sábado, 29 de dezembro de 2012

OS FIOS E O IOGURTE




Eu olho no espelho, eu paro e me miro passo a mão na cabeça e sinto o fio. Sabe, há os que sabem escrever e não chorar. Escrever não precisa de sentimento e o faz melhor quem o faz sem lágrima, mas nunca escrevi com intuito outro que não fosse esse: falar de minha lágrima. Mesmo que não fale dela propriamente, mesmo que rindo, mesmo que na risada haverá uma lágrima guardada, haverá uma dor no fim. Coloco a mão na cabeça e sinto os fios, seu contorno pelo meu pescoço, e... bom, choro. Me custou tanto ter meus fios no pescoço, busquei isso com tanta vontade. Tenho-os. Na primeira semana depois da cirurgia fiquei maravilhosamente bem. Depois piorei. Falta o médico ajustar o aparelho e isso só em  janeiro. Espero com meus fios e minhas cicatrizes no peito. Minhas cicatrizes no peito ficaram muito bonitas e antes de alguém dizer que só um maluco pode achar uma cicatriz bonita eu respondo que as minhas são, eu acho. Não ficaram as formas das baterias desenhadas no peito. Só eu as sinto se eu passar as mãos. Dito assim pode causar pena a quem não me conhece, aos que conhecem sabem que não quero nem preciso disso, sou o vate, porra, sei me virar, e se for pra sofrer eu tô fora, se for pra lamentos não me chame. Me ocupo com a alegria e se alguém vir na contradição entre chorar e ser alegre é por não saber que a alegria de viver é saber chorar.  O riso é leviano, o choro sem mágoas, sem sentimentos menores, sem autopiedade, é que constrói os caminhos da real felicidade. 

No dia em que fiz a cirurgia e acordei na sala de recuperação me trouxeram um iogurte. Segurei-o, comi-o.  Lembro disso com memória ativa (João não me sai da cabeça) e por isso amo meus fios, eles (os fios e a bateria onde minha cicatriz discreta os esconde) me possibilitaram comer meu iogurte sem tremer, sem problema algum. Meus tremores cessaram. O aparelho está desajustado, tenho ainda a rigidez que vai melhorar em janeiro, quando eu for ao médico, mas não tremo. Meus gestos são mais naturais. Tomo sorvetes sem problemas. Escrevo sem dificuldades. Não fiquei curado do parkinson, sei que a uma diferença entre tratar sintomas e estar curado, sei da bateria a me lembrar que tem de ter algo de fora, externo a me controlar os movimentos, e que essa bateria descarregará em três ou quatro anos. Então porque a amo tanto? de onde vem tanto apreço por meus fios de metal? do fato de por ser bateria eu poder recarregar, e saber como é bom que assim seja: renovar, recarregar, esperança. Que seja sempre assim, que seja sempre renovadas as esperanças. Que se puder eu retire as baterias do peito e seja descoberta a cura, enquanto isso tomo sorvetes sem derramar, regulo a bateria e acho bonita minha cicatriz. 

Que 2013 venha e que eu arrume novos sonhos, o sonho da cirurgia já foi realizado e Jesus Cristo segue sendo o que vejo como verdade acima da verdade, porque verdade é muito mais que o que se diz quando se diz falar a verdade e a verdade sem amor é nada. Verdade sem amor é vazio. Para que serve a verdade sem amor? para não mais que ser verdade, o que não quer dizer nada. 2+2=4 , eis uma verdade. "ama o teu inimigo, porque se amas só a quem te ama que bem fazes" essa é outra verdade. Qualquer um pode usar e compreender a verdade dos números, só jesus tem a verdade amorosa.

FELIZ 2013!

Um comentário:

  1. Ton, quando te conheci, levei uma rasteira, um tapa na cara!É! foi isso mesmo! sabe pq? por não achar + graça em minha vida, enquanto vc tem tanta força, tanta vontade que me envergonhou de tanta coisa que fiz de errado com a minha.vc é muito importante em minha lista de quem eu quero muito bem. ah! agora nem sei se estou falando coisa com coisa,+ me desculpe! é tudo culpa do vinho que ninguem tomou na seia de natal aqui em casa. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! te adoro, bjs!!!

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