quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A lista do gostar





Duzentas que fossem as vezes necessárias eu mantinha firme a posição. Não por birra, não por burro, não por temor quais sejam. As coisas sobre as coisas não desfaço nem revejo opinião, o faço por estarem acima das minhas possibilidades de desgostarem. Não bastam as coisas que eu gosto sumirem, morrerem ou não estarem, isso até as fariam mais queridas. Eu teria de não ser eu, minha vida uma diluída em coisa que fosse gelo e que não fosse fria porque isso, mas um frio por ausência de calor, pelo contrario de seu motivo. Os que elegi em meu gostar não o fiz por motivos que possa explicar, nem poderia dizer se obrigado fosse. Não será uma goleada, um desengano, um desespero o que me fará desgostar do beijo de Corisco em Dadá no filme do Glauber. Não será uma opinião que findará um amor. Os códigos que me fazem gostar não podem ser quebrados, decodificados, encripitados, lidos ou o que o valha; São códigos de códigos com mil outros dentro. Não, minha flor, não posso ser outro, então se dispense de querer que diga o quer quer, só digo o que sou. Se não te cabe o meu reino procure um outro, nunca tente o meu mudar. Isso não é nem arrogante nem inflexionar, é antes te dizer: Do que gosto (noite, vasco, pai, filho, lua, o bardo e tantos e tantas mais) não deixarei de gostar. Ou tenta entrar na lista ou nunca queira estar. A lista do que amo se expande mas nunca encolherá.
Não sou leviano, tudo arrefece, se esgota, muda, passa, exceto minha lista de coisas queridas. O cheiro de meu pai, o sono do meu filho; a lua de Dostoievski; o olhar de Falstaff para Rick; Moacyr na sangria da barragem; você dançando; Tarde em Itamaracá; são coisas de dentro do cerne da coisa. Que não sei exato porque se fizeram tanto gostar, mas que só podem ser desgostadas não se eu as desgostar, mas se não for mais eu, não em mim mais estar.

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