"Ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir", isso me comove desde os 10 anos, me comoverá sempre. Todo mundo achava graça nessa música, eu não. Achava e acho lindíssima, lírica, pungente. Em um tempo em que Chico Buarque é malhado (com toda razão) por suas esdrúxulas posições políticas e a música perdeu a importância e criou abominações como as que só fazem melodias simplórias, letras idem, acrescidas de uma melosidade ou obviedade de rimas e frases feitas que tanto mais são absurdamente repetidas quanto mais sucesso fazem, eu me refugio na "Geni", do Chico, que revela (em apenas uma canção popular) o quanto pode a hipocrisia humana. Desde o começo você sente a Geni ser execrada pela mera razão de ser "boa de cuspir", nenhum motivo fora este. O que a Geni sente? por quê ela é boa de cuspir? qual o prazer em cuspir? Qual o prazer em ferir o outro? Nem me venha\ com isso de "é escória" pois não é. Como Hitler não foi, como Barrabás não foi e Pilatos menos ainda. Exceção foi Jesus (a exceção em excesso portanto crucificado, portanto escarnecido, vilipendiado e quase todos-ou todos- os adjetivos de nossa língua para se diminuir, humilhar uma pessoa). Sim, estou comparando Jesus e Geni. São próximos, são íntimos em sua bondade e agonia. Não se arme com a espada da falsa veneração e tente me perfurar dizendo que Cristo é incomparável porque é pela comparação que se conhece o que é grande o que é pequeno.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
domingo, 12 de julho de 2015
MENOS DE 1/3
“Há uma especial Providência na queda de um pardal. Se há de ser agora, não será depois; se não for depois, há de ser agora; se não for agora, há de ser, todavia. Estar pronto é tudo.
Uma vez que ninguém sabe o que virá, que importa que seja logo? Assim seja!”
Shakespeare
Por minha vontade seria um terço, mas dada minha propensão a pouco exercício físico e muita maionese, já aceito que seja metade de minha vida os meus quarenta aniversários. O bom do mundo é que ele não se regula por minhas vontades, eu menos ainda pelas dele. Quarenta anos não se faz todo dia..., diria eu, se minha idiotice chegasse a tanto. Mas juro que não é todo dia que se faz quarenta, como só foi uma vez que fiz um, dois, três e, até aqui, quarenta. Citei um fala de "Hamlet", no começo, por... sei lá por quê..., mas vais sempre bem uma citação do bardo.
Não me demoro muito comigo e estou melhor e seguindo no meu aprendizado.
Seja mais (no mínimo) quarenta minha caminhada e de muito me valha o aprendizado.
quarta-feira, 8 de julho de 2015
A poesia
A poesia e o que que se faz sem rima -ou se faz com rima- nunca pra rimar.
A poesia tem de ser a ponte, tem de ser estrada, nunca o chegar.
A poesia não fomenta nada, nem desgraça nada, só quer "ser" sem estar. A poesia não e falar bonito, nem falar preciso, nem seguir modelos, nem olhar para espelhos.
A poesia morre na vida, nasce em ferida, seca no olho, desce em riacho, morde e é flor, e é vida; Vida que mais que vivida ela é jorrada, ela é estupor, carnaval de outro tempo, vento de outro mar, luz do mesmo ponto cego.
A poesia mata por dentro, queima por fora, é de ser cor ou cinema mudo, é de se haver com o aqui e agora e ser de outro tempo, e ser de outra lua, de ser mineral.
A poesia ruge, urge, arde, encanta, precisa reviver. Precisa que se chame o nome: poesia!
Precisa que se diga o vínculo: amor!
Precisa que se o fale o medo, revelar-se o segredo, instaurar-se a razão. Sim, porque antes da razão deve vir a poesia, antes da poesia mais nada, e antes desse "nada", Deus.
sexta-feira, 26 de junho de 2015
67 ANOS!
Há que se dizer que dele tenho guardado comigo (menos guardado que entranhado) o manuseio das cartas, seu cheiro, seu olhar.
Há que se medir por ele (não para ser-lhe igual) mas para saber do jogo, da poesia, das mulheres. das medidas certas em que põe tudo e das exatas maneiras de se viver, de ser homem.
Há de ter orgulho (mais que isso, sorte) em ser seu filho.
Há de se fazer feliz por ele estar feliz, lépido, cheio dele mesmo (que amor, chatisse e mais amor)
Pelo amor devotado, pelo perdão, por seus 67, pelos 40 que me atura, por sua braveza que é quase doçura, por me ensinar o que não sei fazer me mostrando o que por não poder aprender, nunca devo tentar (jogar).
Por tantas coisas que eu guardo comigo (e aqui é guardado mesmo, como que em caixinhas) e que são tão profundamente queridas, que as guardo não pelo que me trazem ou são, mas pela dor que causariam se ausentes. O que aprendi de ti, pai, foi que você não me causa medo pelos gritos, pelo quase medo que causa nos que o amam. O assustador de tua voz tonitruante e imperativa não é nada, absolutamente nada, comparado ao teu silêncio.
Nada é tão bom ou completo que dispense teu beijo e eu poder te chamar de pai, e te pedir a benção.
PARABÉNS!
quarta-feira, 24 de junho de 2015
sexta-feira, 19 de junho de 2015
ANIVERSÁRIO
Não tenho
nostalgia de nada, menos ainda de mim, porque me habito, porque não cheguei ao
fim.
Estou
acostumado a não fazer sonetos, só busco o que posso e sei de meus limites.
O tempo
passa e isso é uma descoberta, achei que eu seria eterno, até um dia desses. O
tempo vem me jogar na cara a minha estrada no meio (sou um otimista, me ponho
quatro anos à frente do IBGE). a minha estrada que já não é longa o tanto que era a uma hora.
Mas viver não é isso? encurtar estradas.
O quê diabos
teria isso haver com mega hair eu não sei, mas eu não sei de nada, apenas
desconfio de muita coisa, como o Riobaldo, de Guimarães Rosa.
O mega hair
é um cabelo postiço preso por sabe Deus o que lá aos cabelos de quem os ponha,
minha irmã os porá hoje. Eu não firmei opinião sobre o mega hair, mas ainda
assim ela os poria se eu fosse contra. O absurdo de envelhecer é que você não
controla. Você envelhece, você envelhece. Isso é de uma estranheza absurda!
Estranheza, não tristeza. Envelhecem os vivos, envelhece quem ainda pode envelhecer.
Semana que vem será meu pai e logo um pouco mais eu chego aos 40 anos. Eu não
sei porque estou escrevendo isso. Quis fazer uma coisa não sentimental e isenta
e, sobretudo, com bom humor, pois sempre falo de coisas chorosas.
Minha irmã,
que faz hoje aniversário, tem muito mais afinidades com meu pai, que dela é
muito próximo em aniversário e em tudo mais e eu começo a achar que só escrevo
algo razoável quando sou brega e que esse texto está enfadonho mais que o
natural.
Mas não vou
apelar, fica meus parabéns, fica um beijo, sem mais nada. Fica cumprir o resto
da estrada, fica nossa irmandade acima de tudo, fica tudo. Fica o que não se
acaba com o que se acaba enquanto ainda formos, fica mais que o gostar de
alguém, querer que ela fique bem. Fica a nossa religião de dois seguidores
(essa será semana que vem celebrada). Fica nossa infância, brigas, choros. Fica
muita coisa, que sendo pouco aos outros, é tudo nessa família quase sem parentes.
Ficam os anos que passaram, ficarão os que virão. Ficam palavras que não são
nada se ditas pela razão diversa das que escrevo agora. Fica a lágrima não
chorada, guardada, contida, represada, com que escrevo isto. Fica minha certeza
de ter para contigo uma dívida. Um dívida não pagável e que não existe para ser
tal. Dívida que por não ser paga é mais devido chamar de outra coisa, de chamar
de gratidão.
PARABÉNS!
quinta-feira, 18 de junho de 2015
sexta-feira, 12 de junho de 2015
A tristeza
Sempre me comove a tristeza contida na música de Caetano, no dia chuvoso, e em outras coisas e pessoas. A minha tristeza é quase alegria, ou se não isso é outra coisa da qual não conheço o nome ou essência. Minha tristeza não é carência. Minha tristeza não é piedosa, nem para mim nem para ninguém ou nada. Minha tristeza é minha casa. Onde me abrigo, onde me refaço. Em tempos em que se almeja tanto a felicidade, ou pior que isso, a felicidade eterna, eu me comprazo em minha tristeza. Que é minha e por isso (e só isso basta para ser querida) me vem com quase-alegria à sua chegada. Minha tristeza não é mesquinha, e isso é o que me mais me orgulha em tê-la comigo. Não é por nenhuma inveja do que não sou ou do que não posso, é por que existe o alto e o baixo, a curva na ladeira, o gelo no asfalto, o medo de morrer e o medo de viver demais. Nunca pude entender porque se busca sempre a alegria e se diz que tudo que se quer é ser feliz. Como se pode ser feliz sem tristeza? Quem pode estar feliz o tempo todo sem ser idiota?
Minha tristeza é como eu olhar para uma cachoeira, linda de manhã, alegre, expansiva, mas que á tarde se fará triste, e sua alegria da manhã advém de sua tristeza vespertina e vice-versa.
Não se vive sorrindo sem ser ator ou ter por ideologia a hipocrisia. Tudo arde, chora, causa dor: o menino que morre, o menino que matou, o agredido, o agressor, a menina inocente, o velho senil, tudo é dor.
Não esqueço de uma frase do baiano genial que diz: "respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada". Na risada tem ainda uma lágrima, tenha sempre um pulsar do triste. O que me apavora é não ser sempre alegre, é ser sempre triste. Se há coisa pior que o bobo alegre é o chato triste. Tristeza é como tempero, deve ter em quantidade medida, em quantidade certa para que não estrague a comida. Para ser-se feliz por completo, sabendo-se que nunca se pode ser feliz por completo. Aceitar o que se tem sem o resignado dos covardes.
Salve a tristeza, sente aqui, puxe a cadeira e vamos conversar, mas saibas que não és minha amiga, és só visita, não te hospedo, não tens (aqui comigo) onde ficar.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
O nada.
Eu tive um
sonho há pouco que foi tão poesia que
tentar contá-lo o diminuiria, reduzindo a sonho o que sonho seria se não fosse
mais, se não fosse o que queria, todo sonho que mereceria o nome de sonho ou de
poesia.
Eu tive, e
tanto era lindo, que santo diria, mas não era isso, era até profano, por não
ter pecado por ser mais que humano, por eu entender que era o que entendia não
caber no homem, não caber em nada.
Eu tive (e
pouco me importa se esta errado) ter -se sonho ou haver sonhado, ter se sentido
certo, ter sempre eu errado, ou o que é real e o que foi sonhado, ou menos o
pecado ou mais o perdão.
Se explicar
não posso, quem o poderia? se sonhasse um sonho que foi fantasia, nada de
irreal, nada que conteria um outro nada em si e por isso era tanto que a
palavra nada tudo definia, como se verdade última da poesia, como se única
verdade houvera, como se descoberta a nova era, como se descobrisse o véu
primeiro, como se segredo não mais houvesse, como se tudo ao nada reduzira, e o
nada fosse a melhor saída, e era melhor
por ser a única, e era bom e eu o sabia em sonho, e eu o via em graça, o tendo
profundo, o tendo em tal monta que para mim nada mais me vale, nada mais me
serve, nada mais eu busco do que aquele nada.
terça-feira, 2 de junho de 2015
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