Deixa eu te contar as histórias que gostas, e que em nada te tocariam se não fossem ditas por mim, com meu humor. E te parabenizar no teu dia, e te ouvir rir, ou chorar, te ouvir. E ouço, creia que sim, saiba que sim. Te ouço. Com o ouvido que tenho, com o que posso. ouvido não de músico, não para distinguir notas, nem sabê-las, ou os mais sutis ainda, em que tom estão. Não, meu ouvido é para te ouvir a alma, é para te ouvir o que você calou.
Disponho de olhos, olhos míopes, olhos ruins para o que foram feitos. Mas que olham para dentro, para onde só você via, os outros não. E valorizo isso, meu olho, míope e quase sem cílios, te vê por dentro, reconhece um fragmento de um fragmento dentro de você. e te admiro, te respeito. Pelo invisível que vi, pelo inaudível que ouvi.
TENHO VONTADE DE VIVER, AINDA. E OLHE QUE JÁ VI COISAS QUE DEIXAM OLHOS MENOS DISPOSTOS A ESSA VONTADE, EMBAÇADOS, CINZAS.
EU ESTOU DISPOSTO AO JOGO DE VIVER SABENDO QUE NO FIM ELA ME LEVA. JOGO PERDIDO, JOGO SABIDO. JOGO QUE AO JOGAR NÃO SE BUSCA VITÓRIA, SE BUSCA ESTAR NO JOGO, GASTANDO AS FICHAS E VENDO AS LUZES FICANDO OPACAS.
É BONITO ISSO. SABER QUE PERDERÁ NO FIM, MAS NÃO ENTREGAR OS PONTOS. SHAKESPEARE DISSE POR HAMLET QUE NENHUM HOMEM É DONO DO QUE NÃO PODE LEVAR CONSIGO. MAS NEM DISSO O HOMEM É DONO. SEU CORPO É ALUGADO, É UM INQUILINO DE SI MESMO, UM DEVEDOR DE ESTAR VIVO.
UM MENINO AQUI PERTO DE CASA MORREU. TINHA OS OLHOS VERDES, TINHA UMA VIDA INTEIRA, TINHA UM AVÓ QUE O ADORAVA, ESTÁ MORTO.
NÃO FUI AO ENTERRO DELE. LEMBRO O OLHAR DELE. NADA ME REMETIA A ALGO FÚNEBRE, TUDO RESCENDIA A JUVENTUDE, TUDO NELE ERA MOLECAGEM E VIÇO. ESTÁ MORTO.
A AVÓ DELE DEVE CHORAR TODA A MADRUGADA, E TODO O RESTO DE SUA VIDA. TALVEZ ISSO A FAÇA ESQUECER QUE ELA VAI MORRER. E A MIM RESTA FALAR DISSO, DA MORTE DOS OUTROS, PORQUE DA MINHA E NA MINHA ESTAREI MORTO.
EU NÃO JOGO VIDEO GAME BEM POR CAUSA DE MINHA DOENÇA, MAS JOGO MAL, PORQUE GOSTO DE JOGAR. NOS ÚLTIMOS DIAS TENHO JOGADO MUITO FUTEBOL COM MEU FILHO. ELE GANHA, MAS DE POUCO. EU PERCO AFETANDO SER MELHOR, E XINGO ELE COM UM SUPOSTO DÉSDEN. CLARO QUE ELE PERCEBE A JOGADA, SABE QUE ESTOU FINGINDO UMA SUPERIORIDADE INEXISTENTE.
COMPREI CINCO DVDS PARA ELE. OS DVDS ME ENSINARAM COISAS QUE EU JÁ INTUÍA. É IMPOSSÍVEL FAZER UM FILHO GOSTAR DO QUE GOSTAMOS. MAS O QUE EU QUERIIIA QUE ELE GOSTASSE ELE GOSTA. VASCAÍNO, NÃO FANÁTICO, DAQUELES QUE ACHAM QUE SEU TIME É O MELHOR, O MAIS MAIS. VASCAÍNO COMO EU, QUE VÊ O VASCO DA GAMA, O VASCÃO, COMO UMA VERDADE, ALGO QUE NÃO SE PODE NEGAR, NEM FUGIR. ALGO QUE AS VEZES NEM SE QUERIA TER CONHECIDO, MAS CONHECENDO NÃO HÁ COMO SE APARTAR DAQUILO.
SIM, MEU FILHO É VASCAÍNO, E ME COBRA POR NÃO TER VISTO O JOGO ÚLTIMO DO VASCO. ELE É UM BOBÃO. PODERIA PERGUNTAR-LHE, PARAFRASEANDO JAVÉ, ONDE ELE ESTAVA ANTES, DE ONDE ELE VEM COM AUTORIDADE PARA ME FALAR DO VASCO, SE ELE ME VIA(SEQUER ERA UM SER) QUANDO EU SANGREI QUANDO O VASCO PERDEU A FINAL DO MUNDIAL, OU QUANDO GANHOU A LIBERTADORES, OU ANTES, QUANDO EU IA VER O VASCO EM SÃO JANUÁRIO.
O VASCO NEM SEMPRE É O TIME DA VIRADA, MAS SEMPRE SERÁ O TIME DO AMOR.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
A TORCIDA DO FLAMENGO NÃO MERECE OS CANALHAS QUE ESTAVAM ONTEM NO ESTÁDIO E HOMENAGEARAM O GOLEIRO E MONSTRO BRUNO. A TORCIDA DO FLAMENGO É MAIS QUE ISSO. QUEM GRITOU NAQUELE ESTÁDIO O NOME DE "BRUNO" NÃO SÃO FLAMENGUISTAS, SÃO CANALHAS.
A ESPERÂNÇÃ PODE SER A ÚLTIMA A MORRER?
A ESPERANÇA NÃO MORRE NUNCA.
A ESPERANÇA É AZUL.
É MINHA CURA,
É O FILHO DE LU.
A ESPERANÇA NÃO PODE SOFRER OS DARDOS DO TEMPO.
TEM DE SOBREPUJAR, SOBREPÔR, SOBRESSAIR,
AO SOFRIMENTO.
NÃO PODE TE ILUDIR, NEM ME ENGANAR,
ESPERANÇA É ESPERAR.
ESPERANDO O MELHOR.
MAS SE NÃO VEM O MELHOR,
MELHORAR-SE-A ENTÃO O PIOR.
ESPERANÇA É COISA SÉRIA,
NÃO É QUALQUER SENTIMENTO,
QUEM A TEM DELA CUIDA,
NÃO SE ESVAI EM LAMENTO.
BOA ESPERANÇA, ESSE É O MOTE.
ESPERAR EM JESUS, NA CIÊNCIA,
NO AMOR, NO BOM.
NUNCA ESPERAR O MAL, SE APARTAR DELE.
PORQUE ELE EM ESSÊNCIA É O FIM DA ESPERANÇA.
NO ANIVERSÁRIO DE MEU PAI ESTÁVAMOS TODOS LÁ. ATÉ AI NADA DEMAIS. SÓ QUE HAVIA UMA PRIMA DE MEU PAI E MINHA EM SEGUNDO GRAU, QUE NUNCA ESTIVERA, E QUE EU JÁ FORA (HOME NUM FRESQUE NÂO!) MINHA PAIXÃO QUANDO EU TINHA UNS 8 ANOS. EU IA DIZER A ELA, MAS ESQUECI. BOM, AO CHEGAR NA CASA DE MEU PAI ELA JÁ ESTAVA E AO ME VER DISSE: WELLINGTON CONTINUA LINDO. EU QUASE CAIO NO CHÃO. NÃO QUE FLORECESE EM MIM UMA ANTIGA PAIXÃO, MAS PELO QUE ELA DISSE.
VEJA BEM, NÃO ME CONSIDERO UM LIXO, FALO ESTETICAMENTE, TENHO AUTO ESTIMA, NÃO SOU UM MONSTRO, SOU NOTA 6,5. MAS SER CHAMADO DE LINDO NÃO É UMA COISA QUE ESTEJA HABITUADO, QUE ME PAREÇA, DIGAMOS, FAMILIAR. ERA MAIS OU MENOS COMO SE ELA ME APONTASSE POR UMA QUALIFICAÇÃO QUE NÃO ME IDENTIFICO, OU ME DESCONHEÇO. ADOREI, LÓGICO, MAS NÃO ME SUBIU À CABEÇA MINHA BELEZA RECENTE.
MAS O BOM NÃO FOI ISSO, BOM FOI NO FIM DA FESTA. SEMPRE É. PELOS MENOS NOS ANIVERSÁRIOS DE MEU PAI. E NESSE ELE CAPRICHOU. ENCHEU A CARA, MISTUROU TODAS, AI JÁ VIU, FUI PRA PERTO DA PINGUÇADA ATIÇAR A CONVERSA. MEU PAI COMEÇA A RELEMBRAR, JUNTO COM MINHA PRIMA, A FAMÍLIA, E DE UMA HORA PARA A OUTRA VEM COM ESSA: NA NOSSA FAMÍLIA NÃO TEM VEADO! EU ADVERTI-O: PAI, SEMPRE TEM. ELE, IRREDUTÍVEL REAFIRMOU: PROCURE UM NA NOSSA FAMÍLIA! O QUE EU DESCONFIAVA ERA TU.
MEU PAI POR UM TEMPO ACHOU QUE EU DERRAMAVA ÁGUA FORA DA BACIA. MAS NESSE CASO ERROU FEIO. SIGAMOS, ELE INVOCA O TESTEMUNHO DE MINHA PRIMA, QUASE AMEAÇANDO.
--TEM ALGUM VEADO NA NOSSA FAMÍLIA, NEIDE?
--TEM, LULINHA.
AÍ O VELHO SE EXALTOU:
--ME DIGA QUEM!
--PEDRÃO.
AI EU NÃO ME CONTENHO.
--TÁ VENDO? LHE DISSE. ESSAS COISAS DE VIADAGEM NA FAMÍLIA É MELHOR NÃO VASCULHAR...
--MEU PAI FEZ UM ESCÂNDALO, E OLHA QUE MEU PAI FAZENDO UM ESCÂNDALO É UM ESCÂNDALO FAZENDO OUTRO ESCÂNDALO. NEGOU O PARENTESCO DO TAL PEDRÃO.
FOI QUANDO SOLTEI DAS MINHAS..
--FOSSE LULA ERA PARENTE.
E FOI UM FESTIVAL DE NOMES QUE EU NUNCA OUVIRA, AI APARECEU OUTRO. MEU PAI NEGOU-LHE O PARENTESCO. AI EU FUI FERINO, DISSE:
ASSIM NÃO TEM VEADO EM FAMÍLIA NENHUMA DO MUNDO, OS VEADOS DEVEM VIR DE MARTE.
E POR FIM: PAI , TODA FAMÍLIA TEM VEADO, LADRÃO...
ELE DISSE: LADRÃO NÃO! NEM ASSASSINO!
E EU: UMA FAMÍLIA DE SANTOS!
AÍ APARECEU UM QUE TINHA DADO UM DESFALQUE NA CAIXA E HAVIA SIDO DEMITIDO.
MEU PAI DISSE QUE O CARA TAMBÉM NÃO ERA PARENTE.
EU COLOQUEI FIM AO PAPO FALANDO DE FUTEBOL, MEU PAI FOI LIGAR PARA O IRMÃO NO RIO PARA LHE PERGUNTAR SE ELE CONHECIA ALGUM VEADO, OU ASSASSINO, OU LADRÃO NA NOSSA IMPOLUTA FAMÍLIA, O MEU TIO DISSE: NÃO!
NA MINHA FAMÍLIA PODE NÃO TER VEADO, ASSASSINO OU LADRÃO, MAS MENTIROSO TEM.
É PRECISO LER SHAKESPEARE, MUITO. MAS OUVIR O CHORO DA MULHER QUE PERDEU O FILHO, OUVIR E CHORAR AO OUVIR, O PADRE FABIO DE MELO. É PRECISO GOSTAR DE CHICO BUARQUE, MAS RESPEITAR OS QUE NÃO GOSTAM DELE. É PRECISO DIZER A MEU FILHO: EU TE AMO! MAS DIZER ISSO E NÃO JOGAR, E NÃO SAIR COM PROSTITUTAS, NEM DROGADOS . É PRECISO SABER DO MEU FIM, INEXORÁVEL, MAS NÃO ADIANTÁ-LO, QUE ELE VENHA LENTO, QUE VENHA TARDE. É PRECISO NÃO PROCURAR CULPADOS NAS DERROTAS, NEM HERÓIS NAS VITÓRIAS, NEM SUPERIORIDADES NOS SERES, NEM SENTIMENTOS NAS PLANTAS, NEM EXPLICAÇÕES EM POEMAS, NEM FEIÚRA NO BELO, MAS PARA ISSO HÁ DE SABER O QUE É BELO, NÃO DAR AOS PORCOS O QUE É SANTO. DISCERNIR O NEGROR DA CABRA CABRALINA (NEGRO DE SOL, LUMINAR) DO NEGROR QUE SE ATRIBUI AO SUJO, ERRADO. NEFASTO, QUE SE MOSTRA MELHOR NO BRANCO, SUJO, ENCARDIDO.
Você sonha comigo, você queima comigo, e chora também. Como vai me deixar, como vai me esquecer, meu bem?
Sem sonho, sem fogo, sem choro, a vida não presta.
Embaralhei tuas coisas, antes tão claras, antes tão seguras, agora confusa entre eu ser menino ou o próprio diabo, me ligas ao pior, ao perdido, ao vazio. Mas quando você lembra de mim, sorri. Um riso que você gosta, que te faz bem, que te remoça.
Não sou menino, nem o diabo, sou eu teu menino endiabrado, a quem você não deveria ter mimado, mas mimou, e de mimá-lo fez-se o estrago.
Sou um menino, nunca fui mais que isso, nunca o pretendi ser, e digo o meu mestre, Luiz Gonzaga: se eu pudesse renascer, mas do que sou não queria ser.
Meu pai fará aniversário e eu olho pra ele, fazendo churrasco, falando besteira, rindo e feliz por estarmos com ele, você se emociona com o que falo sobre ele? boba, te comoves com isso? porque não estás aqui dentro, porque não sentes o que sinto. Quando falo de meu pai, e me emociono com isso, não é pra te causar choro, nem ser mais poeta do que é preciso, é para sofrer um pouco a dor que sentirei na sua morte, é para suportar ele estar morto, eu estando vivo.
Falo no meu pai, sempre falarei, porque tenho orgulho dele. Deixa eu te contar uma coisa, uma coisa que me ficou, funda, inesquecível. Uma vez meu pai foi a casa de minha avó (a mãe dele) sentou à mesa, com voz rouca disse: mãe, me empreste o dinheiro do leite, que hoje nem isso tenho. Não sei o que pensava ele, nem se chorou depois, eu era menino, pensava em bola e pipa, não pensava em leite. Nunca na minha vida me faltou leite, nem pipas. Meu pai nunca deixou faltar nada para mim, nem minha irmã, comemos bem, sempre andamos bem vestidos, não ricos, mas com dignidade. Talvez ele tenha dado sorte em poder nos sustentar, existem pais que não tem mães para lhe emprestar o dinheiro do leite, existem pais que choram sem ter onde se consolar, perfeito. Mas o que o faz tão lindo e tão pai, e tão amado, não foi não ter deixado faltar meu leite, foi não ter deixado faltar amor, foi, mesmo no desespero, nunca ter me tratado mal. Fui à recife meses atrás e fiz besteira, meu pai ficou triste comigo, me ligou, e..., ai porra! como dói escrever isto, disse: porque você faz isso?
Ele tinha uma voz diferente, que lhe saia como doesse a garganta, como lhe doesse dizer o que me dizia, não uma dor de alma, mas uma dor real, como no poema de joão cabral, as palavras lhe ulceravam a boca. Sim, eu parei com isso, porque não quero ouvir nunca mais em minha vida aquela voz pungente, de uma dor profunda, como na dor do leite.
É sexta, 26/06/2010, meu pai fará aniversário, estaremos lá, meia dúzia de pessoas, meia dúzia de gatos pingados (nossa família é pequena) , reunidos para celebrar os 62 anos de meu pai, que é chato pra caralho, e eu o chamo Luis, o terrível, mas que nunca me deixou faltar leite, nunca nos deixou faltar amor, que foi, é, sempre será um homem comum, qualquer um, mas um pai amoroso, um pai cujo gesto, zelo, desprendimento, deu um sentido sagrado à palavra pai. Estaremos todos lá, estaremos todos juntos, meia dúzia de gatos pingados, mas juntos em um amor por sermos nós, por termos a família que temos, celebrando o fato de a vida ter nos feito morar separados, com novas idéias, com outros lugares, com outras vontades, com outros prazeres, por não nos faltar leite e nos sobrar amor.
