sábado, 4 de junho de 2011

OS COVARDES


Me enchi de você, de sua pouca bossa, de seu tédio, de sua fossa.
Cansei da mesma cantilena e de seu nome de uma só sílaba.
Me enche e me enfada tua retórica, teus padres, teus conselhos.
Tua fé sem questionar, como um idiota que crê. Um retardado da fé.
Quando você lembrar de mim, e isso se dará, você sabe que sim, terá uma miríade de coisas que não fez. Deliciosas e que seria fácil de te dar.
Quando teu tempo passar (e ele passa, sempre e frio) será lamento, não só por mim, claro. É que os covardes sempre lamentam o tempo.
Os covardes sempre agonizam supostas mortes, sempre são perdedores ainda que vençam. Porque os covardes nunca vencem. Sabem que foi o acaso quem os colocou onde estão. Tem o riso amarelo do atleta que ganhou dopado.

O covarde é de quem se diz: o que lhe falta? Tem tudo.
O covarde não tem nada. Falta-lhe a disposição do risco, do medo, de ir pra o inferno.
Se aqueça na sua fé, no seu berço, no seu empregado, em quem nasceu pra te cultuar.
Mas quando chegar a hora em que ferver o sangue, em que é difícil me negar, não me encha o saco, nem tente esvaziar.
Então está  ai, está dito.
O que achei em você qualquer uma pode dar, porque todas tem gemidos, todas são assim.
Mais na tua lembrança, de onde você não sai, nem foge, estarei como um sentimento de um planeta engolido por um buraco negro. Ou de um morto olhando o corpo de que foi extirpado:
Sente a morte em sua forma mais cruel, mais medonha e assustadora, a de ter consciência de si mesma, a de saber-se morto.

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