terça-feira, 2 de maio de 2017

Ser dono é amar









--Srº, não há muito o que contar e são só os mesmos assuntos, para quê lhe agastar?    

- Mas conte; tempo há. Muito para ouvir histórias, pouco para as vivenciar.

- Sendo assim.
..
-Tenho um time, uma vida e coisas para admirar.

- Essas coisas são suas? Vidas, times e coisas não lhe pertencem.

- Tem uns livros que li...

- Livros que outros escreveram.

- Um filho.
..
- Ninguém é dono de outrem.

- Senhor dono não é mandar, registrar em cartórios, protocolar. Ser dono é amar.

- Não entendi.

- Já viu o rio Capibaribe em “um cão sem plumas”?
 O olhar de Henrique para Fallsstaf, no olhar de Brannagh?
- Continuo a não entender.
- O que se ama não se pode ter, só se pode amar. É seu porque não existe, ninguém nem nada que lhe possa tirar. Como quando meu filho abriu os olhos, como o beijo de Corisco em Dadá; Como meu pai embaralhando cartas, como o Rosa fundando um idioma, como Caetano chorando na morte de Tom Jobim, como Cristo perguntando ao soldado a razão de sua agressão.

O que se ama não se mensura, não se sopesa, não se explica. O que eu tenho? Tenho tudo! Tenho vida.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Para Luiz de Almeida.




O filho de Luiz chamava Wellington. O filho de Luiz não sou eu. A dor é de onde vem a força. Agora choro de novo. Não porque o filho de Luiz se chamava Wellington, nem por seu pai de nome homônimo ao do meu. Choro porque nunca estará morto um filho. Para Luiz, Wellington estará sempre mais vivo em si. Se tem uma coisa que admiro é quem sabe sofrer e transformar dor em força. O nome do filho é Wellington, o nome do pai é Luiz. O nome dá dor é saudade. O nome de tudo é amor.

domingo, 5 de março de 2017

Eu nunca entendi direito: o que há  no falso e do que se alimenta o vazio, exaurindo-se do excesso do nada. Eu nunca alcancei os tolos: Deixei-os à   frente ou atrás, nunca os permiti emparelhar. Eu nunca vendi o riso, vendi o choro ou comprei saudade, tive e me bastou.
Eu nunca fui dos que ganham mas sei perder, e isso é nunca ter conhecido a derrota real que vem com vitórias de campeões do oco. Dos que precisam ganhar um título, um diploma, uma medalha e ostentar que não é um fracassado.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O gato imaginário


Para Maria Regina Hoff




Por isso a amo. Ela entende um poema que sequer foi escrito e reconhece o valor de um gato imaginário. Entende as coisas com o entendimento da essência que vem antes da aparência. A quem eu daria um gato imaginário sem medo de ser idiota? A quem eu diria que escrevo um poema sem pejo de não ser poeta? A quem um gato imaginário pode interessar? A Maria Regina.
Não te dou o meu gato pôr o ter em conta menor, nem por não ter a quem dá-lo. Dou-te por saber que sendo teu, meu gato estará bem cuidado. Cuido no meu gato por ele ser caro e tudo que tenho e que quero e preciso. Te dando não fico sem ele, te dando permanece comigo. O que é belo e bom dividido fica maior ainda e repleto do que ausente.
Te dou um gato imaginário e ele só pode ser dado como presente. Não tem preço, não tem como tê-lo de outra forma, por outro meio. O meio sequer existe para ganhar meu gato imaginário e se houvesse um meio, uma forma, um caminho, e alguém por ele se guiasse, veria ao fim que nunca teria o gato, por ter premeditado, por auferir, por pretender, pelo mero cálculo.
Reginita, toma meu gato, imaginário, nunca virtual. Ele não foi inventado, muito menos tem um fim. Ele existe, é real, como o mal, como o capim. Ele confirma, ele celebra um amor por uma amizade terna, bonita, sincera e leal. Toma meu gato, cuida bem dele, sem mimos, sem afagos, sendo quem és. Foi por ser quem és que te dei, é por ser quem és que te amo.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Sim, vi.




Eu vi a poesia no olho. Ele não era azul (o olho da poesia) mas nem preto nem castanho, nem em cores se revelava. Sabia que era o olho porque sentia que era visto.
Eu senti o cheiro da poesia. Não era de perfume, nem fedia. Era um cheiro de livros velhos e mofados, como os que no Recife eu lia.
Eu comi a poesia. E ela não me enchia as vísceras, ela não me enchia nada. Minha fartava pela ausência, me cansava pela inércia, me sobrava onde era pouca e onde era muita me faltava.
Eu descobri o nome da poesia. Não revelo, não declaro. Mas a quem interessar possa, é um nome sem palavras nem fonemas. Como eu sei que é um nome então? Porque chamei sem a voz, vi ao fechar os olhos e senti que o que era real era esse nome não decodificado. O real pareceu menor e falso (como os diamantes verdadeiros) e o que eu descobri o nome maior e exato, como os abraços de amigos, como os afetos sem sexo, como os gostares de fato.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Roberto e Jô



Venho de ver Jô Soares entrevistando Roberto Carlos. Que dizer? 
Fica um conselho de facebook, portanto idiota, como o são todos os conselhos: Nunca julgue pela aparência. Bom, eu disse que era idiota. A entrevista me pareceu cretina antes de eu vê-la, e mesmo depois me dou conta de que não foi grande coisa, enquanto entrevista. As perguntas e respostas foram amenidades e mais amenidades. O que me emocionou foi as lágrimas dos dois. Ambos são meus ex ídolos. Roberto deixou de ser por eu achar suas canções menos relevantes que a de outros e jô pela adesão descarada e idiota ao pt. Continuo achando o mesmo dos dois. Como artistas já não valem muito em meu reino, cujo critério meu é o único que vale. Sou, como Fernando Pessoa, soberano em meus gostares.  
Se não sou mais admirador desses, sou ainda de admirar o choro de um homem. O choro de um homem me comove. Me comove tanto que provoca o meu. Um homem chorando é lindo. A  mulher não me comove tanto. O choro da mulher é mais objetivo, mais real, concreto e quase óbvio. O choro de um homem (quando sincero) é de arrepiar. O choro do homem, quando é intenso, inevitável, quando vem como sem controle ou como natural, quando não se pode conter e arrebenta. Homem que não chora e disso se gaba é um idiota. Se dizem de alguém: ele não chora! Para mim não dizem nada, ou por outra,  dizem  fraco ao que se pretendia dizer forte. 
A força de um homem vem do seu choro, de sua dor, de seu fado. Nunca de seu Braço. 
A força de um homem nunca vem de sua inteligência, arrogância, dinheiro, cargo. Vem de sua força de chorar ou não chorar, se a dor é tão funda que ele não chora para à dor causar desagravo. 
O sonho de um homem não é menos que sua lágrima. 
Roberto e Jô foram ídolos no passado. Roberto e Jô choraram abraçados. Não importa o motivo, não importa a que idéias ou ideais eles sejam simpatizantes ou partidários. Para além das escolhas ( e antes delas) existe uma pessoa (que é a primeira instância a que se deve respeitar) depois o sexo, depois as atitudes (não o que se fala mas como se é) depois o que as fazem amadas. O chorar de um homem não me faz ser fã ou ver nele mais que o que vejo, ou tanto, como um homem espetacular (sim, tem homens que julgo assim, embora saiba que não existem homens espetaculares) mas me faz chorar com ele. 
Não importa o mundo das opiniões e o critério menor com que julgamos o outro. Importa-me dizer que Jô Soares e Roberto Carlos choraram abraçados. Me lixo para a fama deles. Pouco me importa em quem votam, o que fazem, o que acham. Choraram, Roberto e Jô. Choraram e eu chorei junto. 

terça-feira, 29 de novembro de 2016

A QUEDA DO AVIÃO




Falo somente o que falo: se são bobagens, se são sentimentozinhos que a qualquer um ocorre, não importa, falo.
 Falo somente o que quero e  não tenho olhos mortos nem cicatriz onde seja que não as físicas. 
Falo para ninguém e isso não me interessa; Música para surdos, quadro para cegos.
Falo do que é minha verdade. Tão minha e sincera que se não é crível, e se não é verdade no fato, o é na intenção primeira, e não pode ser mentira porque na mentira nada sugere inocência. A queda do avião me paralisa, me faz ter medo da própria vida e lembra como é frágil essa, como que por um ai  ela termina.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

QUERO SER RIO SEMPRE



Sempre alguma amiga (umas poucas) me perguntam porque não ando escrevendo. Atendendo a essas (que de fato não são muitas) escreverei. O que não falta é assunto, o que me sobra é tempo. Começo pela burrice humana que cresce sem cessar como o universo? Falo de Lula? Das redes sociais e das tecnologias? Da propalada salvação dos protestantes ou da possível cura do mal de parkinson? 
Não! Isso é perda de tempo como qualquer discussão, pendenga ou debate. Falos sobre o que não discuto por saber perfeito, por saber exato. Por conter verdade, por ser vívido, por engendrar, medrar, vicejar. Falo do que sei, do resto me calo. Mas o que sei é sem valia, sem valor pecuniário. A quem interessar possa ( e creio que a quase ninguém e disso não me queixo) tem mais valor uma ponte do que um carro, um sorriso que uma insígnia, um valor conquistado que um bem herdado, um amor de contrários ou de iguais do que um amor de famosos. Tem mais meu respeito o ato sincero feio do que o falso ato bonito. O primeiro, cônscio do feio que traz em si pode ser melhorado. O segundo porque o que não é feito em sua essência de boa intenção e é cego no seu erro, não pode melhorar porque se acha bom.
Tem muito mais meu respeito o rio de João Cabral  que o rio real que os homens sujaram e as lamas sujaram o homem e este sujou  a lama e fez mangue no seu próprio sangue.
tem meu respeito os doentes,  mas os tem muito mais ainda os que são doentes e felizes. Tem o meu respeito os sabem que vão morrer e não fazem dramas. Tem o meu  respeito e minha admiração os que choram. Mas não na  frente dos outros para comover, para despertar piedade (esses eu desprezo como bem evito o trato) ou os que choram na frente dos outros e não se envergonham por isso.
Definitivamente repudio o conceito como claustro: americanos são maus; nordestinos são burros; veados são isso ou aquilo. Antes de ser qualquer coisa que lhe impute o mundo, antes de de ser categorizada, há a pessoa, única, que deve ser boa ou má ou média, ou como todos nós: bons e maus, sublimes ou tacanhos. Bons nesse minuto, ruins no próximo.
Insisto no que venho insistindo, eu nasci gente mas queria ser rio. Rio de João Cabral. Não quero ser outro. Nem mais bonito nem rico, nem mais inteligente nem mais nem menos nada. Não espero outra vida, não espero outro nada. Quero ter um consciência do que fui e ter a antena sempre ligada. Então quer vida depois desta? Sim! mas vida não é corpo, vida é saber-se, estar-se, ser-se. Portanto, quero ser rio. O rio capibaribe. Sujo, fétido. Mas o rio de João Cabral. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Quero crer



Eu guardei (e guardo) os amigos que tive e o tempo os resumiu ao mínimo,mas desse mínimo eu me orgulho, não é André carvalho, Elaine, luluzinha, Cleide, Maria Regina e Marta?

Mas não guardei as coisas de nonada (grande Rosa) essas as joguei no lixo e lembro-as como vagas, frouxas, mortas.

Eu tenho fé de um dia ter fé; É o que peço a Deus com total franqueza: fé.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Agora são 15!




Você é o que cresce, é o que medra, o que impulsiona e que mantém a seta apontada no alvo certo. Você é quem dá sentido as coisas e as põe em conformidade e harmonia. Para não ser chato, nem me estender, te digo: Parabéns! Para que saibais quanto eu te amo espere o dia em que venha de você outro ser.
Tudo de bom e o que for ruim, força. O que puder com o peso, levante. Reconheça seu limite e dos outros. Ame e chore quando doer. Não queira demais, não se tenha em baixa conta. Não subestime nem superestime nada nem ninguém. Que teu limite seja maior que tua intenção. Enfim, que as palavras que tu guarde seja a do Cristo.
AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO VOS AMEI.
beijos de teu pai.