Duzentas que fossem as vezes necessárias eu mantinha firme a posição.
Não por birra, não por burro, não por temor quais sejam. As coisas sobre
as coisas não desfaço nem revejo opinião, o faço por estarem acima das
minhas possibilidades de desgostarem. Não bastam as coisas que eu gosto
sumirem, morrerem ou não estarem, isso até as fariam mais queridas. Eu
teria de não ser eu, minha vida uma diluída em coisa que fosse gelo e
que não fosse fria porque isso, mas um frio por ausência de calor, pelo
contrario de seu motivo. Os que elegi em meu gostar não o fiz por
motivos que possa explicar, nem poderia dizer se obrigado fosse. Não
será uma goleada, um desengano, um desespero o que me fará desgostar do
beijo de Corisco em Dadá no filme do Glauber. Não será uma opinião que
findará um amor. Os códigos que me fazem gostar não podem ser quebrados,
decodificados, encripitados, lidos ou o que o valha; São códigos de
códigos com mil outros dentro. Não, minha flor, não posso ser outro,
então se dispense de querer que diga o quer quer, só digo o que sou. Se
não te cabe o meu reino procure um outro, nunca tente o meu mudar. Isso
não é nem arrogante nem inflexionar, é antes te dizer: Do que gosto
(noite, vasco, pai, filho, lua, o bardo e tantos e tantas mais) não
deixarei de gostar. Ou tenta entrar na lista ou nunca queira estar. A
lista do que amo se expande mas nunca encolherá.
Não sou leviano, tudo arrefece, se esgota, muda, passa, exceto minha
lista de coisas queridas. O cheiro de meu pai, o sono do meu filho; a
lua de Dostoievski; o olhar de Falstaff para Rick; Moacyr na sangria da
barragem; você dançando; Tarde em Itamaracá; são coisas de dentro do
cerne da coisa. Que não sei exato porque se fizeram tanto gostar, mas
que só podem ser desgostadas não se eu as desgostar, mas se não for mais
eu, não em mim mais estar.