo isso é pouco

Diante do que sinto...

Olhando seus cabelos, tão bonitos,

Beijo suas mãos e digo

Meu querido, meu velho, meu amigo

quinta-feira, 9 de junho de 2011

É CAMPEÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!




Ninguém deixa de ser o que é, nem por força de querer, nem por beijo de mulher. Nem por coisa arrumada, nem contrato ou palavra.
Ninguém será o que não é. Pode se fazer confundir, se enganar, se excluir de si. Mas tomate não é só por ser vermelho. Como a lua não é só por ser branca, nem a noite por escura.
Ontem sentei no sofá com meu filho, para ver o Vasco campeão.  Meu filho nunca viu o Vasco ser campeão. O Vasco foi.
Não há muito o que falar, não. Há de olhar para Roberto dinamite, e ver que ele está a cara de meu pai. Há de eu dizer que nos cinco minutos finais quase tive um infarto. Há de saber você, seja quem você for, que o Vasco é o time que se orgulha de ser o time da virada, o time do amor. Era só mais um time campeão, certo?
Não!
FOI O VASCO!


SOMOS CAMPEÕES.

NÃO FUJO DE MIM NEM QUERO SER O QUE NÃO SOU. SOU VASCAÍNO, MEU BEM, SOU DO TIME DO AMOR.

sábado, 4 de junho de 2011

OS COVARDES


Me enchi de você, de sua pouca bossa, de seu tédio, de sua fossa.
Cansei da mesma cantilena e de seu nome de uma só sílaba.
Me enche e me enfada tua retórica, teus padres, teus conselhos.
Tua fé sem questionar, como um idiota que crê. Um retardado da fé.
Quando você lembrar de mim, e isso se dará, você sabe que sim, terá uma miríade de coisas que não fez. Deliciosas e que seria fácil de te dar.
Quando teu tempo passar (e ele passa, sempre e frio) será lamento, não só por mim, claro. É que os covardes sempre lamentam o tempo.
Os covardes sempre agonizam supostas mortes, sempre são perdedores ainda que vençam. Porque os covardes nunca vencem. Sabem que foi o acaso quem os colocou onde estão. Tem o riso amarelo do atleta que ganhou dopado.

O covarde é de quem se diz: o que lhe falta? Tem tudo.
O covarde não tem nada. Falta-lhe a disposição do risco, do medo, de ir pra o inferno.
Se aqueça na sua fé, no seu berço, no seu empregado, em quem nasceu pra te cultuar.
Mas quando chegar a hora em que ferver o sangue, em que é difícil me negar, não me encha o saco, nem tente esvaziar.
Então está  ai, está dito.
O que achei em você qualquer uma pode dar, porque todas tem gemidos, todas são assim.
Mais na tua lembrança, de onde você não sai, nem foge, estarei como um sentimento de um planeta engolido por um buraco negro. Ou de um morto olhando o corpo de que foi extirpado:
Sente a morte em sua forma mais cruel, mais medonha e assustadora, a de ter consciência de si mesma, a de saber-se morto.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O QUE FHC FEZ.


Todo mundo que afeta conhecimento em computadores, sobretudo hackers de prorat, gostam de propalar a superioridade do Linux sobre o Windows. Chamam o sistema operacional da Microsoft pejorativamente de Ruindows. Eu uso o Windows, admiro o Gates, e nunca me interessei pelo Linux. Aquela coisa meio socialista do Linux me enoja. O altruísmo dos irmãos me parece coisa de petista. Mas há quem odeie o Gates, os states, e exaltem o desprendimento dos irmãos e superioridade do sistema operacional deles. Esses são do PT.
Uma amiga minha me perguntou o que Fernando Henrique Cardoso havia feito. Essa amiga (ou ex) desconhece política, filosofia e religião, mas acha que entende de tudo. Vamos lá, amiguinha, vamos lá.
Em  1993, FHC foi convidado para  o ministério da fazenda do governo Itamar Franco, que tomara posse devido a renúncia de Fernando Collor De Melo (foi renúncia, não houve impedimento) , o governo estava perdido, Itamar não poderia ser síndico de um prédio de dois andares, viu-se presidente da república. Naquela época havia uma inflação que acabava o salário do pobre e o sonho do Brasil de sair do lixo que sempre foi.
Como era na época? Segue um trecho de uma reportagem da revista VEJA (a única que não tem empréstimos no BNDS e não recebe verbas do governo, e que portanto, virou mídia golpista). Leia, amiga. Por favor, leia e reflita.


               

BRASIL
A última chance de Itamar
26 de maio de 1993

Ao escolher Fernando Henrique, o presidente coloca o governo nos eixos

Não adianta Iamentar os oito meses e quatro substituições no Ministério da Fazenda. Perdeu-se um tempo precioso enquanto a inflação prosseguia sua desembestada carreira e a crise se aprofundava. A sucessão de desastres é responsabilidade total, única e exclusiva do presidente da República. Itamar Franco escolheu ministros fracos e os enfraqueceu ainda mais. Atritou-se com Gustavo Krause, deixou que Paulo Haddad o enganasse e negou apoio a Eliseu Resende quando a credibilidade do ministro se erodia. É de Itamar Franco, igualmente, a responsabilidade total, única e absoluta por ter dado a grande tacada. Aquela que pode fazer com que o Brasil, depois de ter atingido o fundo do poço em matéria de desgoverno, se recupere e prospere. Ao colocar Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, o presidente fez a melhor escolha possível.

O professor Fernando Henrique Cardoso faz a aposta da sua vida, enquanto o engenheiro Itamar Franco joga a sua última cartada. Se vencer a inflação e der estabilidade à economia, o ex-chanceler terá condição de surgir como um presidenciável imbatível. E Itamar Franco entrará para a História como o presidente que assumiu o poder em condições dificílimas e mesmo assim conseguiu colocar o país nos trilhos e fez o sucessor. Se fracassarem, não se assistirá apenas ao esboroamento dos sonhos de dois políticos, que passarão o resto de suas vidas culpando um ao outro pela débâcle. Se fracassarem, pobre Brasil.


Pois bem, amiga. A VEJA foi brilhante. Só um maldito esquerdista não se arrepia com um texto desses. Isso é o testemunho vivo do que era o Brasil sem FHC e o que veio a ser depois.
Havia neste país uma inflação sem fim.
13.342.346.717.617,70%
Ou
Treze trilhões trezentos e quarenta e seis bilhões  trezentos e quarenta e seis milhões setecentos e dezessete mil  seiscentos e dezessete e setenta por cento.
Essa foi a inflação nos 15 anos anteriores a plano real.
206%
Essa foi a inflação depois do plano.
A inflação brasileira era considerada na época como uma característica nacional, algo inerente ao ser-se brasileiro. Ninguém poderia vencê-la. Quando FHC apareceu com o plano real todos mundo ficou receoso, afinal era mais um entre todos os planos, e como os outros, fadado ao fracasso.
Veio o ministro, montou a equipe de técnicos, finalmente o fim da inflação veio. Para os retardados da esquerda, que querem dar a autoria do plano real a Itamar Franco, basta dizer que o plano real, em seus primórdios, se chamava PLANO FHC.
A inflação impedia o crescimento, gerava uma massa de miseráveis, era um câncer. Se você pega uma pessoa debilitada pelo câncer, a primeira coisa a fazer é tentar curá-la para depois reabilitá-la. Só que curar o câncer não foi fácil.  Se só tivesse feito isso, só isso, nada além disso, FHC era para ser respeitado como um vulto. Mas não foi “APENAS” isso.
Fernando Henrique Cardoso reformou o estado, vendeu empresas estatais ineficientes. Criou um orçamento real,  criou a lei de responsabilidade fiscal (um avanço sem precedentes) , o fundef, os programas de redistribuição de renda (copiados pelo PT)  trouxe o Brasil ao mundo econômico.
Como seria o governo Lula sem FHC ter passado por lá?
"A esquerda não leu o que escrevi há trinta anos e, como acha que eu pensava naquela época as besteiras que ela pensa hoje, confunde as coisas e conclui que esqueci o que escrevi."

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

É impressionante o número de cretinos no Brasil. Sou acima disso. Foda-se quem não entende as coisas, quem vive pensando merda.

O argumento de minha amiga contra FHC é de fazer gargalhar. Ela diz, e o faz em tom de censurar um defeito, que FHC é um doutorzinho. Até nisso são estúpidos. FHC não é um doutorzinho, desses que ganham premiozinhos(pleonasmo, o sei) literários, FHC é um intelectual respeitado no mundo.
A grande qualidade do Lula é.... ter nascido pobre e o nordeste. É o mesmo argumento que escuto há quinhentos anos. Porra!
Ser pobre, ser rico, ateu ou teísta, veado ou comedor, boi ou vaca, americano ou morar em caruaru, não dá qualidades nem defeitos ao ser. Lula é um cara que nasceu pobre e não vale merda. FHC nasceu na elite, e vale muito. Poderia ser o contrário mas não é.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

JU, EU AMO TU!

Minha amiga juciara, ju.
Ela está agora em um hospital. Fazendo o que quase todo mundo não faz: sendo humana. Porque isso agora? Ela cuidou de minha irmã, disse que iria comigo na minha cirurgia, ficaria comigo. Eu brinquei, perguntei se era médica. Ela não se ofendeu.
Se eu não disse, se você não percebeu sem eu dizer, digo aqui: ju, eu amo tu.
É bom que esclarecer, amo como amigo. Afinal o namorado de ju, o bebê, não é apelidado assim pelo seu aspecto físico. Se o apelido viesse disso, se fosse de conforme ao que se vê no porte físico do “BEBÊ”, seria algo amedrontador. Mas é o bebê dela. E embora eu não seja só afeto, só amor. Escolho os que gosto. E o bebê é bacana. Wanderlei, que eu não sou veado pra tá chamando homem de bebê.
Não peço que ninguém me leia, isso pouco me importa. Não sou um grande em nada, nem tenho muito o que dizer. Então eu digo pra ju: ju, eu amo você.

Tenho orgulho de você. De sua disposição de ajudar.
Ela acredita em coisas difíceis de acreditar, como botijas, vultos, e coisas de assombrar. Ju está em Recife. Deixou seu ganha-pão, sua casa, foi para um hospital. Acompanhar uma pessoa, ajudar. E isso é muito. Isso é bonito. Se eu não gostasse dela, passaria a admirar. Mas sempre gostei. Então se não me fiz entender, se não me fiz notar, saiba você que você é querida, que gosto de ti e sempre vou gostar.

FHC POR AUGUSTO NUNES

ESTE ARTIGO , FOI RETIRADO DO SITE DA REVISTA VEJA. ESCRITO POR AUGUSTO NUNES.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO É UM HOMEM GIGANTE. NÃO NASCEU POBRE, NÃO CRÊ EM DEUS, NEM É DADO A POPULISMOS. FEZ O MAIOR GOVERNO DA HISTÓRIA DESTE PAÍS. FOI SATANIZADO POR UM SUJEITO QUE NÃO LHE AMARRA OS SAPATOS, MAS QUE É MESQUINHO, CORRUPTO. IDIOTA E ANALFABETO COMO OS SEUS ELEITORES. O ATEU DA ELITE FEZ O BEM DE TODO UM PAÍS. O SANTO POPULAR MOSTRA COMO O DEMÔNIO TRABALHA COM O NOME DE DEUS.
A CADA DIA QUE PASSA FHC CRESCE ATÉ EM SEUS ADVERSÁRIOS, TORNA-SE ESTÁTUA EM VIDA. ESTÁTUA NÃO PARA ADORAÇÃO. UMA BIOGRAFIA DE UM GIGANTE.
SALVE FHC.












FHC foi o acorde dissonante na ópera do absurdo que Lula recomeçou

De volta ao Brasil de sempre, resignaram-se há oito anos as paredes do gabinete presidencial depois de uma ligeira contemplação do novo inquilino. Desde Jânio Quadros, a grande sala no terceiro andar do Palácio do Planalto já abrigou napoleões de hospício, generais de exército da salvação, perfeitas cavalgaduras, messias de gafieira, gatunos patológicos, vigaristas provincianos e outros exotismos da fauna brasileira. Por que não um Luiz Inácio Lula da Silva?

Quem conhece a saga republicana sabe que a ascensão ao poder de um ex-operário metalúrgico só restabeleceu a rotina da anormalidade que vigora, com curtíssimos intervalos, desde o fim do governo Juscelino Kubitschek. Na galeria dos retratos dos presidentes, Lula está à vontade ao lado dos vizinhos de parede. Sente-se em casa. A discurseira delirante e ininterrupta está em perfeita afinação com a ópera do absurdo. O acorde dissonante é Fernando Henrique Cardoso. Um confirma a regra. O outro é a exceção.

O migrante nordestino que chegou à Presidência sem escalas em bancos escolares tem tudo a ver com o país dos 14 milhões de analfabetos, dos 50 milhões que não compreendem o que acabaram de ler nem conseguem somar dois mais dois, da imensidão de miseráveis embrutecidos pela ignorância endêmica e condenados a uma vida não vivida. Esse mundo é indulgente com intuitivos que falam sem parar sobre assuntos que ignoram. E é hostil a homens que pensam e agem com sensatez. É um mundo que demora a alcançar em sua exata dimensão a lucidez do sociólogo nascido no Rio que tinha escrito muitos livros quando se instalou no Planalto.

O Brasil de Lula tem a cara primitiva de sempre. O Brasil de FHC provou que a erradicação do atraso não é impossível. Pareceu até civilizado no primeiro dia de 2003, quando se completou um processo sucessório exemplarmente democrático. Durante a campanha eleitoral, o presidente fez o contrário do que faria o sucessor oito anos mais tarde. Embora apoiasse José Serra, não mobilizou a máquina administrativa em favor do candidato, não abandonou o emprego para animar palanques e consultou os principais concorrentes antes de tomar decisões cujos efeitos ultrapassariam os limites do mandato prestes a terminar. Consumada a vitória do adversário, FHC pilotou o período de transição e ajudou a conter a fuga de investidores inquietos com a folha corrida do PT.

NEM RUTH CARDOSO FOI POUPADA
O Brasil de janeiro de 2003 tinha poucas semelhanças com o que Itamar Franco encontrou depois do despejo de Fernando Collor. Em 1994, o ministro da Fazenda de Itamar comandou a montagem do Plano Real. Nos oito anos seguintes, fez o suficiente para entregar a Lula um Brasil alforriado da inflação e da irresponsabilidade fiscal, modernizado pela privatização de mamutes estatais deficitários e livre de tentações autoritárias.

“Aqui você deixa um amigo”, disse o sucessor com a faixa verde e amarela já enfeitando o peito. Foi a primeira das mentiras, vigarices, trapaças e traições que alvejariam a assombração que está para o SuperLula como a kriptonita para o Super-Homem. Criminosamente solidário com José Sarney, a quem chamava de ladrão, obscenamente amável com Fernando Collor, a quem chamava de corrupto, o ressentido incurável, incapaz de absorver as duas derrotas no primeiro turno e conformar-se com a inferioridade intelectual, guardou o estoque inteiro de truculências e patifarias para tentar destruir um antigo aliado, um adversário leal e um homem honrado.

Lula nunca pronuncia o nome do antecessor. Evita até identificá-lo pelas iniciais. Delega as agressões frontais a grandes e pequenos canalhas, que explicitam o que o chefe insinua. Há sempre os sarneys, dirceus, jucás, berzoinis, collors, dutras, renans, mercadantes, tarsos, gilbertinhos, dilmas e erenices prontos para a execução do trabalho sujo que não poupou sequer Ruth Cardoso, vítima do papelório infame forjado em 2008 na fábrica de dossiês da Casa Civil. A cada avanço dos farsantes correspondeu uma rendição sem luta do PSDB, do PPS e do DEM. FHC não é atacado pelos defeitos que tem ou pelos erros que cometeu, mas pelas qualidades que exibe e pelas façanhas que protagonizou.

Ele merecia adversários menos boçais e aliados mais corajosos. Há algo de muito errado com a oposição oficial quando um grande presidente, para ressuscitar verdades reiteradamente assassinadas desde 2003, tem de defender sozinho um patrimônio político-administrativo que deveria ser festejado pelos partidos que o apoiaram. Há algo de muito estranho com um PSDB que não ouve o que diz seu presidente de honra. Nem lê o que escreve, como atestam dois artigos antológicos publicados no Estadão.

O PONTO FORA DA CURVA
No primeiro artigo, em outubro de 2008, FHC avisou que a democracia brasileira estava ameaçada pelo “autoritarismo popular” do chefe de governo, que poderia descambar numa espécie de subperonismo amparado nas centrais sindicais, em movimentos ditos sociais e nas massas robotizadas. “Para onde vamos?”, perguntava o título. A Argentina de Juan Domingo Perón foi para os braços de Isabelita e acabou no colo de militares hidrófobos. O Brasil de Lula foi para Dilma Rousseff. É cedo para saber onde acabará.

Em fevereiro, com 968 palavras, FHC enterrou no jazigo das malandragens eleitoreiras a fantasia costurada durante sete anos. “Para ganhar sua guerra imaginária, o presidente distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação, nega o que de bom foi feito e apossa-se de tudo que dele herdou como se dele sempre tivesse sido”, resumiu no segundo artigo. Depois de ensinar que o Brasil existia antes de Lula e existirá depois dele, recomendou que se apanhasse a luva atirada pelo sucessor: “Se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer”.

Em vez de seguir o conselho e sugerir a Lula que topasse um debate com Fernando Henrique, José Serra reincidiu no crime praticado em 2002 — com agravantes. Além de esconder o líder que aumentou a distância entre o país e a era das cavernas, apareceu no horário eleitoral ao lado de Lula, convertido num Zé decidido a prosseguir a obra do Silva. Aloysio Nunes Ferreira fez o contrário. Tinha 3% das intenções de voto quando transformou FHC em principal avalista da candidatura. Elegeu-se senador com a maior votação da História. Saudado por sorrisos, cumprimentos e aplausos quando caminha nas ruas de São Paulo, FHC nunca foi hostilizado em público. Depois da vaia no Maracanã, Lula não voltou a dar as caras fora do circuito das plateias amestradas.

Desde o dia da eleição, FHC tem exortado o PSDB a transformar-se num partido de verdade, com um programa que adapte à realidade brasileira a essência da social-democracia, combata sem hesitações a corrupção institucionalizada e, sobretudo, aprenda que o papel da oposição é opor-se, como ele próprio tem feito há oito anos. “Por enquanto, o único partido que temos é o PT”, repetiu há dias. “Sem uma linha política clara a seguir, o PSDB continuará a agir segundo as circunstâncias e a perder tempo com questões pontuais”. Pode perder de vez também o respeito e a confiança do eleitorado oposicionista, adverte a reação provocada pela Carta de Maceió. O teor vergonhoso do documento comprova que os governadores tucanos não captaram o recado do patriarca.

Na trajetória desenhada pelos presidentes da República, FHC é o ponto fora da curva. Pode ser esse o seu destino, sugere a paisagem deste fim de 2010. Assegurada a vaga na História, poupado da obsessão pelo poder, ainda assim não recusa o combate, não faz acordos, não capitula. Em respeito à própria biografia, e por entender que a nação merece algo melhor, continua a apontar a nudez do pequeno monarca. Oito anos mais velho, ficou oito anos mais novo: nenhum líder político é tão parecido com a oposição real, rejuvenescida e revigorada neste outubro por 44 milhões de votos, quanto Fernando Henrique Cardoso.