sábado, 31 de outubro de 2015

O MAR DO MAR





Antes era vento, brisa, quando muito, ventania. Hoje é furacão, que não é o que destrói, é o que propulsiona, fomenta, dá energia, como se usa a palavra na arte, no revigorar-se, que sacode, que enche de energia.

Hoje é que sem medida, hoje é que é sem freio. Não digo que não foi tanto antes porque antes tanto não me caberia.

Ela dança, eu peço a Deus que ela não saia da minha vida.
Ela esbraveja, espreguiça, expande onde parecia ser o limite.
Ela faz um monte de coisas e não faz outro tanto, como todo mundo.
Mas o que faz é tanto, é lindo, é arrasador.
A voz dela é como se você colocasse a ternura como coisa concreta, como uma coisa que se tocasse, que se visse, e dentro de algo que contivesse.

Ela só caberia com precisão em um coisa imensurável, porque a medida dela é essa: IMENSA.

Quase não ri, nunca grita, nunca perde o sereno jeito.
Mas nela nada é "quase" tudo é dela e tão dela, como o coração que eu tinha como meu, como minha vida.

Se poetas são seres imbecis (e de fato o são) e o  amor torna o homem imbecil, sou imbecil ao quadrado.

Ela disse preferir meus "versos" aos que tentei mostrar-lhe de Cabral. Não a contesto. Versos de amor (embora toscos como os de agora) sempre justificarão os fracos poetas. Teu nome contém um mar, o mar não te abarca inteira. A quem diz "exagero"! dirá por ignorância ou inveja. Quem nunca a teve não sabe que o mar do mar é ela.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

14 ANOS






O tempo passa... frases idiotas como essa sobrevivem ao tempo. A razão é simples: Sempre haverá idiotas, sempre eles sentirão as coisas como idiotas e assim as dirão.
Meu filhote faz 14 anos! A exclamação é própria do idiota. Eu sou idiota e pai. A paternidade me fez mais idiota. Não há meio de se amar alguém que não seja idiota. Amores com frases soberbas ficaram para as musas de Shakespeare, Baudelaire, e afins; Meu filho faz 14 anos e tudo que tenho a dizer é: EU O AMO!  Sei bem das idiotices do mundo, sou um profundo conhecedor delas. Meu filho! assim o posso chamar porque é a única coisa que tenho de minha e de fato. Será meu filho mesmo eu não mais sendo. Nunca entendi a frase "meu(s) filho(s) são tudo o que tenho". Precisa mais? Sendo o que for é meu filho. Se chefe de governo, se rico pobre, preto, azul é meu filho. Veio por minha causa, existe porque eu existo. Eu fiz algo que não existia vir a existir. Claro que a graça deve ser dada a Deus, que me fez existir através dos séculos dos que me formaram... Este é um texto francamente imbecil, tenho consciência e vou terminá-lo logo.
Parabéns a Luiz Xavier (ele não gostaria de ser apelidado e não darei azo a quem queira o zoar) PARABÉNS, FILHO. Não tenho muito mais a dizer que não seja: TE AMO! sempre será assim, longe, perto, hoje e até meu fim.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Quem



Não te liguei, e me custou não fazê-lo. Tanto quanto não devo dizer. Te tive na cama, sequer te vi o ombro. Te tive de perto demais para o não tocar. Mas toquei teu rosto, linda, e você me lembrou disso com aquela voz que faz difícil agora eu não te ligar. Descanse, durma, amanhã hei de acordar. Se não... tudo bem, morrerei amando, ao som de um pagode e de uma música sertaneja, sim, Nando Reis e Ana Carolina. Quem inventou o amor foi um grande professor debochado. Quem inventou o desejo o fez em ferro fundido não em forjado. 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Não matar






Ele ia baixo, de cabeça baixa, não como curvado ou como medo, nem por motivos menores de que se valem os canalhas para esconder sua hedionda cara. Ele baixava a cabeça por ter ultrapassado os de cabeça erguida e portanto saber-lhes tontos.
Ele quase nunca sorria, mas se o fazia era por coisas simplórias, dir-se-iam bobocas, sem sentido ou prosaicas demais para que fossem notadas. Se chorava? Sim, mas sem lágrimas abundantes. Apenas marejavam os olhos. Fora esquerdista outrora, ora não falava em política (quando se falava disso ele dispunha do sorriso dito acima), tinha perdido a graça para ele os rituais e cultos, mas cria. Em Deus? talvez, isso não compreendi. Andava só com sói ser aos que aprenderam algo. Gostava dos portugueses, de cheiro de maresia. Não tivera medos, não queria filhos, não sabia o gosto dos extremos. Sabia da vida passando e gostava muito de álcool e talvez cocaína, se o tivesse alguém oferecido.
Nada de exorbitante, nada de especial. Não fora Alexandre, dito o grande; nem bonito na mocidade; não era diferente de um homem em nada e em nada lhe era igual.
No dia de sua morte (um câncer no esôfago) já não havia qualquer resquício de sobriedade naquele homem. A dor lancinante do tumor em sua garganta o fazia gritar muito, e diziam: ele exagera. Logo ele que nunca fora dado a isso. Morreu com suas certezas e sonhos, levou consigo nada, apenas ele. Ele não faz falta a ninguém.
Ia esquecer do principal, do que quis dizer desde o começo sobre esse insípido ser: Ele dizia sempre que nunca matara ninguém e só por isso valeria viver.
Eis o meu héroi, meu personagem sem graça. Viver só vale a pena para os que não matam. 

domingo, 4 de outubro de 2015

Opinião








Minha opinião não foi pedida, mas é minha e sou generoso, vô-la dar. E nunca a razão foi tão pouco arrazoada, a ponderação tão pouco ponderada como em minhas opiniões. Eu acho o ventilador e a geladeira (a prolopa é muito pouco confiável) as maiores invenções humanas; Lula e o pt piores que satanás; que por gosto puro e genuíno, o caldo-de-cana teria de custar cinquenta vezes o que custa o mais caro vinho do planeta; que as músicas que xuxa fez para as crianças justificam a prisão dela (perpétua) ; que música boa é a que eu gosto, bem como filme e todo o resto que me atraia admiração; que o google é absolutamente imbecil; que o google é absolutamente genial; que dor de cabeça não existe; que mal de parkinson não deveria existir; que há uma mistificação dos diabos na palavra "mística"; que eu tenho intuições geniais que se não se aplicam no mundo pratico é por algum problema do mundo prático; minha opinião é que o cachorro é um bicho feio e pateta; o gato é filósofo maior que todos os que existiram; que tudo demais enche, seja Caetano Veloso, seja Olavo de Carvalho, seja buceta, seja o caralho. 

Embora ninguém as peça, tenho dado; opiniões opiniões são. As minhas não requerem acato nem nada, as dou pra não ficar calado. Calado o tempo todo não fico. E, convenhamos, se alguém leu isso até o fim não deve andar muito ocupado.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A TERCEIRA MARGEM DO RIO



















Eu nunca sou um só, eu sou dois, eu sou mil. Eu nunca estou em uma margem do rio ou na outra, estou na terceira. A terceira margem do rio. O que faço lá? fui/vou/irei em busca de meu pai. Não porque queira persuadi-lo a voltar mas para apenas sentir a terceira margem. Meu pai saiu de casa em sua canoa e foi atrás da terceira margem do rio, disseram-lhe uns tolos que essa tal não existia. Tolos tolos são. Para mim só ela existe, só ela faz sentido ou dá sentido a existirmos. Nunca quis o amor total nem o ódio total, quis (quero) o que os distingue sem obnubilar, sem que haja o que os confunda. Não sei como amo e porque o faço, sei que meu amor está na terceira margem do rio. Se alguém se atrever a dizer que ela não existe, eu provo que ela existe dizendo que eu moro lá. Eu moro na terceira margem do rio e isso me explica (não justifica, claro) isso (o fato de eu morar na terceira margem do rio) me faz ser o que sou. Um dia equacionarei isso e farei de mim um homem bom. Mas nunca serei melhor saindo da terceira margem. Se sou cheio de imundícies, mesquinharias e de todos os defeitos que conhece quem me conhece, é bom dizer e saber que fora da terceira margem, nas margens "normais" do rio, eu seria pior. 

Eu habito a terceira margem do rio e sou doce quando contemplo meu pai. Ele não me vê, ele não me sente. Não está em sua canoa porque precisa que o mundo dele se apoie nele para não ruir. Eu, que sou um monstro que nem o parkinson fez mais humano e humilde; que sou soberbo e cheio de mim; que adoro pisar pessoas e vituperar contra o mal fazendo maldades, que sou apressado em diminuir o gosto dos outros e exaltar o meu, que zombo de religiões, que imputo culpas que são minhas, que... Deus meu! há de haver um perdão para mim e uma cura. Há de eu ter jeito porque eu habito a terceira margem do rio, e sou frágil ao ver meu pai em sua canoa procurando a terceira margem  do rio. 

Onde eu vivo (na terceira margem do rio) eu posso ver meu pai e isso é tudo. Meu pai me mostrou a terceira margem do rio, embora ele nunca a tenha visto nem ninguém. Ele é a terceira margem do rio! ELE SEMPRE FOI, É E SERÁ. É bem ousado dizer com palavras o que seja a terceira margem do rio, mas ouso. Ouso porque sei que é meu pai. Como sei? Pelo cheiro, pelo que não cabe em si, pela voz dele no silêncio, pelo olhar dele. Não sou um ser perdido. Habito a terceira margem do rio, lá não estão os santos, sequer os médios. Lá estão os poetas loucos, os perdidos de amor e desmedidos. Lá estou eu, na terceira margem do rio, não fui buscar meu pai, fui olhá-lo, fui sabê-lo, fui senti-lo, fui dizer baixinho e chorando: MEU PAI!

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Infernal



Estou infernal.
se eu mais inflar, engulo um planeta,
arroto estrelas,
e ponho novo nome em tudo.
Refaço a contagem do tempo,
faço contrário os elementos naturais.
o fogo gerará frio,
o frio não esquentará.
Às palavras eu mudarei a forma
de dizê-las e pensá-las.
Finda minha obra não assinarei embaixo,
deixo isso pra quem quiser ser deus.

Darei nexo as coisas que não tinham ligação;
Arbitrarei a sentença de satanás;
restituirei cada filho morto aos braços de sua mãe e
passarei ao fio da espada o assassinato.
Então não descansarei: ressuscitarei Castro Alves e acabarei com a escravidão antes de ela ter existido, e gostando da ideia farei isso com todo o mal.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A lista do gostar





Duzentas que fossem as vezes necessárias eu mantinha firme a posição. Não por birra, não por burro, não por temor quais sejam. As coisas sobre as coisas não desfaço nem revejo opinião, o faço por estarem acima das minhas possibilidades de desgostarem. Não bastam as coisas que eu gosto sumirem, morrerem ou não estarem, isso até as fariam mais queridas. Eu teria de não ser eu, minha vida uma diluída em coisa que fosse gelo e que não fosse fria porque isso, mas um frio por ausência de calor, pelo contrario de seu motivo. Os que elegi em meu gostar não o fiz por motivos que possa explicar, nem poderia dizer se obrigado fosse. Não será uma goleada, um desengano, um desespero o que me fará desgostar do beijo de Corisco em Dadá no filme do Glauber. Não será uma opinião que findará um amor. Os códigos que me fazem gostar não podem ser quebrados, decodificados, encripitados, lidos ou o que o valha; São códigos de códigos com mil outros dentro. Não, minha flor, não posso ser outro, então se dispense de querer que diga o quer quer, só digo o que sou. Se não te cabe o meu reino procure um outro, nunca tente o meu mudar. Isso não é nem arrogante nem inflexionar, é antes te dizer: Do que gosto (noite, vasco, pai, filho, lua, o bardo e tantos e tantas mais) não deixarei de gostar. Ou tenta entrar na lista ou nunca queira estar. A lista do que amo se expande mas nunca encolherá.
Não sou leviano, tudo arrefece, se esgota, muda, passa, exceto minha lista de coisas queridas. O cheiro de meu pai, o sono do meu filho; a lua de Dostoievski; o olhar de Falstaff para Rick; Moacyr na sangria da barragem; você dançando; Tarde em Itamaracá; são coisas de dentro do cerne da coisa. Que não sei exato porque se fizeram tanto gostar, mas que só podem ser desgostadas não se eu as desgostar, mas se não for mais eu, não em mim mais estar.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Pedido




Peço-lhe uma palavra para começar um texto. Um cigarro para que eu não o fume nem trague, acenda-o, e solte no ar a fumaça. Peço-lhe atenção e carinho, quando menos, teu abrigo. Quando me vires por inteiro o perdão e depois a paciência. Peço que não me deixe ir onde eu quero nem ficar aqui, nem parado. Peço que não entenda tudo, mas entenda o algo. Peço que não me provoque e, se provocada, me fustigue. Não peço compaixão, não peço o que eu não pedir ou que eu não precise, peço o que tens disponível, nada que me justifique, Peço respeito pela minha luta, peço severidade pelo meus vícios, peço serenidade pela minha fúria, que me xingue quando eu precisar disso. Que me odeie, nunca que me adore. Peço que ria de mim quando eu merecer o escárnio, mas nunca covardemente, me deteste com lealdade. Nunca deboche das pontes, dos poemas e das minhas cicatrizes. Peço que me oriente pelo caminho onde eu ande errado mas jamais me diga certo o que eu tiver trilhando. Me recuse o elogio, me faça um silêncio onde eu tiver acertado. Peço que não seja severa demais, só serena, só segura. 

Não deixe que eu seja todo, me tolha, me dê espaços limitados, para que não extrapole, e se extrapolar não quebrar nada. 

Peço que compreenda que eu não quero só teu sim, e sim o teu anuir ou desagravo. Que entenda que se só disseres "sim" me porás em dúvida sobre tua escolha, se tudo me negares, porém, me convencerás de que tua opinião não vale.

Peço que não confundas o meu choro com tristeza, nem eu estar rindo com estar alegre, nem o que digo com o que sou. Que eu nunca te convença de nada, que você nunca de medo de mim reclame. 

Peço que entenda que sou ruim como um homem.