sexta-feira, 12 de junho de 2015

A tristeza





Sempre me comove a tristeza contida na música de Caetano, no dia chuvoso, e em outras coisas e pessoas. A minha tristeza é quase alegria, ou se não isso é outra coisa da qual não conheço o nome ou essência. Minha tristeza não é carência. Minha tristeza não é piedosa, nem para mim nem para ninguém ou nada. Minha tristeza é minha casa. Onde me abrigo, onde me refaço. Em tempos em que se almeja tanto a felicidade, ou pior que isso, a felicidade eterna, eu me comprazo em minha tristeza. Que é minha e por isso (e só isso basta para ser querida) me vem com quase-alegria à sua chegada. Minha tristeza não é mesquinha, e isso é o que me mais me orgulha em tê-la comigo. Não é por nenhuma inveja do que não sou ou do que não posso, é por que existe o alto e o baixo, a curva na ladeira, o gelo no asfalto, o medo de morrer e o medo de viver demais. Nunca pude entender porque se busca sempre a alegria e se diz que tudo que se quer é ser feliz. Como se pode ser feliz sem tristeza? Quem pode estar feliz o tempo todo sem ser idiota? 

Minha tristeza é como eu olhar para uma cachoeira, linda de manhã, alegre, expansiva, mas que á tarde se fará triste, e sua alegria da manhã advém de sua tristeza vespertina e vice-versa.
Não se vive sorrindo sem ser ator ou ter por ideologia a hipocrisia. Tudo arde, chora, causa dor: o menino que morre, o menino que matou, o agredido, o agressor, a menina inocente, o velho senil, tudo é dor. 

Não esqueço de uma frase do baiano genial que diz: "respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada". Na risada tem ainda uma lágrima, tenha sempre um pulsar do triste. O que me apavora é não ser sempre alegre, é ser sempre triste. Se há coisa pior que o bobo alegre é o chato triste. Tristeza é como tempero, deve ter em quantidade medida, em quantidade certa para que não estrague a comida. Para ser-se feliz por completo, sabendo-se que nunca se pode ser feliz por completo. Aceitar o que se tem sem o resignado dos covardes. 

Salve a tristeza, sente aqui, puxe a cadeira e vamos conversar, mas saibas que não és minha amiga, és só visita, não te hospedo, não tens (aqui comigo) onde ficar.

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